Morte Impossível escrita por Kamihate


Capítulo 1
Capítulo 01 - A Mansão Stoneford




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718103/chapter/1

Era minha segunda vez naquela casa, eu não poderia dizer que o clima era ruim, apesar da família Stoneford ser uma das mais ricas de Manchester, quando se estava em festa e a bebedeira começava, todos aqueles modos diplomáticos e atitudes requintadas davam lugar à falação, confissões e gargalhas, não querendo dar méritos ao vinho e whisky por conta disso, mas as bebidas ajudavam e muito naquela socialização, o problema era que eu não estava acostumado com aquelas pessoas, não conseguia ser falso e muito menos simpático ao ponto de puxar algum assunto para me integrar, então minha única opção era ficar sentado em uma das várias poltronas espalhadas por aquela enorme sala de jantar enquanto fumava meu charuto observando aquelas pessoas peculiares e suas picuinhas. Eu havia chegado na Inglaterra com minha mãe Andrea e meu pai Gilbert, este último, filho mais novo do chefe falecido da família Stoneford, foi o único a se mudar para os Estados Unidos, e também o único a não se tornar um multi milionário, e eu agradecia por isso, não era uma das pessoas ligadas ao capitalismo e à vidas luxuosas e tomadas de regras, já tinha 28 anos e seguia meu próprio caminho como pianista, algo que era visto com repúdio por todos naquele local, uma das razões a mais para estar isolado no canto da sala, meus pais, por outro lado, tinham que se infiltrar nos assuntos familiares apenas para poderem aproveitar a ‘hospedagem’ e comida gratuita, claro que eles não odiavam aquelas pessoas, mas eu sabia também que não gostavam daquele estilo de vida da mansão Stoneford, apenas esperavam receber uma boa ‘mesada’ do atual chefe da família. A casa era composta por dez pessoas:

Carlton Stoneford, o ‘dono’ da mansão e filho mais velhos do meu falecido avô, eu nunca tive a oportunidade de conhecer meus avós, mas meu pai dizia que ele era uma das pessoas mais rígidas que conheceu em vida, e acho que meu tio Carlton havia puxado isso, o rapaz era autoritário e na maior parte do seu tempo livre falava em negócios e carros esportivos, ele devia ter uns 56 anos mas sua aparência era mais jovial, talvez por algumas plásticas aqui e ali, algo que era aparente em seu rosto moreno, seus cabelos quase brancos e ralos mostravam que sua vida era cheia de preocupações, mesmo assim ainda tinha um corpo musculoso pelas corridas diárias que praticava em seu próprio quintal.

Shania Stoneford, mulher de Carlton, uma criatura clichê demais, diria que mulheres como ela se encontram todo dia por aí, ainda mais casadas com ricaços, ela só pensava em consumir, gastar, sair para mostrar seus bens, enfim, o tipo de pessoa mesquinha que não tinha um assunto que prestasse, ela era uma das mais falsas ali, fingia sorrisos por todos os cantos, mas pelas costas, olhava todos como se fossem baratas.

Camila Stoneford, filha mais nova de ambos, ela tem 9 anos mas já é uma garota bem inteligente e perspicaz, e apesar do comportamento dos seus pais, era uma garota bem amável e inocente, apesar de um tanto birrenta devido aos mimos que recebia, percebi isso pelas poucas vezes em que estive com ela, acho que o comportamento mais amável se dava pelo fato dela não ser criada pelos pais que se ocupavam demais com trabalho e mal a abraçavam, ela era loura como a mãe, mas de uma estrutura corporal frágil, sua pele era branca como se nunca tivesse visto a luz do sol na vida.

Camila era ‘cuidada’ na maior parte do dia por Jessica Howking, uma das empregadas que também servia como babá, ela devia ter por volta dos 30 anos, foi contratada a menos de dois anos pelo que soube, mas já conseguiu o respeito de toda família, era o tipo de criada que recebia ordens como um robô, e isso era tudo que meus tios procuravam, seus cabelos eram louros acinzentados, ela passava uma visão de pessoa triste e solitária por trás das frases simpáticas e comportamento enérgico, eu tinha esse dom de ver através das pessoas graças ao meu hobbie de exímio observador.

Os outros dois empregados, Scot Joshua e Michael Ribs, ambos com mais de 40 anos, servem os Stoneford a mais de 20, eram fiéis e faziam um trabalho de dar inveja a qualquer criado pelo mundo afora dos magnatas, mas pelo salário que deviam receber, acho que qualquer um se submeteria a ser uma máquina que apenas recebe ordens, é insultada, tem que ficar calada e sorrir. Este primeiro parecia mais como um empregado dos anos 70, típico, um senhor com bons modos, careca e com postura de alguém que sabe como é viver no alto escalão, já Michael, uns anos mais novo, parecia seguir tudo que Scot fazia, ele era um tanto afobado e atrapalhado, por isso cuidava de tarefas como jardinaria, limpeza pesada, entregas e tudo que requer força física, seu corpo era bem atlético para um homem na faixa dos 45 anos.

Os outros quatro membros viviam na casa dos meus tios como parasitas, minha tia Christina Claudensy era a irmã do meio, mas diria que a mais inteligente e de pulso firme da família, tinha 41 anos, cabelos ruivos tingidos e uma pele tão branca como a de Camila, se não fosse minha tia eu diria que poderia até flertar com ela, ainda mais porque seu marido – seu terceiro marido na verdade – Julius Claudensy, era um molenga bobalhão, o corretor de seguros que ria de qualquer piada e fazia tudo para se integrar a um grupo, ele apenas puxava o saco dos meus tios, ambos, ele e minha tia faziam isso apenas para ficarem naquela casa, Christina estava de licença do seu trabalho na bolsa de valores a mais de um ano por conta de um ‘problema’ em sua coluna, mas todos sabiam que ela não gostava de trabalhar, o mesmo se podia dizer de sua filha Michelly, com vinte e cinco anos ela era uma garota que aproveitava a vida como queria, viajava todos os fins de semana com seu namorado Brian Killian, um americano de 31 anos que era também um aproveitador, um pseudo surfista que vivia falando de coisas naturais e veganismo, seu bronzeado artificial e seus cabelos pintados de louro escuro só mostravam o quanto ele queria ser caracterizado como àquilo. Havia também Jimmy Stoneford, filho mais velho de Shania com Carlton, mas atualmente ele estava estudando medicina na Itália, uma pena, pois era o único naquela casa que eu gostava de conversar.

— Vai ficar fumando a festa toda Christian? Espere, esses charutos são de Havana mesmo? Cara, meu tio trouxe uns assim no verão passado, me lembro quando fui pegar umas ondas por lá em 98, os cubanos são bem atenciosos com estrangeiros não acha? – Brian era mesmo um idiota, ele apenas queria se gabar de suas viagens com Michelly, infelizmente eu pouco me importava, dei uma tragada com indiferença olhando para ele de canto apenas concordando rapidamente com a cabeça. – E aquela garota que você trouxe pra cá ano passado? Era bem... ah, você sabe! Pena que romperam. – Ele queria dizer que ela era uma pessoa fisicamente bonita mas não tinha coragem de dizer isso olhando para mim? Eu sabia que ele traía minha prima mas acho que até mesmo ela sabia, e aposto que ela fazia o mesmo, um namoro artificial movido por interesses, nada incomum nessa família.

— Éramos pessoas totalmente diferentes, não consegui mais ‘tentar’. – Sophia era a segunda pessoa que realmente gostei em minha vida, fiquei junto dela por dois anos, mas depois que soube de seu envolvimento com drogas, sem nem ao menos me dizer nada, não pude continuar aquilo, todos da família gostavam dela, até mais dela do que de mim, aposto que naquela casa todos me viam como a ovelha negra, estava acostumado com isso, mas infelizmente vão ter que se contentar em me verem ali por mais dois dias, até na segunda-feira – não que eu desejasse por isso mas com a neve que caía lá fora era até aconchegante uma mansão quentinha com lareira e chá servido sempre - .

— Eu acho que a Michelly não te contou não é? – Ao ouvir aquilo, logo me preocupei e pela primeira vez olhei nos olhos azuis de Brian que parecia se divertir.

— Contar o que? – Como uma força do destino, naquele exato momento do meu questionamento, a campainha havia tocado. Christina foi até a porta atender, quando ouvi àquela voz, dei um pulo da poltrona em que estava sentado enquanto Brian me olhava com sarcasmo em seu rosto.

— Acho que não preciso mais dizer. – A pessoa que abraçou Christina era Sophia, ela estava ali, naquela casa, mesmo depois de ter terminado com ela a mais de seis meses! Quando ela me viu, veio correndo em minha direção e me abraçou fortemente.

— Christian! Nunca pensei que fossemos nos encontrar em véspera de ação de graças, sei que esse é um feriado americano mas aqui na Inglaterra as pessoas agora estão comemorando, sabe, quanto mais motivo pra festas melhor, enfim, fui convidada por sua tia, pela sua cara de espanto, acho que ninguém havia lhe contado. – Christina se aproximou com um olhar afiado e um sorriso irônico, ela queria ver minha reação.

— Acho que foi o melhor presente que ele poderia receber, isso não foi nada querido, agora aproveitem pra colocar os assuntos em dia, e Sophia, venha experimentar meu patê de azeitona depois! – Comecei a pensar que estar naquela casa era a pior coisa que havia feito em anos, por que eu tinha que lidar com uma ex-namorada além daquelas pessoas falsas? Sophia, aparentemente parecia uma mulher de 27 anos fina e com ótimos modos, mas ninguém sabia mesmo como ela era quando estava dopada, eu havia omitido para meus pais e todos ali o verdadeiro motivo do nosso término, apenas disse que o fato dela morar na Inglaterra e eu nos Estados Unidos era um fator que atrapalhava a relação, e agora me arrependi por ter mentido.

— Você está ótima, mas sabe, acho que devia ter me dito algo. – Sophia havia cortado seus cabelos morenos e lisos, estavam na altura de sua nuca, seu rosto era lindo demais e esse corte caiu muito bem nela, eu não podia me deixar levar novamente pela beleza que havia me ganhado uma vez, eu era mais forte do que aquilo.

— Acho que você jamais resistirá a mim, não é? – Ela sorriu maliciosamente enquanto pegava uma taça de vinho que Scot passou servindo.

— Talvez você seja um pouco convencida, cortar o cabelo aumentou ainda mais seu ego?

— Eu sei que sentiu minha falta, Christian. Aliás, seu nome é em homenagem a sua tia, não é? Vocês são bem parecidos. – Eu queria negar mas meus pai realmente haviam dado esse nome graças a minha tia, mas preferi ignorar esse fato, segurei Sophia pelas mãos e a puxei para a varanda fria que ficava abrindo as venezianas do final daquela sala, fechei a porta enquanto ela parecia empolgada, mas logo que sentiu o frio de -2 graus de Manchester, olhou para mim desconfiada.

— Pensei que iria me agarrar e me aquecer. – Fiquei parado em frente a garota encarando-a seriamente.

— Você não vai beber muito, entendeu? Meus pais nem ninguém sabe... do seu vício, ou vícios. Não me faça passar vergonha, é só isso que peço ok?

— Acha mesmo que ainda sou assim? Eu disse que mudaria! Nesse tempo eu sou outra pessoa, Christian, por isso eu aceitei vir, eu queria te mostrar, queria te provar que consegui cumprir aquela promessa.

— Sophia, você já tentou parar 8 vezes, todos sabemos que isso é impossível.

— Mas agora é diferente! Pode revistar minha bolsa, só vai encontrar um cantil de conhaque, mas isso é pra me aquecer só, não tem cocaína nem nada. – Eu queria muito acreditar nas palavras da garota, mas eu duvidava que as pessoas podiam mudar da noite para o dia, ainda mais para melhor. Entrei com Sophia novamente na sala de estar, sentei com a mesma em um dos bancos ao lado de uma pequena mesinha de chá, ela parecia feliz em estar ao meu lado, e confesso que também não achava aquela situação totalmente ruim, senti um pouco de falta daquela voz fina e irritante.

— Mãe, eu vi, eu juro que vi! – Olhei para o fundo da sala de estar, perto de uma estátua da virgem maria enorme, Camila estava gritando com minha tia Shania, todos ficaram quietos naquele momento observando a menina enquanto sua mãe parecia bem envergonhada.

— Pare com isso Camila! Está me dizendo que viu um homem gigante lá fora com um manto preto? Michelly, você está mostrando aqueles vídeos idiotas pra menina de novo? – Shania olhou para Michelly que se fez de desentendida.

— Juro que a única coisa que mostro pra ela são vídeos de maquiagem.

— Mi não mostrou nada, eu vi, eu vi! Ele tá no jardim. – A garota parecia convicta de que havia visto algo lá fora, ela apontava para as janelas que ficavam atrás da mesa enorme de jantar, era um quintal com um jardim de bromélias e damas da noite, era maior que meu apartamento, olhei de relance para todos os cantos do jardim e via apenas neve caindo sobre as pobres flores, naquela casa havia um sistema moderno de alarmes, não tinha a mínima possibilidade de um ladrão entrar.

— Você quer ficar de castigo? Se não parar com isso vou ter que tirar o seu tablete, e falo sério. – Shania via que seu marido olhava para ambas com certa raiva, por isso tentava fazer com que a menina parasse com seu show antes que o velho se metesse.

— Nunca acredita em mim! Eu juro que vi, e vou provar! – Camila subiu as escadas correndo, ela fazia isso quando ficava emburrada, corria para seu quarto e depois descia ao ver que ninguém havia lhe dado atenção.

— Acha mesmo que ela está imaginando coisas? – Sophia segurou minha mão enquanto olhava para meu rosto bem de perto, aquilo me fazia pensar que ela não havia aceitado o término ainda.

— Ela sempre faz isso, não é a primeira vez, só quer chamar atenção.

— Mas a voz dela parecia bem sincera, ela é uma boa mentirosa então.

— Quer dizer que acredita que há um ceifador lá fora? Sophia, disse que havia parado com suas drogas.

— Mas eu parei! Só acho que sua prima não é tão maluquinha assim, talvez ela tenha confundido o pobre Michael com a morte, ele está com uma jaqueta de frio enorme, até eu me assustei quando ele foi abrir o portão.

Deixei de lado aquele papo chato das fantasias de Camila, comecei a tomar um pouco de whisky, acho que a empolgação por ver Sophia novamente me fez liberar essa vontade, naquele momento comecei a observar todos naquela sala, meu pai fazia uma ligação meio escondido atrás de um palanque ao lado da cozinha, minha mãe havia ido ao banheiro depois de deixar cair o famoso patê da minha tia em seu vestido, imagino que ela devia estar puta, mas vi minha tia fofocando algo com Michelly, devia ser sobre minha mãe, elas adoravam falar mal dela, enquanto isso Shania foi atrás de Camila, ela não era de fazer isso, sempre deixava a menina chorar até se cansar, Carlton jogava xadrez com Brian que parecia um pouco nervoso, não entendi o porquê da atitude do rapaz ter mudado repentinamente. Scot estava na cozinha preparando algumas barcas de maionese pelo que vi pela abertura da porta, Michael parecia tirar neve da porta do outro lado de fora da sala com uma pá – provavelmente era ele que Camila havia visto mesmo -, Jessica não aparecia ali fazia um bom tempo, ela odiava reuniões do tipo, acho que sentia inveja ou vergonha por ser uma criada, via nela certo orgulho, meu tio Julius bebia muito sentado na poltrona em que eu estava antes, ele parecia pensar muito na vida, foi quando vi Shania descendo as escadas irritada.

— Ela ainda está irritada? Crianças são assim Shani. – Christina deu de ombros enquanto minha tia Shania se sentou após suspirar.

— Estou mimando ela demais, sinto isso. Ela se trancou no quarto e está cantando uma música idiota, cada dia mais ela quer chamar atenção.

— Podia levar ela pra uma psicóloga, mesmo com essa idade as crianças começam a ser problemáticas, não dizendo que sua filha seja, mas é melhor evitar sabe? – Christina e Shania viviam trocando farpas indiretamente, aquilo me divertia, mas concordei com ela sobre Camila, pra idade dela, a menina precisava tomar jeito.

— Christian, que chatice ficar olhando os outros, ainda mais ouvindo conversas alheias, vamos lá pra cima, eu estou com muito frio. – De alguma forma eu não consegui resistir ao pedido de Sophia, eu queria muito beijá-la, ao ouvir sua voz e sentir seu cheiro, várias lembranças invadiram minha mente, não acho que iria fazer mal dar uns pegas nela, amanhã provavelmente eu voltaria ao normal e esqueceria novamente a garota.

Enquanto subia as escadas com Sophia, Michelly disse bem baixinho enquanto passávamos pela mesma.

— Não façam muito barulho, vão traumatizar a pobre Camila. – Ela era uma idiota mesmo. Fiquei no primeiro corredor de cima, que dava para quatro quartos, não queria intensificar as coisas e levar Sophia para meu quarto, comecei a beijá-la enquanto a mantinha encostada nas paredes aveludadas do corredor, ela parecia sentir muito minha falta pela intensidade que impunha em seu beijo, o mesmo acontecia comigo. Após alguns minutos gastando meu fôlego com a garota, Sophia levou uma de suas mãos até meu rosto e começou a me olhar de uma forma que fez meu coração bater mais rápido.

— Estou feliz em estar aqui. – Ela disse com os olhos lacrimejando.

— Também estou. – Foi difícil admitir aquilo, eu sentia uma dor no peito, uma dor por ter ficado longe dela por tanto tempo.

— Eu já volto tá? – Sophia me deu um beijo no canto do rosto e foi até o banheiro no final do corredor, espero que ela não tenha ido cheirar nem nada do tipo, queria mesmo confiar que ela havia mudado. Enquanto esperava, ouvi passos na escada, passos que iam para o outro corredor, que não era visível de onde eu estava, esse corredor era dos quartos de hóspedes, eram quatro no total, o terceiro andar era onde ficava os quartos dos meus tios e dos empregados, além do de Camila, parece que alguém estava indo até lá, provavelmente Shania que iria tentar mais uma vez tirar Camila daquele quarto, fui dar uma leve espiada, e para minha surpresa, vi Brian parando no meio da escada que dava até o terceiro andar, ele olhou para seu celular e desceu. Provavelmente, também era um viciado. Ouvi alguém batendo uma das portas no andar de cima, Camila devia ter se cansado finalmente, mas não vi ela descer, acho que iria ficar no corredor, e em seguida desceria ao se cansar mesmo. Voltei para o corredor onde estava, Cinco minutos se passaram e Sophia não voltava do banheiro, era delegante pensar que ela estava com uma dor de barriga, mas comecei a pensar no pior mesmo, eu iria entrar naquele banheiro e iria vê-la cheirando uma carreira de pó em cima da pia, se fosse isso eu a chutaria daquela casa mesmo que aquilo causasse um caos, foi quando vi a garota saindo de lá com os olhos vermelhos, mas notei que era um rosto de choro, e não por ela ter usado alguma droga.

— Eu... apenas não queria chorar em sua frente. Me desculpa – Sophia olhou para baixo constrangida.

— E qual o motivo de chorar?

— Estar com você, sabe, depois de tudo, eu senti muita saudade, mas sabia que estava errada, eu confesso que ainda bebo todos os dias, mas estou parando aos poucos, com a droga juro que parei! Christian, por favor, me dê mais uma chance! – Sophia me olhava enquanto começava a chorar, ela era uma pessoa sensível apesar de tudo, aquilo tocou meu coração e senti uma súbita vontade de chorar também enquanto abraçava a garota.

— Ei pombinhos, Scot vai servir o jantar, vamos. – Minha mãe estava nos observando esse tempo todo? Ela devia saber sobre Sophia e as drogas, acho que era a única que sabia, mesmo eu tentando esconder, ela era inteligente demais para entender as coisas, mas mesmo assim, fingia nada saber. Descemos até a sala de jantar novamente, todos estavam lá, com exceção de Camila.

— Pelo amor de Deus Shania! Não deu um jeito nessa menina ainda? – Carlton se levantou irritado, ele mesmo subiu as escadas indo em direção até o quarto de Camila, minutos depois, ele voltou ainda mais irritado.

— Shania! Shania! Aquela menina se trancou e não quer abrir a porta, você tem a outra chave não é?

— Querido, perdemos a outra chave do quarto de Camila há 3 meses, se esqueceu?

— Então ela se trancou lá e não vai sair mesmo? Ah, ela vai sim, mesmo que eu tenha que arrombar a porta! – Todos ficaram em silêncio naquele momento, mas tudo que meu tio dizia, ele realmente fazia, ele olhou para mim e fiquei surpreso.

— Ei Christian, venha me ajudar, aquela porta é bem grossa, sou forte mas sozinho não consigo, você pode vir também Brian. – Brian se levantou sem dizer nada, obedecia cada ordem de Carlton. Eu fui mas sem a mínima vontade, por que eu tinha que arrombar uma porta? Que atitude mais infantil, mas Carlton parecia determinado. Ao chegar na frente do quarto de Camila, me senti mal por ter que assustar a menina, ela só estava em uma idade difícil, afinal.

— No três ok? – Pegamos impulso e fomos em direção a porta jogando nossos corpos. Na primeira tentativa, nada aconteceu, Shania chegou até o corredor tentando nos impedir, mas Carlton estava nervoso demais para ouvir alguém. – Três! – Fomos mais uma vez de impacto com a porta que se abriu com tudo, eu quase caí no chão, Brian cambaleou e meu tio Carlton se segurou na porta.

— Agora você vai ver menina! – Carlton olhou para frente e viu que Camila estava encolhida na cama. Ele foi em direção a mesma, segurou seus braços com violência, e ao virá-la de frente, viu o pescoço da menina cortado, quando me deparei com aquela imagem caí de bunda no chão tentando me afastar, Shania entrou no quarto e soltou um berro estridente enquanto Brian começava a se contorcer na parede, Carlton olhava para o corpo de Camila sem entender, parecia paralisado, olhei para a porta e vi a chave na fechadura, do lado de dentro. Notei que as janelas estavam trancadas também, todas pelo lado de dentro, não havia sótão naquela casa, e como minha tia havia dito, a chave na porta era a única, e mesmo assim, não havia nenhuma lâmina no quarto que pudesse dizer ao menos que Camila havia se matado, acho que ela não tinha força nem coragem para rasgar seu pescoço, foi então que comecei a perceber... Aquele era um quarto fechado, havia sangue pelo chão, um espelho quebrado, um charuto quase acabado no tapete e o corpo de Camila.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Morte Impossível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.