Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 6
No Profundo Abismo Da Profunda Natureza




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As flores desabrocham para

continuar a viver, pois reter é

perecer. – Khalil Gibran

****

Maria ficou surpresa com o convite feito por Enrico a ela e à tia, pois há muito tempo isso não acontecia, mas aceitou de bom grado, afinal, o que mais queria era distância da mãe, irmão e marido, e essa era a desculpa perfeita para evitar mais brigas.

— Então – disse Fifi enquanto olhava o cardápio – podemos saber o motivo desse jantar?

— É Enrico, achei estranho quando tia Fifi me contou que você ia nos trazer para jantar fora. Qual é o motivo?

— Minhas lindas – sorria – eu não preciso de um motivo especial pra sair com vocês, só estou aproveitando a oportunidade que a vida me deu de ter duas pessoas incríveis na minha vida!

— Por acaso você está apaixonado Enrico? – Perguntou Maria curiosa.

— Enrico apaixonado? Tá aí uma coisa que eu pagaria pra ver!

— OK, vamos parar de falar da minha vida amorosa que foi um desastre. Ah, e não quero que o nome de nenhum dos que ficaram em casa sejam citados aqui! – Ordenou.

— Seu pedido é uma ordem! – Brincou Josefina.

— Já escolheram o que vão pedir? Esse aqui parece bom! – Disse Maria apontando o cardápio.

— Sim Cris, esse parece bom, e para acompanhar, vou pedir o melhor vinho que eles tiverem aqui!

— Nada melhor que encher a cara em plena segunda feira! – Fifi se animou.

— Tia, segura a onda aí, nada de sair daqui embriagada.

— Deixa ela Cris, de vez enquanto pode.

Os três riram e trataram de divertir e aproveitar cada minuto ali naquele restaurante, como se aquele fosse o último dia que passariam juntos e felizes.

****

Mansão dos Goulart.

— Cadê o trio de insuportáveis?  - Perguntou Fernando debochando enquanto se juntava a Cecília e Sérgio.

— Saíram pra jantar – respondeu Sérgio – Enrico era só sorrisos.

— Aposto que essa alegria tem a ver com a vinda do investigador aqui mais cedo. – Deduziu Cecília.

— Que investigador?

— Um cara muito bem apresentado que veio falar com Enrico, era um investigador, ele já esteve aqui outras vezes, mas pela primeira vez Enrico sorriu depois que ele saiu. – Explicou Sérgio.

— Será que a tia Fifi e a Maria sabem o porquê dessa alegria inesperada do implacável senhor Goulart? – Virava os olhos enquanto falava.

— Não sei – disse Cecília pensativa – talvez sim, esses três são como carne e unha. Mas seja lá o que for, eu preciso descobrir.

— Se Maria souber o motivo, ela vai me contar. – Concluiu Sérgio de forma ameaçadora.

Os três se olharam, e um silêncio intimidador se formou na sala, fazendo com que cada um se retirasse e fosse para seus devidos aposentos.

****

Os dias que passaram foram complicados para o ‘trio de insuportáveis’, como Fernando dissera, e não tão complicado assim para o ‘trio de vampiros’, que queria porque queria sugar até o último centavo da herança de Enrico.

Enrico teve uma infecção, que, para muitos era uma coisa simples, mas no caso dele qualquer resfriado que fosse, poderia ser fatal, já que sua saúde andava bem debilitada. E foi isso que aconteceu, Enrico estava de cama, muito mal, sem forças para levantar, o que fez sua autoestima despencar em questão de segundos.

— Enrico, você precisa ser forte, você não pode se deixar vencer. – Disse Fifi que estava ao lado de sua cama dando-o forças.

— Eu tentei até agora Fifi – força um sorriso – mas tô sentindo minha vida se esvair pelas minhas mãos, e eu não sei que consigo segura-la mais.

— Não diga isso, Maria e eu precisamos de você, e se você se for? Quem vai nos defender?

— Tá na hora de vocês se virarem sem mim, e eu sei que conseguem, tiveram um ótimo professor!

Ele arranca um sorriso de Fifi, e sorri também.

— Fifi – continuou – me prometa que você vai cuidar da nossa Cris, e que não vai deixar eles apagarem a pequena chama que ainda existe dentro dela, me promete isso?

— Não Enrico – dizia em meio as lágrimas – não se despeça ainda...

— Por favor, me promete isso... – Suplicou.

— Eu prometo...

Fifi fechou seus olhos com força, deixando cair uma cachoeira de lágrimas, ela sabia que as palavras que Enrico dizia não significavam um bom sinal.

— Fifi, me olha – ela o olha – não fica assim, eu não gosto de ver chorar. – Secava as lágrimas dela usando a pouca força que tinha.

— Não me peça isso Enrico, isso não sei se sou capaz de te prometer.

— Tudo bem. Mas quero te pedir outra coisa.

— O que?

— Peça ao testamentário que venha aqui, tenho umas mudanças a fazer no meu testamento.

— Tudo bem Enrico, num gesto de carinho, tomou sua mão e a beijou de forma terna e afetuosa, e ela logo se retirou do quarto, antes que desabasse a chorar mais uma vez.

****

— E então Fifi – Fifi? Ela nunca a chamava de Fifi. – como está meu marido?

— Meu marido? Nossa, eu vivi pra ouvir isso! – Debochou.

— Por favor Fifi, não é porque vivemos brigando que gosto dele!

— Por favor digo eu Cecília, chega de hipocrisia, todo mundo sabe que vocês três estão de olho na herança dele! – Se revoltou.

— Auto lá – se manifestou Sérgio – quem você pensa que é pra dizer isso? Aposto que você vive se fazendo de santa, mas é o que você mais quer, a morte de Enrico!

— Segura a onda aí Sérgio. – Disse Fernando tentando apaziguar a situação.

— Diga o que quiser – discava um número no telefone – eu não me importo com suas palavras sujas Sérgio.

— Pra quem você está ligando? – Perguntou Cecília curiosa.

— Para o testamentário, Enrico disse que vai fazer algumas alterações em seu testamento. – Ficou alegre ao dizer isso, sabia que essa informação preocupava os três.

Eles se olharam, mas não disseram nada, palavras lhes faltaram.

“A Josefina, minha queria irmãzinha, a primeira coisa que eu vou fazer quando pôr as mãos no meu dinheiro, é te mandar pra bem longe desta casa...” – Dizia Cecília em seus pensamentos.

****

Cada minuto naquele hospital fazia com que o coração de Estêvão batesse mais forte, batesse com medo. Ficar sem ter notícias de sua avó era um calvário, e cada vez que um médico saía de alguma sala sem respostas para suas perguntas, era uma chicotada que ele tomava.

— Senhor Estêvão San Roman? – Por fim alguém para dar-lhe uma notícia.

— Sim, sou eu, como está a minha vó? Já vai ter alta? – Não conseguia conter sua apreensão.

— Calma, o senhor vai ter que ser forte...

— Não me diga que... – Não conseguiu terminar.

— Não, sua avó está viva – Estêvão suspirou aliviado – mas não sei dizer até quando.

A dor que Estêvão sentiu ao ouvir essas palavras foi visível, mas ele engoliu o choro, e essa foi a deixa para que o médico continuasse.

— Ela não vem reagindo às medicações, e isso tem nos preocupado bastante. Minha equipe e eu estamos fazendo de tudo para que ela reaja, mas tem sido bastante difícil. Portanto, é melhor você e sua família se prepararem, pois mais cedo ou mais tarde, vocês receberão uma notícia triste. – Tentou ser menos torturador possível, mas o momento pedia uma certa tortura.

— Tudo bem doutor. – A única coisa que conseguiu dizer.

O médico o deixou e foi ver outros pacientes. Estêvão foi para um lugar reservado e chorou amargamente, pois não havia conseguido dar a vida que queria à sua avó, e agora não teria mais chance.

****

Os dias de trabalho não têm sido os mesmos para Maria, já que seu fiel amigo estava enfermo. Sua cabeça andava longe, e seu coração doía de tal forma, como se fosse uma premonição.

Cada fim de expediente, era um suspiro aliviado, pois dessa forma poderia ir para casa, e velar o sono daquele de quem ela só queria o bem.

— Cris – mal conseguia enxergar – é você que está aqui?

— Sim Enrico, sou eu, mas fica quietinho, quanto menos força fizer, mais rápida será sua recuperação. Tenta dormir mais um pouquinho, eu vou ficar aqui com você.

— Não Cris, não quero dormir – segurou sua mão – eu quero aproveitar cada instante perto de você, não sei se terei essa oportunidade amanhã. – Sorriu.

— Ah Enrico deixa de ser exagerado! – O repreendeu. – Tenho certeza que amanhã, quando chegar do trabalho você estará aqui, e bem. Acho que você tá querendo chamar atenção! – Brincou.

— Ah minha pequena Cris... – Suspirou. – Não sei, não tenho tanta certeza disso, mas eu quero que saiba que eu te quis muito bem, e até meu último suspiro vou ter esse sentimento por você. Você foi algo bom que apareceu na minha vida de uma forma diferente, mas eu gostei. – Havia vestígios de lágrimas em seus olhos. – Se cuida Cris, eu quero que seja muito feliz.

— Por favor Enrico – já estava em lágrimas também – pare de dizer essas coisas!

— Eu te amo muito Cris, do jeitinho que você é, sem tirar nem pôr... – Acaricia sua face fazendo-a fechar os olhos.

****

O homem fraco teme a morte, o

desgraçado a chama, o valente a

procura. Só o sensato a espera. –

Benjamin Franklin

****

... — E como ela tá?

Tá bem Teb, só que já não sei mais o que responder quando ela pergunta sobre você e sua vó.

— Entendo, Aninha sempre foi curiosa.

E como tá tudo por aí?

— Tenso. Minha vó não reage Babi e isso tá me deixando nervoso, já faz dias que ela tá assim.

Ah Teb, nem sei o que dizer. Mas tu sabe que se precisar de alguma coisa, pode me chamar.

— Você já tá fazendo muito cuidando da Aninha pra mim Babi não se preocupa não.

— Estêvão? – Chamou um médico se aproximando.

— Babi, depois te ligo. – Desliga o celular. – Sim doutor. – Seu coração batia forte, seu nervosismo era notório.

— Estêvão – procurou as palavras certas – sua avó... Infelizmente não resistiu...

— Não, por favor doutor... – Já chorava sem cerimônias.

— Eu sinto muito Estêvão...

****

Vale à pena morrer; fugir do mundo,

as trilhas da selvática aspereza, e

mergulhar de novo no profundo

abismo da profunda natureza. – Júlia

Cortines

****

— É meu caro, acho que essa sua vida medíocre está acabando. – Disse Cecília espirrando do seu veneno.

— Você tanto torceu pra isso, agora está mais perto do que imagina. – Sua voz falhava.

— Sim, e não vejo a hora. Sabe Enrico, tenho certeza que essa casa vai ser muito melhor sem você.

— Suas palavras não me atingem Cecília. Quero ver você sorrir quando seus segredos forem descobertos.

— É querido, eu posso até me dar mal, mas, você não acha que sua querida Cris vai ficar muito desapontada quando souber que você não é o que ela pensa? Pelo menos eu mostro quem sou de verdade, e não uso máscaras como você!

— Deixe-a em paz Cecília, seu problema é comigo!

— Sabe Enrico, antes que você morra tenho uma coisa a confessar. Lembra do acidente que Maria e você sofreram anos atrás? O acidente que tirou seus movimentos? Então, fui eu quem o causou. – Sorriu. – Eu cortei, eu não, um capanga, cortou os freios, e depois eu o matei para que não me chantageasse. Meu desejo era que vocês dois tivessem morrido – falava com ódio – mas como dizem, vaso ruim não quebra.

— Você não vale nada – gritou – bem que eu suspeitei que tinha dedo seu nesse acidente! Eu te odeio Cecília, e me arrependo amargamente por ter feito parte dos seus planos, por ter me deixado levar pelas suas palavras, me arrependo por ter me casado com você, sua maldit... Aiii – sentiu uma forte dor no peito – Cecília, chame o médico! – Implorou com a mão no peito.

— Ah Enrico, a conversa tá tão boa.

— Cecília... Cham... O médic... Cecíl...

— Eu faria isso com todo prazer, e provavelmente impediria sua morte – era fria – mas não quero interromper esse momento tão esperado, não mesmo. Morra logo de uma vez Enrico e nos deixe em paz!

As palavras de Cecília ecoaram na cabeça de Enrico, mas ele não conseguia revidar, pois sua força era mínima, e já estava sucumbindo.

— Cecília – sua voz era baixa, quase sumindo – o médico...

****

— Que caras são essas? – Perguntou Maria entrando em casa, vendo sua família calada, o que não era normal.

— Diz a ela Josefina, você é a pessoa mais indicada. – Dissimulou Cecília.

— Me dizer o que? – Se alterou. – Digam logo, o que eu tenho que saber?

— Minha flor... O Enrico... – Abaixou a cabeça.

— Não...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Talvez o capítulo mais triste da história, mas espero que gostem.



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