Sasuke realmente não queria estar ali, mas era fato de que precisava de uma nova televisão e a black friday veio a calhar. Por isso tinha se levantando extremamente cedo, se arrumado de forma rápida e partido para uma loja que estava de olho há alguns dias.

Agora via-se parado, estressado com o tanto de pessoas roçando e esbarrando em seu corpo naquela multidão. O suor acumulava-se em seu nariz e nas laterais de seu rosto, sem tirar que a ansiedade estava lhe matando.

Deuses, como se arrependia de ter aceitado ficar no Brasil com seu irmão quando era um pré-adolescente ao invés de voltar para o Japão com seus pais. Caso tivesse feito escolhas diferentes, estaria completamente estabilizado financeiramente e não correndo risco de perder o emprego e mandando currículo até pra lanchonete durante essa crise que acontecia no país.

— Puta que pariu, essa merda não vai abrir, não? — Sasuke reconhecia essa voz. Ao seu lado, encontrava-se Kiba, uma pessoa que tinha o desprazer de conhecer por causa de Naruto.

Então arregalou os olhos; aquele otário não poderia reparar que ele estava ali no meio daquela gente, para onde iria sua reputação? Ele era considerado a pessoa mais riquinha no meio no círculo de amizades e agora seria pego no flagra por causa do Kiba?

Sasuke queria pensar numa forma de sair de perto sem ser percebido, mas o barulho das portas da loja abrindo quebrou seu raciocínio e o desespero tomou conta de si. E agora? O que faria? Passou as mãos pelo cabelo; mas não havia forma, precisava de uma tevê urgentemente e se não se apressasse naquele momento iria perder a oportunidade de ter uma. Maldito Naruto.

Engolindo em seco e ignorando qualquer orgulho seu, correu junto das pessoas que tentavam ultrapassá-lo. Foi com sorte que conseguiu uma das tevês, já tava até acabando o estoque. Pagou a primeira parcela com alívio, saindo da loja com a caixa enorme nos braços, desviando das pessoas que passavam por si e até tentavam tomar sua recém-comprada tevê. Sentia-se vitorioso e por causa disso um sorriso pequeno e feliz contemplava o seu rosto.

Durante esse meio tempo tinha esquecido-se de Kiba e das possibilidades de ele vê-lo, por isso sentiu o coração praticamente parar quando ouviu a voz dele mais atrás.

— Sasuke, é você? — Sasuke olhou para os lados, procurando por uma saída, mas tudo que tinha em volta era a multidão. Sem se importar, começou a correr entre ela com a televisão nas mãos, sentindo-se sufocado com aquela gente toda lhe apertando. Era aquilo ou correr risco de ser totalmente reconhecido.

— Sasuke, seu imundo! Não adianta fugir que eu sei que é você! — claro que Kiba não perderia a chance de confirmar que era ele, merda!

Quando conseguiu sair do amontoado de pessoas, continuou a correr pela a rua, mas foi quando virou na esquerda que se deparou com Sakura Haruno, mais distante.

— Sasuke! — acenava freneticamente em sua direção, parecendo surpresa de vê-lo ali, principalmente naquele estado, com uma enorme caixa nas mãos.

— Sai da frente, Sakura — disse afobado, correndo enquanto olhava para trás para ver se Kiba estava por perto.

— Não me diga que estava aproveitando a black friday? — tampava a boca, chocada. — Sasukeee! — chamava, mas já havia a ultrapassado. Kami, que má sorte era essa que o assombrava nesse dia? Já não bastava Kiba, agora tinha Sakura? Onde ele se enfiaria depois disso?

Tentou tomar ar; estava ficando sem fôlego. Parou um pouco, arfando forte, sentindo-se mais seguro já que parecia estar distante o suficiente para Kiba não alcançá-lo. Não que adiantasse muita coisa agora, tava todo fodido, mesmo que numa escala menor. Certificou-se de que não tinha ninguém lhe seguindo e por fim saiu do beco onde estava, caminhando agora mais tranquilo.

Tranquilo até pelo menos ver Orochimaru, seu vizinho. Quase choramingou, perguntando-se por que aquilo só acontecia consigo.

— Sasuke-kun — alguém o matasse por utilizar o termo “kun”. — Que surpresa vê-lo aqui, pensei que tinha saído cedo de seu apartamento por causa do trabalho, já que corre risco de perdê-lo. — o homem olhava com uma sobrancelha erguida sua caixa.

A cabeça de Sasuke trabalhava a mil no momento e o fato de Orochimaru saber tanto de sua vida mesmo não sendo tão próximo o confundiu e lhe deu mais estresse ainda. Sabia que o cara já não era o mais normal, possuía um interesse constante sobre si, mas daí ele ser um stalker já era outro caso…

Suspirou, sentindo-se exausto. Voltou a caminhar, estava pertinho de casa já.

— Não quer ajuda, Sasuke-kun? — Orochimaru apressava o passo, o seguindo.

— Não, valeu. — respondeu frio, irritado, batendo forte com o pé no chão.

— Oh, Sasuke-kun, parece irritado… — sorria malicioso, acompanhando-o com as mãos nas costas. O Uchiha bufou, não se prestando a responder. Quando chegou no prédio, não mandou nem um oi para Guy, o porteiro, apenas seguiu para o elevador, com Orochimaru atrás. Falta de sorte que o elevador era grande e cabia ambos juntos, mesmo com a televisão.

Enquanto subia para seu andar, o homem tornou a falar com aquela voz de cobra.

— Sabe, Sasuke-kun, se você quiser pode trabalhar comigo. Posso te dar dinheiro, poder, o que você quiser, basta aceitar — dizia, galante de mais para o gosto de Sasuke.

— Não, valeu. — finalmente o elevador parou.

— Apenas pense nessa possibilidade, Sasuke-kun — disse o homem antes de sair. Sasuke rolou os olhos e assim como ele seguiu pelo corredor.

Apoiou a caixa no chão, procurando a chave em suas roupas. Quando achou, abriu a porta, segurando num impulso a tevê. Fechou-a com o pé, completamente aliviado, nem reparando que alguém tirava várias fotos de si em ângulos diferentes.

Visualizou com os olhos semicerrados apenas a cabeça de Naruto de trás do sofá, vendo este exibindo um sorriso maroto.

— Mas que merda é essa, usuratonkachi? — pousava a tevê na mesinha de centro da sala, com todo o cuidado que não teve ao trazê-la.

— Nada, nada — o outro ria, causando mais desconfiança ainda em Sasuke. Ele subiu o sofá, sentando-se. — Nem acredito que você conseguiu a tevê, cara. — comentava alegre, olhando admirado a caixa.

— Não precisaria conseguir uma se não fosse você, dobe — se jogava ao seu lado, esgotado.

— Ei, a culpa não é só minha! — devolveu Naruto, na defensiva.

— Ah não — continuou, irônico. — Quem foi que chegou em casa todo afobado me agarrando? — erguia a sobrancelha, encarando-o acusador.

O Uzumaki corou, mas não deu trégua.

— Não é como se você tivesse tentado recusar minhas investidas — fazia bico, cruzando os braços.

— Ah ta — respondeu, ainda na mesma entonação de antes. Não queria discutir com aquele dobe naquela hora, tinha planos mais relaxantes. — Vou tomar banho que ganho mais. — começou a seguir para o quarto dos dois. Naruto não ficou para trás, e sabendo que o namorado estava cansado, foi ajudá-lo no banho. Não tinha segundas intenções; pela cara de Sasuke o dia dele até o momento tinha sido um porre e o mínimo que ele poderia fazer diante daquela situação era ser um amorzinho.

Por isso no momento massageava com carinho as mechas negras de seu cabelo, tirando o excesso de shampoo com o chuveirinho. Sasuke estava relaxado na banheira, apreciando o carinho em silêncio. Deixou-se ser cuidado pelo Uzumaki em todo o momento, com direito a beijos em seu corpo enquanto era enxugado pela toalha. Merecia todo o amor do mundo depois do que passou.

Como estava quase perdendo o emprego, não valia a pena ir mais para o trabalho hoje, principalmente em seu atual estado de espírito. Por fim, dormiu, almejando um pouco de paz.

Pobre Sasuke, mal sabia que mais tarde receberia notificações no facebook que confirmariam as suspeitas de Kiba, causariam risadinhas na Sakura e acabaria com sua reputação. E tudo era culpa de quem? Ele mesmo, Naruto.