Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 4
Para Todo O Sempre?




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“Te abraçaria mesmo que tu fosses

um cacto, e eu balão.”

****

Finalmente em casa! Dizem que não existe lugar no mundo melhor que a nossa casa, e esse ditado faz todo o sentido para Estêvão. Após um dia cansativo e estressante, ele conseguiu tirar sua avó daquele hospital horrendo, graças à Babi, que o ajudou pagando boa parte dos remédios, se não fosse ela, Catarina ainda estaria internada. Eh, Babi se tornou o anjo da guarda de Estêvão.

Ao entrar em casa, eles se deparam com uma escuridão amedrontadora, ele tinha se esquecido da luz, agora, a falta dela.

— Estêvão meu filho, que escuridão é essa? – Perguntou olhando ao redor.

— Ah vó, é que deu um problema no poste de luz, e por acaso, só tá faltando luz aqui em casa.

Ainda bem que não dava para ver nada, senão ela ia logo perceber que ele estava mentindo.

— Eu já liguei pra companhia de luz – continuou – e eles disseram que hoje não vão poder fazer nada, como é sábado né, mas disseram que vêm na segunda.

— Estranho, mas logo aqui em casa.

— É... Bom vó – deu o braço a ela e foram caminhando em direção ao quarto – melhor a senhora se deitar um pouco e repousar.

— Ah, eu não aguento mais repousar! – Retrucou.

— Vó, a senhora sabe que não é questão de querer ou não, o médico disse que, se a senhora não quiser voltar àquele hospital, vai ter que fazer repouso, então, não discuta comigo! – Foi firme.

—Se não tem outro jeito né. – Cedeu contra sua vontade.

­— Fica aqui descansando enquanto eu vou buscar a Aninha. – A ajudou se deitar, mas quando ia sair, ela o impediu.

— Filho – ele olhou para ela, quer dizer, não dava para ver nada naquela escuridão, mas ainda sim a olhou – tem alguma coisa que você queira me contar?

— Não vó – mordeu o lábio inferior – por que a senhora acha que está acontecendo alguma coisa? – Fechou os olhos fortemente.

— Eu te conheço, e sei que está me escondendo algo.

— Não é nada que a senhora tenha que se preocupar vó, eu vou dar conta, eu vou dar...

Ele saiu do quarto antes que ela dissesse mais alguma coisa, e secou a pequena lágrima que estava prestes a cair. Estêvão nunca foi de mentir, mas não podia dizer a ela os perrengues que estavam passando, e nem da falta de dinheiro, já que a aposentadoria dela era só para pagar os medicamentos que ela usava, e ele ainda acrescentava, porque o dinheiro dela às vezes não era suficiente. Ele entendia o porquê dela não querer ficar naquela cama dia e noite, pois, antes de adoecer, ela era uma mulher muito ativa. Eles não tinham uma vida arregrada, com muita fartura, mas também não viviam nesse aperto que vivem, pois Adriana, sua avó e ele sempre trabalharam, aí tudo aconteceu como uma bola de neve: a morte precoce de Adriana, sua avó, que já sofria com problemas de hipertensão, caiu da escada da casa de família onde trabalhava, ficando impossibilitada de trabalhar, e ele, sozinho, ficou responsável pelo sustento de sua casa.

Estêvão não é de reclamar, e nem deve, apesar dos pesares, a vida é boa demais com ele, levou a única mulher que amou, mas deixou a filha, fruto de um grande amor. Sempre que olhava para Aninha, lembrava do amor que sentira por ela, talvez ainda sinta, pois para ele, não vai existir mulher no mundo capaz de fazê-lo esquecer Adriana, mas se por acaso existir, ela deve ser perfeita.

****

Ao chegar próximo à casa da vizinha, logo avista Aninha  brincando com sua amiguinha. Quando ela o viu, correu em sua direção, se jogando em seus braços, e é claro, ele a recebeu com braços abertos, apertando aquela coisinha magra, e matando a saudade que estava dela, tudo bem que foi só um dia, ou quase isso, mas ele era um pai coruja, e ficar longe dela, por uma hora que fosse, já ficava com saudades.

Os dois foram para casa conversando e brincando, como bons amigos que eram, e quando chegaram, ela levou um pequeno susto com a escuridão que pairava no local.

— Pai, por que tá tudo escuro?

— Quer dizer que a minha menina valente tem medo de escuro agora? – Brincou, colocando a mochila dela no sofá.

— Pai, eu tô falando sério! – Colocou a mão esquerda na cintura.

— Ihh, tem senso de humor não? – Olhou para os lados e sussurrou. – Cortaram nossa luz, mas não fala pra sua bisa.

— Como assim?... – Disse meio alto em tom de surpresa.

— Fala baixo! – Colocou o indicador no lábio dela.

— Como assim cortaram a nossa luz? – Sussurrou.

— Eu não tinha dinheiro pra pagar, e ainda não tenho, então não sei até quando vamos ficar assim.

— E o senhor inventou alguma desculpa pra minha bisa né? – Ele balançou a cabeça em sinal de sim. – Só quero ver até quando o senhor vai sustentar essa mentira.

— Isso não é hora de lição de moral Aninha. – Revirou os olhos. – Vai lá falar com ela enquanto eu preparo um jantar à luz de velas pra gente, – sorri – bom, eu acho que têm velas em algum lugar por aqui.

— Oba! O que a gente vai comer? – Perguntou eufórica.

— Hum... – Olhou o armário. – Arroz, feijão e ovo.

— Sério pai! Eu não aguento mais comer ovo. – Disse desapontada.

Seu coração doeu ao ouvi-la dizer aquilo, ele sabia que não era por mal, para o ferir, mas ele se sentiu o pior dos pais naquele momento.

— Filha – se ajoelhou e olhou em seus olhos, dava para vê-la pela claridade que vinha da rua – sei que tá um pouco difícil, mas é o que tá dando.

— Eu sei pai, mas é que eu não queria que a nossa vida fosse assim, tudo falta aqui em casa.

— Escuta Ana Lara – colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha – tem certas coisas na vida que não é a gente que escolhe, simplesmente acontece.

— Eu sei, mas já tá ficando chato essa situação. – Falou como se isso tivesse preso em sua garganta há tempos.

— Eu te entendo, e não te julgo. Mas não vamo reclamar não, têm pessoas que vivem pior que a gente, é só questão de tempo, as coisas vão melhorar. Agora – se levantou e deu um tapa na bunda dela – vai falar com a sua bisa que ela tá morrendo de saudades de você!

Ela sorriu para ele, confiando em suas palavras, e foi ver a bisavó.

****

Mais um dia na mansão, e ali, todos os dias eram iguais, sem cor, sem sorrisos, a única coisa que rondava pelo ambiente era a ambição daqueles que ansiavam pelo dinheiro de Enrico.

Maria voltava da estufa, pois já era noite, e por mais que quisesse, não pegaria bem passar a noite com as flores, e, mais uma vez, entra em casa, ouvindo uma gritaria.

— Você não passa de uma aproveitadora barata, que se infiltrou nesta casa! – Disse Cecília no auge do seu furor.

— Você sabe que as coisas não são assim Cecília – chorava enquanto pronunciava suas palavras – mas se você quiser, eu saio agora mesmo desta casa!

— Ah – ergue as mãos aos céus – até que enfim você falou alguma coisa de útil Josefina. Eu ficaria muito feliz se você juntasse suas trouxas e fosse embora da MINHA CASA! – Enfatizou.

— Já chega mãe! – Ordenou Maria ao entrar na sala. – Eu não vou permitir que você fale assim com a minha tia! – A abraçou.

— E quem é você pra dizer alguma coisa Maria Cristina? Você e sua tia Fifi – tinha deboche em suas palavras – são farinha do mesmo saco! – Gargalhou.

— Por favor Cecília, pare...

Maria foi até a mãe, de forma que ficaram bem próximas.

— Eu exijo que você pare de falar assim com a tia Fifi, senão...

— Senão o que? – A cortou. – O que você vai fazer Maria? Hein, me responde, o que você vai fazer? Me bater? – Solta uma gargalhada diabólica. – Eu duvido muito, você é uma imprestável que vive se escondendo atrás de umas míseras flores!

— Cala a boca agora Cecília! – Exigiu Enrico enquanto entrava na sala.

— Nossa, chegou quem faltava – bate palmas – agora tudo vai ficar mais divertido!

— O que você ganha com isso, hein Cecília? O que você ganha pisando nas pessoas? Eu já te disse um milhão de vezes que não quero que você trate Fifi com desrespeito – sua voz se encontrava alterada – essa casa é minha, então ela vai ficar, e nada do que disser vai mudar isso!

— Não precisa se exaltar Enrico, eu não quero ser o motivo da discussão de vocês, eu saio dessa casa se for necessário, mas parem de brigar, pelo amor de Deus! – Suplicou Fifi.

— Não tia, você fica, tenho certeza que Enrico faz questão da sua presença nesta casa. – Encarava sua mãe.

— Exatamente.

— Essa casa também é minha, e eu acho que tenho direito de escolher quem eu quero aqui, ou não!

— Eu ainda não morri Cecília, e enquanto isso não acontece, Josefina fica nesta casa!

— Mas...

— Josefina fica nesta casa Cecília, e não se fala mais nisso! – Foi firme, a olhou nos olhos, e saiu da sala.

Cecília estava com ódio em seu olhar, dava para imaginar o que estava sentindo, já que detestava ser contrariada. Ela não permaneceu na sala por muito tempo, logo se retirou, indo contar tudo o que aconteceu para seu amado genro.

— Vem cá tia, se senta aqui. – Ela se sentou no sofá, acompanhada por Maria.

— Obrigada minha flor – acariciou seu rosto – obrigada por me defender dela.

— Não me agradeça tia – segurou a mão da tia junto ao seu rosto – eu só fiz o que deveria ser feito, minha mãe tem que entender que não pode falar o que quer com as pessoas. Olha, se acalma, eu vou preparar um chá pra senhora.

— Ah minha florzinha, você é a pessoa mais nobre desta casa, se eu tivesse uma filha, ia querer que ela fosse como você. – Sorriu de forma acolhedora.

Maria retribuiu o sorriso, e se levantou indo em direção à cozinha. De certa forma, ela se sentia como Cecília pensava, uma imprestável, e tudo mais, mas o mais interessante era que Fifi e Enrico viviam dizendo que sentiam orgulho dela, queriam que ela fosse sua filha, e a faziam sentir-se amada.

Ao chegar à cozinha, ela dá de cara com Fernando dando em cima da empregada bonitinha.

— Atrapalho alguma coisa? – Foi até a geladeira.

— Não senhora – ficou sem graça – com licença. – Sai.

— Fernando, você deveria parar ficar dando em cima dessas mulheres, e procurar um rumo na vida, um emprego, algo que te dê estabilidade. – Fechou a porta da geladeira e foi até a bancada onde ele estava ficando frente a ele.

— E você deveria parar de se meter na minha vida e cuidar da sua. Aliás Maria, você deveria para de ficar sempre do lado do Enrico e contra a nossa mãe, achei desnecessário a discussão de vocês. – Bebe um gole se suco.

— Eu não escolhi ficar contra ela, foi ela quem preferiu assim, e eu não ia deixar ela falar daquela forma com a tia Fifi, e eu não entendo o motivo de vocês odiarem tanto o Enrico, que sempre fez tudo por nós.

— Por você né, porque por mim ele nunca fez nada! – Desabafou.

— Não?! – Pasmou.- Como não? Quem foi que pagou as boas escolas que você frequentou? E as super festas que você dava para seus amigos, quem foi que bancou? Ah, e esse carro de última geração que você comprou? Tenho certeza que não foi com seu dinheiro.

— Eh, talvez ele tenha feito alguma coisa por mim, mas isso não vai mudar a maneiro que eu o vejo.

— Seu problema – se levantou – é que você vai muito pela cabeça da minha mãe, por isso não vê a boa pessoa que o Enrico é. Espero que um dia você mude de ideia a respeito de Fernando.

Dito isso, pegou o chá de sua tia e levou até ela, deixando Fernando pensar nas palavras que dissera, e no quanto estava sendo injusto com Enrico. Ela se sentiria feliz se ele passasse para o ‘lado deles’, e deixasse de ver Cecília como uma santa, em um altar, definitivamente, ela não merecia isso, não mesmo.

****

Eram quase 11:00 PM, e Maria já se preparava para dormir. Ela penteava seus cabelos frente à penteadeira, já de camisola, quando ouve o barulho da porta se abrindo, provavelmente era Sérgio... E era.

As raras vezes que ficavam juntos, era na hora de dormir, e ela achava um saco, evitava ao máximo a presença dele. Eles não eram o típico casal que adorava a presença um do outro, e andavam de mãos dadas, eles eram o oposto de tudo isso.

— Sabia que você fica linda com essa camisola? – Disse cheirando seu cabelo.

— Sabia – se levantou – por isso mesmo a comprei. – Tentou se afastar dele, em vão.

— Tá fugindo de mim Maria?

Ela já sabia o que ele queria, mas no momento que ele a puxou pela cintura, teve certeza. Ela odiava seus momentos de marido e mulher, ele agia com brutalidade, como se ela fosse um animal qualquer.

— Por favor Sérgio, hoje não, eu não estou disposta.

— Eu posso mudar isso – beijava seu ombro – é só você deixar.

— Eu já disse que não estou disposta! – Se afastou bruscamente.

— Impressionante como você nunca está disposta Maria! – Suas palavras eram ásperas. – Eu sou teu marido, você tem que me satisfazer! – Voltou a se aproximar.

— E eu sou uma mulher, e não um objeto, portanto, é melhor você não me procurar enquanto me vir com A SUBMISSA! – Foi para a cama se deitar, ficando de costas para ele.

— Tudo bem senhora sensibilidade, mas não vá reclamar se um dia perceber que não é a única em minha vida. – Tirou a roupa e se deitou ao seu lado, de costas para ela.

As palavras de Sérgio ficaram matutando na cabeça de Maria durante algum tempo antes dela conseguir dormir. Será que ele tinha outra? Ele realmente teria coragem de fazer isso com ela? Talvez ela não ficaria tão triste se descobrisse isso, pelo menos teria um ótimo motivo para se divorciar dele, mas talvez não suportaria receber a traição de quem jurou diante de Deus e dos homens um amor até que a morte os separe.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Aqui está mais um capítulo. Estou amando os palpites de como vai ser o encontro dos dois... Em breve!! Bjs



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