Flynn e o restante do grupo compadeceram-se daquele povo. Era perfeitamente compreensível aquela desconfiança por parte deles. Se a mesma coisa estivesse acontecendo com eles, certamente agiriam da mesma forma.

― Nos desculpem por trata-los assim rudemente, mas é que estamos desesperados por saber onde estão nossos garotos – continuou o homem alto – E a propósito, me chamo Pedro Bueno, sou o prefeito da cidade – Ele apontou para a mulher de voz grave – E esta é minha esposa, Cristina Bueno – ele repousou a mão no ombro dela.

O prefeito estendeu a mão para cumprimentar os recém- chegados. Flynn aceitou o gesto.

― Muito prazer em conhecê-los. Lamento que seja sob esta circunstância – ele declarou.

O chefe da cidade sorriu tristemente e tratou de mudar de assunto antes que caísse em prantos diante daqueles desconhecidos.

― Você fala nosso idioma muito bem apesar de não ser daqui – comentou Pedro.

― Obrigado! – agradeceu Carsen.

― Noto que você tem um sotaque diferente. Você é norte-americano? – questionou-o o prefeito.

― Sim, somos – ele concordou – Como soube? – quis saber Flynn extremamente curioso.

― Estudei na capital do Estado antes de me tornar prefeito, tive aulas de inglês e lá tive a oportunidade de conviver e de me comunicar com muitos norte-americanos, por isso sei reconhecer quando um deles fala – informou. E mudando sua entonação, indagou, cruzando os braços diante do peito – E então, como vocês poderão nos ajudar?

Flynn Carsen limpou a garganta antes de responder.

― Primeiro, gostaríamos que vocês nos falassem sobre os garotos. Quando foi a última vez que os viram?

O Bibliotecário viu o grupo ficar desconfortável. Aquela era uma ferida aberta naquelas pessoas. Um homem rechonchudo, baixinho e calvo deu um passo a frente para que pudesse ser visto.

― O primeiro a desaparecer foi meu filho Paulo. Faz exatamente dez dias que não o vejo – seus olhos estavam vermelhos, evidenciando que havia chorado e ele não tinha vergonha disso – A ironia de tudo isso é sou o vereador dessa cidade e não há nada que eu possa fazer para trazer meu filho de volta.

― Nós estamos aqui para garantir que os filhos de vocês retornem em segurança – garantiu Flynn.

― Esse é um dos garotos cujo nome apareceu  no Livro de Recortes – sussurrou Cassandra para Stones.

  Carsen voltou ao interrogatório.

 ― E seu filho tinha o costume de sair de casa? – questionou o Bibliotecário.

 ― Ele saía às vezes, mas nunca saiu à noite e sempre voltava para casa, entretanto, não dessa vez.

 ― O senhor tem ideia de para onde ele possa ter ido? – perguntou mais uma vez.

  O vereador balançou a cabeça negativamente.

  ― Não. Ele não conhece ninguém fora da cidade. Todos os amigos dele estão aqui – respondeu mostrando o grupo de habitantes.

  ― Ele é que pensa! Aos quinze anos eu conhecia e conversava virtualmente com pessoas de todos os Estados Unidos e com outras de outros países – comentou Ezekiel baixinho para que somente seu grupo ouvisse.

  ― O senhor olhou o celular dele? – Flynn indagou uma vez mais.

  ― Sim, mas não havia nada que nos dissesse para onde ele poderia ter ido – o vereador confessou.

 ― Se importaria de nos entregar o aparelho para que meu amigo Ezekiel Jones possa dar uma olhada? Ele é especialista em burlar sistemas – sugeriu Flynn.

 ― Tudo bem, eu entrego. Faço qualquer coisa para ter meu filho de volta – concordou o vereador.

 Eles conversaram com o restante do pessoal e as histórias foram praticamente as mesmas. Os meninos não tinham envolvimento com drogas, eram garotos pacíficos, também não conheciam pessoas fora da cidade. Ao todo foram dez jovens desaparecidos

 ― Para terminar, aconteceu alguma coisa estranha na cidade ultimamente, fora o surgimento das árvores secas? Qualquer coisa.

Mais uma vez a população ficou incomodada. Ninguém gostava de revelar os segredos que havia em sua cidade a estranhos. Era melhor que tudo ficasse enterrado.