A filha do louco escrita por Loressa G M


Capítulo 1
Devaneios


Notas iniciais do capítulo

Gente, essa não é a continuação de "Aos olhos de alguém". Mas queria muito escrever essa história antes. Espero que gostem S2.



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  O mundo acabou. Simples, como um filme clichê sobre zumbis. Entretanto, diferente da maioria dos sobreviventes, eu soube exatamente o que aconteceu. O planeta estava entrando em colapso, muitos humanos e seus “progressos” para apenas uma natureza. Governos começaram a se reunir por todo o mundo, propondo as mais diversas soluções. A que se sobressaiu foi a de limitar o número de filhos por mulher, em alguns lugares dois, outros três... porém, radicais acharam que não seria o suficiente.

  Foi quando um louco, junto a seus cumplices, criou um vírus no laboratório em que trabalhava e o espalhou – bem longe de onde eles viviam, ou melhor, vivem. Explicando melhor como eu sei de tudo, o “louco”, é meu pai.

 

  Hoje vivemos em uma pequena base, somos chamados de “Base 1”, existem sete oficiais pelo mundo. Fora dos refúgios, carniçais – ou seja lá o que são – devoram qualquer um que respire, sem ao menos poder sentir a esperança de um dia conseguir o antidoto.

  – Milena! – uma das poucas pessoas que realmente conheço entre as vinte me aborda

  – O que é tão importante para você interromper meus pensamentos Cafira?

  Olho para minha irmã, finalmente volto ao mundo real e percebo o desespero em sua voz

  – Fala! – Não espero a resposta, o olhar dela já diz tudo.

  Corro para fora do alojamento de minha família. Chegando ao grande pátio, vejo um pequeno tumulto em volta de um japonês de joelhos.

  – Seiji! – Grito, abrindo espaço entre os curiosos – Você está... – ele se vira, seus olhos mortos como um deles, sua pele parece formada apenas por células mortas. – infectado.

  Faço de acordo com o protocolo. Retiro uma espécie de pano para manter a boca dele coberta, enquanto minha irmã afasta os civis.

  – Saiam bando de curiosos. Se querem ver um zumbi completo é só escalarem as muralhas.

  Da maneira dela.

  Seguro os ombros de Seiji e o empurro até o laboratório, Cafira escoltando-nos. Meu pai sempre está lá, o primeiro local que construiu aqui foi um laboratório próprio, depois alojamentos, hortas e tudo que vinte pessoas necessitam para conviver – vinte e uma, se contar a barriga da Marjorie.

  “Mais um foi infectado pai”, ouço minha irmã dizer ao entrar antes de mim no laboratório. Ele pergunta por quem, mas antes de ouvir a resposta me vê entrando com o melhor amigo de suas filhas.

  – Seiji. – Diz ele quase em um sussurro, poupando o ar para procurar um dos frascos da cura já pronta. Uma assistente entrega a ele.

  – Como ele estão se transformando sem mordidas pai? – Pergunto, enquanto entro em desespero. E se todos virarmos, quem nos dará a cura?

  – Eu ainda não sei ao certo, talvez alguns sejam mais imunes que outros. – Ele aplica a injeção no garoto de quinze anos, o qual adormece.

  – Como uma gripe, está no ar, mas nem todos a contraem assim. Eu e seu pai podemos fazer uma vacina, para que ninguém a contraia desse modo. – A amante, agora atual, de meu pai se pronuncia

  – E se Marjorie contrair isso antes? Como podemos saber o que acontecerá ao bebê? – olho para meu pai, que se encontra de cabeça baixa, não devolvendo o olhar – Foi uma péssima ideia fazer esse apocalipse senhor Thomas. – minha voz sai baixa, mas o suficiente para ele me olhar nos olhos e segurar meu rosto entre os dedos.

  – Você está respirando não está? – ele suspira – Filha, todos iriamos morrer em poucas semanas. Eu sabia disso, as pesquisas mundiais apontavam o que mídia nenhuma queria divulgar, precisávamos parar, todos os países e seus estilos de vida, imediatamente. – Tento virar o rosto, ele delicadamente me impede – Filha, olha para mim, nenhum país faria isso. Eu não poderia deixar você e sua irmã morrerem.

  Sua amante também não, pelo visto. – A frase permanece apenas em meus pensamentos por minha parte, mas quase me espanto ao ouvir as mesmas palavras saindo da boca de minha irmã.  

  – Cafira... – diz nosso pai voltando toda a atenção de seus olhos verdes para a filha mais velha, a qual o ignora completamente, ajudando Seiji a se levantar.

  Sigo em direção a eles, também ignorando Thomas, e abraço Seiji.

  – Você está bem? – sussurro a ele

  – Eu... – ele para durante alguns segundos, o cabelo castanho suado caindo em um dos olhos de mesma cor – eu estou com muita vontade de um pão de batata.

  – Idiota – diz Cafira, enquanto eu bato levemente a cabeça dele. Todos rimos.

  Ele se levanta da maca e seguimos em direção à porta de saída, até sermos interrompidos pela voz da mulher de meu pai, a qual têm quase metade da idade dele.

  – Espere! – diz ela a meu pai e os outros assistentes, Allie e Alex – Acho que sei o motivo pelo qual Seiji e Miguel se transformaram sem serem mordidos – Obviamente, a conversa não era para conosco, mas como “o trio” é o grupo mais curioso de adolescentes que ainda existe, saímos pela porta de vidro, e nos posicionamos um acima do outro para continuar a espiar – Thomas, qual é o sangue deles?

  – Sangue “O”, o qual não tem nenhum antígeno – diz Alex, enquanto meu pai parece compreender o sentido da vida – o sangue de suas duas filhas é AB, então quer dizer que o vírus que você fez, de alguma forma, atinge com maior intensidade quem tem o sangue diferente do delas. – Conclui o jovem de vinte anos.

  Os três suspiram, o que traduzindo significa que Marjorie e a filha não tem esse tipo sanguíneo.

  – Podem sair daí de trás – a outra jovem assistente, Allie, uma ruiva de vinte e um, segue em direção à porta, enquanto nós três quase caímos para dentro do laboratório – Use... isso – ela pega uma máscara cirúrgica branca e entrega a Seiji, o qual parece rejeitar.

  – Vou ter que usar esse troço? – Seus olhos castanhos percorrem todo o laboratório. Thomas parece entender e sorri.

  – Tenho algo melhor, encontro vocês na padaria.

  Peço dois pães de batata e três sucos de laranja, minha irmã não costuma comer nada à tarde. O padeiro, ruivo como seu filho Adam, sua filha Allie, e sua irmã Alice – a qual eu e minha irmã chamamos apenas de mãe –, nos serve à pequena mesa na padaria. É uma padaria pequena, assim como tudo aqui tem o tamanho necessário. Tudo nesse refúgio se limita ao básico, uma pequena padaria, uma pequena estação de tratamento d’agua, um pequeno hospital, uma pequena biblioteca, etc. Na maior parte do tempo, nosso entretenimento é contar e ouvir histórias, principalmente as de vida de quem passou a maior parte dela antes do apocalipse.

  Minha história favorita é do tio padeiro, de como ele cuidou dos quatro filhos mesmo não tendo certeza se eram dele, quer dizer, Allie e Adam são muito parecidos com ele, e Kath é loira como a mãe, mas... Billy, o mais jovem com quatro anos, é negro. Mesmo a mulher não sendo fiel e tendo filhos fora do casamento, Damian sempre cuidou de todos como se fossem seus. Há três anos, quando tudo começou, ele não fazia a mínima ideia de onde estava a mulher, ela o abandonara com as crianças assim que Billy completou um ano. Allie sempre o ajuda a cuidar dos pequenos, e agora que Adam já tem doze, ele também os ajuda com o pequenino e a irmã, que tem metade de sua idade.

  O bombeiro entra pela porta e pede um almoço para viajem, já que vê a única mesa ocupada por nós. Seu olhar diz claramente “O que esses três estão aprontando, nunca saí coisa boa quando se juntam”.

  Sorrio para ele, meu tio por parte de pai. Todos aqui foram pré-selecionados pelo senhor Thomas. Suas amadas filhas, a mãe delas e família; seu irmão e a mulher dele – uma enfermeira; sua amente – que já tinha perdido toda a família em uma noite de natal; seu melhor amigo policial e sua esposa, Marjorie; e o assistente que faltava, namorado de Cafira, com sua mãe doente. Juntos, formamos as quinze pessoas escolhidas para sobreviver ao novo mundo com ele, assim como outros seis cientistas pelo mundo, amigos de meu pai, também fizeram.

  As quatro pessoas que temos a mais hoje foram agregadas após o apocalipse, inclusive Seiji.

  Meu pai entra no recinto, ao seu lado, como sempre, Adaline.

  – Que bom que você já está aqui Miguel – Thomas joga a máscara cirúrgica para seu irmão – é melhor usar isso de agora em diante, a menos que queira ficar se transformando em zumbi.

  – Vocês também terão que usar? – pergunta o bombeiro de cabelos castanhos e olhos azuis

  – Não, apenas quem tem sangue igual ao seu. – diz a fiel nova mulher de meu pai, enquanto ele se agacha à frente da cadeira de Seiji.  

  O japonês tenta se levantar, mas acaba caindo de volta ao ver o que meu pai tem em mãos.

  – Que foda... – Shei agarra uma máscara preta, a qual parece vinda de um anime, e cobre do seu nariz ao seu queixo – Agora já posso ser um ninja, mestre – ele sussurra, esperando que eu e Cafira não o tenhamos ouvido.

  Thomas sorri e bagunça o cabelo do garoto. Seiji é como um filho para meu pai, entretanto, nem sempre foi assim.

  Encontramos ele em uma das expedições. Na primeira, há dois anos, fora apenas meu pai e seu amigo policial, precisávamos desesperadamente de um médico, Thomas não tinha pensado nisso quando formou uma sociedade apenas com seus conhecidos. Foram algumas horas até eles encontrarem um zumbi de jaleco sem nenhuma marca de bala, depois o amarraram e o trouxeram no jipe ainda como morto, hoje ele é o médico solitário que viveu trinta e sete anos antes do apocalipse. Duas semanas depois, eu e Cafira imploramos para que nosso pai nos levasse junto a ele, depois de muita insistência nossa, ele cedeu. Fomos nós três e o policial, estávamos procurando por andantes solitários crianças, – que são mais fáceis de influenciar e crescerem com os ideais de meu pai – ou alguém com cara de administrador, entretanto, o que achamos foi um vivo.

  Não sabíamos como um garoto de treze anos, um ano mais jovem meus catorze da época, estava vivo, mas não poderíamos negar sua existência, sufocando com o gás carbônico que não parava de sair de seu carro capotado. Thomas não queria salvá-lo, mas eu e Cafira imploramos para que o ajudassem, e novamente nosso pai cedeu, dessa vez junto a Adrien. Os dois desceram do Jipe e salvaram Shei, o qual mais tarde contou que seu pai sempre se preparou para o fim do mundo, mas apenas com armas e fazendo modificações no carro, e apesar de todo o esforço, ele e sua mulher acabaram devorados tentando mantê-lo vivo, foi quando ele tentou fugir dirigindo o carro, mas acabou capotando.

  – Milena – a voz de Damian desfaz o meu devaneio – você pode cuidar do Billy hoje

  Era só o que me faltava.

  — Claro que sim Tio-mian

 

~ Tipo o Seiji ~


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