Every night I rush to my bed with hopes that maybe

I'll get a chance to see you when I close my eyes

I'm goin' outta my head, lost in a fairytale

Can you hold my hands and be my guide?

Eu odiava, de fato, o barulho chato daquela maquininha, apitando o tempo todo e marcando o quanto meu coração pulsava – ou falhava em algum de seus pulsos insistentes.

Já havia um tempo que eu decidi lutar pela minha própria vida, mas agora começava a ficar ainda mais inconstante os acessos e convulsões que me traziam de volta para essa cama de lençóis brancos e cheiro repudiante, que me embrulhava mais do que o estomago. Me dava ânsia, ânsia de abraçá-lo assim que pudesse.

Eu já havia desejado fechar meus olhos e poder dormir em paz, acordar no dia seguinte, livre de tudo o que me fazia mal. Mas agora, no hospital, eu não queria mais dormir porque se eu passasse mal ia vê-lo.

Shinji Amano era o médico me tratava. Seus cabelos escuros, sua cara séria, mas que me dava sorrisos que valiam à pena... Suas mãos que me ajudavam calmamente a levantar daquela cama... Quando tinha que medir a pressão, colocar soro... Era sempre ele, sempre suas mãos que seguravam as minhas e cuidavam para que eu ficasse bem.

Ele era lindo. Não tanto quanto as pessoas achavam que ele fosse quando eu falava para todos que o amor da minha vida era um médico... Mas era perfeito. Na delicadeza que envolviam agulhas, medidores de pressão apertados, estetoscópios, líquido fortes e fatais em vidros, guardados a sete chaves.

Clouds filled with stars cover your skies

And I hope it rains

You're the perfect lullaby

What kinda dream is this?

- Kohara-kun, melhor tomar seu remédio.

Ele me sorria gentil, com aquele seu carinho típico, seu jeito sutil de ser. Estendia o copo com água, que agora eu pegava e tomava, junto com o comprimido.

- Amano-san, estava me lembrando da... Primeira vez que vim aqui. – eu sinceramente queria dizer a primeira vez que eu vi esse seu rosto lindo e esse sorriso tão bonito quanto.

Ele assentiu e tirou o jaleco branco, sentando-se na beira da minha cama, segurando o fio do meu soro. Tirou-o calmamente, pegando um band-aid e colocando sobre o pequeno furo que estava ali, dando um beijo na pele levemente arroxeada.

Deus, como eu parecia frágil diante da demonstração de carinho dele. Eu não era um idiota ou algo assim, achava que ele realmente devia ser gentil assim com todo mundo, afinal aquilo era um hospital central em Tokyo e não deveriam ir apenas pessoas com machucadinhos.

Já faziam dois dias que eu estava internado, e finalmente ele tirara meu soro. Depois de beijar sobre o curativo, levou a mão a meus cabelos e bagunçou-os, me fazendo sorrir levemente. Aproximou-se de mim e pude sentir sua respiração.

You can be a sweet dream or a beautiful nightmare

Either way, I don't wanna wake up from you

Sweet dream or a beautiful nightmare

Somebody pinch me

Your love is too good to be true

Ele era bem mais do que um médico. Apesar de todas as minhas doenças referentes ao coração, a fragilidade dos meus ossos devido a um problema chamado “Síndrome dos Ossos de Vidro” (1), ele era a simpatia em pessoa.

Agora, eu me perdia em sua mão, que segurava carinhosamente meu rosto e tocava seus lábios com os meus. Eles se encaixaram e eu suspirei, sorrindo. Aquilo era algo que eu sempre desejei intensamente que acontecesse.

Me sentei sobre a cama, sem fazer muito esforço, e ele me ajudou a manter a postura por estar sempre ali, deitado, com a circulação meio debilitada. Envolveu meu corpo com os braços, onde eu pude ficar recostado com tranqüilidade, sem correr o risco de perder o equilíbrio e cair de volta na cama.

Nosso beijo era algo diferente.

Eu sonhava dia após dia com aquele momento e, agora que eu provava, já não tinha mais dúvidas do que eu realmente sentia. Era tão macio e gostoso seu beijo, era quente, passional... Não tinha gosto de remédio, não era dolorido como agulhas, não era viscoso como drogas anestésicas fortes...

Era um beijo, de uma pessoa tão normal quanto eu.

My guilty pleasure I ain't going no where
Baby, long as you're here I'll be floating on air
'Cause you're my sweet dream
Or a beautiful nightmare
Either way, I don't wanna wake up from you

Eu estava entregue naquele beijo. Não sabia que horas eram, se lá fora já estava frio ou se chovia... Eu não tinha noção de tempo, de espaço.

Eu sequer conseguia imaginar por quanto tempo aquele beijo todo durou, mas era bom. Era melhor do que eu podia apenas imaginar. Era mais coerente do que buscar palavras estranhas como eu tentava várias vezes achar.

Seus dedos acariciaram minhas costas e me deram ainda mais segurança. Nossos lábios se separaram e seu beijo partiu, então, para meu pescoço, dando alguns com ruído estralado ali, carinhosamente.

Meus lábios curvaram-se num sorriso mais do que satisfeito, grato por aquele momento. Meus dedos se enroscaram nos seus cabelos, acariciando-os e fazendo um afago doce. Eu sorri.

Quando estava com ele, seja apenas quando estávamos conversando ou quando ele estava ali em silêncio, cuidando da minha saúde, eu sentia algo bom. Queria acreditar que era amor mais do que cuidado de médico e paciente... Indiferentemente se fosse de verdade ou não.

- Amano-san...

Eu murmurei, sorrindo daquele jeito. Minha pele estava arrepiada, eu podia sentir. E ele estava sendo todo gentil e carinhoso comigo, ainda que eu diga repetidas vezes que ele é sempre carinhoso comigo.

- E-eu...

I mention you when I say my prayers

I wrap you around all of my thoughts

Boy, you my temporary high

I wish that when I wake up you're there

So wrap your arms around me for real

And tell me you'll stay by side

- Kohara-kun?

Eu abri os olhos e encarei Amano-san me olhando. Me movi incomodado sobre a cama, apertando os lençóis em meus dedos com força, olhando que algo estava errado porque aquele fio do soro ainda estava preso em mim.

- Não sei o que houve, mas você tomou seu remédio e simplesmente desmaiou. Acredito que está na hora de mudar sua medicação.

Pisquei confuso e fechei meus olhos com força.

Então... Tudo não tinha passado de um sonho? Ou de uma ilusão minha?

- Desculpe, Amano-san. Acho que acabei dormindo.

- Tudo bem, é um remédio forte mesmo. Isso acontece com freqüência, agora pode relaxar. Vou chamar a enfermeira para te ajudar a ir tomar seu banho, está bem?

Eu assenti e me deitei melhor. Minha cabeça afundou sobre o travesseiro e novamente meus olhos se fecharam.

Droga de sonho bom... Ou pesadelo perfeito...

Tattoo your name across my heart

So if you were made

Not even death can make us part

What kinda dream is this?

- Kohara-kun...? – disse o médico me olhando da porta, enquanto a enfermeira entrava e ia para o banheiro preparar a água.

- Hai?

Ele me olhou e piscou, de canto, sorrindo pra mim. Suspirou, cumprimentou alguém no corredor – e eu ficando cada segundo mais apreensivo, porque ele simplesmente ia me matar de curiosidade desse jeito!

- Não conte a ninguém... Do nosso segredinho, viu?