Sangue Real escrita por Menina Estrela


Capítulo 1
Capítulo I - O sumiço da rainha


Notas iniciais do capítulo


Indico que leiam ouvindo essa música: https://www.youtube.com/watch?v=xSVBkD4IRhg



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Lynetta pensou em manter-se escondida sob a coberta e fingir que alguma coisa não estava acontecendo. Queria ser egoísta assim, queria não ter escutado barulhos suspeitos, queria ser o tipo de pessoa que satisfaz-se em cuidar do que vem até si. Mas com um longo suspiro, afastou as cobertas, vestiu o roupão, calçou-se com pantufas e abriu a porta silenciosamente para o corredor.

Serventes corriam de um lado para o outro e não pareceram notá-la ali, parada à porta. Apenas Arminel, o guarda, olhou-a com um olhar triste e pediu que por favor, voltasse ao seu quarto. Era mais seguro. Ele sempre dizia isso para ela.

Lynetta assentiu. Fechou a porta do quarto novamente e entreouviu até que tudo se tornasse silencioso. Tornou a abrir a porta e sem hesitar, caminhou escondendo-se nas sombras à procura de respostas.

Passou-lhe pela cabeça o óbvio: o gabinete do pai. Ficava naquele mesmo andar, na porta final do corredor à direita. Não havia muita gente por ali já que a área era bastante restritiva.

Ouviu passos e se escondeu eficientemente atrás de um dos enormes vasos de planta da mãe. Virou finalmente então no corredor à direita e deu de cara com Andoni, seu irmão mais novo, com um copo na mão tentando ouvir o que acontecia por trás da porta. Lynetta levou a mão ao coração assim como Andoni quando se avistaram.

— Quer me matar do coração? - o garoto de dezesseis anos perguntou, movendo apenas os lábios sem fazer nenhum som.

Lynetta abaixou-se até a altura da fechadura para espiar. Havia gente demais ali. Gente importante.

— O que está acontecendo? - sussurrou para o irmão.

— Alguém desapareceu.

— Alguém? Quem?

— Se você se calar talvez eu consiga descobrir. - ele resmungou irritado.

A irmã mais velha lhe deu um cutucão, mas fez silêncio. 

"...ao norte do reino." Ouviu alguém dizer.

"Talvez Fondole tenha tido alguma notícia..."

"Não." Lynetta reconheceu como a voz do conselheiro. "Somos aliados muito importantes. Colocaram-se à prontidão assim que chamamos. Se tivessem descoberto algo teriam nos contado imediatamente."

"E como pode ter tanta certeza, Sr. Camossi? Houveram muitas desavenças entre os reinos no passado."

"Não são eles." Lynetta e Andoni se entreolharam automaticamente ao ouvir a voz do pai, mas logo trataram de apurar mais os ouvidos e prestar atenção. "Não acredito que seja alguém dos reinos aliados."

"Dos  reinos inimigos, então, Vossa Majestade? Senese tem realizado alguns movimentos estranhos ultimamente quanto às rotações..."

"Tampouco acredito que seja dos reinos inimigos, meu caro Arquiduque. Algo muito maior está acontecendo."

"Vossa Majestade, peço desculpas pela interrupção, mas estamos perdendo tempo. A rainha..."

"Desacredita de que tudo que estou fazendo agora é por minha esposa, Marquês? Pois saiba que tudo o que me vem agora é seu bem-estar, o do reino e a reação de meus filhos. Como acha que irão reagir quando receberem a notícia?"

"O reino ou..."

"Ambos!" O rei alterou a voz, gélido e arrogante como poucas vezes já o viram ser. "Mandei metade da guarda, comuniquei-me com todos os reinos possíveis e os que ainda não receberam a notícia estão prestes a receber! Certamente que não é o primeiro ataque há meses..."

"Deveríamos ter..." Começou o arquiduque, mas foi interrompido.

"O que deveria ou não ter sido feito não vale a pena a discussão." Disse firme, o rei. "Resta-nos agora discutir a solução. Os reinos estavam em perigo antes, mas agora..."

O coração de Lynetta acelerou quando o irmão falou.

— Acha que mamãe...

— Não sei. - disse, tentando se manter contida. 

— Talvez possamos ir até o quarto dela descobrir. - ele insistiu.

— Espere um pouco, Andoni. Ainda há mais que precisaremos ouvir, você sabe que não nos contarão nada disso depois.

E dizendo isso, voltou a recostar-se na porta.

— Não interessa, eu vou. 

Enquanto Andoni caminhava de volta ao início do corredor, a garota tentava entender o que havia perdido. Rezava com todas as forças para que tivesse entendido errado e Andoni voltasse com a notícia de que encontrara-se com sua mãe.

"...eles estão preocupados. Não há segurança maior do que a deste castelo, meu senhor. Somos os mais fortes em todo o reino." Disse o mensageiro.

"E apesar de tudo que acontecera, querem vir para cá?" O rei indagou, mas sem surpresa na voz.

Houve uma sequência de murmuros que Lynetta não conseguira decifrar quando o rei finalmente falou.

"Muito bem, digam-os que venham para cá. Os herdeiros e suas rainhas serão muito bem-vindos aqui."

"Majestade, se me permite..."

"Diga, Varim."

"Os outros reinos não ficarão desprotegidos desta forma? E este poderá tornar-se potencialmente um alvo..."

"Não." O rei respondeu. "Os reis não virão com seus herdeiros e apenas algumas rainhas permanecerão aqui. Eu mesmo passarei mais tempo visitando-os do que sentado ao trono. Acreditamos que a presença concentrada da realeza poderá... Beneficiar todos os reinos em momentos como estes. Isto já aconteceu antes, e mais uma vez, os reinos irão cuidar do problema."

Lynetta se sentia um pouco perdida. Conseguia ligar algumas coisas, mas, certamente não o suficiente. 

— Mas o que você está fazendo aqui?!

Se a mão do jovem e robusto guarda não a tivessem calado na hora exata, a princesa teria gritado. Arminel a olhava irritada e sem pensar duas vezes arrastou-a pelo braço ao longo do corredor.

— O que pensa que está fazendo? - ela grunhiu - Ordeno que me solte!

Arminel riu. Lynetta nunca ordenava nada a ele.

— Sigo ordens do seu pai e estou fazendo isso para o seu bem. Imagina o surto que tive quando não a encontrei no quarto...

— Você entrou no meu quarto?

Ele deu um de seus sorrisos de lado tão familiares para a garota.

— Seu quarto não é nenhuma novidade para mim, não é mesmo?

— Se alguém te ouvisse agora pensaria que...

— Eu sou o guarda, você a princesa. Ninguém ousaria pensar tão alto assim. Nem mesmos nós dois.

Viraram o corredor e aproximavam-se do quarto quando uma voz o chamou. Era outro guarda que Lynetta ainda não conhecia. Cruzou os braços irritada enquanto esperava Arminel terminar sua conversa, mas logo a visão de um longo manto verde distraiu-a e moveu seus pés sozinhos em direção a ele.

Era uma alta mulher de cabelos castanhos claro e levemente ondulados assim como os de sua mãe. Virou o corredor contrário para segui-la. Estava a caminho do quarto real. 

Teve de correr silenciosamente para alcançá-la. Parou apenas a alguns metros da porta do quarto dos pais quando a mulher fez como quem iria entrar. Abriu a porta e antes de desaparecer por ela, encarou Lynetta por alguns poucos segundos lançando-lhe um sorriso angelical.

A garota sorriu de volta. Por um momento havia sentido-se assustada.

— Durma bem, meu anjo. - ela disse.

E a garota deu meia volta ao ouvir os gritos de Arminel aproximando-se.

— Quer por favor, falar mais baixo? - ralhou com ele.

Mas quando alcançou-a, ele estava mais irritado do que ela. 

— Não suma da minha vista! Tem ideia do risco que está correndo? Eu pensei... Por que diabos veio para cá sem me avisar?

— Deixe-me em paz, Armin. Esse é o quarto dos meus pais. Apenas vim ver minha mãe. 

— Lynetta...

— Vossa Alteza. - ela o cortou, por raiva, mesmo arrependendo-se em seguida.

Arminel não a levou a sério.

— Não sei se lhe contaram, mas sua mãe...

— Está tudo bem. - ela disse - Acabei de vê-la entrando no quarto.

— O quê?

— No quarto. Eu a estava seguindo quando vim parar aqui. Viu porque não precisava...

— Lynetta, a rainha sumiu. Ela foi sequestrada.

— Não, minha mãe está no quarto agora, eu a vi entrar.

Imediatamente o guarda correu para a porta e abriu-a sem cerimônias. Atrás dele, Lynetta procurava ver sua mãe deitada lá dentro. Mas o quarto estava vazio.

— O que exatamente você viu?

— Minha mãe! - ela disse convencida, com a voz alta e desesperada - Ela estava aqui, eu juro! E ainda disse "durma bem, meu anjo" como ela sempre...

— Lynetta, sua mãe não a chama assim desde os onze anos, quando...

Ele não terminou a frase. Mas abraçou-a.

— Você esteve em risco... Caramba, Lynn, não saia de perto de mim.

Mas ela não estava pensando nisso.

— Mas ela era... Se parecia... Armin, era...

— Vou te levar para a sala de reuniões. Seu pai deve encontrá-la lá. Já tranquei Andoni lá dentro. Isso precisa ser reportado.

Arminel guiou-a gentilmente abraçando-a pelos ombros. Atirou para fora do dorso da garota, um mosquito que por ali zumbia.

Enquanto voltavam para o corredor, Lynetta não pôde evitar olhar para trás. 


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Notas finais do capítulo

Até o próximo☆