Espírito de Revolução escrita por GilCAnjos


Capítulo 5
Uma Recepção Calorosa


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde e boa noite, galera! :) Vamos para mais um capítulo e dessa vez para a primeira cena de ação da fic.
E, por falar em ação, essa semana eu fui assistir à pré-estreia do filme Assassin's Creed. Claro que não é um filme perfeito, mas pra quem é fã com certeza vale a pena ver. Vou dar umas opiniões mais detalhadas nas notas finais do capítulo.
Boa leitura e, como sempre, espero que gostem! ^^



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A melhor palavra para descrever Kanen’sta:tsi, minha mãe adotiva, no momento em que contei a ela e a Saksa:ri a tarefa que eu havia recebido era ‘abalada’. Ela estava boquiaberta, e ele, pensativo.

 — Mas então... você irá simplesmente nos abandonar? — perguntou Kanen’sta:tsi.

 — Não! Claro que não. Eu apenas... — hesitei, enquanto pensava em um eufemismo para o abandono — ...seguirei meu caminho. Meu dever. Procurar a verdade.

 — Mas... você precisa mesmo ir para tão longe?

Assenti com a cabeça. Ela continuou triste. Kanen’sta:tsi era relativamente jovem e pouco mais alta do que eu. Seu cabelo estava preso em um rabo-de-cavalo. Ela nunca fora tão próxima de minha mãe quanto Saksa:ri era, mas isso não a impediu de me criar junto a ele como se eu fosse seu próprio filho. Com toda essa afeição quase materna, era óbvio que ela, que já era uma pessoa emotiva, lamentaria minha viagem.

 — Nós te amamos, Ratonhnhaké:ton. Sem você aqui, não será a mesma coisa para nós.

 — Prometo que virei visitá-los sempre que puder.

Saksa:ri interveio.

 — Kanen’sta:tsi, temos que confiar em Ratonhnhaké:ton. Se ele achar que ir embora é o melhor, temos que deixá-lo ir. — E, virando-se a mim, prosseguiu: — O que exatamente você ouviu durante a visão? Essa mulher... Você tem certeza de que ela era um espírito?

 — Bom, ela deu a entender que não era exatamente isso. Mas, seja o que for, certamente não era humana. Algum tipo de forma superior. Ela tinha o poder para me colocar no corpo de uma águia. Mas o mais curioso é o que ela me disse. Ela... falou que eu venho de uma linhagem especial, e que nosso povo está fadado à ruína, a menos que eu faça algo a respeito. Só não sei como eu faria isso. Ela mencionou um homem em Massachusetts Bay que poderá me ajudar. Eu o encontrarei se seguir o símbolo que ela me mostrou.

Saksa:ri, que permanecia quieto e austero, perguntou qual era o símbolo. Mostrei-o uma folha de papel onde eu havia desenhado a insígnia. Ele a analisou, intrigado.

 — Já vi esse desenho. Era o símbolo de um grupo... algum tipo de gangue, se me recordo bem. Sua mãe já lutou ao lado deles uma vez.

 — Ótimo! Sabe onde posso encontrar esse grupo?

 — Temo que não. Não ouço falar deles desde o tempo da guerra. Você era um bebê ainda. Como era mesmo que se chamavam? — perguntou a si mesmo.

Como ele não vinha com a resposta, tornei a falar:

 — A Mãe do Clã disse que eu devo viajar para o leste, em direção a Boston, e procurá-los. Pretendo fazer isso, mas para partir eu preciso antes do consentimento de vocês.

Ambos marido e esposa fitaram a mim, e, em seguida, um ao outro. Kanen’sta:tsi falou:

 — Ratonhnhaké:ton, não gosto dessa ideia. Você, andando por aí, sozinho... Acha que poderá se cuidar?

 — Eu... creio que sim. O que você diz, Saksa:ri?

Ele pensou por um momento. Encarou-me e respondeu:

 — Nós te educamos bem, Ratonhnhaké:ton. Depois do treinamento que eu te dei, não tenho dúvidas de que você pode se virar sozinho. Só preciso saber uma coisa: se você tem certeza de que precisa fazer isso.

Ponderei por alguns instantes, mas minha mente já estava decidida.

 — Sim, eu preciso. A nossa nação acabará sendo destruída se os homens brancos continuarem se expandindo. A Mãe do Clã disse que estamos em uma situação difícil, e que nada podemos fazer a respeito. E é por isso que viajarei. Eu quero, ou melhor, eu preciso estar em uma posição onde eu possa fazer algo pelos kanien’kehá:ka.

Saksa:ri olhou para Kanen’sta:tsi. Após uma troca de acenos com a cabeça, ele tornou a falar, com um genuíno sorriso no rosto.

 — Então prepare suas malas, Ratonhnhaké:ton. Siga sua jornada.

Alguns dias mais tarde, após ter me despedido de todos, parti para Massachusetts Bay, levando apenas meus equipamentos de caça, duas mudas de roupa, um cobertor, cerca de cinquenta libras, e a folha de papel com o símbolo misterioso.

Deixar o lar foi mais difícil do que pensei. Eu imaginava que a viagem iria me proporcionar algum tipo de orgulho. Um senso de realização. Mas o sentimento que me levava, seja lá qual fosse, logo foi embora, substituído por perguntas e dúvidas — e não um número pequeno delas. Será que eu havia sido apressado demais? Será que eu havia cometido um erro? Os outros na vila achavam que isso era algo que eu queria. Uma escolha minha. Mas, para mim, aquilo nunca foi como uma escolha, e sim como uma obrigação moral. Afinal, senão eu, quem mais o faria? Por mais que aquilo tudo ainda fosse uma missão misteriosa, eu ainda acreditava em sua importância.

Completamente só, tive que me sustentar caçando e cozinhando meu próprio alimento, e acampando em clareiras ao longo da floresta. Quando podia, eu me abrigava em aldeias iroquesas que encontrava pelo caminho, ou em estalagens frequentadas por europeus, pagando a estadia com o dinheiro que eu tinha. Mas, por todos os lugares, eu perguntava às pessoas a mesma pergunta: se eles haviam visto a insígnia que eu buscava. Sempre com respostas negativas.

A viagem durou três semanas, e essas semanas me fizeram perceber que acampar na floresta não era a melhor das ideias. Certa vez acordei para perceber que um animal havia comido todas as minhas iscas de caça. Em outro dia, descobri que havia sido roubado: meu dinheiro e minha machadinha haviam sumido. Por sorte, minha adaga de ferro foi o suficiente para matar um puma que me atacou no dia seguinte, e cuja carcaça eu vendi por 150 libras a um comerciante escocês. O dinheiro extra me permitiu dormir mais vezes em estalagens. Numa delas, já no centro da Província de Massachusetts Bay, recebi minha resposta, do comerciante que me indicou a baía onde ele vira a insígnia misteriosa. Aquela pista, aquela única pista, fora o que me levou mais tarde à mansão do velho rabugento. E convenhamos que, apesar de ter chegado ao meu destino, o velho não fez muito para alimentar minhas esperanças, me fazendo até duvidar de que ele fosse o homem certo.

Mas ele era. Apenas tive de esperar que ele mostrasse isso.

E era o meu segundo dia na baía. Assim como no anterior, o velho negro, mal-humorado, não me deixara entrar na mansão. Ele claramente queria que eu fosse embora. Mas da mesma maneira eu claramente não tinha intenção de obedecê-lo.

Naquela noite, eu novamente dormi no estábulo, mas fui acordado durante o sono por um trovão. Abri os olhos e observei a tempestuosa chuva que ocorria. Percebi que os cavalos também haviam acordado, e agora davam relinchos baixos de medo. Tentei voltar a dormir, mas alguns minutos depois, ouvi ao longe um barulho pequeno, mas instigante: passos e vozes. Logo dois homens estavam de pé em frente à baia onde eu estava instalado. Os dois usavam sobretudos escuros e chapéus, então era difícil vê-los com precisão.

 — Ele é um quadradão. Vai ser fácil, acredite!

 — Isso é o que você disse na última vez, e eu acabei com um cavalo morto e um olho roxo.

 — Pare de reclamar e vamos fazer logo o que Enoch mandou.

Algum pressentimento me indicava que aqueles homens não estavam ali por motivos nobres. Eu podia sentir: como uma espécie de sexto sentido, desde criança eu conseguia prever, apenas ao olhar para uma pessoa, se suas intenções eram boas ou más. E, quando me aproximei dos dois homens silenciosamente, suas intenções ficaram claras pra mim.

 — Quem são vocês?

Os dois homens se entreolharam, primeiro assustados ao descobrir minha presença. Começaram então a se dirigir a mim, com um olhar ameaçador que confirmava minhas suspeitas.

 — Ninguém da sua conta, pentelho.

 — É melhor vazar daqui antes que algo ruim aconteça.

Tentei permanecer calmo.

 — Não — respondi.

Um deles deu um sorriso com um dente faltando, enquanto puxava uma espada da bainha. Apontou para a mansão enquanto me encarava com escárnio.

 — Você conhece o velho? É da família dele? — perguntou.

 — Ou é só mais um ladrãozinho? — O outro zombou.

Fiquei nervoso. Levei minha mão à cintura, mas minha machadinha não estava lá. Recuei alguns centímetros, para tentar antecipar o que quer que fosse acontecer.

 — Sequer sei de quem estão falando — respondi. — Não quero assuntos com o homem da mansão, e nem ele quer comigo. Estou apenas me protegendo da chuva.

O sujeito sem dente riu.

 — Nesse caso... Se você não irá nos ajudar, e se o velho não pagaria um resgate por você... Você é apenas uma testemunha.

 — E não gostamos de testemunhas, moleque — disse o outro homem.

Enquanto desviei minha atenção para o segundo sujeito, o sem-dentes aproveitou minha distração e investiu sua espada contra mim. Por muito pouco, consegui encolher meu corpo para me desviar no momento certo. Agarrei seu punho e joguei a espada para longe, logo antes de dar uma cotovelada em sua barriga. Atordoado pela dor, se tornou vulnerável. Com uma joelhada forte no queixo e alguns socos, caiu no chão desacordado. Vivo, mas desacordado.

 — Desgraçado! — disse o outro, que também me ameaçava com uma espada, mas estava obviamente assustado com a facilidade com que eu havia nocauteado seu amigo.

Ele desembainhou a própria espada e tentou me golpear, mas estava tão nervoso que foi fácil me desviar saltando para o lado. Quando percebeu, eu já estava atrás dele, envolvendo seu pescoço com meu braço direito. Eu levava meu braço esquerdo à sua nuca e apertei seu pescoço, de modo a sufocá-lo até um nocaute. Antes de perder a consciência, entretanto, ele teve tempo de gritar por ajuda:

 — Parker! Venh... Hmmmf! Mhmmfm! Hmf!

Então havia mais deles. O que quer que estivessem tramando, não era boa coisa. Olhei por fora da baia, e vi três vultos a alguns metros de distância.

 — Rigby? Me chamou? — disse um deles, que virou-se para os outros dois. — Estou com um mau pressentimento. Will, chame os outros. Sawyer, venha logo atrás de mim.

Ao que o chamado Will se retirou, o tal de Parker veio na direção da baia onde eu estava. Fiquei escondido em um canto, de onde saí para dar-lhe o mesmo destino que havia dado a Rigby. Infelizmente, o segundo homem, Sawyer, pôde me flagrar depositando outro corpo inconsciente no chão.

 — Achei o peste! — exclamou ele.

Eu investi contra o homem, mas o mosquete que ele carregava não era fácil de enganar. Desviei no primeiro e no segundo ataque, mas no terceiro recebi um corte dolorido no braço esquerdo.

 — Agh! — grunhi, enquanto levava a mão para conter o sangue que saía de meu braço.

Pude perceber com o canto do olho que o sujeito apontava o mosquete para mim. Fingi que não havia visto, e me ajoelhei para desviar do tiro na hora certa, em seguida me pondo em pé novamente. Eu poderia suportar a dor do corte, mas precisaria das minhas armas se quisesse sobreviver à luta. Olhei em volta rapidamente. A minha adaga estava longe demais, e eu não teria como pegá-la sem passar por Sawyer, mas a espada do homem que eu havia nocauteado estava perto o suficiente. Recuei com uma postura defensiva enquanto o oponente tentava achar o melhor momento para enfiar a baioneta do mosquete em minhas entranhas.

Quando me abaixei para pegar a espada, ele finalmente desferiu o golpe que planejava. Felizmente, pude me desviar com uma fração de segundo de sobra. Sawyer tentava tirar o mosquete da parede, onde ele tinha se fincado. Enquanto ele estava ocupado, segurei a espada e a usei para golpear sua barriga, fazendo-o largar a arma no chão. Logo depois, chutei sua canela, de modo que ele perdeu o equilíbrio e caiu. Peguei o mosquete que agora estava largado no chão, e bati sua coronha com força no nariz de Sawyer. Agora ele obviamente estava desmaiado.

 — Lá está ele!

Virei minha cabeça para trás. Cinco ou seis homens me esperavam no espaço aberto em frente aos estábulos. Como eu não queria que eles me encurralassem dentro da baia, saí de lá e fui correndo até eles.

 — Você não vai escapar de nós, maldito! — disse um deles, mas a essa hora eu já estava girando o cabo do mosquete no ar, de modo a acertá-lo em cheio. O homem caiu desmaiado no chão.

Os outros tentavam me golpear com as suas armas, mas o mosquete era longo e podia aparar todos os ataques. Em certo momento, um dos oponentes cambaleou para trás, e aproveitei sua vulnerabilidade. Usei o cabo da arma de fogo para acertá-lo na barriga, e depois bater em sua fuça. O homem caiu para trás e fui correndo a ele, enquanto preparava a baioneta para abatê-lo. Com mais um chute, ele caiu no chão. Pressionei a ponta afiada da arma contra sua garganta. Observei-o por um segundo.

 — Vá em frente. — disse ele — Mate-me logo! Ou você é frouxo demais?

Hesitei, arregalando os olhos.

Ele estava certo. Eu podia matá-lo com um simples empurrar do mosquete. Mas não o fiz. Algo na ideia de matar uma pessoa... simplesmente me aterrorizava. Fiquei sem saber o que fazer. O desespero tomou conta de mim de tal forma que me distraí completamente, e dois dos outros homens me seguraram pelos braços, enquanto um terceiro começava a me socar no estômago.

 — Agora te pegamos, hein? — zombou ele.

Dois homens chegavam. Um deles era grande e forte.

 — Aqui está o dito-cujo, Enoch.

 — E adivinhe só — disse o homem que eu não matara. — É um baita dum frouxo!

 — Ótimo. Deixem ele comigo — comentou o brutamontes Enoch, que aparentemente era o chefe.

Os homens que me seguravam jogaram-me contra o chão. Enoch ficou de pé acima de mim e começou a me golpear com um taco de madeira. Gritei de dor ao que ele acertava meu ombro.

 — Você está trabalhando para o velho, não? É isso? O filho da puta precisa de guarda-costas agora?

 — Ele bem que podia ter arranjado um guarda-costas melhorzinho! — debochou um dos outros homens.

Enoch me acertou mais uma vez, mas o grito que se ouviu logo após não era meu. Escutei o diálogo entre os homens para entender o que estava acontecendo.

 — Aagh!

 — Que barulho foi esse? — disse um dos homens.

 — Essa é a voz do Drake! — disse outro. — Drake, está tudo... Ué, aonde você foi?

Enoch bateu o taco em minhas costelas. Eu já estava sangrando.

 — Que estranho, o Drake estava aqui pouco tempo atrás...

 — Rapazes, tem alguma coisa estranha acontecendo. O Malcolm também sumiu!

 — O Malcolm? Mas... Mas ele estava do seu lado cinco segundos atrás!

 — E acha que eu não sei?

Enoch mais uma vez me atingiu, dessa vez na testa. Ele me ameaçou:

 — Você não fala, garoto? Talvez assim você fale! — disse ele.

Os outros capangas continuavam aflitos.

 — É sério, pessoal, o Malcolm sumiu.

 — Maldição! Vasculhem o local, aposto que o... Merda!

Um barulho alto surgiu, claramente um tiro de pistola. Enoch imediatamente parou de me espancar, o que me permitiu ver com meus próprios olhos o que acontecia.

 — O que está acontecendo aí? — perguntou.

 — Não sabemos, chefe. Parece que–Agh! — disse um dos homens, pouco antes de cair morto no chão. Atrás dele, um vulto com chapéu de aba reta e larga estava de pé.

 — Eu estou vendo ele! O velho está aqui!

 — Mate-o! — ordenou o chefe.

Então não vi mais nada, pois uma grande cortina de fumaça surgiu ao redor. Pude ouvir Enoch e outro homem praguejando por alguns segundos, mas, quando a fumaça se abaixou, só havia uma pessoa de pé: o velho negro que morava na mansão, usando chapéu e carregando uma faca em sua mão esquerda. Todos os outros estavam mortos. Ele veio capengando até mim — estava sem a bengala, mas seu joelho obviamente estava doendo — e estendeu a mão para que eu me levantasse.

 — Obrigado — eu disse.

 — Esses eram todos? — ele perguntou, sério.

 — Ahn... Não. Quatro deles estão desmaiados naquela baia.

 — Ótimo. Limpe essa bagunça — disse ele, enquanto caminhava até a baia.

 — Limpar? — ele ignorou. — Como assim?

 — Se livre dos corpos, garoto! Jogue-os no mar, se necessário — ele ficou quieto por um instante, mas logo voltou a falar. — E, depois, entre na mansão. Creio que deveríamos conversar.

Joguei os corpos no mar, como o velho disse. Primeiro, os corpos dos seis homens que ele havia matado. Quando fui checar os outros, que eu havia nocauteado, descobri que não estavam mais vivos. Havia uma marca de faca na garganta de cada um deles. Praguejei. Se eu soubesse que era isso que ele pretendia, não teria indicado a posição deles. Aqueles pobres coitados podiam ser nefastos, mas de alguma forma eu ajudei a matar a sangue-frio homens que já estavam neutralizados. Sem ter como desfazer algo assim, joguei-os na água também, com um leve pesar. O curioso é que eu me lembrava de ter derrubado cinco homens, mas o corpo do quinto havia sumido. Ele devia ter recobrado a consciência e fugido naquele intervalo de alguns minutos. Por um lado eu estava aliviado que o velho não tivesse causado outra morte desnecessária, mas por outro eu temia o que aquele sobrevivente poderia fazer. A chuva ainda caía, e, ao entrar na mansão, eu já estava totalmente encharcado.

A porta estava destrancada, e o velho me esperava, apoiado na bengala, numa sala de jantar, onde uma lareira estava acesa.

 — Eu não devia ter feito isso. Meu joelho não é mais o de antes...

Fiquei quieto, sem saber o que dizer. Eu não sabia como reagir sendo acolhido por um homem que, pouco tempo antes, matara um grupo de homens a sangue-frio.

 — Esses vagabundos andam infernizando as fazendas da região há semanas — O velho começou a explanar, enquanto enrolava algumas ataduras. Abandonara o sarcasmo que tinha de manhã. — Da última vez vieram apenas três. — Algo em sua entonação me dizia que aqueles três não haviam sobrevivido. — Sinceramente, não esperava que os outros fossem fazer uma retaliação tão numerosa. Mas, olhando pelo lado bom, acho que agora a gangue quase inteira já foi eliminada.

—Ahn... — balbuciei. — Eu... acho que um deles fugiu. Será que isso causará problemas?

—Mesmo? — O homem ponderou. — Deixemos ele ir. O recado está dado, duvido que os outros da gangue retornem.

Ele parou de falar, e por alguns segundos a fogueira crepitando era o único som do ambiente. Meus ferimentos no braço e no torso ainda doíam.

 — Ora, o que está olhando? Sente-se, garoto. — Ele disse, sério.

Sentei-me em uma cadeira, e ele começou a enfaixar meus ferimentos. Conforme ele o fazia, atrevi-me a perguntar:

 — Quando eles lutaram comigo, consegui nocautear alguns deles. Mas você os matou mesmo assim. Por quê?

 — Eu deveria ter tido piedade com os homens que queriam saquear minha mansão?

 — Por que não? Você mesmo disse que o recado está dado.

 — Mas você acha que eles tratariam a você ou a mim diferentemente?

Sem ter uma resposta, esperei que ele terminasse os curativos. Depois de terminar, ele sentou-se também. Acomodei-me na cadeira, mas assim que eu o fiz, ela quebrou ao meio. Após o choque, me levantei.

 — Desculpe.

 — Ah, a culpa não é sua — disse o homem. — Toda esta casa velha está prestes a desmoronar. Aliás, é um verdadeiro milagre que ainda não o tenha feito.

O ambiente ficou em silêncio por um instante.

 — Afinal... quem é você?

 — Eu... Ahn... Meu nome é Ratonhnhaké:ton.

 — Certo... Bem, não vou nem tentar pronunciar isso. Agora diga-me por que está aqui.

Eu mostrei-lhe o papel com a insígnia.

 — Me disseram para procurar este símbolo.

O homem, que até o momento parecia um tanto cético, pela primeira vez arregalou os olhos.

 — Este símbolo... Você sequer sabe o que isto representa? — questionou, enquanto pegava a folha. — Ou sabe o que está perguntando?

 — Não.

 — E mesmo assim... Aqui está você.

 — Um espírito me disse que...

 — Espírito? Ah, entendi. Esses... espíritos de que você fala vêm perturbando os Assassinos há séculos. Desde que Ezio Auditore abriu a garrafa pela primeira vez. — Ele me observou — Ah, mas você nem sabe o que é um Assassino, sabe?

Discordei com um aceno de cabeça.

 — Pegue outra cadeira e se acomode. Tenho uma história para contar, e ela demorará um pouco.

 — Obrigado pela hospitalidade, senhor...

 — Chame-me de Achilles. Agora, por onde eu começo?


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Notas finais do capítulo

(Sobre o filme - Livre de spoilers)

Aiaiai, o que dizer desse filme?
Eu com certeza não diria que é um filme ruim, e com certeza não diria a nenhum fã que assistir não vale a pena. Mas acho que pra mim a melhor palavra pra descrever esse filme é... estranho. Há partes dele em que eu realmente não entendi aonde os roteiristas queriam chegar.
O que mais me incomodou foi que o filme parece ignorar o cânone já estabelecido em Assassin's Creed. Numa tentativa de agradar até quem não é fã (o que funcionou, pois meus pai adoraram), é como se a saga tivesse voltado no tempo para 2007. A Maçã do Éden é tão mal explicada, e ao mesmo tempo ela nem parece ter os mesmo poderes que víamos nos jogos, e eu simplesmente não consigo entendê-la. O Callum é um personagem com motivações muito mal-definidas, e o filme nunca explica direito porque ele embarca na história. E aquele ato final foi rápido pra caramba e eu não entendi metade do que estava acontecendo.
Por um outro lado, o filme também tem suas qualidades. As lutas são muito bem coreografadas, as perseguições na Inquisição Espanhola são extasiantes, e temos uma apresentação bem bacana dos dois lados do conflito Assassinos X Templários (embora aquele lance de 'curar a violência' pareça não muito bem feito).

Eu quero muito assistir a esse filme uma segunda vez pra poder dar uma opinião mais definitiva, porque, sinceramente, eu boiei em algumas partes. Mas ainda assim recomendo a todos que não percam a experiência de ver AC nas telonas, e formem suas próprias conclusões sobre o filme.
Abraços a todos e até a semana que vem! :)



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