Kaioshin Kai escrita por bellacolombo


Capítulo 9
Mau Pressentimento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717397/chapter/9

 

O céu mais parecia um manto de brilhantes ali com todas as constelações e até mesmo as galáxias eram visíveis. Kiyo observa pesarosa aquele horizonte que não lhe era nenhuma novidade. Estava no topo de uma imensa escadaria, que dava acesso a um grandioso templo adornado de dourado e detalhes estonteantes.

A iluminação mediana no templo estava convidativa em tons amarelados e quentes. A deusa caminha por um longo corredor, até chegar a um enorme pátio com visão aberta ao exterior nas laterais. Logo à frente e no centro das atenções, havia uma escadaria a qual dava acesso a um grande trono adornado e muito bem acolchoado. Toshio ali estava sentado, apoiando a cabeça com uma mão, e com a outra fazendo sua bola de cristal flutuar. Concentrado, observa uma espécie de holograma com alguns planetas que é refletido para cima.

— Meu Kai... – o doce som de sua voz ecoa pelo templo. Ela o observa de baixo, ao meio do pátio.

Sem resposta, Kiyo suspira e avança alguns passos devagar.

— Desculpe-me por interrompê-lo, mas...

— Aconteceu algo? – o holograma desaparece imediatamente e ele volta sua atenção para ela – Me parece preocupada.

Ela assinta brevemente com a cabeça e começa a se aproximar enquanto fala.

— Estou com um mau pressentimento... Não sei ao certo o que seja, mas sinto pequeninos lampejos de energia maligna em alguns momentos.

— Hmm... – Toshio suspira reflexivo enquanto coça o queijo – Mantenha-me informado. Sua ligação com a natureza é maior e sua percepção é mais sensível às mudanças.

— Acha mesmo que...?

— Não posso afirmar nada, seria um equívoco. Às vezes possa ser apenas algum distúrbio energético, mas verdade é que eles andam muito quietos nos últimos tempos...

— Já passou pela sua cabeça a hipótese dele ter desistido?

Toshio a observa sério, sem esboçar reação por alguns instantes.

— Está insinuando que ele possa ter mudado? – diz deixando escapar um risinho irônico – Estamos falando de quem mes-

— Meu Kai... – ela o interrompe.

— Se tem algo que aprendi vivendo, é que há destinos nos quais não existem maneiras de serem mudados... Esqueça isso, certo?




Com pressa, Marble deixa o chinelo na porta de casa e entra afobado segurando um grande cesto de frutos que havia apanhado no pomar. Sua roupa estava toda respingada da água da chuva que ainda estavam nas folhagens das árvores. Todos aqueles dias o clima estava sendo generoso com as chuvas.

Ao colocar o cesto sobre a bancada da cozinha, ele tira alguns frutos de dentro e as lava na pia ansioso para testar uma técnica.

— Então essas frutas podem ser partidas como é feito com as rochas? Talvez se eu usar menos força, elas não explodam... Assim como o papai faz! ISSO!

Ele separa um fruto sobre uma tábua de madeira e a tapa com uma tigela transparente - para caso ocorresse de falhar, a cozinha não fosse toda lambuzada. Juntando as mãos como se fosse orar, uma fraca bola de energia se forma, disparando uma fina faixa de luz em direção ao fruto tapado. Como Toshio havia o ensinado, ele pode evitar obstáculos e direcionar sua energia para um ponto determinado, assim não afetando a tigela. A tênue energia atinge o fruto, a cortando em dez partes iguais. Marble contrai sua mão e, com isso, põe o campo de luz abaixo das cascas. Ao expandir as mãos, o campo cresce e leva consigo todas elas, deixando o fruto perfeitamente descascado e cortado.

Vendo que havia dado certo, ele aplaude empolgado.

— Pena que eu demoro muito pra fazer isso... Papai faz essa técnica muito mais rápido que eu, e ao invés de ser com apenas um fruto, teria sido com todas ao mesmo tempo e sem deixar cair um pingo sequer de suco... Hunf... – suspira fazendo bico – Ele ainda faria essas cascas sumirem... – ele encara o cesto um pouco irritado em não poder repetir aquilo com a mesma maestria do pai - Bom, irei continuar, elas não se prepararão sozinhas...

Após algum tempo, Toshio e Kiyo se teleportam para casa. Lá, deixam seus sapatos em uma caixa de madeira na varanda e entram, a procura do garoto.

— Marble...? – Kiyo olha ao seu redor e repara na mesa arrumada e posta com um grande pode de salada de frutas. Ela se aproxima um pouco confusa e observa a mesa, curiosa - Nossa, o que é isso? É o nosso jantar? – ela diz em tom brincalhão.

— SURPRESA! – Marble surge de repente na porta e vai até eles ansioso.

— E que surpresa! – com alguns risinhos ela abraça o garoto e lhe beija a testa, sentando à mesa logo em seguida – Não esperava ter um jantar frutívoro hoje.

— Gostou da ideia, mamãe?? – diz se aproximando dela.

Com um olhar doce, ela sorri e o acaricia a cabeça.

— Claro, querido.

— YAY! – comemora batendo palmas.

— Vejo que quis diferenciar hoje, Marble? Sua mãe estava comentando comigo agora pouco o que pretendia fazer no jantar.

— Aah... Hmm... Sempre é bom diferenciar. - comenta Kiyo apoiando a iniciativa do garoto.

Marble olha um pouco surpreso para Toshio, por conta de Kiyo ter aceitado aquele jantar, sem mais acompanhamento algum.

— Mas não se acostume. – complementa Kiyo – Alimentarmos apenas de frutas em uma refeição de vez em quando tudo bem, até porque não quero ninguém aqui com problemas com açúcar. – ela dá uma piscadela à Marble, que a escuta atento e concorda.

— Kai! – ele se volta à Toshio – Papai, você poderia fazer suco?

Toshio ri enquanto bagunça o topete de Marble.

— Você adora aquela técnica, não é?

O jovem rapidamente pega uma jarra e a deixa de prontidão no balcão. Enquanto os garotos mantinham sua atenção no suco, Kiyo retirava o vaso de flor de cima da mesa. No balcão, Toshio usa uma técnica de esmagamento, congelamento e compressão sobre as frutas, extraindo e resfriando o seu suco, que cai dentro da jarra, pronto para beber.

— Hahaha! Wow! Um dia quero aprender a fazer tudo isso ao mesmo tempo!– Acalme-se filho, no futuro você verá quão simples é!

— Filho, antes de sentar, guarde seus livros que estão ao lado da mesa, por favor. – incomodada, Kiyo observa os livros meio empoeirados ali no ambiente de alimentação.

Marble arregala os olhos com o erro dele.

— Me desculpe!! - rapidamente junta os livros e sobe a escada para seu quarto com pressa.

Toshio senta-se à mesa e vê ainda um livro no chão, no qual provavelmente deveria ter caído do monte de livros que Marble havia levado para o quarto. Curioso, ele começa a folheá-lo.

Ao vê-lo sentado na almofada da mesa, porém de costas, Kiyo se aproxima com cuidado para não fazer barulho algum e o observa de cima. Ele parecia estar deveras concentrado lendo algum parágrafo do livro enquanto mexia lentamente com uma pequena colher em círculos o suco em seu copo, reflexivo.

Então ela se ajoelha devagar e lhe massageia os ombros, o abraçando por detrás em seguida. Surpreso, Toshio para de mexer o suco de imediato e com um breve e doce sorriso volta-se a ela.

— Kiyo, minha flor...

— Kai… - ela sorri - É um daqueles livros antigos que estava com o Marble? – ela descansa a cabeça pondo o queixo sobre o ombro dele.

— Sim, sim… Ele deixou este cair ao chão sem perceber. É sempre bom relembrar velhos ensinamentos… Lembro-me da época em que estava aprendendo tudo isso.

Kiyo assinta e mantém seu breve sorriso observando as coisas que sobre a mesa estava, em principal um dos arranjos de flores que ainda havia deixado na mesa e que começava a murchar.

“Terei de colher novas ao amanhecer”, ela pensa.

“Concordo”, responde Toshio mentalmente.

Ela solta um pequeno riso e olha para ele.

— Desculpe, você estava pensativa. Não pude evitar.

— Tudo bem. – ela lhe beija a bochecha e senta-se em seu lugar - Bom, enquanto o pequeno não cheg… – seu olhar se volta às escadas, de onde surge Marble.

Marble se junta aos dois, logo todos agradecem pela refeição e começam a comer. – Hoje fui novamente naquele lugar onde morávamos quando eu era nanico!

Kiyo ri com a forma que ele se expressa.

— É mesmo? E o que foi fazer lá sozinho dessa vez? – ela o observa curiosa.

— Nada demais... Fiquei curioso com o lugar e resolvi explorá-lo por mim mesmo desta vez.

Todos continuam a refeição contentes, com Marble contando toda a experiência que havia tido sozinho. Os pais o ouviam felizes com a capacidade de aprendizado e memória que o jovem kai demonstrava ter.

Quando finalizaram, se dirigiram até uma sala confortável cheio de almofadas e adereços decorativos de muito bom gosto, onde Toshio acendeu uma lareira para ajudar a aquecer o local. Lá sentaram todos juntos e Toshio passou a contar histórias e lendas que conhecia. Essa era uma das coisas que Marble mais gostava, já que resgatava sensações de quando ele ainda cabia no colo da mãe para ouvir o pai. E essa sensação que tinha às vezes o fazia entender um pouco mais o sentido de uma palavra que tanto usavam para tudo, esta chamada ‘Kai’.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kaioshin Kai" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.