Devia ser sete da manhã. Natalie não tinha mais certeza, não tinha mais certeza de nada.  

Tinha que ir caçar, não podia se dar ao luxo de ficar sem comida, tinha um estoque bom, que duraria por duas semanas no mínimo, mas o seu cachorro não gostava de entalados. 

Ela olhou de relance para seu cachorro-lobo, ele era gigante, Loki como ela decidiu apelida-lo, em homenagem ao irmão vilão de Thor. Foi como se ele tivesse sentindo o olhar da menina sobre ele. Era o seu instinto de lobo, ela pensou. 

Ela se levantou sorrindo para o seu parceiro, e foi para o pequeno banheiro do local. Ela morava numa livraria, numa pequena livraria, dentro de uma grande shopping aos arredores de Atlanta. Vários grupos visitavam o shopping frequentemente, mas nunca entraram na livraria. E porque entrariam? Sobrevivência, tudo se resumia a sobrevivência. 

A menina pegou seu arco e flecha e colocou a coleira no enorme cachorro. Deu uma olhada no local e viu que estava vazio e saiu correndo com o lobo correndo ao seu lado. 

Já devia ser entorno de meio dia. Natalie caçava em cima das árvores, gostavas das rolhinhas daquela floresta, seu cachorro cuidava da parte de baixo, ele guiava as lebres até as armadilhas colocadas pela menina. Decidiu que era hora de voltar, tinha conseguido apanhar três, um número bom. Encontrou Loki com a boca suja de sangue. 

—Claro – Ela riu - Já comeu um esquilo! 

Pegou as caças e seguiu de volta ao shopping, foi quando ouviu aquele gemido, que ela tando odiava, se virou e deu de cara com um walker, era homem vestido de terno, ela sorriu. Pegou a menor de suas facas e em enfiou na cabeça mole do walker. 

—Mais nenhum passo docinho – Ela ouviu uma voz asquerosa – ou o cachorrinho aqui morre. 

Ela se virou e deu de cara com três homens, estavam abatidos, e pareciam famintos. Ela olhou para seu lobo, e viu que as presas já estavam aparecendo. 

—Entregue as armas – Um outro pediu, ele apontava uma pistola para a cabeça da menina. 

Ela sorriu docilmente para o homem que lhe deu um sorriso doentio, ela assobiou, e o seu cachorro-lobo começou a atacar, mordeu a mão do homem que o prendia, e Beatrice partiu para cima do homem com a arma, com um simples movimento enfiou a faca em uma mão, e torceu a outra, ele se contorceu no chão, era hora para o toque final, assim como seu pai havia ensinado, ela apertou o nervo na orelha o fazendo desmaiar ali mesmo, o outro homem chorava no chão, após o lobo ter praticamente arrancado a sua mão, com um simples movimento o segundo estava no chão também desacordado. O terceiro homem, o gordão olhou aterrorizado para a cena em sua frente, começou a correr o lobo ia atrás, mas a menina o parou primeiro. 

—Deixe que os walkers o matem Loki – Ela o segurou e ele rosnou – Calminha – Ela sorriu para o seu companheiro – Belo cachorrinho hã? - Ela caçoou para o homem sem a mão desmaiado a sua frente. 

Começou a procurar nos bolsos dos homens agora desacordados, uma faca, uma bala de menta, e uma pistola sem balas. Ela sorriu, eles estavam bem ferrados. Os amarrou bem a árvore, e olhou para o seu lobo que logo começou a uivar, logo os walkers chegariam e acabariam com o serviço. 

Com a caça em sua mão e o seu lobo contente com o gosto de sangue em sua boca ao seu lado, Beatrice finalmente voltou a fazer o seu caminho de volta ao shopping. Mas outra coisa a deteu. Um grupo de quatro pessoas estavam sendo rendidos pelo gordinho. 

—Não é que você estava certo Loki? - Ela sorriu para o lobo que lhe mostrou as garras. 

Eram quatro pessoas, pareciam experientes, conseguiriam sair dessa, mas ela não conseguia parar de pensar que aquele gordo era sua responsabilidade. Loki sentou ao seu lado, e a menina tirou o arco da mochila calmamente enquanto assistia a cena, um deles usava uma jaqueta com asas nas costas, bonita, ela pensou, o gordinho tinha a arma apontada para a cabeça de um asiático. Pegou uma de suas flechas e respirou fundo e mirou onde sempre mirava, na mão. 

Sucesso, o gordinho caiu gemendo no chão, e os outros olharam confusos para a mata. Era hora de partir. Continuou o seu caminho, mas foi parada por uma grande espada em seu pescoço, uma mulher negra e muito bonita estava parada na sua frente e a segurava com firmeza. 

—Essa é sua flecha Legolas? - Perguntou o asiático. 

Ela não pode deixar de sorrir. Mas ficou preocupada ao ver  seu lobo mostrar os caninos para a mulher a sua frente. 

—É minha – Ela sorriu - Não precisa disso – Ela apontou para a espada - É melhor você abaixar, ou ele vai arrancar a sua mão. 

A mulher pareceu pensar por um minuto, mas acabou abaixando a espada, após o terceiro homem que aparentava ser o líder colocar gentilmente a mão em seu ombro. 

—Não queremos nenhum problema com você, ou com o seu... - Ele pareceu confuso. 

—O que diabos é isso? - O cara da jaqueta perguntou. 

—É um cachorro-lobo – Ela se abaixou após a mulher finalmente tirar a espada de seu pescoço, ela se aproximou de Loki e pegou a coleira e fez carinho em seu pescoço o acalmando.  

—Obrigada – O asiático voltou a falar. Todos ali estavam um pouco fascinados por Loki, e ela não podia esperar menos, ele era grande e magnífico. 

—Obrigado pelo o que? - Ela o olhou confusa. 

—Pela ajuda – o líder voltou a falar – Nos salvou do homem... 

—Tenho certeza que vocês tinham a situação sobre controle. 

—Mesmo assim nos ajudou... - O asiático voltou a falar.

—Eu havia esbarrado com o grupo dele mais tarde, tentaram roubar a minha caça, o deixei escapar, era minha obrigação detê-lo.  

—Você matou os outros? - O cara da jaqueta perguntou. 

—Não, apenas os deixei inconsciente, mas os walkers devem tê-los matados já. 

Eles se olharam como se estivessem tendo uma discussão em silencio. A menina decidiu que era hora de partir. 

—Obrigada pela minha flecha, é difícil achar uma por aí - A menina pegou da mão do asiático,que a deteu no mesmo segundo, mas ele logo a soltou quando ouviu o rugido do cachorro. 

—Espera – ele se afastou um pouco – Você está sozinha? 

—Não estou sozinha – a menina apontou para Loki. 

—Como se chama? – o líder voltou perguntar. 

—Natalie – Ela respondeu desconfiada. 

—Sou Rick, esse é Glenn – ele apontou para o asiático – Daryl e Michonne, nós temos um grupo em um acampamento, um lugar seguro – Ele olhou novamente para os seus companheiros e todos eles consentiram com a cabeça - Quer se juntar a nós? 

Por um momento ela perdeu a respiração, um grupo, em um lugar seguro? Fazia tempo que ela não via algo assim, Loki rosnou ao seu lado como se tivesse pedindo para ela aceitar. Ela estava bem, na verdade nunca esteve melhor, depois que achou a livraria e parou de dormir na floresta a sua saúde melhorou, mas o seu corpo ainda estava fraco, e as marcas roxas em seu corpo era uma frequente preocupação. E a comida, se eles estavam a chamando é porque eles tinham muita. 

—O que vocês ganham com isso? - Ela perguntou, sentindo o vento bater em seu rosto. 

—Em ajudar as pessoas? Nada – Glenn sorriu – E você? Ganhou alguma coisa me ajudando? 

—Aparentemente um teto para dormir – Ela respondeu sorrindo, e outros concordaram sorrindo também. 

—Você vem Natalie? - Rick perguntou. 

—Eu vou – Ela sorriu, e sentiu o lobo relaxar ao seu lado. 

—Vamos, antes que escureça – Daryl reclamou. 

—Esperem – Ela pediu – Antes eu tenho que passar em um lugar. 

—Aonde pirralha? - Daryl perguntou. 

—Tenho um lugar, é uma livraria, tem alguns suplementos lá - Ela informou e eles concordaram. 

Ela entrou no carro junto com eles e os guiou até o shopping, durante o percurso, sentiu o olhar pesado da mulher sobre si. Rick apenas concordou com a pessoa, e então Michonne se virou para Natalie. 

—Quantos walkers já matou? - A pergunta não surpreendeu Bea. 

—Eu não conto – Ela deu de ombro – Alguns. 

—Quantas pessoas? - Michonne perguntou novamente. 

—Sete – ela respondeu segurando a respiração. Não era um número qual se orgulhava. 

—Por que? - Daryl perguntou. 

—Eles tentaram me matar, ou me saquear – Ela respondeu fazendo carinho em seu lobo deitado no seu lobo – Eu não mato mais pessoas, deixo que os walkers façam isso... 

—Ás vezes não temos escolhas – Rick disse. 

—Mas ás vezes temos – Ela respondeu o olhando com firmeza. 

—Chegamos – Anunciou Gleen. 

Eles entraram no shopping, e Natalie deixou que eles dessem uma revistada, 

—Ei pirralha – Daryl a chamou – Tem alguma coisa aqui que vale a pena? 

—O que tinha, eu já saqueei – Ela respondeu indo em direção a livraria. 

Eles a seguiram, ela deixou que Loki fosse primeiro, afinal ele sabia como desamar as armadilhas na entrada. Ela entrou e logo foi seguida pelo grupo de Rick. 

—Tem uma caixa com sabonetes no canto – Ela os informou – Pode pegar. 

Michonne foi correndo em busca da caixa e ao pega-la sorriu feliz para Rick, que concordou sorrindo. 

—Tem mais alguma coisa útil? - Rick perguntou. 

—Tem uma espingarda no canto – Ela apontou para a prateleira de literatura francesa – Mas está sem munição.. 

—Podemos resolver isso – Rick informou. 

—E o arco? - Daryl perguntou enquanto a ajudava com as caixas com entalados - Onde conseguiu? 

—Já era meu – Ela respondeu seca. Não gostava de falar sobre isso. 

—Mais alguma coisa? - Gleen perguntou. 

—Se alguém aqui gosta de ler, fiquem a vontade – Ela os informou enquanto ia ao banheiro. 

Iria deixar uma pistola e alguns entalados lá por precaução, já havia participado de grupo antes, e as coisas não terminaram nada bem. Ao sair deu de cara com Michonne. 

—Tem quadrinhos aqui? - Ela perguntou. 

—Na prateleira da esquerda – Natalie informou – Mas eu já peguei alguns, se eu quiser eu te empresto... 

—Não é para mim – Ela sorriu enquanto pegava alguns do Superman e do lanterna verde - É para o Carl – Ela voltou a sorrir para Rick que assentiu. 

Quem era Carl? Decidiu ignorar essa curiosidade por hora e pegou a sua última mochila no chão, e prendeu seu estojo de facas no corpo de Loki. 

—E o que é isso? - Perguntou Rick. 

—Isso? - Ela apontou para as costas de Loki – Coisas dele, é difícil cuidar de um lobo. 

Ele assentiu, ainda desconfiado, voltaram para o corredor do shopping com Michonne sempre na frente, sempre pronta. 

—Que diabos que tem aqui dentro? - Daryl perguntou enquanto carregava uma das caixas, a mais pesada Natalie presumiu. 

—Livros – Ela sorriu docilmente fazendo Gleen gargalhar. 

—Vamos lá arqueira, vamos conhecer seu novo lar.