Um Anjo Em Minha Vida - Concluída escrita por Julie Kress


Capítulo 3
Imaginação fértil & Histórias absurdas


Notas iniciais do capítulo

Heeeey, guys!!!!

Espero que gostem!!!

Boa leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717219/chapter/3

P.O.V Da Jade

Seus olhos escuros vagavam pela cozinha, cheios de curiosidade e estranheza. Como uma criança descubrindo o mundo, aquilo estava me deixando intrigada, tentei me concentrar no que fazia. Coloquei a panela no fogo, decidi fazer uma sopa, também estava com fome e ele devia estar muito faminto.

— Senhorita... - Me chamou, já sentado à mesa, observando cada movimento meu.

— Me chame de Jade. - Falei retirando uma vasilha de plástico do armário contendo torradas caseiras com óleo de azeite e orégano.

— Jade. - Repetiu o nome lentamente, como se tentasse decorar. - Belo nome. - Elogiou.

— E como você se chama? - Perguntei, curiosa.

— Eu? - Franziu o cenho. - Eu... Eu... - Fechou os olhos e entortou a boca. - Não lembro. - Abriu os olhos, me fitando triste.

— Sério? Não lembra de nada? - Questionei colocando algumas torradas num pratinho de porcelana. - A pancada que deram na sua cabeça foi muito forte, hein? Te levarei ao médico amanhã. E depois resolverei o que devo fazer com você, talvez eu te leve para um abrigo. Aqui tem um que abrigam pessoas sem memórias, sabia? Ou eu posso tentar achar sua família, posso bater uma foto sua e...

— Não tenho família, senhorita! - Me interrompeu.

— Como não? Deve ter sim. Agora coma um pouco. - Coloquei as torradas à sua frente.

O rapaz encarou as torradas por alguns segundos, pegou uma delicadamente e cheirou, em seguida deu uma pequena mordida, provando um pouco cauteloso.

— Mmmm. - Mastigou devagar, saboreando. - Magnífico! - Sorriu. - Como é o nome dessa coisinha? - Pegou outra torrada.

— Torrada. - Respondi.

Realmente, a pancada foi poderosa. Ele age como uma criança, inocente e curioso. Será que é temporário? Ele precisa lembrar de quêm ele é, da família e de onde veio...

— Seu casebre é aconchegante, senhorita. Mora sozinha? Creio que deve ser uma moça solteira. Uma dama sem cavalheiro... Se puder me arranjar um de seus cavalos, um pouco de pão e mel, prometo que irei partir ao amanhecer. Posso me virar na floresta, sei caçar e pegar peixes...

— O quê? - O cortei incrédula. - Em qual século você acha que estamos? - Me levantei indo checar a sopa.

— Eu morava num vilarejo... Havia um lago negro pelas redondezas... As donzelas usavam vestidos bonitos e delicados... Agora estou me recordando, sou um plebeu... Maçãs, eu colhia com o meu único amigo... Havia carroagens, casebres e um castelo atrás das colinas, próximo de uma clareira... Eu era diferente, semprei fui. Ela era o meu mundo, foi amor à primeira vista. Abri mão de tudo por ela, sacrifiquei algo que fazia parte de mim, um pedacinho de mim. Quebrei todas as regras, aquilo me baniu de vez, mas foi por uma escolha minha. Foi por ela. Por Crystal, ela era tão bela e possuía olhos perfeitamente cristalinos, os mais lindos... Fui castigado, punido da pior forma. Minha amada me apunhalou, cuspiu em minha face, gritando que eu era um plebeu repulsívo, um miserável e ela se casou com um príncipe... E eu me joguei no lago negro, fui sugado para o fundo, afundando e afundando. Foi então que despertei aqui, nesse mundo... - Contou fitando as mãos em cima da mesa, seu tom sereno e melancólico.

O maluco contou a história mais louca que já ouvi em toda a minha vida. Gargalhei até minha barriga doer e eu lagrimar. Aquilo era impossível, não havia cabimento algum na sua história.

— Está zombando de mim, da minha história de vida, senhorita? - Perguntou me encarando descrente e ofendido. - Uma donzela como você deveria se comover e não zombar da minha tragédia. - Se levantou chateado.

— Aonde você vai? - Perguntei indo atrás dele.

— Estou partindo. Devo achar um portal mágico ou um lago negro para que eu possa me afogar de novo. Sou muito grato por sua gentileza e bondade, por ter me salvado. Quero algo para iluminar meu caminho, uma veste para me proteger do frio e um cavalo... - Parou no meio da sala. - Diga-me que não és uma bruxa ou uma seguidora do maligno. - Apontou para o meu colar com um pingente de caveirinha.

— Cara, você só pode estar alucinando. Estamos em 2017 e você está agindo como se não pertencesse ao século XXI. - Ri debochada.

— Não estou alucinando, minha senhora... Eu... Eu... - Cambaleou zonzo e em seguida desmaiou.

[...]

— Finalmente acordou, hein? Consegue levantar? - Tentei puxá-lo.

Ele havia passado uns 5 minutos desacordado, e eu estava cogitando a ideia de jogar água gelada na cara dele.

— Crystal? - Arregalou os olhos. - Cadê suas vestes de cigana? O que houve com a cor de seus cabelos? E com a cor de seus olhos? Seus cabelos eram dourados e você tinha os olhos verdes esmeraldas... - Sentou no chão, me olhando atordoado. - Preciso voltar para a Taverna, o senhor Degnor vai se zangar se eu não estiver servindo vinho e lícor de mel para...

— Já está tendo outra alucinação? Agora a sua Crystal é uma cigana e não uma princesa? Meu nome é Jadelyn, e meu apelido é Jade, tá legal? Taverna? Você acha que trabalha numa Taverna para um tal de senhor Degnor? Que imaginação fértil é a sua... - Ri me divertindo com aquilo.

— O que aconteceu com você, Crystal? Aonde estamos? - Olhou ao nosso redor, assustado.

— Mereço. - Revirei os olhos. - A sopa... Preciso ver a sopa! - Corri para a cozinha, deixando ele ali sentado no chão todo confuso.

Minutos depois...

— Agora tome toda a sopa e nada de ficar inventando histórias absurdas e me incluíndo nelas, ok? - Pus a tigela cheia de sopa pra ele ao lado das torradas.

— Perdão, mas estou tão confuso, não consigo entender o que está acontecendo... Como se minha memória estivesse em pedacinhos embaralhados. - Suspirou pesadamente.

— Hum. - Sentei à mesa, observando-o.

Ele gritou quando mergulhou as mãos na tigela se queimando.

— Ah, meu Deus! Você é louco. Use a colher, o que diabos você tem na cabeça? - Perguntei incrédula.

— Meus dedos... - Sacudiu as mãos e as secou na toalha de mesa. - Quente. Caldo dos infernos! - Resmungou fitando a sopa.

— Use a colher, assim... - Lhe mostrei como se tomava a sopa. - Eu tomo com torradas. - Falei.

— Eu costumo comer com as mãos... - Pegou a tigela e levou aos lábios, sugou a sopa, tomando com calma.

— Ah. Que prático. - Forcei um sorriso. - Pensei que comesse usando os pés! - Ironizei.

— Você gosta mesmo de zombar de mim, certo? - Bufou, frustrado.

— Espera... O seu sotaque mudou drasticamente. Era um tanto sulista e agora está com o sotaque igual o meu. Quantos idiomas você fala? - Perguntei abismada.

— Todos! - Sorriu com certo orgulho.

— Até Latim? - Indaguei e ele assentiu. - Impressionante... - Olhei para a minha tigela quase intocada.

— Me fale mais da sua vida no vilarejo, do seu trabalho na Taverna e da sua amada Crystal! - Pedi, não custava nada me divertir com suas histórias inventadas.

— Vilarejo? Taverna? Crystal? - Franziu o cenho, completamente confuso.

— Do que está falando, Jay? - Sussurrou me olhando ainda confuso.

— Jay? Que intimidade é essa? Me chame de Jade. - O repreendi.

Ele só podia ter sérios problemas mentais ou estava tirando onda com a minha cara...

— Minha linda, só estou aqui por você. Eles não podem mais me obrigarem a deixá-la, e eu não podia mais ficar longe de você... Faria tudo de novo, só para te ter em meus braços, não me arrependo de nada. - Disse me fitando tão... Apaixonado?

— Que tipo de droga injetaram em você? Eu não sou a Crystal, talvez ela nem exista e...

— Se acalme, Jade. Confie em mim. - Pediu. - Está segura comigo... - Olhou para os lados. - Eles não virão atrás de mim e se vierem, irei te proteger. - Prometeu.

— VOCÊ É COMPLETAMENTE MALUCO! - Gritei farta daquilo.

Nada fazia sentido, nada. Era tudo fruto de sua imaginação insana ou fértil demais.

— Boston, 2017, século XXI, nova vida, Jade, casa... - Sussurrou para si, mentalizando aquilo, repetindo mais duas vezes.

— Perdi a fome. - Resmunguei, levei a tigela e a colher para a pia. - Você vai dormir no quarto do meu irmão, amanhã irei te levar para um hospital ou para um sanatório. - Falei com firmeza.

— NÃO! - Gritou levantando-se. - Estou... Bem. - Avisou lentamente.

— Te encontrei sem roupas num beco, você estava desacordado, deve ter levado uma pancada na cabeça e ainda por cima, têm uma grande cicatriz nas costas em forma de V. Como pode estar bem? Você teve febre e delírios. - Argumentei.

— Nunca estive tão lúcido... Nem sinto dor alguma. Na verdade, sinto sim. Todo o meu corpo está dolorido, mas irei ficar bem. Jade, não é? - Perguntou.

— Sim. Jade West e não Crystal. - O conduzi para a sala. - Fique aqui! - Fiz ele sentar no sofá. - Vou trocar as colchas e as fronhas, você pode dormir no quarto do Jonas. - Avisei.

Fui para o quarto do meu irmão, troquei tudo e dei uma arrumadinha, e quando voltei para a sala, o lunático não estava mais lá. A porta estava aberta, corri para fora, atravessei o gramado úmido, passei pelo portãozinho de madeira e avistei o rapaz no meio da rua, com braços estendidos, olhando para o céu enegrecido e sem estrelas.

— Sij,od kais et factus illt esc opets an taus mentus, as moskent ink tus cultus op nadius, ekas nond pitur pangs peit monks perlus! - Caiu de joelhos, ele estava sem a camiseta, suas costas sangravam. - Jas tin as miobk pushiton, sonsk... Contus arcks cumb aies costint. Miov quae as dov em domie, quenb kas ari em fante ison queas milos spírick abandov oks corpios, an compis, sij. Ent torius usk queas an semprious arkadws bier... Queniusk queas as sij pos inm pordar, ásj ue ago snu mu peckast! - Disse com o corpo curvado, sua cabeça tocando o chão.

Não compreendi absolutamente nada, mas aquilo parecia um desabafo...

Então, ele chorou, chegando a soluçar e aquilo tudo me comoveu, um pouco.

Uma intesa chuva começou a cair, fortes trovões e relâmpagos rompiam o céu. Consegui arrastá-lo para dentro, tranquei a porta e escondi a chave.

[...]

No dia seguinte, às 10:50 da manhã...

— Demorou. - Falei assim que abri a porta para a minha melhor amiga.

— Só um pouquinho. Mas e aí? Aonde está o moreno cabeludo? - Perguntou toda empolgada.

Levei a Tori para o quarto do meu irmão, e encontramos o esquisito sentado na cama, olhando concentrado para as mãos como se tivesse analisando-as.

— Ei! - Chamei a atenção dele, que nos olhou curioso.

— Amiga, ele é... É... É... Minha nossa! Uau! - Tori arregalou os olhos, impressionada.

— Ele é estranho, não é? - Apontei para o cabeludo. - Você precisa ver a cicatriz que ele têm, é sinistra! - Puxei o rapaz, o tirando da cama. - Fique de costas! - Ordenei e ele obedeceu, hesitante.

— Veja. - Apontei para a cicatriz em forma de V.

— Aonde? - A Vega se aproximou.

— Aqui. - Indiquei a grande cicatriz.

— Não têm nenhuma cicatriz. - Balançou a cabeça.

— Têm sim, bem aqui. -  Delineei o V nas costas dele.

— Você está alucinando, Jay. - Prendeu o riso. - Lindo ele com certeza é... Mas diz a verdade. Esse cara é um garoto de programa? - Sussurrou.

— Claro que não. - Bufei. - Vista-se. - Dei a camiseta para o cabeludo e arrastei Tori para fora do quarto.

Aquilo era impossível. Por quê apenas eu conseguia ver a maldita cicatriz?

— Ele têm uma beleza exótica, é uma raridade encontrar um homem como ele aqui em Boston. O que pretende fazer com ele? - Perguntou quando estávamos indo para a sala.

— Vou levá-lo ao hospital.

— Ele parece perfeitamente bem.

— Mas ele está desmemoriado. - Ressaltei, sentamos no sofá.

— Coitado. - Suspirou.

— Quero que vá comigo, vamos levá-lo. - Pedi.

[...]

— Entra no carro, agora! - Empurrei o moreno que relutava com medo de entrar no meu Toyota.

— Isso é obra de bruxas. Uma coisa estranha que anda e parece ter vida, cadê as carroagens? E os cavalos? Aquele homem era um mago? - Perguntou se referindo ao médico.

A Tori apenas ria, se divertindo com o piradinho.

— O médico disse que ele está bem e bastante lúcido. Te avisei, Jay! - Ela falou séria.

O cabeludo havia sido examinado, a gente nem pôde acompanhá-lo na consulta. E o médico me receitou um calmante, afirmando que eu parecia alterada, nervosa e que eu estava precisando descansar.

O velho só faltou me chamar de louca, ainda alegou que o rapaz estava perfeitamente bem.

— Vamos comprar seu calmante, Jayzinha. - Tori disse risonha assim que conseguimos colocar o maluco no carro, prendi bem o cinto.

— Vega! - A fuzilei. - Não brinque comigo, já estou estressada. Preciso de café urgentemente. - Falei dando partida.

— Ele precisa de um nome, como vamos chamá-lo? - Ela se virou, para olhar o cabeludo lá no banco traseiro, todo encolhido como um animalzinho assustado.

— Aladim. - Respondi, afinal, ele era parecido com o Aladim, só faltava a lâmpada mágica e o tapete voador.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam???

Gostaram??? Palpites sobre o quê/quêm nosso moreno é???

Comentem, a opinião de vocês é importante e me motivam muito! Bjs