Eu sempre achei que amor fosse uma coisa melosa. Explorar masmorras, lutar contra bandidos e salvar princesas era tudo o que eu precisava, e eu queria que a minha vida fosse assim para sempre.

Bem, era isso o que eu achava, mas eu queria algo a mais.

Minha mãe adotiva sempre me contava histórias sobre heróis que derrotavam os vilões e conseguiam encontrar o amor verdadeiro. Quando eu cheguei a uma certa idade, eu era apaixonado pela Princesa Jujuba. Ela pode ter feito algumas decisões questionáveis antes de eu ter conhecido a Princesa de Fogo, mas meu amor por ela era forte.

No entanto, não importa quantas vezes eu tentasse me aproximar dela, ela não queria saber de amor. A única coisa que importava para ela é o Reino Doce e mais nada. Isso me deixou de coração partido, e eu não sabia mais o que fazer. Eu me deitei no chão um dia, e tudo o que eu fiz foi chorar enquanto eu abraçava uma foto da Jujuba e um pedaço do cabelo dela.

Vendo que eu estava deprimido, Jake saiu de casa e foi fazer alguma coisa. Eu não sabia o que era, mas quando ele voltou, ele disse que cometeu um erro terrível. Foi então que eu vi que a casa estava pegando fogo, e um monstro feito de fogo estava prestes a nos atacar. Eu não pude ficar parado. Eu fui deter o monstro, mas quando eu vi, algo caiu em meus braços.

Era a coisa mais bonita que eu já vi em toda a minha vida.

Mas assim que ela se levantou, ela deu um tapa em mim e foi embora. Meus sentimentos pela Jujuba desapareceram por completo. Eu queria saber quem era aquela princesa.

Foi um começo meio vergonhoso para nós dois. Rolou fugas, algumas confissões de amor embaraçosas e um reino quase acabou sendo queimado no meio disso tudo. No entanto, ela queria ficar comigo, mas havia certas circunstâncias que nos impediam de ficar juntos.

“Você desafiaria a natureza por mim?”

Essa era uma pergunta que ela fez para mim naquele dia. Uma pergunta que me atormentava dia após dia. Eu poderia ficar com ela, mesmo sofrendo várias queimaduras?

A resposta? Sim. Eu estava determinado. Ela se tornou a luz no túnel aonde eu fiquei preso.

Não importa quantas queimaduras eu tivesse, não importa quantas vezes eu teria que me cobrir com papel-alumínio, eu ficaria ao lado dela. O que começou com uma amizade logo se tornou um laço amoroso entre nós dois. Houve certas complicações, mas isso não nos separou.

Nós dois tivemos muitos momentos felizes juntos, e eu sempre estarei grato por ela ter entrado na minha vida.

—--

 – E o que achou? – perguntou o garoto.

A garota mascarada olhou para ele.

— Sinceramente? Acho que você é um desesperado.

Espera, o quê?

— Huh?

— É, você me ouviu. Você é um desesperado, um perdedor, um fraco e um pervertido.

— Ei, espera só um pouco…

Sunny interrompeu o garoto.

— Mas aquilo o que você disse é verdade?

— E o que seria? – perguntou o garoto.

— Sobre você tentar namorá-la, desafiando a natureza e tudo mais.

O garoto olhou para a mini-princesa na palma de sua mão e respondeu a pergunta.

— Quando eu disse aquilo, eu estava falando sério. Eu me apaixonei por ela da primeira vez que eu a vi, mas não foi por causa da aparência dela. Eu vi algo nela que me fez ficar apaixonado. Algo puro e inexplicável.

Finn se levantou do tronco e pegou dois galhos caídos na areia. Tomando cuidado para não desfazer a mini-princesa em sua mão, ele esfregou os dois galhos e fez uma pequena fogueira.

— E sobre desafiar a natureza para ficar com ela, eu fiquei tanto tempo com ela que quase nem sinto mais queimaduras. Sim, eu já gritei de dor e tive algumas queimaduras ao redor do meu corpo, mas eu não ia desistir dela. E ela não queria desistir de mim.

O garoto colocou a sua mão no fogo. Em vez de sair correndo e gritando de dor, ele não sentiu nada. Isso surpreendeu a garota mascarada.

— …eu retiro o que eu disse. Você realmente a amava, né?

O garoto ficou com uma expressão triste em seu rosto. Ele apagou a fogueira e voltou a se sentar do lado da garota.

— Eu ainda a amo. E isso dói bastante.

— Porque? O que aconteceu?

— Aquele dia chegou…

—--

Nós estávamos fazendo um piquenique em um dia ensolarado, quando o Rei Gelado chegou. Eu não cheguei a falar dele para vocês, mas vou dar uma breve resumida: ele é um velho louco e solitário que sequestrava princesas, mas ele parou de fazer isso. Ele chegou a irritar nós dois. Foi então que a princesa resolveu dar uma surra nele.

Eu não sei dizer, mas quando eu vi aquilo eu fiquei… excitado. Foi então que eu tive um sonho aonde ela estava me queimando. Eu me sentia bem enquanto ela fazia isso comigo, mas por algum motivo, eu estava ouvindo uma voz dizendo alguma coisa para mim.

Na manhã seguinte, expliquei o sonho para o Jake e como eu gostei dele, e foi então que ele me deu o pior conselho que ele já me deu: fazer com o Rei Gelado e a Princesa de Fogo lutassem de novo para que eu tivesse o sonho de novo.

Eu segui o conselho dele.

Eu escrevi uma carta. Uma carta cheia de ofensas para ela.

Os dois lutaram de novo, eu fiquei excitado e tive o mesmo sonho de novo. No entanto, eu finalmente descobri o motivo do sonho: era um sonho de morte. A Coruja Cósmica estava presente o tempo todo, e eu finalmente descobri o que ela estava falando o tempo todo.

“Você arruinou tudo”.

E eu arruinei tudo. O Rei Gelado quase acabou morrendo por minha causa. Eu contei a verdade para ela. Ela ficou triste e decepcionada demais comigo. Eu pedi desculpas a ela, mas ela não queria aceitar. Ela foi embora.

E eu fui responsável por isso. Eu menti para ela.

Eu fui um idiota. Um babaca. E tudo por causa de um sonho e um conselho idiota.

E então, várias coisas aconteceram: eu tentei voltar a namorar a Jujuba, mas não consegui e fui ainda mais babaca por causa disso, a Princesa foi capturada pela Jujuba por ter causado a destruição do Reino Gelado, eu descobri que ela era mais poderosa que o Rei de Fogo, foi deixada na floresta quando bebê para morrer, eu finalmente descobri que ela foi trancada naquele lampião por esse motivo e ela finalmente assumiu o poder no Reino de Fogo. Ela me perdoou, mas ela não queria voltar comigo.

Minha depressão voltou, e pior do que nunca. Eu queria ela de volta ao meu lado. Eu queria pedir desculpas pelo que eu fiz. Eu queria outra chance.

Foi então que, por um milagre, eu tive outra chance para ter ela de volta: ela veio até mim pedir a minha ajuda. O reino dela foi tomado pelo Rei de Fogo e pelo Lorde de Fogo, e para impedir que ela faça alguma coisa, ela foi envenenada. Era a minha chance. Se eu salvasse o reino dela, eu teria ela de volta. Tudo voltaria como era antes.

Infelizmente, nada ocorreu como eu queria. Eu fiquei tão focado em impressionar a princesa que eu atrapalhei demais na missão. E não, a missão não foi um fracasso, foi um sucesso, mas tudo o que eu fiz foi atrapalhar, e eu nem fui o herói dela. O herói dela foi um pão de canela idiota que ficou inteligente do nada.

Eu fui embora do reino sem dizer uma palavra. Ninguém me viu. Era melhor assim.

Minha única vontade naquele momento era de me matar ou ir embora de Ooo para nunca mais voltar. Era a única chance que eu tinha, e eu estraguei tudo.

Eu não sou um herói. Eu sou um nada.

—--

Após ter terminado de contar a história para Sunny, os olhos do garoto ficaram cheios de lágrimas. Ele olhou para a mini-princesa na palma de sua mão mais uma vez, antes de amassá-la por completo. Não sobrou nada dela além de pétalas.

—…tudo o que eu queria… era ficar com ela de novo. Eu queria… voltar no tempo e me impedir… de ter feito essa estupidez… me impedir de escrever aquela carta… mas as coisas não funcionam assim…

O garoto começou a chorar. Sunny olhou para ele e viu o quanto ele estava sofrendo por causa disso. Ela o abraçou e enxugou as suas lágrimas.

—…eu sei como se sente. – disse a garota com um tom triste em sua voz.

— Por favor… n-não me fale que n-não sou só eu… que fiz uma c-coisa dessas… eu já estou c-cansado do Jake dizer isso… pra mim…

— Eu sei porque já aconteceu comigo. Eu… fiz a mesma coisa que você fez com um amigo meu.

Espera, como assim? Finn ficou surpreso. O que a Sunny fez?

— Usagi tem um irmão mais novo. Não nos entendemos muito quando nos conhecemos. Ele era gentil e amigável, enquanto eu era mesquinha e mimada. É o que acontece quando você é parte de uma família rica.

Finn enxugou as suas lágrimas enquanto escutava a história.

— Mas com o passar do tempo, eu melhorei o meu comportamento por causa dele. Ele mostrou para mim que não é bom ser uma patricinha que humilha os outros só porque você é rica. Comecei a fazer amigos, me tornei uma pessoa melhor e eu… acabei me apaixonando por ele. Mas então veio aquele dia…

O tom da voz da garota ficou sério.

— Ele fez uma coisa meio que boba. Dava até para perdoar, mas o meu lado cruel acabou falando alto. Ao invés de ter rejeitado ele, eu fiz algo pior. Bem pior. Algo pior que escrever uma carta cheia de ofensas.

O garoto ficou curioso. O que ela fez com o irmão da Usagi?

— O que você fez com ele? – perguntou o garoto.

— …não vai querer saber. É tão cruel que nem eu gosto de lembrar.

A garota continuou.

— E então, depois de alguns dias, algo aconteceu. – disse a garota com um tom triste em sua voz, misturado com raiva.

— O que aconteceu?

— …Roxanne.

A feiticeira? O que ela tem a ver com isso? Falando nisso, ela demonstrou medo e ódio quando Sunny lutou contra ela no dia anterior.

— O que ela fez?

— …ela o colocou em um coma. E tudo por minha causa. Depois disso, ela disse algo que eu não esqueci até hoje: isso é o resultado de suas ações. Conviva com isso.

Isso explica o comportamento dela ontem, pensou o garoto.

— Eu quero que ela pague pelo que ela fez com ele. No entanto, eu não posso deixar de admitir que isso tudo é minha culpa.

— E a Usagi e o Moonman?

— Os dois também foram responsáveis pelo coma dele. A Usagi está arrependida de ter feito isso com ele. A única coisa que ela quer fazer quando ele acordar é pedir desculpas para ele. E Moonman é o melhor amigo dele desde criança.

— Então, vocês só vieram até Ooo para me procurar e pegar a Roxanne?

— Sim. Na verdade, era só para te procurar. Pegar Roxanne era outra prioridade, mas quando você disse que ela está aqui, isso se tornou nosso objetivo.

Três aprendizes que cometeram um erro. Um erro que resultou em uma situação crítica para um garoto, e uma feiticeira com sérios problemas está envolvida nisso também. Finn pode ter cometido um erro com uma princesa, mas nada se comparava a isso.

— …eu posso ajudar vocês de algum jeito? – perguntou o garoto.

— Huh? Ajudar?

— Sim, ajudar a pegar a Roxanne. Aquela doida pode não querer destruir o mundo, mas colocar alguém em um coma é algo imperdoável.

— E-eu não sei. Além disso, ela está interessada em você. Você está correndo perigo.

— É um risco que estou disposto a correr.

O garoto parecia não querer mudar de ideia. Ele quer mesmo ajudar os três aprendizes.

—…muito bem. Quanto mais ajuda, melhor. E Finn…

— Hmm?

— Você tem um bom coração. Eu ainda acho que você e a princesa podem ficar juntos.

O garoto ficou um pouco feliz com o que ela disse.

— Obrigado.

No entanto, Sunny ficou meio receosa.

— Mas infelizmente, você não a verá de novo. Eu sinto muito…

—--

 – Mestre, quanto mais a gente tem que andar? – perguntou Usagi.

— Eu não sei. Quantos minutos se passaram? – perguntou o mestre.

—…vinte minutos. Nós andamos por VINTE MINUTOS! – gritou Moonman.

— Oh, vinte minutos? Eu perdi a noção do tempo. Me desculpe.

Usagi e Moonman ficaram aborrecidos.

— Tá, mas o que você quer com a gente? – perguntou Usagi.

— É sobre o seu irmão…