— Aleluia que a Carmen bruxa foi-se embora!

— É, agora podemos fazer o que quisermos. — Disse ela com o sorriso estampado no rosto, igual ao de uma criança que recebeu um doce, e convenhamos que não era caso para menos.

— Verdade, será que o pessoal está a planear fazer alguma coisa?

— Provavelmente, e mesmo que não estejam, a gente pensa em alguma coisa e diz-lhes.

Eles ouviram uns passos em direção à cozinha e calaram-se. Ficaram a olhar para a porta, e viram a Mili a aproximar-se.

— Tati, Binho, vocês querem jogar verdade ou consequência com a gente? 

— Claro! — Disse o Binho empolgado, talvez um pouco demais.

— Nossa, não sabia que gostavas tanto desse jogo Binho. — Disse a Mili a rir. — Aliás... — Foi se aproximando lentamente. — O que vocês estavam a fazer os dois sozinhos na cozinha? E porque se calaram? — Falou com um sorriso safado e desconfiado.

— Não sei quanto a ela mas eu pensei que podia ser a dona Carmen — Falou a olhar para a Tati que concordou com a cabeça. — Ah, e eu estava à procura da minha meia da sorte e encontrei a Tati aqui. — Disse o Binho normalmente.

— Eca, essa meia anda perdida por aí no orfanato? — Disse a Tati com uma cara de "sai-para-lá".

— É claro que não cabeçuda, ela não tem pernas, durh. — Falou o Binho, tocando com os dedos na cabeça a insinuar que alguém tinha um parafuso a menos.

— Oh santo Senhor, dai-me santa paciência! — A cacheada bateu com a mão na cara.

— Pessoal, parem. Vamos para a sala. — Disse a Mili num tom autoritário.

— Podem ir à frente, vou só beber um pouco de água e já vou.

Eles acenaram com a cabeça em modo de concordância e saíram da cozinha. A Tati foi até o armário e tirou um copo de vidro de lá. Foi em direção ao lava-loiça e ligou a torneira, enchendo o copo. 

— Oh Tati, podes encher um copo pra mim também? — Falou o Binho a entrar na cozinha.

— Se..?

— ... faz favor?

— Não mocinho, se eu quiser. Não tens pernas e braços também?

— Aff, está bem.

Ele foi buscar o copo e, adivinha? Adivinha quem caiu no chão? O copinho, a que a partir daquele momento seria pedaços de copinho.

— Ups... — Falou o Binho meio envergonhado e preocupado, a coçar a cabeça e olhar para a morena de cabelo cacheado.

— Ah, cabeça de vento! Será que alguém ouviu?

— Não, eles estão na sala com a música a tocar e a tagarelar bastante.

— Ainda bem! Vamos juntar os cacos e colocar no lixo.

— Okay.

Ela aproximou-se do moreno e abaixou-se para apanhar os cacos. Eles olharam-se por um segundo e voltaram a juntar os pedaços do copo.

— Ai! — Ela colocou a ponta do dedo indicador na boca.

— Que foi? Machucou?

— Não foi nada, já passou. — A menina voltou a olhar para baixo, parecia que aqueles pedaços de vidro não se acabavam.

— Hm, deixa-me ver. — Ele pegou na mão dela e olhou para o dedo, beijando o mesmo. — Aposto que assim vai sarar.

— Bobo. — Falou a rir, balançando a cabeça.

Os dois riram, e finalmente acabaram de apanhar os cacos, colocando tudo no lixo.

— Vamos pra sala. — Eles sorriram, e foram andando para lá.