De repente, você escrita por calivillas
— Você está ouvindo, Charles? – Joana levantou o rosto, apoiando-se no cotovelo, para olhar melhor para ele, enquanto os dois continuavam deitados abraçados na cama dele, no quarto mal iluminado pelas últimas velas resistentes.
— Não estou ouvindo nada – ele respondeu, depois tentar escutar por algum tempo.
— É isso. Está muito silencioso, a música parou e a festa deve ter acabado.
— Ótimo – ele disse, sonolento, fechando os olhos, quase adormecendo.
— Você não está entendendo, Charles, se a festa acabou, eu preciso ir embora. Tenho que encontrar minhas irmãs, se ainda estiverem aqui – Joana começou a se levantar, procurando suas roupas largadas pelo chão, Charles a seguiu, se vestindo também.
— Queria que você pudesse passar a noite aqui, Joana.
— Eu já passei a noite, deve estar quase amanhecendo – ela brincou, Charles a abraçou e deu um suave beijo nos seus lábios.
— Você sabe do que estou falando. Queria poder acordar do seu lado e tomar café junto com você.
— Eu também, mas, por enquanto, não podemos.
— Eu sei – ele disse com um sorriso compreensivo.
Assim, desceram a escada, juntos, encontraram a sala em completa desordem. Ainda havia alguns convidados remanescentes pelos cantos do lugar, uns cochilando e outros conversando baixinho em pequenos grupos, enquanto os empregados da empresa de festa juntavam os objetos e o DJ desmontava o seu equipamento de som.
— Acho que minhas irmãs já foram embora – Joana concluiu, olhando em volta, não as encontrando.
— Vou levar você para casa. Deixa eu pegar a chave do carro.
Joana ficou sozinha no jardim, quase flutuando de felicidade, tudo havia acontecido como ela sempre imaginou, Charles havia sido tão calmo e delicado, mas, estranhamente, o mundo parecia igualzinho ao que era antes. Nada mudou a sua volta, só ela estava diferente agora.
— Estranho! O carro de Dani não está aqui – Charles observou surpreso, sem entender o que havia acontecido, mas deu de ombros, depois ficaria sabendo.
— Foi maravilhoso! – Joana exclamou, encantada, ao se despedirem na frente da casa dela – Você é maravilhoso, Charles. Nunca me senti tão feliz em toda minha vida. As flores e as velas e tudo mais foi como um verdadeiro sonho. – Os olhos brilhando e as faces rosadas demonstravam que o que dizia era verdade.
— Sempre ao seu dispor, tudo para agradar minha dama – ele se curvou, com um sorriso resplandecente, o coração flutuando de felicidade, tinha certeza que após tantas buscas havia encontrado sua alma gêmea. Beijou a sua mão em um gesto de elegante. – Para mim, também foi especial, como nunca antes na minha vida.
- Mas tenho que ir agora. Boa noite, Charles.
- Boa noite, ou melhor, bom dia, Joana. A gente se fala logo mais – Outro um beijo e um abraço, a vontade ficar juntos, mas não tinham escolha, precisam ir agora.
Joana entrou no quarto escuro, pé ante pé, pois não queria acordar a irmã, apesar de estar ansiosa para contar lhe como havia sido a sua noite especial, mas prosseguiu sem fazer barulho, puxou a camisola, já deixada a mão previamente, se trocou e deitou, queria dormir e sonhar, contudo não percebeu que a outra cama ainda permanecia desocupada.
Algumas horas depois, Lídia saiu do hospital, ainda zonza e sonolenta, não se lembrando de nada do que havia acontecido. Deitada no banco de trás do carro de Dani com a cabeça no colo de Maria, ela tentava se justificar.
— Não me lembro de nada, só de alguém me dando um copo e eu bebi, depois tudo se apagou – ela falava com a voz arrastada – Ai! Minha cabeça está doendo muito! – reclamou.
— Vamos ter que contar para o nosso pai o que aconteceu, Lídia – Elisa ponderou, tentando manter a voz tranquila, depois daquela noite terrível – Isso foi muito grave, não podemos esconder dele.
— Não quero falar sobre esse assunto agora – Lídia resmungou, fechou os olhos e fingindo dormir.
Já começava a amanhecer quando chegaram na frente da casa delas, as irmãs auxiliaram Lídia a sair do carro, apesar de Dani se oferecer para ajudar.
— Obrigada, você já fez muito pela gente essa noite. Valeu mesmo, Dani! – Elisa agradeceu, realmente, comovida, dando um beijo no rosto dele.
Silenciosamente, entraram na casa e depois que colocaram Lídia na cama, Elisa foi para o seu quarto, abriu a porta devagar, para não acordar Joana, e estava tão esgotada pelo estresse, que apenas se deitou na cama, ainda com o vestido da festa e adormeceu, lá fora o dia já estava claro.
Para Caroline, aquela festa foi muito chata, principalmente depois que Dani sumiu com a tal de Elisa e as irmãzinhas delas, que aprontaram e para piorar, seu telefone não parava de tocar àquela hora da manhã, não a deixando dormir, até que irritada, ela estendeu a mão e o atendeu com um alô mal-humorado, mas sua expressão vai mudando para terror, conforme as notícias foram transmitidas do outro lado.
— Mas ele está bem? – perguntou, finalmente, assustada, a resposta a tranquilizou um pouco, mas, mesmo assim, levantou-se rapidamente, dirigiu-se, correndo para o quarto do irmão. Abrindo a porta devagar, Caroline entrou, olhou em volta para observar todo o cenário que ele havia preparado para ficar com aquela garota, a tal de Joana. Só mesmo Charles, um tremendo tolo romântico, para fazer algo assim, ela pensou sarcástica, ao ver o lugar cheio de flores e velas. O irmão dormia tranquilo, com uma expressão calma e suave, parecia bem feliz, estava até com pena de o tirar dos seus sonhos, e foi, nesse momento, que viu o telefone dele em cima da mesinha de cabeceira, então teve uma ideia, que lhe pareceu bem cruel, mas como dizia o velho ditado que no amor e na guerra vale tudo. Assim pegou o telefone e escondeu debaixo da roupa.
— Charles! – chamou-o, suavemente – Charles! – O irmão abriu os olhos, confuso pelo sono da noite mal dormida – Precisamos ir, agora! Nosso pai deve um infarto, nossa mãe quer todos nós lá com eles. Levante-se! Temos que pegar um avião. Vou acordar Dani e Louise.
— Mas ele está bem? Está vivo? – Charles deu um pulo da cama, preocupado com a notícia.
— Sim, mas está na UTI e estado dele é estável, mas nossa mãe quer todo nós junto dele.
Caroline já ia saindo, Charles, atordoado, parecia procurar por alguma coisa.
— Meu telefone? Você viu, Caroline? Eu achava que tinha colocado aqui na mesinha, preciso mandar uma mensagem para Joana, senão vou até a casa dela, para me despedir
— Não vai dar tempo, Charles! O avião sai em duas horas, vamos acabar perdendo o voo e nossa mãe pediu que fossemos imediatamente, porque as passagens já foram providenciadas. Vai se arrumar e pode deixar que eu mando uma mensagem para Joana – Ela disse apreensiva e saiu do quarto, sorrindo para si mesmo, satisfeita com sua atuação.
Só muito tempo depois, quando limpavam a piscina o telefone de Charles foi descoberto lá no fundo, inutilizado.
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