Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 10
Come as you are




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— Bom dia, gente aparentemente desocupada! - disse entrando na Class Mídia. Eu senti os olhares confusos da galera que trabalhava ali há mais tempo. - Fala, Érico! Natan ainda está te fazendo trabalhar pela meia dúzia de ociosos e puxa-sacos que ele mantém aqui?

Abri um sorriso divertido para Érico que parecia nervoso em me ver. Acho que ele esperava que eu fosse começar a quebrar toda a agência com um taco de beisebol. Pensei em contar para ele que eu não repetia show, mas não queria irritar uma das poucas pessoas que eu sabia que não me odiava.

Acho que Érico não me odiava porque também tinha vontade de sair quebrando a agência. Só não fez porque ele precisava do emprego e, bem, era muito mais controlado que eu.

— Fabinho? Você por aqui? - ele perguntou e eu arrumei minha jaqueta no corpo bancando o James Dean e encarando as pessoas ao nosso redor.

— Ficou sabendo, não? Natan me ligou com proposta de emprego. E aí, Sílvia? - cumprimentei e Sílvia abriu um sorriso para mim.

— Fabinho, meu garoto! Há quanto tempo! - Sílvia me deu um beijo em cada bochecha.

— Ficou sabendo dessa proposta de emprego pro Fabinho, Sílvia? - Érico perguntou e Sílvia nos observou confusa. Se Sílvia não sabia, era melhor não ter muitas esperanças sobre essa reunião, era tudo o que eu pensava.

— É, agora estou com mais medo dessa proposta, cara. - comentei enquanto Sílvia se afastava para recepcionar umas modelos na agência.

— Depois de tudo que ele te disse, você veio aqui ouvir proposta, cara? - Érico perguntou e eu dei de ombros.

— Eu sou curioso, você sabe.

— Curioso estou eu para saber onde conseguiu esses roxos no rosto. - ele me disse e eu sorri safado.

— Se eu te disser que foi briga por mulher você acredita?

Érico riu e me deu uns tapinhas no ombro, voltando ao trabalho. Reparei em Carol encostada num canto com Júlia e que as modelos de Sílvia me encaravam como se eu fosse um par de sapatos de grife e elas a Amora. Abri meu sorriso mais sacana.

— Avisa seu chefe que eu cheguei, Carol! - terminei jogando um beijinho para ela que só balançou a cabeça indo até a sala de Natan. As garotas deram uma risadinha.

— Você é muito cheio de si, hein? - Edu comentou atrás de mim e eu o encarei com um sorriso debochado.

— Ciuminho da Carol, Edu? Ou das modelinhos cheias de graça pro meu lado? - eu ri achando tudo isso muito engraçado. - Se for a Carol, nem se estressa que você não é o tipo dela, que ela curte um homem, mesmo. Se for por causa das modeletes, eu tenho mulher melhor em casa, faça-me o favor.

— E como tem! Quem não deseja sua mais nova conquista? - ouvi a voz do meu ex-chefe e eu me lembrei porque destruí toda a sua agência com um taco de beisebol há uns dois anos.

Natan veio de braços abertos me receber antes que Edu continuasse a ser idiota perto de mim.

— Fabinho Campana! Senti saudades do herdeiro do meu querido amigo trabalhando aqui na Class Mídia. - ele começou e eu posso afirmar que ele atuava melhor que Bárbara.

Até aí, quem não atuava?

Mas eu sabia muito bem que ele não me suportava e que ele não era amigo do meu pai. Muito menos querido.

— Natan Vasquez! O homem que disse que eu nunca mais poria os pés na Class Mídia! - abri meus braços e Natan deu uma risada forçada antes de me indicar o caminho para sua sala. - Até mais, crianças! Sejam boazinhas enquanto tio Fabinho vai resolver problemas de gente grande.

 

— Seu irmão foi conversar com o Natan? Depois de tudo o que aconteceu entre os dois, ele decidiu voltar para o emprego? - Plínio massageava as têmporas pronto para ir na Class Mídia tirar o filho de lá antes que acontecesse alguma coisa ruim.

— Você sabe muito bem como ele é, pai! - Malu suspirou se sentando no sofá. - Ele querer um emprego por aqui significa que ele não vai embora pelo menos.

— Ele ficar perto do Natan não me tranquiliza em nada, filha. Sem contar que você viu o rosto dele? Ele se envolveu numa briga, Malu.

— Eu sei. - Plínio a encarou confuso e ela expirou para se preparar para explicar. - Eu peguei ele brigando ontem lá na estufa da Acácia Amarela.

— Aquela garota, a Giane, bateu nele de novo?

— Ele saiu nos tapas com o Bento por causa dela, pai. - Malu mordeu o lábio inferior. - O Bento não está gostando do fato que Fabinho fica brincando com a ideia de Giane ser namorada dele. Você sabe como seu filho é irritante, pai.

— Eu tenho medo do Fabinho estar se confundindo com o que dizem que ele sente por ela e o que ele sente de verdade. - Plínio informou Malu que riu.

— Eu duvido muito que esses sentimentos sejam tão distanciados assim, pai. - Plínio riu junto.

— Só nos resta torcer para ela corresponder esses sentimentos. - Malu só assentiu com um sorriso enigmático.

 

— Mais uma vez, nos encontramos sentados na sua sala da Class Mídia. Parece que o mundo gira e continuamos na mesma. Coisa horrorosa. - comentei ao me sentar dando uma risada debochada e Natan me encarou.

— Dessa vez eu espero que não vá quebrar toda a minha agência com um taco de beisebol quando sair dessa sala. - ele disse me encarando como se eu fosse uma criança levada e ele o pai responsável. - Garoto, você tem muita sorte do seu pai ter arcado com as despesas que sua destruição custou e evitado que você fosse preso.

— Eu chamaria o que eu fiz na agência de reforma surpresa, na verdade. - retruquei apoiando meus pés na mesa de Natan. - Mas, tudo bem, diz logo o que você tanto quer com a minha pessoa.

— Eu quero te oferecer uma proposta de emprego, que pode te tornar meu sócio na Class Mídia num futuro próximo. - ele disse e eu o encarei.

— E o que eu teria que fazer para conseguir essa bocada? - perguntei e peguei um cubo mágico largado em sua mesa, começando a resolvê-lo.

— Bom, você tem algumas características importantes para os clientes importantes: o berço, o dinheiro e a mulher.

Giane. Natan queria Giane disponível para campanhas na Class Mídia. O cubo parecia mais interessante que o homem à minha frente, mas aquele cubo era muito mais interessante que Natan em qualquer situação. Talvez fosse até mais esperto, também.

— E o que a mulher teria a ver com o resto? Ou você quer que eu use a Giane para atrair clientes como você usa a Amora? - questionei e senti o olhar irritado de Natan.

— Você sabe como funciona a publicidade, Fabinho. E o mercado quer a sua namorada. - ele deve ter percebido que essa forma de tentar me convencer não ia funcionar porque mudou de tática. - Mas é claro que eu preciso de um profissional competente como você na minha equipe.

— Um profissional competente ou um sobrenome para exibição? Para agradar seus clientes que querem tanto se envolverem com os famosos?

— Você sabe que é bom e eu te conheço muito bem, garoto, para saber que você está louco para voltar a trabalhar com publicidade.

— Trabalhar com publicidade? Sim. Para você? Nem tanto. - respondi largando o cubo resolvido na mesa de Natan, enquanto pensava.

Natan não era do tipo de se levar por fofocas de semanas e ele tinha dito namorada. Subitamente, me lembrei que a única pessoa a quem eu me referi à Giane como namorada foi Amora. Eu duvidava que a cocotinha comentava sobre a maloqueira pro mauricinho… Significava que Natan ou se encontrava com Amora – o que eu duvidava – ou se encontrava com Bárbara, que é uma mulher muito mais linguaruda que a filha favorita e faria o comentário de que Giane é minha namorada para ver se evitava o interesse de Natan naquela pivete.

Aí sua prova, Malu!

— Então eu adianto a proposta de sociedade e você trabalharia para você mesmo. - ele sugeriu e eu ri tirando minhas pernas de sua mesa.

— Peguei bode de sociedade, Natan. Principalmente com gente que não confio. - respondi e me levantei. - Sabe o que essa sua conversinha mole me fez perceber? O quanto a Giane deve estar valendo no mercado publicitário.

— Ela é linda e está se fazendo de difícil para as agências de publicidade desde que foi fotografada com você. - ele me encarou como se tudo fizesse sentido de repente. - A garota está grávida, não está? Ela desistiu de ser modelo porque arrumou o melhor contrato da vida dela: ter um filho de um Campana.

— Quem te disse isso? Sua amante, foi? - perguntei como quem não quer nada.

— A Bárbara nunca me disse nada sobre isso, moleque. Eu deduzi. - ele foi percebendo o que me disse e empalideceu levemente.

Idiota. O fato de um cara como Natan estar no topo da publicidade desse país só me fazia ter certeza de que qualquer agência com um financeiro forte e equipe dedicada conseguiria desbancá-lo.

— Você admite tão fácil! - eu gargalhei e o encarei entediado. - Vou indo, Natan. Não vai ser hoje que vamos fazer negócio.

Saí pela porta, mas decidi tripudiar.

— A menos que você vá me oferecer muito dinheiro para eu não espalhar por aí que você admitiu ter um caso com a minha ex-madrasta. - ofereci, entrando na sala e pegando o cubo mágico. Natan me encarou como se considerasse a proposta, então fingi surpresa. - Não, espera um pouco! Você mesmo me disse: eu tenho o berço, o dinheiro e a mulher. - mostrei o cubo para Natan indicando que levaria da sala. - Abraço, querido, sucesso!

Abandonei Natan em sua sala e me dirigi à saída. Talvez eu tivesse que contar para Giane que ela quase me arrumou um emprego. Voltei e parei na mesa de Érico, colocando o cubo resolvido ali e ele me encarou confuso.

— O que Natan queria?

— Giane de Sousa e um Campana de verdade para exibir por aí. - respondi dando de ombros e percebi Érico franzir o cenho como se pensasse. - Bom, não vai ser hoje que vou aceitar um emprego para ser mico de circo. Vou nessa, Érico!

— Você não é o Fábio Campana? - uma das modelos que estavam com Sílvia perguntou se aproximando.

— Sou, por quê? - perguntei confuso com o súbito interesse.

— Nada. - ela mordeu o lábio inferior e saiu para ficar junto das outras garotas.

Encarei Érico e ele percebeu que estava fora de órbita, então ele se despediu de mim parecendo ainda muito pensativo. Ligando minha moto, percebi que estava com muita fome. Duvidava que aquela maloqueira tinha lembrado de comer. Hora de ir me abalar até a Casa Verde marcar território na pivete mais desejada.

Pelo mercado publicitário, óbvio.

— Bárbara? Sabe quem descobriu tudo? É, tudo. Seu adorado filho adotivo. É claro que é o Fabinho! - Natan bufou ao telefone. - Vou conseguir comprar muito a boca do garoto! Ele saiu debochando do fato que ele não pode ser comprado.

 

Ouvi o ronco da moto e ignorei, porque eu não seria pega cheia de animação com a possibilidade de ser Fabinho. Continuei regando minhas flores e observando a rua à minha frente, quando senti braços me envolverem pela cintura e um queixo se apoiar no meu ombro.

— Sentiu minha falta? - o cachorro teve a coragem de me perguntar e eu lhe dei uma cotovelada leve para que me soltasse em resposta.

— Eu te peço para parar de ser inconveniente e você já chega me agarrando! - bronqueei e ele riu me jogando um beijo.

— Vamos almoçar? - ele perguntou e eu arqueei a sobrancelha em um sinal de deboche.

— Quem disse que eu não almocei?

— O Wesley. Passei na Acácia e ele me disse que você não parou um minuto desde a colheita de hoje de manhã. - ele respondeu e começou a encarar minhas roupas: Uma regata feita a partir de uma camiseta antiga e surrada que eu acho que era de Bento com uma camisa de flanela por cima e uma calça jeans que seria a mais simples possível se Lucindo não tivesse pisado na barra da minha calça logo de manhã e agora ela tivesse um rasgo enorme no joelho da perna direita. - Giane, meu amor, primeira vez que o visual grunge ficou legal fora dos anos 90.

— Vai se catar, idiota. - mostrei a língua e ele riu.

— Eu estou controlando as cantadas que passaram pela minha cabeça, pivete, quero que saiba e valorize meu esforço. Vamos comer que eu conheço um pé sujo aqui perto que não vai se importar de servir um moleque esfarrapado como você. - ele me avisou e meu estômago roncou antes que eu negasse o convite.

Aceitei o capacete que me oferecia e subi em sua moto. Ignorando a expressão furiosa de Socorro enquanto acelerávamos.

 

— Cadê a Giane, Wesley? - Bento perguntou entrando na Acácia com uma caixa de margaridas recém-colhidas.

— Foi almoçar. - o outro respondeu escondendo um sorriso do chefe.

— Bento, você devia acabar com essa sociedade com a Giane! - Socorro entrou de supetão na loja. - Não bastasse ela ser coisa ruim, ainda fica atraindo aquele marginal para nossa rua!

— Socorro, vai trabalhar, vai. Troca o disco, sei lá. - pediu Wesley e Bento encarou o funcionário assustado e confuso com o ataque de Wesley, que sempre era uma pessoa tão calma. - Todo dia é o mesmo drama que essa garota vem fazer aqui, ela não tem outro assunto, não?

Bento soltou uma gargalhada enquanto Socorro bufava reclamando da falta de educação do vendedor e saía da loja.

— Ela vem mesmo irritar a Giane todos os dias? - Bento perguntou depois de um tempo.

— Ela vem incomodar sempre que consegue. Parece que ela acha que a Giane é um monstro comedor de criancinhas de tão incomodada que ela é com a vida da chefinha. Deve ter muita inveja da Giane, isso sim.

— Deve ser isso. - Bento concordou.

 

— Então, o Natan Vasquez te ofereceu uma sociedade só para você me levar em festas dos possíveis clientes dele? - Giane me perguntou, enquanto comia o próprio peso em batata frita.

— E chegou a dizer que você está grávida. - completei dando de ombros. - Eu já te disse quais nomes eu quero para nosso futuro rebento? - o sorriso de Giane me estimulou a continuar. - Mirtilo ou Pitanga.

— Amora deve ter adorado. - ela riu roubando uma batata do meu prato.

O almoço continuou de maneira leve. Só não reparei nas fotos de nós dois que foram tiradas.

 

Cheguei em casa e percebi que tinham me mandado um link de um site de notícias, pensei que talvez fosse algum projeto social que precisasse de ajuda.

Ao abrir o link, me deparei com uma fotografia minha no meu almoço com Fabinho e o título: “CHEIRO DE CRIANÇA NO AR?” com um subtítulo Garçom afirma que o casal conversava sobre possíveis nomes de filhos enquanto almoçava”.

Puta que o pariu, quem tirou foto em boteco de bairro super tranquilo?


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Notas finais do capítulo

O sumiço ainda pode acontecer.



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