Caminhamos por um longo tempo, e incrivelmente Seth andava tão suavemente quanto eu, evitando as folhas secas e as pedras. Se eu não fosse uma vampira poderia jurar que ele não me acompanhara.

            Paramos em frente de um enorme penhasco que dava para uma cachoeira, já havíamos cortado toda a floresta. Peguei então de um tronco um lençol e o estendi no chão.

            Não é a toa que este é seu lugar – disse ele sorrindo e sentando se sobre o lençol.

            É. Eu adoro aqui. Principalmente quando a lua está cheia.

            Estamos quase num penhasco.

            Sorri me virando pra ele – mas a paisagem é linda.

            De repente nossos olhos se encontraram e mais uma onda elétrica percorreu todo o meu corpo, me fazendo estremecer.

            Você está linda

            Obrigada

Sentei me virada para ele encostando cuidadosamente em seu corpo. Minha jaqueta impediria a frieza da minha pele em contato com seu peito quente.

Você veio de onde? – perguntei a ele

            Não sei exatamente. Não exatamente, só mais ou menos.

            Eu sei que você não é daqui – disse afastando-me dele para encará-lo – por que você não me conta? – indaguei séria.

            Você não entenderia.

            Eu posso tentar...

            É um segredo – disse ele olhando para o céu.

            Hum...

            É difícil, ha coisas mais do que as que você pode vê.

            conte me quem você é... que eu vou entender...

            Eu sei que você tambem nao é daqui - disse ele levantando se.

            Então nos dois temos um segredo! - o respondi tambem me levantando

             Quem é você? - perguntamos ao mesmo tempo...

Responde você – o pressionei

            Você não vai acreditar...

            Vou sim

            Eu sou um anjo – disse ele abaixando a cabeça e virando se de costas para mim.

            Eu suspirei fundo tentando organizar as idéias... “um anjo em minha vida” colocando a frase assim é mesmo impossível acreditar... Céu e inferno juntos. Comecei a rir incontrolavelmente.

            Você pensa que eu estou mentindo né? – disse ele tristemente

            Não – respondi dessa vez seria – por que eu sou uma vampira.

            Ele me olhou intrigado e não espantado como eu esperava.Seus olhos se fecharam e ele caiu de joelhos sobre o lençol, com a cabeça levantada para cima.

            Isso não existe.

            Você existe – disse a ele sarcasticamente.

            Mas você é uma vampira, eu deveria saber.

            Você é só um anjo.

            Tem razão. Sou um aprendiz, só Querubins sabem de tudo.

            Um pequeno silencio percorreu a noite.

            E então como você virou anjo? – perguntei enquanto sentava-me sobre meus joelhos em sua frente.

            Eu não sei. A ultima coisa de que me lembro era de que estava dormindo. Na verdade não sei como acontece – ele se levantou e começou a andar em círculos – de algum modo – disse ele – somos escolhidos. Não podemos evitar.

            Seth parou de andar e cruzou as mãos atrás das costas.

            E você? – perguntou ele agora olhando para o horizonte.

            Já faz algum tempo. Muito tempo. Há alguns séculos morávamos na Inglaterra onde ocorreu uma grande epidemia. O governo tentou esconder o que na verdade conseguiu por pouco – Seth ficou calado apenas ouvindo - mas creio que não tenha sido nem uma epidemia que tenha nos deixado assim. Na verdade eu não entendo bem. Nem sei se era mesmo uma epidemia. Só sei que eu cheguei em casa depois de uma longa caminhada pelo meu bosque favorito – as lágrimas queriam descer pelo meu rosto, mas eu tinha que obrigá-las a voltar, eu não choraria na frente dele – tudo estava revirado. – continuei – Quando percebi já éramos vampiros, Jim e eu. Marcus nos acolheu logo depois de termos atacado um grupo de adolescentes no bosque. Quem quer que tenha nos deixado vivos, nos transformado, foi embora sem nos dizer nada.

            Eu odiava o vampiro que me transformou. Só de pensar nele eu ficava morrendo de ódio... Mesmo tenho a pele fria eu sentia meu sangue fervilhar... Suspirei mais uma vez tentando me controlar, de qualquer modo. A lua estava linda, mesmo não estando do modo que eu mais gostava: cheia.

            Uma lágrima havia corrido pelo meu rosto, mas não era uma lagrima de tristeza e sim uma lágrima de raiva. Seth já estava sentado novamente a minha frente. Ele então puxou meu queixo para junto de seu rosto e com cuidado enxugou a única e minúscula lágrima que escorria por meu rosto sem expressão. De uma forma tão delicada que eu não pude perceber se era verdade ou se eu sonhara enquanto contava minha historia, ele tocou seus lábios nos meus. Era a primeira vez que eu descumpria as regras oficiais dos vampiros e senti que também era a primeira vez que Seth descumpria verdadeiramente qualquer regra. Mas não eram as regras da terra, nem as dos vampiros ou quaisquer outras criaturas da terra, mas as regras dos anjos. As regras do céu.