CASUALIDADE

Era outro dia normal, como qualquer outro em sua vida, desde que nascera, lutando para sobreviver a cada dia, deitada na cama do hospital, olhando o tecto e contando os segundos para novamente sair dali para depois voltar novamente.

Era a rotina mais que corriqueira de sua vida, tanto que levara a morena sempre se questionara do motivo de existir propriamente.

Para que nascer para viver assim?

Nascera doente, os medibruxos não davam muitas chances de sobrevivência, mal chorara e abrira os olhos para o mundo.

Os Greengrass estavam quase extintos das famílias sagradas, nome dado ás famílias de feiticeiros de sangue puro, por causa de uma doença familiar que não dava muitas chances de sobrevivência além de pouco tempo da idade adulta.

Ela tinha pena de seu pai e de sua mãe, quando mais criança, ela passava todo o tempo em St-Mungus, não dando praticamente descanso a eles, que sempre andavam sobressaltados com medo de que ela morresse.

Talvez fosse por isso que, Daphne era um pouco revoltada com ela, porque com a doença mais avançada nela, muita atenção dos pais recairá sobre ela e não a irmã mais velha, mas sabia que esta apesar de suas bizarrices, sofria imenso com cada crise que ela tinha, por isso mantinha-se mais longe.

Não a criticava, ela achava-se um fardo enorme para seus pais, imagine para sua irmã, ela tinha mais era que viver sua vida, até aos pais chegara a dizer directamente, que podiam deixá-la ali que ela não se importaria ou deixá-la para morrer, isso parecera preocupá-los mais.

Eles achavam que era forte depressão com que sofria, ela só estava sendo honesta, com aquela doença, ela não iria sobreviver muito mais.

Acabara desistindo de falar alguma coisa, quando eles a colocaram no psicólogo de St.Mungus, de início, odiara mas acabara ficando mais feliz ao longo do tempo, era um óptimo local para ela desabafar e sem contar que a ajudou a ultrapassar barreiras que ela tinha-se auto imposto.

Começara a olhar para a vida com olhos mais positivos, ela sabia que eventualmente iria morrer cedo, por isso devia de viver a vida que tinha intensamente e como se fosse o último.

Em vez de tristeza e sofrimento, começara a sorrir e a andar bem-disposta. Algo que deixara seus pais mais felizes e a aproximara de sua irmã.

A sua saúde não era das melhores, mas começara a estabilizar, pudera viver alguns anos, algo que surpreendera os medibruxos.

Agora, ela estava ali presa naquela cama de hospital novamente, há anos que não tinha uma crise tão forte como aquela, que a levaram de Hogwarts em meio aos seus NIEM’s de urgência para o hospital de St.Mungus.

E era ali deitada que ela se perguntava com algum medo a si mesma, se seria ali seu fim? Ela ainda queria realizar tantas coisas, ela queria viver mais…

Porque Merlin fizera isso consigo? Qual era o seu propósito de existir?

Novamente o questionamento que se fizera em pequena surgira em seu íntimo, mas não pudera perder-se em questionamentos muito mais tempo, um barulho de alguém que gritava de dor viera nos seus ouvidos, quando ela olhara na direcção a surpresa tomara conta de si.

Draco Malfoy era trazido aos gritos, por um grupo de medibruxos ali para dentro, sendo acompanhado de sua mãe, que praticamente implorava com seus olhos que ajudassem o filho, ao que estes atenderam prontamente.

Passado minutos, Draco Malfoy estava de olhos fechados, descansando tranquilamente, quão tranquilo como para alguém que levou uma maldição.

—Tenha calma, Narcisa…seu filho foi atingido por uma maldição que afetou os ossos, mas já resolvemos…- Acabara de colocar um tubinho fino, que lhe lançava a veia segundo explicara, poção para dormir e poção anti dor e continuara a falar.- Mas melhor ficar de observação pelo menos, para vermos se nenhuma outra maldição foi lançada contra ele ou algum efeito colateral dessa maldição lhe fará algum mal…mas quer contar o que aconteceu?

Narcisa Malfoy parecia ter contorcido o rosto de desgosto, á medida que seus olhos iam ficando distantes, provavelmente recordando o que havia acontecido.

—Íamos andando em Hogsmeade, eu e meu filho e dai…bem só tive tempo de ver uma luz vermelha surgir do nada e Draco caiu aos meus pés, gritando e …só tive o impulso de aparatar com ele para aqui…há ainda muito…

O medibruxo que aparentemente era amigo da família Malfoy, suspirara, compreendendo o que havia acontecido.

—Ainda há muitas pessoas que recordam dos horrores da Guerra…eu entendo…mas isso não é motivo para atacar alguém assim…

Narcisa limitara-se a assentir, olhando para o filho na cama.

Astoria desviara o olhar na mesma direcção, ele encontrava-se a umas cinco camas dela, ela estava num ponta da ala e ele no início, perto da porta, dormia placidamente, só sua expressão contorcendo um pouco, como se estivesse sonhando.

Devia de ter perdido-se no tempo ao admirá-lo, porque o silêncio tomara conta do local, e o medibruxo e Narcisa Malfoy tinham saído e ela nem se dera conta.

Bem, ele era incrivelmente bonito e ela não era cega.

Rodara na sua cama, tentando em vão adormecer, quando voltara o olhar para ele, simplesmente a sua curiosidade estava lá no cimo, ela crescera ouvindo falar de Draco Malfoy, que era como se ele fosse seu amigo de infância, fosse por cochichos de suas amigas em Hogwarts que eram do mesmo ano que ele, ou era por relatos de sua irmã que era perdida por ele, tal como sua melhor amiga Pansy Parkinson.

Mas, ela nunca havia chegado perto, seu corpo levantara da cama, se a medibruxa ou enfermeira a visse de pé, ela estaria tramada com toda a certeza, mas a curiosidade era maior, caminhara pé ante pé, até perto da cama que ele ocupava.

E sempre fora meio que um passatempo seu, observar as coisas e nomeadamente as pessoas, concentrara na fisionomia dele, seus cabelos loiros caiam desajeitadamente sobre suas pálpebras, seu tom pálido estava bem demarcado por olheiras debaixo de seus olhos, parecia que seu sono de facto, não estava sendo nada tranquilo, ele remexia-se irrequieto, dando leves sons de dor, conforme dormia.

Seu peito subia e descia, parecia incrivelmente acelerado aquele ritmo, seu rosto gotejava em suor, ele parecia estar tendo…um ataque de pânico enquanto dormia?

Seu impulso fora segurar a sua mão trémula sob os lençóis, ao que ele apertara com alguma força.

—Calma, está tudo bem…- Dera por si, sussurrando em seus ouvidos, ao que ele estranhamente acalmara, sua respiração voltara ao normal aos poucos, seu aperto em sua mão diminuirá aos poucos.

Astoria continuara a observá-lo, silenciosamente e por algo que não sabia explicar, não soltara a sua mão da dele, sentia que ele precisava de carinho naquele momento e assim adormecera bem do lado dele.

Na manhã seguinte, quando acordara, sentia uma incrível dor de costas, além da incrível dor que sentia em seus ossos, tudo doía em seu corpo. Maldita doença!

Ao erguer a cabeça, algo curioso, quem a observava agora, era Draco Malfoy com uma sobrancelha arquejada, como questionando quem era ela e porque estava agarrando sua mão.

Astoria dera um belo sorriso a este, que ficara meio desconcertado e quando ia falar algo, o medibruxo da noite passada entrara e olhara para Draco e depois para ela, dando um leve sorriso de divertimento e advertência, ao que ela fizera um muxoxo, suspirando, mas soltara a mão dele e caminhara para a sua cama, sentindo o olhar inquiridor de Draco.

—Já estou indo como uma boa menina para o meu leito real, bom dia para o senhor também, sr. Colton…

—Muito bem, srta.Greengrass…sabe que não deveria levantar…bom dia…-Dizera no seu tom mais risonho, com o bom humor dela matinal e voltara o seu olhar para Draco.- Como se sente, sr.Malfoy?

Este voltara o olhar ao medibruxo, dando de ombros e não dizendo uma palavra, o que o parecera entender e não forçara mais conversa, simplesmente levara o sangue dele para testar e se tudo tivesse correto, ele poderia sair dali ainda hoje. Sorte a dele!

Quando o Sr. Colton saira, ele voltara o olhar para ela, ao que ela fora ficando meio sem jeito, ele não falava, simplesmente estava observando-a e ela com certeza, não estava no seu melhor, estava cadavérica, pálida, com roupa branca de hospital que em nada a favorecia e cabelo preso num coque meio frouxo e provavelmente duas covas no lugar dos olhos, ao que engolira em seco, sentindo-se desconfortável.

—Ahm…olá, sr.Malfoy…sou Astoria…Astoria Greengrass…

Ele primeiramente franzira o cenho,mas depois seus olhos cinza azulados deram sinais de reconhecimento.

—A irmã mais nova de Daphne…

Sim, era a sua denominação mais comum, mas que ela podia fazer, sempre fora incrivelmente popular que nem um tijolo no enorme castelo de Hogwarts.

Daphne era incrivelmente bela, popular, sonserina, bem disposta e humorada, além de claro arrogante e meio senhora de si, enquanto ela era bonita, mas nem tanto, tímida, dai não combinava com popularidade, sonserina mas muitos diziam que tinha mais apetência para Corvinal por ser incrivelmente inteligente ,também era bem disposta e humorada, ela era até mais que sua irmã. Mas quem liga para isso?

—É , sou sim…- Por fim, dissera, ao que ele continuara observando-a.

—Porque segurou na minha mão?

Ela abrira e fechara a boca, devia de ter sido muitas vezes, porque ele dera um sorriso irónico.

—Mais um pouco ficara parecendo um sapo, Greengrass…

Ela piscara os olhos, acabando dando uma risada alta e anasalada, que o fizera olhar para ela, com riso mais calmo. Ele tinha sentido de humor.

E a conversa transcorrera tão naturalmente entre eles, como se conhecessem-se á anos, Draco tinha um humor meio sarcástico que encontrava uma satisfação irónica em Astoria, assim fora até ao final da noite, quando viera novamente o medibruxo Colton, sorrindo vendo a conversa entre os dois e achando que era incrivelmente benéfico a ambos.

—Desculpem interromper…a vossa animada conversa…mas chegaram os seus exames, Draco…está tudo certo com você, tem alta…sua mãe vem buscá-lo daqui a minutos…

Ele limitara-se a assentir, ao que Astoria sentia um suspiro triste, tomar conta de seu coração, ele já iria embora. Draco voltara o olhar a ela, mas antes que ele falasse, ela adiantara-se.

—Foi um prazer conhecer você, Draco Malfoy…

Ele parecera ter ficado surpreso com que ela havia dito, mas o sorriso grato que ele dera depois, só servira para que algo que ela julgava também doente e mortiço bater, seu coração bombeava com força contra o peito.

Ele aproximara-se de sua cama, segurando agora na mão dela, ao que ela não entendia bem o porque, mas seus olhos haviam enchido de lágrimas, ao que ele limpara.

—O prazer é todo meu, Astoria Greengrass…e…

—E?

—Obrigado…

—Pelo que?

—Por ter segurado na minha mão…

Ao final do dia, ele fora embora, mas para sua surpresa, no dia seguinte, ele voltara para visitá-la e continuara a voltar, até que ela sairá do hospital, ali uma amizade encetara-se.

E com o tempo, entendera que Merlin lhe dera uma missão específica e sua existência mesmo difícil, servia para isso e faria-o entender que a sua existência também tinha um sentido e em compensação, ela descobrira uma surpresa maravilhosa, o amor que surgira entre eles .

Astoria não sabia quanto tempo duraria, quanto tempo ainda teria de vida, mas por Draco Malfoy valia com certeza, todo o tempo que lhe restasse, mesmo que ele não acreditasse nisso.

Olhara para os olhos dele que a observavam naquele momento, e algo ficara bem claro em seu coração, a resposta que ela mais ansiava ver respondida desde de tenra idade.

Por aquele encontro casual valerá a pena viver para conhecer a melhor surpresa de sua vida.