Lucky Charm escrita por mari


Capítulo 1
Prologue


Notas iniciais do capítulo

Oi!!! me avisem se gostarem! beijo



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Pedra preciosa.

Era assim que meu irmão me chamava, mesmo quando o céu desabou sobre nossas cabeças.

Nascemos juntos, mas éramos opostos que nunca se encontravam. Eu era o furacão e ele, a pessoa mais calma que eu já conhecera. Não que eu conhecesse muitas pessoas, mas de todas elas, ele era diferente. Nossas opiniões e gostos sempre se divergiam, mas eu era seu amuleto da sorte, como dizia o meu nome.

Jade.

—É só uma pedra, Jad. Mas acho que combina com você. —Ben disse enquanto colocava a gargantilha em mim. Eu passei a mão sobre a pedra fria, era grande. Era verde e reluzente, combinava tanto com a pulseira de pingentes que ele me dera antes que poderiam fazer parte do mesmo conjunto. —Antes que você pergunte, eu não roubei. Não dessa vez.

—Ben! —arqueei as sobrancelhas para o encarar.

—Você é tão irritante! Não foi por mal... Você sabe bem que eles não precisam de nada disso e eu não ia deixar seu aniversário passar assim.

Nosso —Eu o abracei com força – Eu não... não é o fim do mundo, Benjamin Wilson. Você não precisa me dar nada.

—Eu sei, mas é quase. Ninguém sabe aonde estaremos amanhã. E hoje é nosso aniversário. Izzie dormiu e não sei se você tá vendo mais alguém aqui para comemorar, irmãzinha, mas somos só nós dois. E sobreviver aos 18, nesse pequeno inferno – ele encarou a floresta diante de nós. – Não foi fácil.

Ben encheu nossos copos com um líquido que eu também preferi não perguntar de onde vinha, mas bebi assim mesmo. Praticamente todas as nossas coisas eram roubadas, eu já estava acostumada. O gosto forte de álcool preencheu a minha boca e eu fiz uma careta, ele riu.

Nossos pais morreram seis meses depois que nascemos. Vênus, deusa do sexo. era o nome da minha mãe, completamente apropriado para quem ganhava a vida como prostituta. Meu pai, ninguém sabia o nome dele. Mas os boatos eram que ele era cientista e trabalhava para o governo. Um cientista e uma prostituta, uma história de amor linda, se não trágica. Os dois foram assassinados, nos deixando sem absolutamente nada.

Quando fizemos sete anos, a aldeia decidiu parar de pagar nossas despesas no Orfanato e nos abandonou na floresta. Sem casa ou comida. Eu me lembro dos primeiros dias, quando quase morremos de fome e frio, abraçados. A floresta era dura, fria, nada acolhedora.

Na segunda semana, achamos um lugar. Um chalé, abandonado, mas quente. Naquela tarde, a dona do chalé retornara, nos fazendo perceber que ele não era tão abandonado assim. Ela conhecia nossa mãe e disse que lhe devia um favor, por isso nos deixou morar lá, mas também não sabia nada sobre o meu pai. Tereza tinha uma filha de um ano, Isabelle. Nós tínhamos que cuidar dela, mas não nos importávamos.

Ben e eu passamos a frequentar a escola, como dois desesperados para parecer normais. Mas não éramos. Nunca fomos. Tereza morreu quando fizemos 10. Ninguém soube explicar, mas eu sempre acreditei que ela fora assassinada. Ninguém veio buscar Isabelle, nem cuidar de nós depois disso.

Os olhos cinzas de Ben cintilaram, mas não com brilho, com tristeza. Os olhos eram a nossa única diferença perceptível além do sexo. Os cabelos eram tão pretos quanto a escuridão, a pele ora pálida, ora beijada demais pelo sol. Os olhos eram o que nos mantinham separados, os meus tão verdes quanto a pedra no meu pescoço e os dele cinza. Completamente cinza.

—Eu não quero ter que ir embora. - sussurrei com a voz embargada.

—Nem eu, mas se as coisas permanecerem ruins, você sabe que não temos escolha. Se a Peste nos atingir e ela vai, você tem que pegar a Izzie e fugir. Para o Sul, sem olhar para trás.

—Você acha que eles já estão aqui?

Ele não precisava responder, era claro que estavam.

Passei a mão sob a pedra, a gargantilha ainda apertada no meu pescoço. Aquela foi a última vez que nos vimos. Eu estava errada e Ben estava certo, para variar.

Ninguém na Aldeia ousava se aproximar de nós, éramos a escória, os filhos da Floresta. A maioria tinha medo porquê nos saímos bem. O medo não impediu que batessem na porta no dia seguinte.

A Peste não era doença, mas uma arma. Um nome carinhoso que a sociedade decidiu dar para a sua própria invenção. A Peste era uma arma, uma arma que saiu de controle e agora vivemos submissos a ela.

O Exército recrutou Ben na manhã seguinte. Implorei para que também me levassem, mas não o fizeram.

—Você não pode confiar em ninguém, Jad. As diferenças são quase imperceptíveis. Você ainda pode... - entrar na cabeça das pessoas, era o que ele queria perguntar, mas a sala estava cheia de mais de soldados para que ele pudesse pronunciar em voz alta.

—Posso, você pode?

Posso, irmãzinha. Ele respondeu na minha cabeça, sem aviso, sem delongas.

Ninguém sabia que podíamos fazer aquilo. Dons como aquele eram discriminados e depois que a Última Guerra começou, perigoso. Seríamos caçados se alguém soubesse.

Você vai ser caçada assim que por os pés para fora daqui. O colar esconde a sua localização, mas não o seu cheiro. As bestas estão aqui e vão te reconhecer.

Como elas não vão reconhecer você?”

Nós nos encarávamos e os soldados mandaram meu irmão se apressar. O tempo necessário para se despedir estava acabando. Ele seria enviado para Guerra, pro combate direto com as bestas. Em uma batalha que ninguém vence.

—Eu sei tomar conta de mim mesmo. -foi a única resposta que ele conseguiu me dar antes de sair pela porta.

O colar pulsou. Eu estava sozinha.

 


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