Crônicas dos Descendentes : A Herdeira -DEGUSTAÇÃO escrita por Bea B Pereira


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717164/chapter/5

 

Acordo cedo no outro dia e com bom humor, sem pesadelos ou depois de gritos no meio da noite.

Subo ao convés com um sorriso no rosto. Logo que coloco o pé no local, o capitão vem em minha direção, com uma expressão de fúria.

— Bom dia, capitão — cantarolo.

— Você! Sua cobra, manipuladora. Sua...

— Não acha que está muito perto?

É verdade. Em um momento durante o ataque de fúria, ele agarrou meu braço e acabou me puxando para perto, tão perto que posso sentir sua respiração sobre meu rosto.

Porém, ele não tem tempo de me responder. Um dos homens grita que avistou um navio se aproximando rápido. Ele me solta.

— Chris, leve-a para dentro.

— Não, obrigada — digo antes de ele me tocar.

Tiro o cinto da cintura e com um movimento rápido o coloco sobre meus seios, em seguida pego o chapéu de Chris, faço um nó no cabelo e o coloco dentro do chapéu. Arrumo as mangas para elas cobrirem todo o meu braço. Os dois me encaram descrentes.

— O quê?

— Como você aprendeu isso? — pergunta Chris.

— Por que vocês acham que ninguém nunca soube da filha dos Montnegro? Tive que aprender a me misturar.

— Tudo bem — Derek diz. — Se misture e não faça nada estúpido.

— Eu nunca faço — rebato com um sorriso enquanto me afasto.

Ele entende a mensagem das entrelinhas e revira os olhos. Apenas sorrio.

O navio que se aproxima tem o casco negro e as velas brancas, no topo do mastro central a bandeira pirata.

Os navios ficam paralelos e uma tábua serve de ponte.

O homem que pisa no navio faz meu sangue ferver e meus batimentos aumentarem.

Minha mão esquerda aperta o colar em meu pescoço e a outra procura a espada que não está ali. Dou um passo, pronta para fazer justiça com minhas próprias mãos nuas, no entanto, quando tento dar outro, uma mão segura meu braço.

— O que está fazendo? — pergunta Chris.

— Aquele homem deveria estar morto.

— O quê?

— Ele era o imediato do meu pai, o homem em quem meu pai mais confiava. E toda a tripulação morreu. Ele foi o homem que vendeu meus pais. Eu vou matá-lo.

Chris aperta ainda mais meu braço e minha chance de pegar o traidor sozinho acaba. Dois guarda-costas descem do navio e outros dois homens da tripulação de Derek entram na minha frente.

— Capitão Campbell.

O canalha é Capitão? Eu tenho que matá-lo!

— Capitão Evans. Acredito que não recebi minha parte no acordo. Achou a menina Montnegro?

Derek sorri e diz:

— Não encontrei nenhuma jovem com os traços que você descreveu.

— Tem certeza? Os olhos dos Montnegro são inconfundíveis.

— Se a menina estava lá, eu não a vi.

— Nesse caso... — O homem faz sinal para os guarda-costas avançarem. — Terei que pegar minha parte em joias, já que minha ajuda de convencer os oficiais a não levarem armas foi útil.

Os dois lacaios voltam cada um segurando um baú. A mandíbula de Derek se retrai, contudo, esse é o único sinal de protesto que ele dá.

Pelos deuses! Quem foi que deu um navio a essa criança?

As urnas vão para o outro navio e o homem de cabelo loiro, quase branco, diz:

— Se achar a garota, sempre poderá ter os seus tesouros de volta.

— Vou me lembrar disso.

— Foi um prazer fazer negócio com você, garoto — diz o homem. — Ah... Lembre-se de que as mulheres podem manipular melhor do que qualquer um. Homens são as mais fáceis presas — ele conclui, voltando para o próprio navio.

A embarcação se distancia, todavia, Derek só se manifesta quando o barco vira apenas um contorno mal feito.

Me solto do aperto de Chris e vou na direção do moreno.

— Foi por isso que me trouxe aqui? Não só por causa do colar, mas também por que eu sou parte de um acordo? — Minha voz sobe mais do que eu queria.

Ele não me responde.

— Por que eu estou aqui? — repito. — Por que ainda não conseguiu pegar isso? — Aponto o colar no pescoço. — Ou por que feri seu orgulho ontem e você quer se vingar?

Ele me encara e percebo que a tripulação se aglomerou ao nosso redor.

— Me fala! — Parece que ele me olha pela primeira vez desde que comecei a falar. — ME RESPONDA!

— Podia pelo menos fingir que está grata por eu não ter te entregado.

— Grata? EU IRIA MATÁ-LO! Aquele era o imediato do meu pai, o homem que meu pai mais confiava! Ninguém da tripulação sobreviveu! Aquele traidor vendeu meus pais! Mas você já sabia, não é?! “As más línguas dizem que eles foram traídos.” Não foi isso que você disse?

— Eu te protegi! — responde ele no mesmo tom de voz, alto. — Ele é mais experiente que você, mais forte que você. Ele te mataria aqui neste navio, se te visse. Não iria conseguir vencê-lo!

— Eu sou mais jovem, eu sou mais rápida e a mesma mão que ensinou aquele bastardo a manusear uma espada, me ensinou o dobro! EU DARIA CONTA!

Silabo cada letra.

— Você nem conseguiu ganhar de mim! Acha que ganharia dele?

— Em nenhuma das lutas eu estava planejando te matar!

— Você é arrogante! Jamais conseguiria ganhar dele! Antes de conseguir qualquer coisa, ele te matará como fez com seus pais.

Sem deixar minha mente funcionar, minha mão se levanta e novamente deixa a marca no rosto dele.

Viro de costas e os homens me dão passagem.

Durante a noite, uma tempestade violenta bate contra o Vingança da Rainha. Na cama, eu me reviro, sem esperança nenhuma de pegar no sono. Toda vez que fecho os olhos, o rosto de Tobias Campbell me assombra.

Fico em pé, pego a espada no baú e subo ao convés.

As gotas de chuva estão grossas e frias. Tiro a espada da bainha e começo a treinar os movimentos que meu pai há tanto tempo me ensinou. A água que cai do céu começa a ensopar minhas roupas e meu cabelo cola em minha nuca.

Um relâmpago ilumina o céu.

— Sabia que estava faltando alguma coisa.

Viro meu corpo a tempo de bloquear o ataque do moreno.

— Você a pegou na minha cabine, não foi? Foi assim que descobriu o que eu estava preparando naquela noite.

— Talvez. — Ele me dá outro golpe, desvio e ataco.

— Por que está aqui nessa chuva?

— Não te interessa — digo, quase acertando sua cabeça.

— Ainda está com raiva de mim, querida?

— Não me chame de “querida”! — resmungo enquanto desfiro golpes seguidos, conseguindo arrancar um pouco de sangue dos lábios dele.

Minha respiração está irregular e o coração descompassado.

— Cuidado! — Ele me empurra para o lado e lança um golpe.

Levanto-me para xingá-lo e lhe dar uma boa surra, mas qualquer uma das minhas ações se estagnam quando o vejo lutando contra Hector. Aperto o cabo da espada e entro na batalha.

— O que está fazendo, Hector?

— Esta garota tem que morrer! Campbell pegou dois baús por causa dessa menina e você não fez nada! Você protegeu a menina! Está cego por ela! Ela o enfeitiçou, capitão. Vou matá-la e entregar seu corpo ao Campbell, e te livrar do feitiço.

Bloqueio um golpe de Hector e recebo sua atenção.

— Se quer tentar me matar, lute contra mim.

— Jade... — começa Derek.

— Vamos logo, menininho. Venha tentar a sorte.

Ele esquece completamente Derek e se vira para mim. Percebo que usa duas espadas quando a da esquerda faz um corte em meu braço.

Bloqueio com minha espada as duas dele. Ele pode ser mais forte e maior, mas não tem técnica nenhuma.

Giro minha espada de lado e mergulho, passando-lhe uma rasteira. Ele cai com um barulho surdo e piso em suas mãos, fazendo-o largar as espadas e as chutando para longe. Levanto minha espada em cima da cabeça e o acerto no ombro, fundo o suficiente para sangrar e deixar mais uma cicatriz.

— Nunca, nunca mais, tente qualquer coisa contra mim, ou a próxima vez, minha espada irá para o coração... e não será um ferimento superficial.

Saio de cima dele e me viro. Tenho tempo de dar apenas um passo e escuto o barulho de algo batendo na madeira.

Viro e vejo Hector caído, com a adaga de Derek presa em seu corpo e a poucos centímetros da mão dele está outra faca.

— Você fala em matar Campbell, mas não conseguiria — diz Derek, retirando a adaga do corpo sem vida.

— É claro que conseguiria!

— Não, não conseguiria. Você não o matou. Mesmo ele te ameaçando, você o deixou viver.

— Eu lhe dei um aviso. Mostrei minha força e aquilo que eu podia fazer com ele...

— Ele iria te enfiar uma faca. Era ele ou você.

— Eu não entendo. Meu pai fazia isso e...

Olho para o chão, notando que a chuva espalhou o sangue e agora ele está sob meus pés. A cena me leva diretamente para a imagem do corpo do meu pai caído sem vida. Dou um pulo para trás e arfo como se tivesse corrido uma maratona. Meu coração dispara e minha visão fica com pontos pretos indo e voltando. Tenho calafrios, mesmo estando com calor.

— Jade? Você está bem?

— Pai... — digo, ofegando ainda mais, vendo o corpo inerte do meu pai na frente dos meus olhos.

Caio de joelhos olhando para o chão vermelho.

Derek levanta meu rosto e coloca minha cabeça contra o seu peito. Porém, minha respiração não volta ao normal. Levanto a cabeça e encaro seus olhos azuis.

— O que es-tá a-con-te-cen-do? — falo com dificuldade, sentindo como se o ar não entrasse em meus pulmões. Estou me afogando no seco.

— Tente se acalmar.

Ele pega minhas mãos e percebo que elas estão tremendo.

— Respire no mesmo ritmo que eu, tudo bem?!

Assinto e começo a acompanhar sua respiração. Quando ele inspira, eu faço o mesmo, e quando ele expira, eu o acompanho. Pouco a pouco, os calafrios somem e o calor também. Minhas mãos param de tremer, meu coração volta a bater no ritmo regular e, por fim, o ar finalmente volta aos meus pulmões.

— Melhorou?

— Obrigada.

— Não foi nada.

Ele percebe que ainda segura minhas mãos e as solta.

— Acho melhor você ir dormir.

— O que você vai fazer?

— Tenho que tirar o corpo de Hector dali.

— Quer ajuda?

— Vá dormir.

Fico de costas para ir para meu quarto.

— Jade. — Viro-me e o encaro. — Sua espada. — Ele me entrega a espada, e quando a pego, nossos dedos se tocam.

Caminho para a cabine e quando chego nela fecho a porta, então deito-me na cama. Fecho meus olhos e os abro imediatamente, ainda não acreditando que fui tão fraca. Já se passaram anos desde que eles morreram, não posso continuar sofrendo por isso. Se estivesse em uma batalha, eu com certeza estaria morta.

Por algum motivo estranho, me vem à mente o rosto de Seth, seu sorriso e suas últimas palavras. Afogar nas mentiras. Parece que ele estava certo, nos últimos dias eu já havia me afoguei várias vezes.

Abraço meu próprio corpo e me assusto com a saudade que fiquei dele. É errado eu ter saudade. Eu que escolhi partir seu coração, não tenho o direito de sentir sua falta. Eu não tenho nenhum direito.

Faço com que minha mente bloqueie pensamentos sobre Seth. Queria continuar me martirizando com todos os dilemas internos, porém, meu corpo cede ao sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou do que leu até agora? Vá descobrir quais aventuras Jade ainda viverá na sua versão online pela Amazon ou Kindle Unlimited , através do seguinte link:


https://www.amazon.com.br/dp/B09FKH927Q

Ou na sua versão física pelo seguinte link:

https://loja.uiclap.com/titulo/ua11112/

Continue acompanhado as novidades sobre essa série fantástica no ig:
@bea.bpereira



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas dos Descendentes : A Herdeira -DEGUSTAÇÃO" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.