Os Guerreiros do Infinito escrita por Lorde Kata


Capítulo 18
Sangue corrompido


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente gostaria de pedir desculpas a todos pela demora na postagem deste capítulo, tive alguns imprevistos com a viagem que vou fazer no feriado prolongado. Espero que gostem!



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Mais próximo da Terra e mais visível sobre a constelação de câncer, encontra-se o planeta conhecido como Cancri 55. O número 55 refere-se às duradouras gerações da civilização kruazip’tiana, que sobreviveram intactas por milênios, devido a sua exímia habilidade em interpretar e manipular as emoções de seus inimigos no campo de batalha. No entanto, assim como os outros planetas, Cancri estava em uma busca intensa e incessante pelos Cristais do Infinito por todo o cosmos, depositando todas as suas esperanças no comandante atual do exército de elite kruazip’t, Sateriasis Venomania, fruto do clã mais poderoso de kruazip’ts que Cancri já teve o orgulho de ver.

Em meio aos ventos escaldantes e das dunas de areia quentes sob o Sol daquele sistema, um grande círculo mágico de cor arroxeada surgiu nos céus, fazendo uma grande barreira circular abaixo de si, e invocando de muito longe três seres malignos. Quando a energia arcana se dissipou pelo ambiente exótico, Venomania deu um passo à frente de Infinito Reverso e Rypt, inspirando profundamente o ar de seu lar.

— Finalmente, em casa. — Juntou as mãos atrás de si e começou a caminhar em direção ao norte, aparentava saber o que estava fazendo. — A capital é pra lá, senhores.

Enquanto seguia o kruazip’t, o olhar de insanidade e loucura crescia cada vez mais na face de Infinito Reverso. Desde o despertar de sua relíquia, as vozes de seu cristal não o deixavam em paz, mesmo que seu corpo fosse só estática e não devesse ter uma mente propriamente dita. Por outro lado, Rypt usava uma de suas melhores máscaras ao não demonstrar importância com o espaço vazio entre seu braço e o novo antebraço. Ainda estava incrédulo e levemente assustado com a existência de alguém capaz de inibir completamente sua manipulação biológica. O Imperador de Treiq preferia ficar em silêncio em meio aquele deserto.

— Pois então, Venomania... por que você foi enviado para capturar os cristais? — Indagou Infinito Reverso. Por mais que não fosse muito fã de conversas, devia admitir que caminhar uma distância como aquela em pleno silêncio poderia ser incrivelmente chato.

— Eu insisti ao rei de Cancri para que fosse enviado à Terra. No começo ele foi relutante, achava que eu era muito novo. Mas logo eu o persuadi. No entanto... disse que se eu não voltasse com um cristal, seria exilado.

— Enfrentaremos problemas por isso? — Reverso arqueou a sobrancelha esquerda, não preocupado, mas não contava com aquele tipo de obstáculo.

— Bem, eu diria que você é hospedeiro do cristal, mas não podemos extrair o cristal de você. Então sim. Mas eu tenho um plano.

— Foi tolo o bastante para nos atrair para uma armadilha cheia de inúteis como você? — Enojou Rypt.

— Se somos inúteis, você não devia estar tão preocupado. Além disso, eu já disse que tenho um plano. Mas precisamos chegar até a capital sem deixar que a guarda real note nossa presença. — Venomania respondeu, franzindo a testa para tentar se lembrar do esconderijo da dádiva e triunfo de sua família. Porém seus pensamentos foram interrompidos pelo som das relíquias cósmicas de Infinito Reverso sendo ativadas. Círculos mágicos arroxeados agora cobriam suas luvas brancas.

— Parece que já falhamos nessa parte do plano. — Disse ele, apontando com a destra para os céus. Em sua direção, estavam a caminho cinco tropas do exército real kruazip’tiano. As cinco naves tinham uma aparência bem quadrada, com apenas alguns círculos, como para o visor da cabine de comando. Esses veículos eram rápidos e bons em se camuflar entre as areias do deserto de Cancri, por isso não haviam sido notados antes, mas na verdade já estavam seguindo seus alvos desde que estes desembarcaram no planeta.

Não demorou muito para que Venomania, Reverso e Rypt fossem cercados por essas naves de porte médio, levantando a areia do chão enquanto pousavam. Quando finalmente tocaram o solo, uma rampa desceu de cada uma, de onde surgiram vários soldados do exército real. Todos trajavam armaduras douradas e beges, com armas semelhantes ao disparador roxo de Venomania. Finalmente, um ser de estatura mais alta do que os outros soldados desceu de uma das naves, com ambas as mãos cruzadas atrás do próprio corpo. Trajava roupas imperiais brancas com detalhes vermelhos, indicando sua altíssima posição dentro do exército de Cancri. Seus cabelos vermelhos eram esvoaçados pelo vento quente do local, enquanto um sorriso sarcástico permanecia sobre os seus lábios.

— Ora, ora... o que temos aqui? Pensei que não fosse voltar depois do seu fracasso, Venomania... Ou devo dizer... Asmodeus?

— Você não tem a liberdade para me chamar assim, Slookhor. — Venomania respondeu, dando um passo à frente e apertando seu próprio punho.

— Você não está em posição de exigir nada. O imperador Yosyot o enviou à Terra para que você voltasse com pelo menos um dos cristais. E o que eu vejo é apenas um homem com luvas brilhantes e um réptil gigante. — Rypt rangeu os dentes, queria simplesmente saltar em todos que estavam ali e libertar a ira que há muito estava guardada, mas sabia do que aquelas armas eram capazes de fazer, então decidiu não arriscar e se conteve.

— É aí que você se engana. Eu triunfei onde todos os outros falharam. Nenhum dos outros enviados voltou com um dos cristais, não foi? Inclusive você.

— Onde quer chegar com isso? — Um pequeno suspiro de revolta escapou da garganta de Slookhor.

— Este homem que você diz ter luvas brilhantes, é o hospedeiro legítimo do Cristal da Instabilidade. O trouxe como meu refém, e de quebra ainda capturei o imperador dos treiqrypt. Tudo o que precisamos fazer é extrair o cristal do infinito do corpo frágil de seu hospedeiro, e teremos o universo em nossas mãos. — Reverso arqueou a sua sobrancelha esquerda, estranhando o plano de Venomania. Foi quando deduziu que era um blefe, afinal Sateriasis sabia que podia ser morto por ele a qualquer momento.

— Oras, é mesmo? — Slookhor sorriu em surpresa, abrindo os braços como se fosse o dia mais feliz de sua vida. — Então só temos a comemorar! Venha, meu caro. Vamos te levar até a capital. —Ele ergueu sua mão direita aberta, como sinal para que seus soldados abaixassem as armas. Dito e feito.

Venomania sinalizou discretamente com o canto dos olhos para Reverso e Rypt para que deixassem que os outros soldados colocassem as algemas. Elas não serviriam de nada muito em breve, de qualquer forma.

Já dentro da nave, que sobrevoava o deserto em direção à capital, Venomania observava pela janela as mortais serpentes gigantes que perambulavam pelas areias, lembrando-se de como tinha medo delas quando era criança. Se perguntava o que aconteceria se chegasse a enfrentar uma delas novamente, e um sorriso de luxúria pelo sadismo surgiu em sua boca. Porém ele logo foi interrompido por Slookhor, que se sentou ao seu lado.

— Sabe, é bom que você tenha voltado. O rei estava enlouquecendo. Mais alguns dias e eu iria ser eleito o novo comandante do exército kruazip’tiano.

— Ele faria isso? — Venomania se conteve para não demonstrar a raiva em seu olhar. O título de comandante do exército fora herdado pelo patriarca da família Sateriasis há muitos milênios atrás, era revoltante acreditar que o rei poderia querer mudar isso em um piscar de olhos. Mas o pagamento viria, na hora certa.

— É... afinal, como chegou aqui? Não vi nenhuma nave com você.

— A nave que eu usei para chegar à Terra foi destruída por... forças locais. — Rangeu de leve os dentes ao lembrar-se de Bronze Thunder e das intromissões irritantes da InfiTec. — Usei o poder do cristal para ser teleportado.

— O hospedeiro já o controla a esse ponto? Devemos fazer a extração o quanto antes.

De repente, os olhos de Venomania se arregalaram ao avistar o portal de entrada da capital de Cancri e logo em seguida o brasão da família Sateriais sendo esvoaçado em frente a um pequeno castelo. Era a sua antiga residência, o local onde precisava ir. Mais do que isso, precisava de uma distração. — Pode ir verificar o rumo da viagem? Os poderes do cristal da instabilidade podem influenciar na realidade.

— Boa ideia. — Slookhor se levantou e caminhou em direção à cabine de comando à frente deles. Mas antes que chegasse lá, Venomania se ergueu bruscamente e sacou sua arma roxa, rapidamente disparando dois tiros contra os pilotos da nave, que adoeceram instantaneamente devido à loucura em seu sistema nervoso central. A falta de coordenação da nave fez com que ela começasse a cair, arrastando o corpo de Slookhor para a entrada da cabine, onde ele foi encurralado pelo cano da arma de Venomania em seu pescoço. — O que significa isso, Venomania?!

— Reverso, Rypt, podem ir. Procurem por um pequeno castelo com o brasão de um martelo. Não é muito difícil de achar. — O kruazip’tiano disse aos seus aliados, olhando-os pelo canto do olho. Infinito Reverso assentiu com a cabeça e com o simples brilhar de suas relíquias cósmicas, explodiu as algemas magnéticas que seguravam os seus pulsos. Rypt simplesmente expandiu sua carne até que o metal cedesse.

— Não demore. E limpe seus rastros. — Avisou o hospedeiro da instabilidade, pulando de uma vez há vários metros de altura do chão. Usou sua manipulação da magia para criar uma camada de mana ao redor do seu corpo, que o ajudava a planar em direção ao castelo mencionado antes. Rypt pulou da nave e manipulou o seu corpo para que um par de asas negras se estendesse de suas costas, assim seguindo Reverso pelo ar.

Voltando a olhar para seu antigo companheiro de batalha, Sateriasis se explicou: — Sabe, o cristal não pode ser extraído dele... ninguém sabe se é possível, ou o que pode causar. Poderia explodir essa galáxia inteira, por exemplo.

— E isso é motivo para heresia?! — Perguntou Slookhor, aflito.

— Não seja metido. Nosso governo nunca foi digno sequer de minha lealdade. Estou me unindo a eles em busca do retorno de minha dignidade. Um certo homem a roubou. E se você ficar no meu caminho, não hesitarei em te eliminar.

— Sabe que não posso trair o império.

— Então eu sinto muito. — Dando um ponto final à conversa, Venomania desferiu uma forte cabeçada contra o crânio do homem a sua frente, que cambaleou para trás com a pancada. Sateriasis pulou da nave, deixando que seu corpo caísse de costas em direção ao solo. Ainda com sua arma em mãos, mexeu em alguns fios de seu sistema interno e a jogou com toda a sua força de volta à nave. — Lá se vai meu último tiro. — Assim que a arma adentrou o veículo e bateu contra a parede de metal, instantaneamente expeliu uma quantidade enorme de energia emocionalmente instável, como uma explosão. Antes que fosse pego, Slookhor decidiu arriscar tudo e girou um misterioso mecanismo na parte direita de seu cinto, inundando seu corpo com energia raivosa. Venomania pôde ouvir seus gritos de raiva vindos mesmo em meio a tanta confusão. Mas decidiu deixar isso de lado. Virando-se para o chão, sacou sua espada dourada e a direcionou à terra, fluindo sua energia calma pelo metal até que formasse uma espécie de cúpula protetora ao seu redor. Quando finalmente colidiu, a energia se dissipou pelo ambiente, deixando seu mestre intacto. O kruazip’t então voltou a guardar a espada em suas costas.

Reverso e Rypt, que já haviam pousado, permaneciam em frente ao castelo do clã Sateriasis, encarando a bandeira com o símbolo negro de um grande martelo, como se aquela imagem os intrigasse.

— Não olhem muito. — Venomania se aproximou. — Reza a lenda que aqueles que presenciam por muito tempo a imagem mais simples do Martelo de Asmodeus, tem a consciência transportada ao próprio Inferno.

—Asmodeus? — Rypt perguntou, arqueando de leve a sobrancelha. Já havia tirado sua atenção da bandeira, mas Reverso aparentava estranhamente... intrigado.

— Um dos sete príncipes do inferno. Demônio da luxúria.

— Como sabe sobre isso?

— O cristianismo se espalhou de formas... diferentes em muitos planetas. Mas ainda é uma das menores religião do cosmos. De qualquer forma, é melhor entrarmos.

Rypt assentiu com a cabeça e então ergueu os seus braços, fechando os olhos e concentrando-se. Em alguns instantes, todas as suas escamas deram lugar a uma pele branca de aparência humana e sua estatura reptiliana assumiu uma forma também mais humana. Cabelos negros e lisos cresceram de sua cabeça, estendendo-se até o meio de suas costas. A cor de suas íris se tornou num tom bem escuro de roxo, quase negro. Também gerou tecidos interligados ao seu corpo para usar como roupas. Trajava agora uma longa camiseta negra, com mangas folgadas e um sobretudo branco por cima. As calças e os sapatos negros completavam seu visual, nada demais na parte de baixo.

— O que é isso? — Reverso finalmente saiu de seu transe e analisou Rypt da cabeça aos pés.

— Disfarce. Não acha que os soldados kruazip’tianos notariam um réptil gigante andando por aí? Já fui um solado ryptiano. Sei como me comportar em um combate.

— Pensei que fosse só um nobre mimado. — Venomania debochou, com uma leve bufada.

— Se eu fosse, teria preferido o suicídio a uma aliança. — Os olhares do imperador de Treiq e do comandante do exército de Cancri se cruzaram furiosamente pelo espaço vazio, mas sua briga mental foi interrompida pelo som do castelo se abrindo, o que deixou Sateriasis confuso. Olhando para a origem do som, ele pôde ver, Infinito Reverso de volta a sua forma humana, com a armadura desativada, e a porta aberta.

— Como fez isso? Apenas um Sateriasis deveria ter o poder de abrir estas portas.

— Magia, simplesmente. — O hospedeiro da instabilidade deu de ombros e se afastou, deixando que Venomania os guiasse. O kruazip’t, por sua vez, adentrou em sua antiga residência e esperou que seus aliados o seguissem. Quando todos estavam lá dentro, ele estalou os seus dedos e a porta o obedeceu, se fechando por completo. O castelo, ao perceber a presença de seu mestre, iniciou o protocolo automático de camuflagem, criando um campo ilusório ao seu redor, fazendo com que os outros kruazip’ts o vissem como uma casa comum. Além disso, as luzes que rodeavam o corredor se acenderam, revelando extensas paredes de rochas escuras, ao lado de um longo tapete vermelho trilhando o caminho.

— E eu sou o mimado... — Rypt murmurou, começando a andar pelo local juntamente com Reverso assim que Venomania tomou a frente. – Onde estamos?

— Essa é a sede do clã Sateriasis. Ou ao menos foi, um dia. Todos os membros já morreram, eu sou o único herdeiro.

— Seu pai não iria querer que você reproduzisse? — Perguntou Infinito Reverso.

— Talvez. Mas eu prefiro ficar só com a parte do prazer, por enquanto. — Venomania sorriu de canto. — De qualquer forma, estamos aqui porque o império virá atrás de nós. Cedo ou tarde, vão encontrar a nave caída e associar isso ao registro de minha chegada. Esse é o primeiro lugar que virão me procurar. Temos algum tempinho de sobra. Mas aqui se encontra a única arma em Cancri que pode acabar com nossos inimigos.

— E o que seria? — Como imperador de um planeta tão dominador quanto Treiq, era natural que Rypt se interessasse por armas exóticas.

— Vocês já o viram. Mais ou menos.

Chegando ao saguão principal da casa, que levava aos fundos e ao segundo andar com os quartos, Venomania caminhou até o busto do patriarca do clã Sateriasis no meio do cômodo, deslizando seus dedos pelo mármore. — Esse é Zurav, patriarca e fundador do clã Sateriasis, que prosperou em Cancri há milênios atrás. — A imagem de Zurav era a de um homem com fortes marcas na face e uma posição natural de respeito. — Ele tem o que nós precisamos. — Venomania então ergueu a sua mão direita e a cobriu com uma energia emocional ainda não vista por qualquer um em sua vida. Tinha uma cor vermelha, porém em um tom muito mais escuro do que a energia raivosa, como a cor de um sangue corrompido pelas sombras. Depositando tal energia sobre o busto, um alçapão se abriu, levando a imagem para baixo lentamente. A parede de rochas atrás se abriu, revelando um pequeno cômodo decorado com a mesma cor da energia usada antes.

E lá, sobre o altar ao final do cômodo, estava ele: o Martelo de Asmodeus, em toda a sua glória. Era uma longa arma, a princípio. Seu cabo era dividido em três partes negras, com vestígios da cor marcante do sangue corrompido. Sua cabeça era retangular e larga, com espinhos por toda a sua extensão. Ainda assim, haviam espinhos bem maiores nas faces direita, esquerda e na superior. Estranhamente, havia um vão na face frontal, como se devesse ser preenchido por algo. Quando Sateriasis agarrou o cabo da arma de sua família, a energia que ainda estava em sua mão instantaneamente fluiu pelo material do martelo, fazendo seu caminho até o vão. Preenchendo aquele espaço, o martelo reconheceu seu portador como digno. A cabeça se comprimiu de leve ao redor do vão, e o tamanho do cabo diminuiu para que se adequasse melhor à estatura de Venomania, além de liberar uma intensa onda de vento ao redor.

— Esse, meus amigos... é o martelo sagrado de minha família, o martelo de Asmodeus. É tudo o que precisamos para derrotar o império de Cancri. — O kruazip’t saiu do cômodo sagrado, virando-se para seus aliados, que simplesmente o observavam com olhos atentos. — Ele foi preenchido com a energia da emoção que meu patriarca sentiu diante da presença de um verdadeiro demônio, diante da presença de Asmodeus. Uma mistura do mais puro terror, da mais poderosa destruição e da mais terrível corrupção. — Venomania levou o martelo as suas costas, prendendo-o ao seu corpo com a atração de sua empatia, sobre a espada, formando o símbolo de um X.

— Se você diz que poderemos garantir nosso triunfo aqui com isso... eu estou dentro. — Rypt deu de ombros, estalando os ossos de seu pescoço. — Para onde, agora?

— Provavelmente ainda temos alguns minutos antes que os soldados encontrem o castelo. — Ele se virou novamente para o cômodo secreto, usando a energia demoníaca para descer o pedestal do martelo, revelando outra passagem secreta. Porém era visível que essa era bem mais larga, e feita de vários túneis. — Sigam-me.

— Espere, Venomania... que símbolos são esses? — Reverso perguntou, apontando para os entalhes antigos sobre as rochas negras nas paredes.

— Dizem que meu patriarca quase enlouqueceu com todas as palavras de terror que Asmodeus sussurrou em seu ouvido. Por isso, escreveu tudo isso em forma de símbolos infernais.

— Símbolos infernais? — Ele arregalou os olhos e caminhou até um deles, passando os dedos sobre o relevo. Inserindo sua energia mágica, todos os símbolos do cômodo brilharam em conjunto, saindo das paredes como os símbolos estelares fizeram em Asmora. Eles se juntaram abaixo dos pés do hospedeiro da instabilidade, formando um círculo mágico infernal de cor avermelhada. Um grande pilar de energia foi conjurado, que se tornou roxo ao entrar em contato com o cristal do infinito presente no corpo dele. Aquilo durou alguns instantes, e quando tudo acabou, o círculo sumiu como se nada tivesse acontecido. As pupilas de Infinito Reverso estavam mais dilatadas do que deveriam ou poderiam estar, e traços de sua energia cósmica corriam quase descontrolados sobre seus braços. Com um sorriso maléfico, olhou para os outros dois ali presentes: — Agora sim temos o que precisamos para derrubar o Império.

— Eu sou o único por aqui que não ganha uma melhoria? — Reclamou Rypt, ignorando-os e trilhando seu próprio caminho na passagem secreta. Para sua sorte, ela seguia reto.

— Os símbolos... o que você fez? — Perguntou Sateriasis, incrédulo.

— Eram símbolos de magia infernal, Venomania... meu cristal teve influência sobre ela. A transformou na mais pura das magias cósmicas. Aumentou meu poder. Devo ter alguns novos truques, mas vamos deixar isso para nossos inimigos.

— Como queira... — Sateriasis começava a se perguntar se poderia confiar tanto assim em Infinito Reverso, mas realmente não tinha outra opção, ainda mais agora que a magia infernal corria pelas suas veias. — Vamos. — E então os dois começaram a andar pelos túneis. A passagem atrás deles se fechou sozinha, voltando os pedestais aos seus respectivos lugares e apagando as luzes. Apenas a camuflagem foi mantida. A tecnologia do castelo prezava ao máximo a discrição de seu mestre.

Os túneis eram escuros e úmidos, os três perversos certamente não enxergariam nada se não fosse o forte brilho natural da energia mágica de Infinito Reverso que ainda contornava os seus braços. O caminho durou pouco menos de uma hora, não muito se comparado à distância que seus corpos aguentavam caminhar. Finalmente puderam contemplar a porta final, que foi aberta por Venomania. Com um pouco de areia sendo esvoaçada pelos ventos do deserto, o céu azul logo foi avistado. Todos saíram discretamente da passagem secreta, fechando novamente a porta de ferro, que voltou a se camuflar sob a areia. Porém para a infelicidade dos três, um inimigo já os aguardava.

O corpo de Slookhor e suas roupas estavam cobertas por uma intensa camada de energia raivosa, e sua ira era tanta que quase podia ser vista em seus olhos, mesmo por aqueles que não eram kruazip’ts. Seus músculos haviam aumentado consideravelmente de tamanho, e os dentes rangiam de forma frenética. Os dedos de suas mãos se comportavam como se fossem as garras de uma besta selvagem, e a energia seguia suas ordens, solidificando tais garras como armas físicas. Solidificação de energia empática, daí algo que Venomania não via há muito tempo, além de em si mesmo.

— Tudo isso pelo Império? Qual é o seu problema, Slookhor? — Sateriasis perguntou, abismado com a imensidão da energia que emanava do corpo de seu inimigo. Levando a destra até às costas, pegou no cabo de seu martelo e o empunhou, deixando que a energia demoníaca corresse pelo material até que preenchesse o vão mais uma vez.

— Se tornou pessoal. Estou usando a nova tecnologia do exército kruazip’tiano... tecnicamente, ainda está em testes, mas tenho certeza de que não vão se importar se eu levar a cabeça do traidor. Nossa energia empática mais intensa é canalizada em nossos próprios corpos da forma que desejarmos, podendo até mesmo solidificar armas mortais. Mesmo com o Martelo de Asmodeus... você não pode me deter, Venomania. — Slookhor evitava olhar para o martelo. Sendo um antigo amigo de Venomania, conhecia as lendas acerca do clã Sateriais.

— Se eu não conseguir derrotar um verme como você, então não serei digno de vencer Bronze Thunder. — Sateriasis fechou os seus olhos para se concentrar no sentimento demoníaco, e então levou o seu pé direito para frente, deixando o esquerdo atrás. Posicionou a canhota mais na base do martelo, e a destra mais próxima à cabeça. — Que o melhor kruazip’t vença. — Abriu seus olhos, famintos pelo prazer da matança.

[EPÍLOGO]

[ANOS NO FUTURO]

Shixcan e Tuge estavam sozinhos no grande salão de baile do palácio real de Cancri, enquanto o resto da construção ao seu redor estava prestes a ir ao chão. Tuge permanecia em sua posição de ataque paciente, com a canhota na bainha negra de sua espada, e a destra sobre o cabo. Shixcan, no entanto, assumia uma posição inicial mais agressiva, mantendo ambas as garras voltadas para o próprio peito, cruzadas em X à frente de seu corpo. Nenhuma das energias empáticas havia sido libertada ainda. Mas a esperança era praticamente zero.

— Você sabe que não tinha que acabar assim, irmão. — Proclamou Tuge.

— Você luta pela liberdade de seus companheiros, mas isso aruinará nosso império. Devo defender nosso reino. No campo de batalha, não somos mais irmãos, Tuge. Somos soldados, lutando por nossos ideais. — Esclareceu Shixcan.

— Apenas um de nós sairá vivo deste conflito, na melhor das hipóteses. Presumo que saiba disso.

— Então façamos dessa batalha o ápice de nossas vidas.

Tuge assentiu com a cabeça e sorriu de canto. Uma intensa aura azulada cobriu o corpo do homem, enquanto uma aura avermelhada cobriu o de seu inimigo. A energia azul foi canalizada pelo corpo de Tuge até o cabo de sua espada, aprimorando o metal de sua lâmina. A raiva de Shixcan ativou as suas luvas, estendendo garras de ferro cobertas com o apoio de sua ira. Em apenas um piscar de olhos, seus corpos haviam sumido, mas suas auras seguiam seus movimentos de guerra pelo campo de batalha.

Era a Grande Guerra Civil de Cancri.


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Notas finais do capítulo

Martelo de Asmodeus: https://vignette1.wikia.nocookie.net/elderscrolls/images/d/dc/DAVolendrung.png/revision/latest?cb=20121013153054

Naves de Cancri55: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/d1/98/80/d198801492be488ce727a88710b2ecdf.jpg

A PP de Rypt em sua forma humanoide é o personagem Byakuya Kuchiki, da série de mangás Bleach: http://wallpapercave.com/wp/bENLNey.jpg

A PP de Shixcan é o personagem Kaede Higa, da série de mangás Kiss of Rose Princess: http://static.zerochan.net/Higa.Kaede.full.472185.jpg

A PP de Tuge é o personagem Yuu Kanda, da série de mangá D-Gray Man: http://static.zerochan.net/Kanda.Yuu.full.2048434.jpg

No próximo capítulo: Como Venomania conseguirá derrotar um kruazip't dominado pela raiva?



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