Children escrita por Evil Queen 42


Capítulo 13
Apenas amigos




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Olheiras são grandes provas de que uma pessoa fracassou na vida, pois mostram que ela não consegue nem fazer uma coisa tão simples e básica como dormir. 

Os diabinhos pegaram no sono depois do almoço, mas quem disse que eu consegui fazer o mesmo? 

Não... Não consegui. 

Primeiro: Tive que arrumar a cozinha depois do almoço. Segundo: Tive que limpar a sala coberta de talco. 

Me joguei no sofá e nem quis ligar a televisão. Esse é o momento em que eu posso desfrutar do doce som do silêncio. 

Ah, o silêncio... recentemente é o que menos se faz presente dentro dessa casa. Só espero que meus pais voltem ao normal o quanto antes para que eu possa recuperá-lo com dignidade. 

No momento em que eu estava quase cochilando, eis que a campainha começou a tocar. Senti ódio, amaldiçoei quem quer que esteja atrapalhando meu raro momento de sossego. Quero que essa pessoa sofra uma morte bem lenta e dolorosa. 

Levantei a contragosto para atender, sentindo meu rosto esquentar no momento em que vi Boruto. 

– Oi. - Ele sorriu pra mim e já foi entrando. 

Bem... digamos que o pijama que estou usando não seja a coisa mais decente do mundo. Não é transparente, ainda bem, mas é bem curto e eu estou sem sutiã por baixo... Ah, dane-se, não há nada pra ele ver mesmo. 

– Veio sem avisar. - Comentei sem graça, fechando o portão. 

– É, eu preferi. - Deu de ombros. 

Caminhamos juntos até a sala e sentamos lado a lado no sofá. 

– Então... o que te trás até aqui? - Indaguei sem jeito. Não nego, fiquei muito feliz por ele ter aparecido aqui, só acho que esse idiota poderia ter me avisado antes. 

– É sobre a nossa última conversa. - Boruto coçou a nuca meio sem graça - Sabe... Eu não queria que ficasse um clima tenso entre a gente. Desculpa se eu falei demais... sério mesmo. 

Sorri minimamente. 

Eu também não queria que ficasse um clima ruim. Gosto muito do Boruto, seria péssimo ficar longe dele por uma besteira. 

– Relaxa. - Falei descontraída - Eu não ficaria com raiva de você por uma bobagem... Eu gosto demais de você pra isso.

– Gosta? - O brilho nos olhos azuis foi nítido. 

– Sim. - Assenti - Eu não conseguiria ficar longe de você. Me perdoe pelas palavras duras, eu estava bem cansada.

– Eu acho que posso entender. - Ele sorriu.  

Ah, droga, o que é isso? Que merda está acontecendo comigo? 

Boruto é meu amigo... meu amigo... amigo! 

Um amigo que está perto demais. 

Não fiz nada pra impedir quando me dei conta do que iria acontecer. Eu, no fundo, queria que acontecesse. 

Senti um arrepio na espinha quando Boruto levou sua mão até minha nuca e selou seus lábios nos meus. Jamais pensei que um dia beijaria meu amigo, tampouco pensei que a sensação seria tão... Ah, não existe palavra que possa descrever. 

Senti uma de suas mãos subir pela minha coxa até a minha cintura, então gemi baixinho com o toque firme pelo meu corpo. Quando o negócio estava começando a esquentar, eis que fomos interrompidos por duas vozes infantis que gritaram em uníssono:

– Eca! 

Nos afastamos imediatamente, um pouco assustados. Senti meu coração bater ainda mais forte com o susto.

Olhei para as duas crianças que nos encaravam enojadas. 

Céus, que exemplo estou dando?

– Vocês estão aí desde quando? - Boruto perguntou meio sem jeito, com o rosto completamente vermelho. 

– Desde que vocês começaram a se babar aí. - Sakura falou com uma careta - Argh! Que nojo! 

– Vocês deveriam estar dormindo. - Briguei, também com o rosto vermelho. Mal consigo olhar na cara do Boruto, meu Deus!

– A gente acordou. - Sasuke deu de ombros - Você nos colocou pra dormir só pra poder ficar aí fazendo coisa de gente grande. - Acusou. 

– Gente grande faz isso? - A pequena rosada questionou surpresa, quase assustada, com os olhinhos arregalados. 

– Meus pais fazem, eu já vi uma vez. - O pequenino respondeu simplesmente, fazendo surgir em minha mente a imagem indesejada dos meus avós se beijando. Eca! - Acho que é por isso que às vezes eu vou pro quarto deles à noite e a porta está trancada... - Falou pensativo. 

Ah, garoto, nem te conto que isso também acontecia comigo quando criança. Eu ia para o quarto dos meus pais de madrugada com bastante frequência, e vivia me perguntando por que em algumas noites a porta ficava aberta e em outras não... Hoje eu sei, mas não gosto nem de pensar sobre isso. 

– Você pode nos poupar dos detalhes, Sasuke. - Boruto revirou os olhos. 

– Vocês são namorados? - O garotinho perguntou curioso e mais uma vez senti meu rosto queimar de vergonha.

– Amigos. - Respondi antes que Boruto dissesse algo - Somos apenas amigos, Sasuke.

– Amigo não faz isso! - Sakura acusou - Vocês estavam aí, chupando a boca um do outro, e amigo não faz isso!

Pronto, agora eles vão ficar jogando isso na minha cara. 

Só espero que meus pais não se lembrem desse pequeno detalhe quando voltarem ao normal. Ou melhor, meu pai. Ele não pode saber, nunca, para o bem do Boruto. 

– Vamos esquecer isso, né? - Sorri sem graça - Faz de conta que não aconteceu. 

– Não dá! - A menina protestou - Foi nojento demais pra ser esquecido. 

Boruto e eu nos encaramos, então suspiramos pesadamente. Vai ser difícil conviver com isso enquanto essas crianças forem crianças. 

– Sakura, o príncipe não beija a princesa? - Boruto questionou divertido - Você nunca viu nos desenhos? 

– Mas o príncipe beija a princesa assim. - Sakura encostou uma mãozinha na outra rapidamente, simulando um selinho inocente - Aí ela acorda do sono profundo! É pra isso que o príncipe beija ela! - Explicou, usando todo o seu conhecimento em contos de fadas - Vocês dois estavam quase se engolindo! 

Suspirei. 

Não vai adiantar ficar batendo nessa tecla. Isso é dar murro em ponta de faca. 

– Vão para o quarto, vão! - Mandei - Rápido. 

– Você não pode mandar a gente para o quarto assim! - Sasuke, emburrado, bateu com o pezinho no chão - Ora, eu não fiz nada pra ganhar castigo! Você não pode me colocar de castigo, tia!

– Nem eu! - A pequena Sakura também protestou - Eu também não fiz nada, tia!

– Mas eu sou mais velha e estou mandando. - Falei com um ar de superioridade, pois tenho que botar moral nesse negócio - Vão pro quarto e fiquem lá.

– E a gente vai sair quando? - O garotinho perguntou. 

– Quando eu achar oportuno. - Respondi.

– E como é esse tal de 'portuno'? - Sakura questionou curiosa - Fala como ele é, aí a gente te ajuda a procurar. Não precisa ninguém ficar de castigo até achar o 'portuno'. 

Boruto caiu na gargalhada e minha cara quase foi parar no chão. 

Tô pagando os meus pecados, só não imaginei que fossem tantos. 

– Põe eles pra procurarem o 'portuno', Sarada. - Boruto falou rindo, limpando uma lágrima no canto de seu olho. 

São três crianças...

Pensei em começar uma novena para que meus pais voltem ao normal logo, mas não sei se minha sanidade mental aguenta durante nove dias. 

– Vão brincar com o Jon Snow, vão... - Suspirei. 

– Não, tia, ele arranha quando a gente vai pegar. - Disse Sakura. Pobre bichano, nem ele aguenta mais - Só vou pegar o gatinho quando ele for castrado pra ficar mais calmo, que nem você falou, tia. E aproveita e castra o Sasuke também. 

Sim, ela continua com essa história de castrar meu mini pai.

Olhei para o lado e vi Boruto vermelho feito um tomate, tentando se segurar para não rir diante da declaração super séria da pequena Sakura. 

– Mas aí você vai ser muito infeliz quando crescer, Sakura. - Eu sabia que o Boruto viria com uma dessas! - Faz isso não. 

– O que é isso aí que ela tá falando? - Sasuke perguntou inocentemente, pobrezinho. 

– Ah, nem queira saber... - Boruto disse risonho.

– Mas eu quero saber. - Insistiu o pequenino - Se vai fazer comigo, eu quero saber. 

– Não, ninguém vai fazer nada com você. - Respondi. 

– Vai sim, vai castrar ele! - Sakura insistia, enquanto isso o loiro ao meu lado só ri feito um idiota. 

Por que eu fui falar de castrar o gato, por quê? 

– Vai não! - Sasuke retrucou - A tia falou que não vai. 

– Vai sim! - Sakura rebateu, empurrando em seguida o garoto que caiu sentado no chão. 

Pronto, agora ele abriu o berreiro.

Levantei agoniada do sofá e peguei no colo o pequeno chorão, tentativa frustrada de acalmá-lo. 

– Sakura!  - Briguei - Que feio! Você não pode empurrar o Sasuke, ele cai e machuca. 

Na verdade eu acho que isso é só drama da parte dele, mas tudo bem. Só não quero aturar criança chorando.

– Tia, ele tem que aprender a se equilibrar na vida. - Ela revirou os olhinhos. 

Sim, minha mãe é a dona suprema da razão desde pequena. 

– Tia, briga com ela. - Sasuke falou com a voz manhosa, os olhinhos vermelhos e encharcados. Tão fofo, nem parece que é dramático... espera, parece sim!

– Vamos, façam as pazes. - Coloquei o pequeno rei do drama no chão - Vamos logo. Peçam desculpas. 

– Por que eu vou pedir desculpa se ela me empurrou? - O pequeno Sasuke fechou a cara, insatisfeito com a minha ordem.

Ah, crianças...

– Desculpa, Sasuke. - Sakura se aproximou de Sasuke e lhe deu um beijinho na bochecha - Você me desculpa?

– Desculpo. - Ele então segurou na mãozinha da rosada e os dois saíram juntos para o quarto.

Todos os problemas da vida poderiam ser resolvidos desse jeito, não é mesmo? 

Criança é um bichinho engraçado. Num segundo estão declarando guerra, no outro já estão brincando na maior lindeza do universo. 

– Tão meigos... - Boruto disse com um sorriso bobo. 

Ah, eles são fofinhos mesmo, não há como negar. Poderiam dar menos trabalho, né? Tipo... poderiam ficar só sendo fofos o tempo inteiro, não precisavam dar trabalho.

Bufei e sentei novamente ao lado do loiro.

– É, mas dão uma canseira! - Suspirei. 

– Imagino. - Riu - Só a Himawari nessa idade já era cansativo, imagine duas crianças juntas.

Ele acha que pode falar o quê? É mais criança do que a Himawari, sempre foi. Se formos analisar idade mental, ela é a irmã mais velha, não o Boruto. 

– Você aprontava mais do que ela! - Falei indignada, fazendo o Uzumaki rir. 

– Então... - Pigarreou, corando de leve - Sobre o que aconteceu... sabe... antes dos diabinhos interromperem... - Ah, ele está falando do beijo - Se tiver sido um erro, a gente faz de conta que não aconteceu.

– Bobo. - Tomei a iniciativa e dei um selinho no rapaz, o que o deixou claramente surpreso - Ninguém aqui precisa fingir que nada aconteceu. Foi bom. - Dei de ombros.

– Com certeza foi. - Sorriu de canto - Fiz certo então. 

– É. - Assenti - Com certeza fez.

Boruto se levantou. 

– Preciso ir. Falei pra minha mãe que não iria demorar, então não posso demorar. 

É, realmente é bom mesmo ele não demorar.

A tia Hinata é um doce, mas sabe ser muito brava e fica muito assustadora quando está com raiva. 

Levantei e acompanhei Boruto até o portão. Mas quem disse que ele foi embora imediatamente? Não... ficamos parados, sem graça, um olhando pra cara do outro. 

– Então... - Quebrei o silêncio - Até... até qualquer dia desses, né? 

Ele sorriu. 

– Até. 

Boruto me abraçou. Um abraço mais demorado e apertado do que os que ele costuma me dar. Eu não queria que me soltasse. Quando ele foi embora, senti uma espécie de vazio... eu não queria que ele fosse, não mesmo.

Ah, droga! Sinto algo estranho no meu peito, tomara que seja infarto... Eu não posso estar me apaixonando pelo meu amigo! 


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