Amy! escrita por Kcoruja


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo é curtinho, mas prometo que não vão se arrepender... Sem mais delongas conheçam a história de Júlia.



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Enquanto os longos cabelos loiros se encontravam com o chão do banheiro da rodoviária, eu me olhava no espelho tentando decidir quem eu seria, Luna? não doce demais, Natasha? Fora de cogitação, já plagiei toda a música do capital inicial em minha vida. Em um sorriso atrevido me deixei buscar a música no cartão de memória do meu celular novo. E dei play.
Um ano, um ano todo planejando fugir dessa merda, um ano guardando a gorda mesada que recebi dos meus pais, um ano fingindo que fiz compras e tirando dinheiro da minha conta escondido de todo mundo, um ano me preparando para isso. Eu planejei cada detalhe para que tudo fosse perfeito, ao menos uma vez na vida poderia ser tudo perfeito. Por favor, que seja perfeito.
Enquanto Dinho Ouro Preto cantava a vida da Ana Paula em meus ouvidos eu catei em minha bolsa um isqueiro velho e coloquei fogo num pedaço de papel higiênico e deixei o fogo subir, transformando o ar fedorendo do banheiro masculino rodoviário em ar irrespirável por conta do odor de cabelo queimado, eu precisava queimar as provas. De uma maneira bem porca enchi meu cabelo de tinta preta, nada de misturas de salão, apenas o creme que faz realmente a cor mudar, em alguns minutos meu cabelo estava até duro e me abaixei e lavei ele na pia mesmo, eu precisava ser rápida, diferente de Natasha eu tinha que estar longe quando desse 7 da manhã, eu tinha que ser outra pessoa, antes das 7, não tinha documentos falsos, usei os originais para comprar três passagens diferentes com destinos diferentes, em horários diferentes, eles precisavam ficar perdidos antes de achar um rumo certo. Uma passagem para a cidade vizinha, uma para o outro lado do país, eu sempre falei que queria conhecer o frio de Santa Catarina, e para o estado vizinho mais distante, Espírito Santo.
Me olhei no espelho e nem eu fui capaz de me reconhecer, meus antigos cabelos loiros estavam curtos como os de homem, e pretos, a calça preta rasgada e larga que eu nunca tive coragem de usar, um moletom preto grande, três números maior que o meu, assim ninguém vai me reconhecer. Com essa certeza joguei a tesoura e o secador minúsculo de viagem dentro da bolsa e peguei meu celular as horas marcadas em números grandes na tela desbloqueada me assustaram 4:35 da manhã. Em poucos minutos os caminhoneiros da quadras de trás iam começar o dia e eu precisava de pelo menos um deles, joguei o capuz na cara e evitando as tão conhecidas câmeras sai da rodoviária, estava frio na rua eu me encolhia cada vez mais na blusa de frio. Por um segundo pensei em Patrick, em como ele ia me abraçar apertado e jogar o moletom com o emblema do terceiro ano nas minhas costas para diminuir o frio, Patrick não era ruim, não, longe disso ele é bom, bom demais, ele é bom demais para mim, eu tão torta, tão errada, talvez ele descubra isso amanhã de manhã quando ele for lá em casa me buscar, queria tanto me agradar que reservou um horário no salão da cidade vizinha, ele me queria linda para a noite mais especial de nossas vidas, a formatura, como se eu não soubesse... Cidade pequena tudo é pequeno, tudo é perto, todo mundo conhece todo mundo, é por isso que a lingua do povo é tão grande, a cidade toda tinha consciência que ele ia me pedir em casamento hoje. Espero que ele aguente firme e não enlouqueça, ele merece alguém melhor mesmo.
Meus pais, eles também passaram pela minha cabeça enquanto eu virava a esquina, eu conseguia enxergar a garagem dos caminhões, eu só precisava de um com a placa do lugar mais distante possível. Enquanto meus passos perdiam a velocidade eu vi minha mãe enlouquecendo, a princesa dela não vai acordar em casa, meu pai no telefone ligando para a cidade toda, ele vai chamar a polícia, ligar para a família toda, pelo menos ele não vai dar falta em nada, as três calcinhas, dois sutiã, blusa branca, protetor solar, tesoura de escola, secador, escova de dentes, meia duzia de camisinhas e o celular que estava comigo, nada disso, nenhuma das coisas na minha bolsa ele sabia da existência, o meu celular perfeitamente colocado ao lado da cômoda, a cama bagunçada tudo perfeito, ele vai pensar em sequestro no minuto em que não sentir falta de nada, maldade, talvez. Eu apenas preciso de um tempo para ficar longe o suficiente, quando me sentir segura eu compro qualquer coisa que eu precisar.
Parei no portão da garagem dos caminhões, e respirei fundo, nos fones a voz de Amy Winehouse encheu meus ouvidos enquanto ela dizia o quanto ela não era boa eu me permiti andar, não consegui evitar, olhei para trás e no alto do morro eu vi a enorme casa cor creme.
"Desculpa mãe, a tua princesa precisa fugir do castelo. Ela não é boa também."
Olhei para frente e vi um rapaz alto descer do caminhão, ele olhou para trás e tive a certeza que ele me viu, fui até ele e olhei a placa, São Tomé das Letras, não é longe, mas é lindo, um bom lugar para começar.
" Boa noite Moço, me da uma carona?"
Ele me olhou fixamente por alguns poucos segundos e disse firme.
" Pra onde tá indo?"
" Qualquer lugar. São Tomé talvez?"
Ele concordou e perguntou com voz mansa.
" Ta com fome?"
" Não."
" Não precisa mentir garota, vocês andarilhos não podem negar comida."
Dei um sorriso e me aproximei mais, ele entrou num lugar pequeno, provavelmente um banheiro e eu fiquei na porta do caminhão, ele saiu e entrou no caminhão, eu fiz o mesmo e só então reparei no homem, tinha pouco mais de trinta, pele castigada e ostentava uma pequena barriguinha, e um cabelo comprido enrolando no boné. Ele me olhou um pouco desconfiado e disse.
" Qual teu nome?"
Respirei e sem conseguir mais pensar em nada, com o fim da música, assim que Amy pronunciou a última palavra minha boca se soltou e deixou escapar.
" Amy."


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, logo logo eu posto mais... Beijos de luz gente linda!



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