The Dance escrita por Sidney Mills


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de começar já pedindo perdão, pois eu não sou familiarizada com esse tipo de assunto da one (histórias medievais), e não sei descrever bem festas, roupas, regras, lugares, e até a forma como falam, dessa época. Mas eu não podia deixar essa minha pequena ideia sobre o ultimo episódio da 6a, passar em branco. Então, quem ler essa one, e entende bem do assunto, por favor, me perdoem pela ignorância, pelos erros quanto a isso, e se sentirem vontade de me corrigir, irei adorar, então fiquem a vontade.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717223/chapter/1

Após Emma ter desejado nunca ter sido a Salvadora e a Rainha má ter desejado ao jovem Aladdin, o novo gênio da lâmpada, que o desejo dela se tornasse real, Emma acabou parando na Floresta Encantada, lugar de onde nunca deveria ter saído se não fosse as circunstâncias, numa realidade em que a maldição de Regina não foi lançada, ela cresceu com os pais e era Princesa.

Regina, ao descobrir o que aconteceu com a outra mãe do seu filho, não pensou duas vezes e, sozinha, partiu em uma missão de resgate, em busca de Emma Swan.

Eu desejo ser enviada para o mesmo lugar que Emma Swan.

Estava decidida. Só voltaria para Storybrooke com a loira ao seu lado.

•§•

Ao chegar a Floresta Encantada, seu antigo lar, depois de algumas horas de procura, por acaso, Regina encontrou Emma Swan em um campo de flores, todavia não se aproximou, apenas observou-a de longe, por detrás de alguns arbustos. Ela estava diferente da Emma que conhecia. Usava um vestido de Princesa na cor rosa e com algumas pedras brilhantes, saltos e luvas, e no cabelo, uma linda trança raiz caia por seu ombro esquerdo. Estava saltitante, cantarolando algo que Regina não conseguia entender. Em sua mão, havia uma cesta de pétalas de flores que estavam sendo jogadas ao vento.

Regina segurou a enorme vontade de gargalhar ao vê-la daquele jeito. Emma não podia saber que ela estava ali, observando-a. Se pudesse, registraria o momento com uma bela foto para atormenta-la depois.

Mills precisava se aproximar da Princesa e fazê-la acreditar em sua história, para que juntas, pudessem encontrar um jeito de voltarem para a realidade verdadeira.

Mas ela não poderia aparecer para Emma em sua real forma. Não sem antes Swan saber tudo que deveria e acreditar. Mais cedo, em sua procura pela loira, Regina havia visto sua versão má atormentando alguns camponeses. Ela não poderia correr o risco de ser presa por a confundirem com a Rainha má ou por a acharem louca devido ao que dizia.

Mills precisava se disfarçar e conseguir se aproximar da loira, sem que fosse reconhecida. Sem preocupação.

•§•

O Reino estava em festa. Era o vigésimo oitavo aniversário da Princesa Swan e todos estavam convidados para a grande celebração que seus pais, o Rei David e a Rainha Branca, dariam em comemoração.

A tal festa era o assunto do momento. Em todas as vilas que Regina passara mais cedo quando procurara por Emma, escutara falar sobre assunto. A notícia percorrera os quatros cantos de Misthaven de forma rápida como fogo quando colocado em uma trilha de gasolina.

Sabendo do baile que Branca e David dariam à noite, Regina não pensou duas vezes quando viu a oportunidade de pegar um convite, enquanto andava pela floresta em busca de um bom lugar para ficar durante sua pequena passagem por ali, ao passar por um soldado real que carregava alguns convites em mão.

— Apenas um... — Observou o cartão branco e dourado em mãos. — Não fará falta... — Deu de ombros. — Tenho certeza que Branca deve ter muitos convites sobrando... — Murmurou com um leve sorriso nos lábios, para o cavaleiro caído ao chão, desacordado por magia.

•§•

— Fiquei sabendo que escolherão um novo Príncipe para a Princesa Swan hoje à noite.

— Finalmente! Já faz alguns bons anos que ela não se casa novamente.

— Sim, desde que o Príncipe Neal morreu em batalha. Ela ficou muito devastada.

— Sim... O garoto cresceu sem pai.

— Deve ter sido muito ruim... Quem você acha que será o escolhido?

— Tem o Príncipe August, filho do Rei Marco...

— Não... Eles são muito amigos. Pelo que sei, são tratados como irmãos. Não acho que seria ele. Acho que será algum Príncipe do Reino do Norte. Fiquei sabendo que todos virão.

Era a conversa de duas jovens camponesas que lavavam suas roupas sujas num rio próximo à cabana que Regina fizera com magia.  

Mills revirou os olhos ao ouvir que as duas fofocavam sobre a vida dos Encantados com tanta naturalidade. Com certeza era o hobby delas, fofocar sobre a vida dos outros. Era certo que deveriam falar horrores dela também.

Após escutar a parte da conversa por acaso, enquanto limpava no mesmo rio, sua bota suja de lama, Regina teve uma ideia de como conseguiria se aproximar de Emma.

— Então quer dizer que a Princesa Emma precisa de um Príncipe... — Murmurou perdida em pensamentos.

A mulher terminou de limpar suas botas e voltou correndo para a pequena, porém aconchegante, cabana. Precisava se preparar para o baile. Ela não tinha muito tempo. Já estava perto de escurecer.

•§•

— Será que estou atraente? — Indagou-se olhando para o espelho à sua frente e analisando suas roupas elegantes. Um verdadeiro Príncipe! As botas negras de couro combinando com a calça escura e justa, destacando o colete branco e o fraque preto de botões rubros e dourados. No pescoço, o lenço de veludo vermelho deixando seu busto estufado em imponência. E como um detalhe sutil, a corrente de ouro transpassada do ombro esquerdo ao peito, reluz na escuridão do fraque.

Aquele era o quarto disfarce que Regina testava. Não havia se agradado de nenhum dos anteriores. Tinha medo de não conseguir a atenção de Emma e assim não conseguir se aproximar da Princesa. Não tinha pensando em outra forma de aproximação para conseguir o que queria.

Ao olhar para a janela da pequena cabana, notou que as pessoas do pequeno vilarejo que tinha ali perto, já saiam de suas casas para irem ao baile.

Olhou-se mais uma vez no espelho, passou a mão nos cabelos bem arrumados para trás, olhou-se de alto a baixo e piscou um olho. Estava se paquerando.

— Espero que dê certo. — Pegou o convite em cima da cama e sumiu em sua fumaça roxa.

•§•

Após passar pelos guardas reais, entregar-lhes o convite e adentrar até o salão de festas, observou todo o lugar à procura da Princesa. Havia vários Príncipes e Princesas dançando no salão. Alguns Reis e Rainhas conversando com David, que estava bastante velho, totalmente diferente do que se lembrava de ver em Storybrooke, mas nenhum sinal de quem ela queria. Pegou uma taça de alguma bebida que ela não sabia qual era e devagar se aproximou das escadas. Provavelmente era dali que Emma sairia. Era sempre assim nas festas. Além de ter presenciado isso muitas vezes em sua vida de Rainha e Princesa, ela mesmo já fizera o mesmo.

Algumas moças lhe observavam de longe, soltando suspiros e sorrisos e cochichando com as do lado, mas não podia dar atenção a nenhuma delas. Não foi para isso que se disfarçou de Príncipe. A única que pretendia arrancar suspiros e sorrisos, era da Princesa Emma Swan. Estava incerta se conseguiria sua atenção, já que havia muitos rapazes bonitos e em seu mundo, Emma não costumava dar muita atenção para esse tipo de coisa. Havia se envolvido com Killian Jones apenas por insistência do mesmo e não sabia sobre Neal e Graham, mas tinha certeza que não tinha sido por beleza também. Torcia para que o fato dela estar aparentemente diferente de Storybrooke servisse para alguma coisa.

De repente a música suava que tocava parou e todos que dançavam pelo salão pararam e voltaram suas atenções para um só lugar. O topo da escada. Emma finalmente chegara.

Estava linda, Regina constatou encabulada. Ela estava com um vestido todo branco, saltos de cristal e cabelo solto, com tranças no topo, formando uma coroa.

•§•

Após um breve discurso de Branca, que também estava bastante velha, e David, sobre suas vidas, a vida da Princesa, e o Reino, Emma desceu as escadas e se pôs ao lado dos pais. Sempre com um sorriso no rosto, e agora, com uma taça em mãos.

De repente um cavaleiro se aproxima de Emma e Regina quase deixa a taça que segurava cair ao chão, ao ver que se tratava de Henry. Bem maior e mais velho do que se lembrava, e muito mais sério.

O rapaz falou algumas coisas com o avô e Emma, colocou seu capacete na cabeça e depois saiu apressadamente. Regina pensou em ir atrás, mas desistiu assim que viu um Príncipe pedir a mão de Emma para dançar. Contudo, fez uma nota mental sobre ir atrás do garoto assim que pudesse.

Após aceitar o convite para a dança, o Príncipe e Emma seguem para o meio do salão. Isso não podia ter acontecido. Ela é quem deveria estar no lugar daquele rapaz. Ela quem deveria estar dançando e conversando com Emma, conseguindo sua confiança. Não podia permitir que outro tomasse seu lugar ou então seu plano não daria certo e teria que pensar em outro.

•§•

— Se você for dançar com o meu irmão, eu te ajudo com o cavaleiro. — Sussurrou Regina, no ouvido de uma jovem que não parava de encarar um rapaz da guarda real. Ela havia percebido a ligação entre os dois.

— Quem é o seu irmão? — A jovem perguntou animada.

— O rapaz que está dançando com a Princesa Emma. — Apontou com a cabeça para os dois.

— Mas espera... — Franziu o cenho. — Como você sabe sobre mim e o Arthur? — Indagou desconfiada.

— Eu... — Olhou para o cavaleiro que agora os encarava com uma expressão um pouco enciumada. — Eu percebi a troca de olhares desde que cheguei aqui. — Mentiu. Só havia percebido isso minutos atrás quando precisou procurar por alguém livre para ficar com o Príncipe que dançava animadamente com Emma. Não sabia nem que o nome dele era Arthur. Na verdade, não conhecia ninguém ali. Apenas Emma, David, Branca e Henry.

— Ah meu Deus! — Murmurou alarmada, levando sua mão a boca. — Será que alguém mais percebeu? — Indagou preocupada, observando os lados repetidas vezes, em busca de alguém que pudesse estar lhe observando.

— Não se preocupe. Creio que apenas eu percebi, pois sou um ótimo observador. — Deu um sorriso acompanhado de uma piscadela. Alguém de fora vendo a interação certamente diria que ela, no caso, ele, estava flertando. O tal do Arthur com certeza estava pensando assim. — Bem, podemos trocar favores?

— Você quer dançar com a Princesa? — Regina assentiu. — Sim, vamos trocar favores.

•§•

Minutos depois e Regina já estava sorrindo enquanto observava o seu “irmão” e a Princesa Anna dançarem bem animados enquanto conversavam no meio do salão. Já o tal do Arthur não parecia muito contente com a interação.

Regina pegou mais uma taça da bebida, que agora sabia, era champanhe, e se encaminhou para onde estava antes. Os pés da escada. Ao levantar a cabeça e girar os olhos para os lados, em busca de Emma, surpreendeu-se quando a encontrou já lhe observando. Seu coração se acelerou repentinamente. A loira estava com uma expressão curiosa no rosto e não escondia que observava “o Príncipe” de longe.

Regina deu um pequeno sorriso em direção à ela, como um pedido mudo para se aproximar. Emma olhou para baixo e de forma envergonhada sorriu de volta. Mills achou graça da forma como ela reagiu. Aquela nova Emma não tinha nada de parecido com a verdadeira. Até que estava gostando dessa, embora a outra fosse sua preferida.

Sem se importar com nada, deixou a taça que segurava, no chão, e caminhou determinada em direção à loira, mas antes que chegasse ao destino, um jovem pediu a mão de Emma para dançar. Sem ter como negar, a Princesa aceitou o pedido e foi para o meio do salão.

Regina sorriu sem graça para a loira e abaixou a cabeça. Estavas prestes a voltar para o seu lugar quando foi surpreendia por uma jovem pedindo-lhe uma dança. Não era comum que as jovens pedissem, sempre esperavam que o rapaz convidasse, mas essa era ousada e já observava Regina há bastante tempo. Não hesitou em se enxerir em sua frente e fazer o pedido.

Tendo uma ideia relâmpago, Mills rapidamente aceitou o convite e arrastou-a para o meio do salão. Para bem próximo de onde Emma e seu novo par estavam.

Enquanto cada uma dançava com seus pares, observavam-se com um pequeno sorriso nos lábios.

Com alguns minutos de dança, de repente Regina soltou o seu par e chamou a atenção do par de Emma. Quando o rapaz se soltou dela, Regina se aproximou rapidamente e estendeu a mão para a Princesa. Os outros dois, vendo que estavam sobrando, juntaram-se e começaram a dançar também.

— Aceita uma dança, Princesa Emma? — Indagou toda galante. Estava um pouco nervosa, mas conseguia disfarçar bem. Swan nada respondeu, apenas sorriu e segurou na mão estendida de Regina, logo começando a dançar. — Príncipe Richard, a seu dispor...

— Apesar de já saber o meu nome... — Deu um sorrisinho. — Princesa Emma... — Regina fez uma breve reverencia, seguida pela loira. — Então, Príncipe Richard, de qual Reino você vem?

— Chame-me apenas de Richard. — Pediu, puxando-a mais para si, encurtando um pouco mais a distância entre os dois. — Eu venho do Reino... — Fez uma pausa, pensando em um nome. — Do Reino Nórcia.

— Hm... Nunca ouvi falar... Como ficou sabendo da celebração? — Quis saber. Estava curiosa quanto ao homem. Nunca ouvira falar dele, muito menos de seu Reino, nem jamais tinha o visto em algum lugar, apesar de achar o seu rosto familiar.

— As notícias voam, Princesa... — Rodou-a no ar, mas logo a puxou de volta.

— Seu rosto não me é estranho... — Aponta, observando bem cada traço do homem.

— Talvez você já tenha me visto por aí... — Deu de ombros, rodando-a mais uma vez no ar.

•§•

Alguns minutos de dança e a música se encerrou, fazendo todos os casais, inclusive Emma e Regina, pararem no meio do salão.

Swan foi para perto dos pais e após alguns minutos, para Regina, entediantes, de discurso, a festa deu continuidade, mas dessa vez, com um banquete sendo servido e muito mais bebida do que antes. David e Branca, após mais uns minutos conversando com os convidados, se retiraram do salão, deixando a Princesa sozinha.

Regina estava preparando um prato para si quando Emma se aproximou da mesma.

— Encontre-me na sacada. — Sussurra e se afasta rapidamente.

Ao ouvir o pedido sussurrado da Princesa, o coração de Regina bate acelerado no peito e ela não perde tempo, coloca o prato em cima da mesa e sem se importar com a fome, caminha disfarçadamente para onde Emma havia pedido que fosse.

Aparentemente o seu plano estava dando certo.

•§•

— Queria falar comigo, Princesa? — Indaga Regina, anunciando sua chegada. Emma estava de costas para si. Observava o céu pouco estrelado.

— Sim... ― Responde ainda sem se virar. ― Gostei de você e gostaria de poder conversar mais, sem tanto barulho ou alguém nos importunando. — Virou-se para Regina ostentando um sorriso envergonhado nos lábios.

— Seus pais não se importam? — Aproximou-se devagar da Princesa, parando ao seu lado, encostando-se à parede.

— Eles são bem protetores comigo, mas nesse exato momento, devem estar ocupados, resolvendo algum assunto chato e importante... — Deu de ombros, fazendo Regina sorrir. Jamais imaginara Emma sendo Princesa, vestida do jeito que está e sendo mimada pelos Encantados. — Mas eu gostaria de falar sobre você...

— O que quer saber de mim? Não tenho nada de interessante para que saiba... — Estava nervosa. O que poderia falar de si para Emma? O Príncipe Richard não existia de verdade, muito menos o tal Reino de onde falara que viera. Não havia história para ele. Não havia pensando em nada disso. Inventara na hora e deu sorte de Swan ter acreditado. Além de que, não pensou que precisaria inventar informações sobre seu personagem.

— Fale-me um pouco sobre o seu Reino, sobre sua família, sobre seu povo... — Incentivou-o. — Creio que já deve saber tudo isso sobre mim, então estou em desvantagem. — Acrescentou bem-humorada.

— Bem... — Pigarreou. — Meu Reino é normal...? — Os dois riram. — OK! — Ficou séria. — Vamos lá... ― Cruzou os braços e fez uma expressão pensativa. ― Sou filho do Rei... — Pausou para pensar num nome, mas logo decidiu que não havia motivos para inventar sobre isso. Não tinha como Emma desconfiar de algo, tinha? Talvez, na realidade em que estão, Emma nem conhecesse os seus pais mesmo. — Do Rei Henry, minha mãe morreu há muitos anos por problemas no coração, tenho uma irmã que mora em outro Reino bastante distante, ela é Rainha de lá e o meu Reino não é muito conhecido e fica muito longe daqui. Mais de cinco dias de viagem.

— Você passou cinco dias para chegar aqui só para essa festa? — Indagou surpresa.

— Na verdade... Eu conheço alguém que mora num Reino próximo e... — Parou subitamente de falar ao ver a Princesa se aproximar demais de si, de forma repentina. Uma aproximação perigosa no ponto de vista de Mills.

Por que raios ela havia se aproximado tanto e tão rápido? Era o que se passava na mente da morena.

— Sim? — Sussurrou Emma, despertando Regina dos pensamentos.

— É... — De repente a Rainha se perdeu no olhar intenso e verde como o mar, da Princesa e ficou muda. Só foi despertada pelo barulho que um guarda fizera, anunciando sua chegada.

— Desculpem-me ter interrompido, mas a Rainha está a sua espera no salão, Princesa Emma. — O cavaleiro disse, chamando a atenção das duas.  Após ouvir o que o rapaz disse, Regina se virou rapidamente. Reconhecia aquela voz. Era Henry por debaixo do enorme capacete dourado.

— Obrigada por me avisar, Henry. Em poucos minutos estarei lá. — O cavaleiro assentiu e se foi, deixando as duas sozinhas.

— O nome dele é mesmo Henry? — Regina quis saber. Sua voz alterada pela emoção. Queria saber como haviam colocado o nome dele.

— Sim! É uma homenagem. — Sorriu. — Igual o nome do seu pai... — Apontou. — Que coincidência...

— Sim... — Sorriu, tentando esconder a emoção.

— Bem, eu preciso ir... Meus pais estão me esperando... — Apontou para trás. — Podemos nos ver novamente? — Aproximou-se um pouco mais de Regina e tocou em sua mão apoiada no pequeno muro.

Regina olhou para o toque suave em suas mãos e sem pensar muito, apertou-a, fazendo um carinho.

— Amanhã ao meio-dia, vá até o rio mais próximo que há desse castelo e eu te encontrarei. — Depositou um beijo delicado na mão da Princesa, deixando-a envergonhada mais uma vez naquela noite.

— Até amanhã. — Sussurrou, afastando-se.

— Até. — Respondeu com um sorriso, observando a Princesa ir embora.

•§•

Regina, agora em sua forma normal, esperava por Emma, sentada em uma pedra, no lugar onde elas haviam marcado na noite anterior.

Agora que havia conseguindo a aproximação e confiança da Princesa, não tinha mais motivos para esconder a real identidade. Apesar do receio de ser confundida com a sua versão má, estava decidida a contar toda a verdade sobre quem era e de onde viera. Estava certa de que conseguiria provar sua história.

Jogava algumas pedras, distraidamente, no rio, ponto de encontro das duas, quando escuta barulhos de passos se aproximando. Ao olhar para trás, da de cara com uma Emma confusa.

— Quem é você? — Indagou alarmada, olhando de um lado para o outro. Estava procurando pelo homem com quem conversara noite passada.

— O Richard não vem. — Disse Regina, ignorando a pergunta da outra e se levantando.

— O que? — Indagou confusa. — Você o conhece?

— Emma, eu preciso te contar algo...

— Como você sabe o meu nome? — Indagou assustada, olhando mais uma vez, de um lado para o outro.

— Não existe Richard. — Afirma, mais uma vez ignorando a pergunta da outra.

— Como não...

— Eu sou o Richard. — Interrompe-a.

 — O que... — Estava bastante confusa. Como assim essa mulher é o Richard? Indagava-se mentalmente. Eu não me lembro do Richard ter um traço sequer, que lembrasse uma mulher. Continuava. Ah não ser que... — Você é uma bruxa! — Afirmou, dando passos para trás. — Você tem magia... Deve ser uma feiticeira. — Acusou novamente. — Transformou-se naquele homem educado e bonito só para me atrair.

— Eu não sou uma bruxa. — Rebate ressentida. Fazia tempo que não havia mais esses tipos de xingamento entre ela e a loira e até vindo de outros. — Eu tenho magia sim, mas não sou uma feiticeira... — Seu tom deixa claro o quanto ficou ofendida. — Eu não me transformei no Príncipe Richard apenas para te seduzir... — Explica. — Eu sou alguém que você conhece... Ou deveria acontecer, mas...

— Do que você está falando? — Interrompeu-a, deixando-a impaciente. — Eu não...

— Se você me deixar te explicar... — Balançou a cabeça negativamente. — Confie em mim, eu não te farei mal algum... — Aproximou-se devagar. — Deixe-me te contar toda a verdade. — Pediu.

— Espera... Acho que eu sei quem você é. — Ela estreita os olhos, como se buscasse na mente de quem era o rosto que via. Regina sorriu esperançosa. Seria tão fácil assim? Sem praticamente fazer nada? — Você é a Rainha má. — Apontou, dando passos para trás. O sorriso que cresceu nos lábios da morena morreu com a conclusão da frase. ― Sim, eu estou reconhecendo agora. Como você conseguiu entrar lá? Ele está protegido de você...

— Eu não sou a Rainha má. — Rebateu de forma desesperada. — Não mais... Acredite em mim. ― Implora com um tom sofrido.

— Não! — Regina arregalou os olhos de forma surpresa ao ouvir a negativa da Princesa. Emma sempre acreditou nela. Essa não era mesmo a sua Emma Swan e ela já estava começando a desgostar.

— Por favor... — Aproximou-se devagar. — Se você me deixar explicar, vai entender por que me transformei em Richard e fui até você e que não sou mais má como antes.

― Não sei se posso confiar em você. ― Emma rebate, relutante.

― Eu dou minha palavra de que você pode. ― Fala em um tom cansado. Se não desse certo, ela não iria insistir, iria procurar outra forma de acordar Emma daquela realidade. ― Dê-me uma chance.

•§•

— Você tem até o por do sol para se explicar. — Swan avisou. Estavam seguindo para a cabana de Regina. Depois de muito insistir, ela também conseguiu convencer a Princesa a lhe seguir. — Não posso ficar muito tempo fora e se escurecer ficará ruim para voltar.

— Se escurecer, eu te levo... Não se preocupe. — Emma encarou-a. — Com magia. — Acrescentou sem graça.

— Eu não quero usar magia. Aprendi desde cedo que magia sempre vem com um preço.

— Não é você quem irá usar. — Revirou os olhos. — Vamos andar mais rápido, tenho muita coisa para te contar.

•§•

— Então... — A Princesa murmurou. Parecia impaciente.

— Você pode se sentar... — Regina ofereceu, também se sentando. — Bem... Gostaria que você me deixasse contar tudo e só depois comentasse algo. — A Princesa assentiu, decidindo por se sentar também. — Você não é daqui... — Começa e a Princesa já abre a boca, pronta para interromper, mas logo a fecha ao se lembrar do pedido da outra. — Na verdade, tempos atrás, eu lancei uma maldição que levou todos para uma terra distante. Você nasceu aqui, mas foi separada de seus pais logo em seguida, crescendo então, nessa terra distante. Você cresceu em um orfanato e quando saiu de lá, engravidou do filho do Senhor das Trevas. O Bealfire, ou Neal, como preferir. Mas, você não criou o garoto, deu-o para adoção. Foi pega roubando com o pai do seu filho e acabou tendo o Henry na cadeia. Meses depois eu adotei essa criança. Quando Henry tinha dez anos de idade, ele te procurou e te levou até onde nós morávamos. Devido à maldição que eu havia lançado, todos estavam sem memória de quem eram, exceto eu e o Senhor das Trevas. Você era a Salvadora, filha do amor verdadeiro de seus pais, tinha magia e tinha que quebrar essa maldição quando completasse 28 anos de idade. — Fez uma pausa e observou Emma. Ela parecia bastante atenta em tudo que ouvia e não parecia não estar acreditando. — Você quebrou essa maldição com um beijo de amor verdadeiro no Henry e desde então muitas coisas aconteceram.

As duas ficaram em silêncio por alguns minutos. Emma parecia pensativa e Regina a encarava esperando por algum comentário. Alguma reação. Na mente, torcia para que ela acreditasse.

— Se isso é verdade, o que eu e você estamos fazendo aqui?

— Resumidamente, eu injetei um líquido em mim e minha parte mal se separou. Essa parte mal foi até nós na cidade onde moramos, atrás de nós. No caso, atrás de mim e de sua mãe. Você, provavelmente cansada de tudo, desejou que nunca tivesse sido a Salvadora. Ela ficou sabendo desse seu desejo e pediu ao gênio da lâmpada para que o seu desejo se tornasse realidade. — Fez uma pausa. Com magia, conjurou um copo de água para ela e Emma, mas a Princesa recusou. — Se eu não tivesse lançado a maldição, você teria nascido com seus pais e não seria Salvadora. — Concluiu.

— Mas foi exatamente isso que aconteceu... — Rebateu, deixando Regina confusa. — Meus pais te derrotaram em uma batalha antes de você lançar a maldição e por isso eu cresci com eles. Depois dessa batalha, eles fizeram um acordo de proteção com as Fadas e elas têm protegido o castelo de você desde então.

— Essa é a verdade aqui, nessa terra de desejos... Emma, vo...

— Isso tudo é loucura... ― Murmura confusa, interrompendo-a. ― Eu não tenho magia... Eu não... — Balançou a cabeça negativamente. — Ladra? — Indagou-se incrédula. — Como eu posso acreditar em você? Olha todas as coisas que você acabou de me dizer... Você é má... Fez coisas más...

— Use o seu poder... — Rebateu, ignorando o “você é má. Você fez coisas más”. Emma encarou-a surpresa. Como ela sabia disso? Indagava-se. Poucas foram as pessoas que ela confiou o segredo. — Eu conheço você, Emma... Use o seu superpoder de saber quando as pessoas estão mentindo. — Faz o pedido quase se ajoelhando em seus pés. Estava realmente desesperada. — Olhe minhas roupas... Não são desse mundo...  — Apontou para si. — E eu não sou mais má... Eu mudei...

As duas ficam em silêncio, com apenas o barulho da natureza fora da cabana se fazendo presente, até Regina quebrá-lo: — Então? Eu estou mentindo?

Swan nada respondeu. Atordoada com o tanto de informação que acabara de ouvir, se levantou apressadamente, seguindo para fora da cabana.

— Emma... Para onde está indo? — Levantou-se rapidamente, seguindo-a para fora.

— Eu não sei, eu preciso pensar. — Respondeu meio desnorteada.

— Emma, eu preciso de você... — Ao ouvir a pequena frase, Emma para no mesmo momento. Ela parecia já tê-la ouvido em algum lugar. — Precisamos encontrar uma forma de poder reverter essa situação.

— E se eu não quiser voltar? — Virou-se para Mills. — Você falou que eu devo ter pedido para não ser a Salvadora, porque estava cansada de tudo... — Lembrou. — E se aqui for melhor? E se eu preferir deixar como está?

— Então você acredita? — Mais uma vez, Swan nada responde. — O seu pai sente a sua falta... O Henry...

— Eles estão aqui comigo, agora. Todos vivendo bem... Sem problema... O Henry cresceu sem o pai, mas cresceu ao meu lado. Eu cresci ao lado dos meus pais, como deveria ser...

— Mas essa não é a verdade... — Rebateu mais alterada. — Tenho certeza que a verdadeira Emma não iria gostar... Disso... — Apontou para a forma como a loira estava vestida.

Antes que Emma pudesse responder, as duas escutam barulhos fortes de cavalos se aproximando. Rapidamente Regina se aproxima de Emma e se transforma em Richard. Seu disfarce da noite anterior.

Emma abre a boca para falar algo, surpresa pelo que acabara de ver, mas Regina é mais rápida e pede que faça silêncio.

Assim que a poeira abaixa e os cavaleiros abrem espaço, a Rainha má aparece com todo seu esplendor.

— Ora, ora, se não é a filha dos Encantados... — Dá um sorrisinho, aproximando-se mais do casal. Sem pensar duas vezes, Regina coloca Emma atrás de seu corpo. — Parece que eu estou com sorte... Já que não posso ir até o castelo para pegar a preciosidade deles, a preciosidade vem até mim... Namorando escondido, Princesa Emma? — Arqueia a sobrancelha. — Se seu pai descobre, seu namoradinho ficará impossibilitado de ir a uma batalha, se é que me entende. — Sorri maliciosa. — E quem é você? — Indaga para o “Príncipe”, olhando-o de cima a baixo. A verdade é que Regina estava se admirando naqueles trajes.

— Não é da sua conta. — Ela rebate, pronta para um ataque, torcendo para que qualquer coisa que fizesse a ela não lhe afetasse também.

— Boa escolha, Princesa Emma. — Bate palmas e sorri sarcasticamente. — O rapaz parece bem corajoso... — Pontua. — Pena que parece ser desinformado e não sabe com quem está falando... — Balança a cabeça negativamente. — Mas não se preocupe, eu resolverei isso...

Antes que a Rainha pudesse movimentar suas mãos para atacar o casal, Regina os envolve em sua fumaça de magia, transportando-os para longe dali. Quando a fumaça evapora, as duas se encaram.

— Acho que isso acaba de provar que eu realmente não sou a Rainha má... — Regina murmura em um tom aliviado. — Você está bem? — Pergunta, preocupada com Emma, que parecia um pouco tonta. Estavam na cabana da morena.

— Sim, só estou um pouco tonta...

— Deve ser a falta de costume, se transportar dessa forma... — Explicou, desfazendo-se do disfarce, pegando Emma mais uma vez de surpresa. — Lembro-me bem quando eu comecei a te ensinar magia e você vivia reclamando das tonturas. — Comentou sorrindo.

— Você me ensinou magia? — Seus olhos estavam arregalados. Jamais se imaginou usando magia.

— Sim. Tempos depois passamos a trabalhar juntas, e eu, por um tempo, te ensinei a usar magia... ― Explica-lhe de forma sucinta. ― Mas então, você acredita em mim?

— Eu... Eu não sei ainda... É tudo muito confuso para mim...

— Eu trouxe uma coisa para me ajudar a te provar que falo a verdade. — Regina se aproxima da cama e pega uma bolsa de couro que havia ali, logo retirando o que tinha dentro. O livro de Henry. — Esse livro é do nosso filho, Henry. — Sorriu ao falar do garoto. — Ele sempre serviu nessas horas...

— Sobre o que é? — Perguntou curiosa, pegando o livro das mãos de Mills.

— É sobre as verdadeiras histórias... Eu pensei que ele mudaria devido ao acontecido, mas para a minha sorte, ele continua como antes... Fique com ele... — Empurrou mais o objeto nas mãos da Princesa. — Dê uma lida em tudo que puder... — Entregou-lhe a bolsa de couro. — Amanhã nos encontramos no mesmo lugar de hoje e você me diz sua resposta.

Emma encarou o livro por alguns minutos e depois Regina. Pensou um pouco e por fim aceitou.

— Você quer que eu te leve...?

— Não precisa... — Sorriu sem graça, suas bochechas ficando vermelhas e lhe entregando. — Acho que dá tempo eu chegar antes do sol se por.

— OK! Tome cuidado... Espero por ti amanhã.

Emma assentiu com outro sorriso e logo se foi, deixando Regina sozinha com seus pensamentos.

•§•

Dia seguinte, logo pela manhã, a Princesa Emma já estava batendo na porta de Regina.

— Se você veio até aqui, suponho que acredita em mim, certo? — Indagou com tom esperançoso, dando passagem para Swan entrar em sua pequena cabana. — Não esperou nem dar meio-dia... — Acrescentou, fechando a porta atrás de si.

— Como você sabia que eu tenho esse superpoder? — Indagou, ignorando a pergunta que lhe fora feita.

— Eu não sabia, apenas arrisquei... — Deu de ombros, sentando-se em uma cadeira bastante confortável e parecida com uma poltrona.

— E se eu não tivesse... — Regina arqueou a sobrancelha, esperando a continuação. — Isso... — Disse por fim. — O que você faria? — Estava cheia de dúvidas sobre a estranha que dizia lhe conhecer bem.

— Eu não sei, teria que pensar em outra coisa. — Cruzou os braços, se remexendo no assento. — Mas diga-me, você acredita em mim?

— Eu não sei... É tudo muito confuso.

— Você leu o livro? — Apontou para o objeto nas mãos da loira.

— Sim, eu li, mas...

— Emma... — Interrompeu-a. — Esse não é o mundo real. Acredite em mim. — Pediu com voz suplicante. — A história certa é essa que está nesse livro em suas mãos. Foi assim que as coisas realmente aconteceram. — Levantou-se da poltrona e se aproximou a passos lentos.  — Você não cresceu sendo uma Princesa. Você não criou seu filho. Você não foi casada com o pai do Henry. Seus pais não envelheceram... Esse mundo não é real. — Afirmou mais uma vez, em um tom triste. — Isso tudo não passa de um desejo feito por uma pessoa que queria se ver livre de você.

— Não é fácil acreditar quando você tem o mesmo rosto da Rainha má... Inclusive, eu nem deveria estar aqui falando com você... Se meus pais ficam sabendo, vão querer te caçar novamente...

— O que? — Sussurrou. Seu olhar magoado mais uma vez pelo que ouvira da loira. — Você viu ontem... Eu não sou ela... Quer dizer...

— O que temos que fazer? — Perguntou, ignorando o que a outra dizia e também a deixando confusa. — Eu estou te dando uma chance. — Explicou.

Regina abriu a boca algumas vezes, mas simplesmente não sabia o que dizer, então decidiu responder o que lhe foi perguntado.

— Bem... Depois que você foi embora ontem, eu pensei no que faríamos, caso você acreditasse em mim.

— E você conseguiu pensar em algo? — A morena assentiu. — O que?

— Precisamos encontrar Rumpelstiltskin. ― Diz simplesmente.

— Espera... O Senhor das Trevas? — Sua expressão é de assustada.

— Você tem medo dele? — Perguntou, estranhando a reação da loira.

— E quem não tem? Ele é o ser mais poderoso que existe. — Regina revirou os olhos.

— Não se preocupe. Ele não fará nada... O Rumple não ataca assim. É preciso que pisem em seu calo para chegar a esse nível. Ele gosta de jogos. Gosta de fazer acordos em que sempre ganha... É traiçoeiro... Esse é seu jeito.

•§•

— Então quer dizer que de onde viemos, compartilhamos um filho? — Perguntou Emma, tentando puxar assunto. Estavam seguindo para o castelo de Regina, onde Rumple se encontrava preso. A loira havia informado sobre sua prisão logo que começaram a caminhar. Aliás, estavam andando porque Swan insistiu em não deixar Regina usar magia, já que podiam ir andando. Mas também, não era tão longe. Regina aceitou porque não queria contraria-la, com medo de a Princesa desistir.

— Sim... — Afirmou com um sorrisinho. — Após alguns altos e baixos, conseguimos nos dar bem e dividir a guarda dele.

— Então nós fomos casadas?

— O que? — Havia sido pega de surpresa pela pergunta da outra. Apesar de saber que fazia sentindo ela ter a dúvida, ainda assim ficou surpresa. — Não... — Regina viu uma expressão de decepção passar pelo rosto da Princesa e arqueou a sobrancelha de forma curiosa.

Por que será que ela ficou decepcionada? Será que ela queria que...

— Então somos apenas duas mães que agora se dão bem e dividem o filho? — Emma indagou, cortando os pensamentos de Mills.

— Sim... ― Responde simplesmente, sem saber o que mais dizer.

As duas voltaram a ficar em silêncio até começaram a ouvir barulho de passos se aproximando.

— Será que é a Rainha má novamente? — Emma perguntou alarmada.

— É melhor não arriscar... Vem... — Mills puxou a loira para se esconderem atrás de uma árvore e assim poder observar quem se aproximava sem serem vistas.

Regina se encostou ao grosso e grande tronco, enquanto Emma ficou em sua frente, bastante próxima de si, quase invadindo seu espaço pessoal, com uma de suas mãos perto da cabeça da morena, lhe sustentando. Todavia Regina não havia percebido a aproximação. Estava entretida querendo ver quem era a pessoa que se aproximava.

— É o Henry... — Murmurou Regina com um sorriso, virando-se de repente e pegando a Princesa lhe observando intensamente e bastante próxima de si. Seu coração acelerou com a surpresa e Emma ficou extremamente vermelha de vergonha por ter sido pega no flagra.  

Ficaram se encarando em silêncio até Regina pigarrear e desviar o olhar para Henry novamente. Emma sorriu sem graça e se afastou um pouco mais.

— Acho que ele está me procurando... Talvez meus pais precisem de mim... — Disse já se afastando, mas foi segurada por Regina antes que pudesse se fazer ser vista.

— Não, você não pode ir... — Disse, ainda segurando-a pelo braço. As duas observaram ao mesmo tempo o contato e encabulada, Regina soltou a mão da loira. — Você precisa me ajudar... Precisamos encontrar Rumple e sair daqui...

— Mas... — Ao observar o olhar que Regina lhe lançava, desistiu de contestar. — OK! Vamos esperar ele ir embora...

•§•

— Desde quando o Henry é um cavaleiro? — Regina puxou assunto. Estavam sentadas em enormes pedras com sombras feitas por algumas árvores grandes, perto de um lago. Haviam parado para descansar um pouco. Emma tinha parado, na verdade.

— Semana passada foi a sua coroação. — Distraidamente, fazia desenhos na areia.

— Eu adoraria ver isso... — Soou triste, mas tinha um sorriso nos lábios pintados de vermelho. — Como ele se tornou cavaleiro? — Perguntou com os olhos brilhando. Falar de Henry sempre a deixava assim, com um grande sorriso nos lábios e olhos brilhando.

— Logo que completou 16 anos. — Escolheu uma pedrinha e jogou no lago, na tentativa de fazê-la quicar. — Cresceu ouvindo as aventuras do pai e quis seguir seu caminho. — Acrescentou enquanto mais uma vez tentava fazer uma pedrinha quicar, após ter falhado na primeira vez.

— E quem é o pai? — Perguntou hesitante, já com medo da reposta. Mesmo que tenha escutado a conversa das mulheres do vilarejo, precisava confirmar a informação.

— Bealfire, o filho do Senhor das Trevas. — Regina fez uma careta ao ouvir o nome, mas ainda assim, ficou aliviada por não ter sido quem ela pensou que seria. — Ele morreu em uma batalha, quando o Henry ainda era um bebê.

As duas ficaram em silêncio mais uma vez, com apenas o barulho das aves, das folhas das árvores e das pedrinhas que Emma tentava fazer quicar no lago, se fazendo presente.

— Como ele é? — Regina cortou o silêncio. — Digo... Sua personalidade, seus gostos... — Explicou. — Ele namora?

— Ele é bastante corajoso como o pai e o avô. — Sorriu orgulhosa, sendo acompanhada por Regina que também estava orgulhosa do que ouvia. — Tem um coração bondoso como a avó e a bisavó. É cheio de esperança, é honesto e leal... — Continuou. — É um bom filho... — Concluiu ainda com o sorriso nos lábios. — E quanto a namoro, ainda não, mas já o vi de conversa várias vezes com uma garota, filha do cavalariço do castelo. — O coração de Regina bateu acelerado ao se lembrar de Daniel e ver que coincidentemente, Henry era como ela quando mais nova, não se importava com posição e dinheiro, apenas caráter.

 — Eu já namorei um cavalariço quando jovem... — Murmurou triste.

— O que aconteceu? Ele não era uma boa pessoa?

— Na verdade, ele foi a melhor pessoa que eu conheci depois de meu pai e antes do nosso filho. — Rebateu distraidamente, sem perceber o que causara na loira ao falar “nosso filho”. — É que minha mãe não gostava dele... — Uma lágrima escorreu por sua bochecha. Lembrar-se de seu primeiro amor era sempre doloroso, mesmo que fossem momentos bons. — Bem, essa história não acabou bem...

— Sinto muito. — Rapidamente procurou a mão da morena e a apertou. Regina, mais uma vez, ficou surpresa pelo contato, mas nada disse, apenas aceitou o conforto.

— Eu fico feliz de ver que Henry é como eu... Não se importa com status nem dinheiro...

— Sim... — Concordou. — Isso é o que mais me orgulha nele. — Soltou a mão da outra e voltou a tentar fazer pedrinhas quicarem no lago.

— Ele é o melhor de mim. — Seu olhar estava perdido na paisagem a frente. — O meu bem mais precioso e importante.

— Você realmente o ama... — Observou admirada e Regina assentiu. — O nome do seu pai é mesmo Henry? — Perguntou, chamando a atenção da outra. — Quer dizer... — Remexeu-se no lugar — Quando Richard, você disse...

 — Sim... — Regina confirmou, interrompendo-a.

— É por causa de seu pai que ele se chama Henry? — Mills assentiu mais uma vez.

— Henry Daniel Mills... — Disse pensativa. — Nome de dois dos homens mais importantes em minha vida. — Explicou. — Por que você o nomeou de Henry? — Indagou com curiosidade. Queria saber se fora apenas coincidência ou se tinha algum significado, assim como para ela tem.

— Bae quem escolheu, em homenagem a um homem que ele conheceu muitos anos atrás, que era muito corajoso, honesto, bondoso e o ajudou muito, e por causa do significado... — Explicou-lhe orgulhosa. — Ele dizia que um dia, quando o Henry crescer, ele será Governante do Reino... — Sorriu. — O melhor que o povo já viu... 

Mais uma vez o silêncio pairou sobre as duas, com apenas o barulho do vento nas folhas das árvores e as pedrinhas que Emma voltara a jogar, fazendo-se presente.

— Como é a nossa relação? — Regina arqueou a sobrancelha, encarando-a. — Digo, minha com o Henry, lá em Storybrooke... — Tratou de se explicar.

— Bem... — Pigarreou. — Houve uma grande evolução na relação de vocês, desde que você chegou à cidade e atualmente. — Começou hesitante, procurando as palavras certas para dizer. — Ele gosta muito de você, Emma. — Sorriu para a loira e conteve sua vontade de pegar na mão dela. — Vocês se gostam muito, na verdade... — Continuou. — Estão sempre se apoiando, se ajudando e se conhecem bem... É uma relação muito boa, igual como aqui deve ser. — Finalizou com um sorriso.

— Sim... — Confirmou.

— Digamos que de nós duas, você é a mãe mais legal, mais radical, mais liberal, sabe? — Disse divertida. — Enquanto eu colocava regras de alimentação, nos horários de ir dormir e acordar, em quais filmes ele poderia assistir livremente, você as quebrava quase sempre... — Emma abriu a boca para se defender, mas Regina a impediu, continuando: — Mas apesar de tudo, você é uma boa mãe... — Em outros tempos, Regina com certeza não admitiria isso em voz alta. Na verdade, não admitiria isso. Muito menos para Emma.

— Fico feliz de ouvir isso... — Murmurou ainda com um sorrisinho nos lábios.

De repente, Emma viu Regina se levantar, se aproximar do rio e se abaixar novamente. Parecia procurar algo.

— O que está procurando? — Indagou de cenho franzido, levantando-se e se aproximando da outra.

— Isso... — Mostrou uma pedrinha chata e lisa.

— O que...

— Se quer mesmo fazer com que uma pedra quique na água, o primeiro passo é procurar uma pedra lisa e achatada. — Entregou a pedrinha para Emma e pegou outra no chão. — Coloque o dedo indicador contra a borda dela, segure os lados lisos com seu polegar em um lado e o dedo do meio do outro. — Na medida em que ia explicando, ia fazendo para Emma poder ver e entender melhor. — Encare a água de lado, com seus pés afastados na largura dos ombros e se agache um pouco para que você possa joga-la girando em uma linha reta, com a extremidade plana quase paralela à água. — Continuou a explicação. — Certifique-se de colocar a pedra na dobra do dedo indicador e pôr o polegar em cima dela para manter o controle. — Acrescentou.

— E agora? — Emma indagou após se preparar como Regina pedira.

— Agora, dobre o pulso bem para trás e depois o vire para frente, para jogar a pedra contra a superfície da água... — E então, como havia dito, dobrou o pulso para trás, se agachou um pouco e então lançou a pedrinha, fazendo-a quicar algumas vezes na água antes de afundar.

— Wow! Você conseguiu! — Emma bateu palmas de forma animada.

— Sua vez... — E então, Emma lançou a pedrinha, fazendo-a quicar algumas vezes também.

•§•

— Você acha que o Senhor das Trevas vai aceitar nos ajudar? — Estavam dentro do castelo de Regina, seguindo pelo caminho que dava na cela onde Mills o prendera antes de irem para Storybrooke. Emma não sabia onde ele estava, então Regina apostava que fosse lá.

— Bem... Provavelmente teremos que fazer algum acordo.

— Eu não quero fazer um acordo com ele. — Parou de andar.

— Emma, ele não vai te fazer nada. Você é mãe do neto dele.

— Eu sou mãe do neto dele, não neta dele. — Regina balançou a cabeça negativamente.

— Você não precisa fazer, eu faço...

— Olá queridas... — Saudou Rumple, cortando a conversa das duas.

— Rumpelstiltskin...

— A Rainha má e a filha dos Encantados, juntas... — Deu uma risadinha. — Hum... Interessante... Você está diferente... — Apontou para Regina.

— Nós precisamos da sua ajuda. — Disse Regina, ignorando tudo que o homem disse, aproximando-se devagar.

— E por que eu ajudaria alguém que falhou comigo? Que não conseguiu lançar minha maldição?

— Ela não é a Rainha má aqui. — Emma se pronunciou, aproximando-se também e chamando a atenção de Regina.

— Na verdade, eu consegui sim, lançar a maldição... — Rumple lhe lançou um sorrisinho sínico. — Essa realidade é falsa, assim como você aí, preso nessa cela, também é. — Mills continuou. — Isso tudo foi criado a partir de um desejo de uma pessoa que queria se ver livre da Salvadora. — Apontou para Emma.

— A Salvadora é? Hum... Interessante...  — Murmurou com uma risadinha. — Talvez eu possa ajudar, mas...

— Tem um preço... — Completou interrompendo-o. — Eu já sei e estou disposta a pagar. — Emma lhe encarou surpresa. — É tudo falso. — Sussurrou para a loira.

— Ah como o amor é lindo, surpreendente e muitas vezes irônico, não é mesmo? — Indagou com uma risadinha irônica.

— O que? — Regina indagou confusa.

— Eu só preciso de uma coisa em troca... — Disse, ignorando a pergunta de Regina. — Minha liberdade.

— Não! — Emma se pronunciou rapidamente. — Regina, não podemos soltar ele... É o Senhor das Trevas, lembra?

— Mas ela disse que esse mundo nem é real. — Rumple se pronunciou, chamando a atenção das mulheres. — Se tudo é falso, inclusive eu, não tem problema me deixar ir, não é?

— Faz sentido... — Regina concordou com a lógica persuasiva do outro.

— Regina, por favor...

— Como você nos ajudaria? — Indagou ao homem, ignorando o pedido da Princesa.

— Talvez eu possa conseguir alguma lâmpada que ainda tenha algum gênio dentro. — Respondeu como quem não quer nada.

— Sidney... — Mills lembrou.

•§•

— E agora, o que faremos? — Estavam agora no lago. Haviam libertado Rumple em troca de uma lâmpada mágica e Sidney, o gênio, devido ao seu grande amor pela Rainha, havia dado de bom grado para Regina, um feijão mágico.

— Eu jogo esse feijão no chão pensando em Storybrooke, o portal se abre e nós pulamos dentro. — Explicou sucintamente.

— E eu vou voltar sem me lembrar da verdade?

— Bem, nós podemos tentar quebrar esse feitiço com um ato de amor verdadeiro dos seus pais ou do Henry. — Evitou falar do Pirata para evitar estresse. Também não achava que o amor dos dois fosse forte o suficiente para quebrar uma maldição. — Preparada? — A loira assente — Você quer mesmo ir? 

— Eu confio em você... — Respondeu, surpreendendo a outra. — Eu acredito que essa não é a realidade verdadeira... Eu quero acordar. — Finalizou séria, com os olhos fixos nos de Regina.

— Então, vamos voltar para casa! — E então a morena jogou o feijão no chão.

Quando o portal se abriu, Regina deu um passo para frente e já estava se preparando para pular, quando sentiu a mão de Emma segurando-lhe pelo braço.

— Regina, espera... — Pediu a puxando para trás.

— Você não quer voltar? — Seu coração batendo acelerado com a possibilidade. Emma não poderia desistir depois de tudo.

— Não é isso... — Soltou o braço da outra e se aproximou um pouco mais. — Eu preciso fazer uma coisa antes de irmos. — Abaixou a cabeça e deu um sorrisinho. Parecia envergonhada. Regina tinha adorado aquele jeito dela.

— E o que é? — Indagou curiosa.

— Isso... — Aproximou-se mais e, pegando Regina de surpresa, beijou os lábios da morena, deixando-a vermelha e ficando também, com isso, fazendo uma onda brilhosa, exatamente como quando uma maldição é quebrada, se espalhar pelo local logo depois do ato. — Obrigada! — E então pulou no portal. Regina sabia, esse agradecimento já não havia mais sido a Princesa, e sim a outra Emma. A sua Emma.

De primeiro, Mills ficou sem reação, não só pelo ato da outra mulher, mas também pelo que aquela onda mágica significava, depois passou a mão de forma boba pelo local onde fora beijada e na sequência murmurou: — Princesas... — Balançou a cabeça negativamente, mas com um sorrisinho nos lábios, e em seguida, pulou no portal também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Essa é a aparência que Regina ficou após se transformar em Richard:::: http://wallpapersdsc.net/wp-content/uploads/2016/03/Brandon-Routh-Desktop.jpg

Deixem-me saber o que acharam desse final simples, porém, na minha opinião, bem fofo.

Seria apenas um beijo na bochecha, porque além de ser mais realista, (entre um beijo na bochecha e na boca, na boca teria menos chances de acontecer, do que na bochecha, ao menos na série, não é mesmo?) foi assim que eu pensei logo quando tive a ideia, mas de última hora decidi mudar. Acho que "valeria mais a pena", não sei... Enfim...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Dance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.