Valentia e Doçura escrita por Amorecida


Capítulo 5
Pegadas


Notas iniciais do capítulo

Olá docinhos, estão bem ?
Sejam bem vindos a mais um capítulo, este será o último de 2016!

Boa leitura, espero que gostem.

LEIAM AS NOTAS FINAIS >.>



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P.O.V.  Alice 

Olhei para minhas mãos, nelas haviam dois diamantes grandes e um diamante menor, que caiu de minhas mãos e eu não consegui achá-lo. Em seguida olhei em volta, percebi que estava em um bosque agradável, nevava muito e eu pude sentir os minúsculos flocos de neve acariciarem minha pele pálida. Ouvi um uivo e virei-me para trás, assustada. Lá estava ele, grande, com olhos castanhos, com uma postura incrivelmente majestosa e o pêlo branco, como a neve ao redor. Aproximei-me dele, ele fez sinal para que eu o seguisse. Caminhamos por uma trilha e me deparei com uma árvore cheia de frutos, que supus serem goiabas. Mais a frente, deparei com uma faca, o lobo encantador foi em direção a faca, então um sentimento de pavor veio a mim, senti como se ele fosse se machucar ou machucar alguém, apertei forte os diamantes que estavam em minha mão direita, tentei gritar para que o lobo voltasse até mim, mas nenhum som saía de minha boca. Continuei gritando, o lobo parou, e virando-se ele me afirmou:

— Alice, você é meu bem mais precioso. 

... 

 Mas que diab...

Acordei atordoada. Meu coração batia forte e acelerado dentro do peito. Meus pensamentos estavam desordenados. Que sonho louco foi aquele ? E novamente um lobo branco fazia aparição no meu sono tranquilo. Fui até o banheiro ( que eu já havia me acostumado com sua localização) e lavei o rosto com água fria. Não foi suficiente. Tomei um banho gelado, lavei meus cabelos curtos e esfoliei o rosto. Ao sair, peguei um frasco de hidratante de baunilha e amêndoas e passei por cada centímetro do meu corpo. Vesti shorts e camiseta. Não conseguia esquecer o sonho. 

Depois da morte de meu irmão, fiz tratamento psicológico. Eu entrei em um estado deplorável. Tinha pesadelos, não comia, não dormia, não estudava, não escovava os dentes. Eu fiquei como em um transe, por muitos meses. Não que agora eu esteja recuperada, afinal nem mesmo o magnificente tempo poderia reparar a falta que Miguel me fazia, mas eu estou, digamos que mais conformada com sua partida. 
Nesses meses eu procurei um psicólogo. Frequentei as consultas por 8 meses, até me sentir melhor e ele dizer que eu " evolui lindamente". Ele dizia que meus pesadelos eram manifestações fantasiosas do meu cérebro, que poderiam ser fragmentos de lembranças, medos, crenças, objetivos, ou apenas fragmentos completamente inventados e reproduzidos enquanto eu dormia. No meu caso, eu tinha muitos pesadelos envolvendo a morte do meu irmão, e ele dizia que isto estaria ligado ao trauma que foi a morte dele. Dr. Marcos não era religioso, e dizia-me explicitamente que significados de sonhos eram bobagens inventadas por bobos. 

Ainda assim, agarrei-me a ideia de que aquele lobo branco, que vinha me visitar tantas vezes, teria algum sentido...

Havia se passado uma semana, minha mãe ainda não recebera nenhuma ligação, e ela havia deixado muitos currículos, queria voltar a trabalhar em farmácia. Eu fiquei feliz com a ideia de minha mãe poder pegar aspirinas com desconto. 

Fui até a cozinha e mamãe estava lavando a louça. Os cabelos ruivos presos em um coque bagunçado, a barriga molhada, as mãos ensaboadas lavando os pratos de porcelana com determinação. 

— Bom dia mamãe — dei-lhe um beijo na bochecha e pedi benção.

— Bom dia meu amor, que Deus te ilumine — então beijou as costas da minha mão. — O café está em cima do fogão, mas já esfriou. 

— Certo. 

Esquentei meu tão amado café e beberiquei lentamente, sentindo o líquido quente repleto de cafeína passar por meus lábios. Fui até a sala e coloquei em um canal qualquer, que passava um jornal qualquer, que apresentava naquele momento uma notícia qualquer. Meus pensamentos retornaram ao sonho. Decidi que precisava me distrair. Folheei um livro de poesia, até que me entendiei e lembrei que havia agendado uma visita à minha faculdade. Logo o meu primeiro semestre na faculdade começaria. Um leve frio na barriga me atingiu. Eu imaginava que assim que começasse a faculdade, minha vida tornaria-se digna de filme, repleta de emoção.

Se eu crio expectativas ? Só de vez em sempre. 

Mamãe foi assistir à missa das 10h, e não demorei muito para começar a me arrumar, teria de chegar às 13:00h, mas não sabia o caminho, então eu teria que sair com antecedência. Vesti uma blusa peplum rosa clara, uma calça jeans escura e sapatilhas pretas. Penteei os curtos cabelos ruivos encaracolados, joguei a franja para trás e finalizei com uma presilha prateada. Coloquei um pequeno brinco de argolinha e uma pulseira de miçangas coloridas. Passei um pouco de perfume, coloquei na bolsa meus documentos, celular, guarda-chuva e uma pouca quantia de dinheiro, apenas para o ônibus e algum lanchinho na volta. Apaguei as luzes, fechei as janelas e desliguei o gás.

O elevador estava funcionando, ao entrar, junto com uma senhora que era minha vizinha, aparentemente, não consegui evitar sorrir um sorriso enorme, de orelha a orelha, afinal não estava afim de descer as escadas. A senhora que dividia o elevador comigo fez uma expressão de quem está vendo a coisa mais absurda do mundo. Pensei em fechar o sorriso rapidamente, mas antes um sorriso bobo por nada, do que um sorriso forçado para algo que não pode te levar a nada. Saí e dirigi-me ao ponto de ônibus da avenida. 

Olhei a descrição dos ônibus, haviam 4 e nenhum passava perto de minha futura faculdade. Perguntei a uma moça próxima de mim se ela sabia de algum ônibus que passava próximo ao local indicado e onde eu poderia pegá-lo.
 
— Olha, se você andar mais um pouco, irá ver outro ponto, nele vai ter o ônibus Jardim 25 de agosto, é ele que você tem que pegar, vai descer na Avenida Brigadeiro Lima e Silva — a moça disse com toda paciência e consideração do mundo. 

Agradeci e fui embora. 

Não demorou muito para que meu ônibus surgisse, subi, paguei a tarifa e pedi uma referência ao cobrador. Ele me explicou que depois que chegássemos na Avenida Brigadeiro Lima e Silva eu deveria descer no segundo ponto, enfrente a um supermercado extra. Sentei-me nos bancos altos do ônibus, pendurei os fones no ouvido ao som de " Lithium" e observei a linda paisagem de concreto até eu chegar. Desci do ônibus e anotei mentalmente cada passo até ali. Olhei a hora e ainda faltavam 40 minutos para o horário combinado para minha visita. Encontrei um senhor sentado na calçada, estava prestes a lhe pedir informação quando ele soltou " Oi linda, vem pro papai." e a repulsa fez sentir-se em mim. Perguntei a outro homem, e este, por sua vez, tratou-me com respeito e disse-me o caminho detalhadamente. Para cada experiência ruim, existe uma boa logo em seguida. Foi o que pensei enquanto seguia o caminho, rumo a minha futura faculdade, a Estácio. 

Ao longo do caminho, deparei-me com uma árvore semelhante à do meu sonho, mas não havia frutos. " Estou enlouquecendo, seja firme Alice". Finalmente, cheguei em frente ao campus, enorme, o perímetro era todo rodeado por altos muros de concreto e a entrada era larga e ampla, com portões azuis. Havia muita movimentação, me infiltrei junto a toda aquela gente e fiquei maravilhada, dentro do campus haviam muitas árvores, entre elas palmeiras, e a instalação era enorme e muito bem cuidada por sinal, pois tudo estava impecável. Fiquei completamente perdida ali dentro, como um peixe minúsculo no meio de um recife, até finalmente encontrar uma placa me direcionando ao Bloco B para " Visitas Agendadas". Entrei na pequena, porém agradável sala e lá haviam apenas 7 pessoas, dei bom dia e apenas uma garota me respondeu de volta. Sorri e sentei-me ao lado dela. O suave vento vindo do ventilador refrescou meu rosto, antes diretamente atingido pelo Sol quente. Acima da lousa branca havia um relógio em tons de cinza, turquesa e azul escuro que marcava ainda 20 minutos para o horário marcado. 

— Vai estudar aqui ?—   a garota me perguntou. 

— Sim, vou fazer Design Gráfico, e você ? 

— Também, vou fazer Pedagogia. Meu nome é Bruna. 

— Sou a Alice. 

Bruna era linda, era negra e tinha cabelos encaracolados, seu corpo era cheio de curvas proporcionais e o rosto era bem delicado. Ficamos conversando mais um pouco até que um senhor de cabelos brancos e postura exemplar entrou na sala e cumprimentou a todos nós. 

— Boa tarde, é um enorme prazer conhecer-los, meu nome é Heitor e eu sou um dos coordenadores deste campus. Mas por hoje, serei o guia de vocês. Irei mostrá-los as instalações. Gostaria que todos se apresentassem, por gentileza. 

Então todos nos apresentamos, e Heitor prosseguiu ( ou tentou). 

— É de grande importância que ... 

Heitor foi interrompido quando um rapaz ofegante de cabelos escuros tropeçou enfrente a nossa sala. Eram 13h05.

— Epa, c-com licença, foi mal o atraso, eu tive um... contratempo. O que eu perdi ? — o garoto disse entrando e sentando-se ao meu lado. Heitor ficou boquiaberto, mas por fim continuou a falar. 

— Meu nome é Heitor e hoje serei o guia de vocês. Gostaria que você se apresentasse. 

— Ah, certo... saudações pessoal, meu nome é Rafael. — ele se apresentou,  virando-se especialmente na direção de Bruna. 

— Muito prazer Rafael, como eu ia dizendo... é de grande importância que uma pessoa seja muito bem informada sobre as instalações da faculdade, pois precisa saber se é de seu gosto. A Estácio oferece diversos recursos em uma ótima infraestrutura. Aqui nesta unidade disponibilizamos 24 cursos diferentes, com foco no mercado de trabalho, incluindo serviços de orientação e estágios. A qualidade de ensino é garantida. Para aqueles que não estiverem matriculados, ao final da visita podem comparecer à secretaria do aluno, no bloco A, para mais informações. Peço que todos levantem-se e sigam-me. A visita começa agora. 

Heitor então nos mostrou todas as instalações, e cada vez que ele mostrava um cantinho, mais maravilhada eu ficava. Descobri que Rafael também faria Design Gráfico comigo e que o curso da Bruna era no mesmo corredor que o nosso. Fiquei muito feliz. A vida finalmente estava trazendo pessoas para serem minhas amigas. Trocamos nossos números e Bruna voltou de ônibus comigo, ela morava na rua atrás da minha, uma grande coincidência, ou, uma pista do destino. Dei-a um abraço e ela retribuiu. 

— Até 18 de setembro! — Ela disse sorrindo. 

— Até 18 de setembro! - imitei-a 

18 de setembro seria o acolhimento na Estácio para todos os calouros que iriam cursar lá. Eu estava tão feliz. Cheguei em casa sorrindo.  Mamãe e Papai ficaram animados também. 

Na mesma noite, recebi uma ligação de Murilo. 

— Ahn, Oi Alice, desculpa incomodar. Tudo bem com você? 

— Oi Murilo, estou bem e você ? 

— Estou bem também, obrigado, então... 

— Então ... ? - incentivei-o a continuar. 

— Eu vou receber uma visita, meu amigo Caio virá aqui em casa no sábado, ele é o corno da vez. Então... você poderia meio que... 

— Ir até sua casa testemunhar o ocorrido naquele dia ?  — Completei. 

— Isso, exatamente, você pode vir ? 

— Claro, a que horas ? 

— Pode vir almoçar aqui conosco, vou pedir pra minha coroa caprichar no almoço. 

— Certo. Então até sábado.
 
— Até sábado, boa noite, fica com Deus. 

— Boa noite, amém você também, um beijo. 

Enquanto eu e meus pais jantávamos, mamãe soltou uma ótima notícia.

— Vou voltar a trabalhar. Recebi a ligação de uma farmácia hoje a tarde — Ela anunciou com um sorriso evidente no rosto.

Fiquei feliz por ela, e por mim também. Adormeci com um sorriso no rosto e uma esperança suave no peito. 

"Pessoas guiadas pelos pés, seguindo seus sonhos, deixam pegadas."

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Gostaram ?
Por favor, comentem, favoritem, muitas vezes fico desanimada...

Lembrando que este foi o último capítulo do ano.

Que vocês tenham uma ótima virada de ano, e que 2017 seja um ano de muita luz para vocês.

Feliz ano novo!!
Beijos e até 2017!



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