O Best Seller de Emily Taylor escrita por God Save The Queen


Capítulo 7
Capítulo 7




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— Você tem certeza que é uma boa ideia? – perguntei pela milionésima vez.

— Emily, você tem que arriscar pelo menos uma vez na vida.

— Eu arrisco, mas caramba, vai dar uma hora da madrugada. – seu sorriso aumentou.

— Perfeito.

— Você é maluco, isso é perigoso.

— Claro que é perigoso, é Nova York. – ele claramente não estava me ouvindo, mas mesmo assim por algum motivo, estávamos nós em frente ao parque.

— E como você pretende entrar?

— Observe. – com um pequeno impulso, Logan simplesmente pulou a grade. Fiquei em choque. – Agora é sua vez.

— Você está brincando.

— Vamos Emily eu ajudo você. Dê distância e pule, eu estarei bem aqui pra te pegar.

— Eu não vou fazer isso.

— Bom, você tem duas opções: ou entrar aqui comigo ou ficar aí sozinha me esperando voltar.

— Isso é golpe baixo. – ele deu uma piscadela.

— Eu sei, agora, vamos. – respirei fundo e dei impulso. Emily Taylor, o que você está fazendo?

     No momento que eu pulei, só pensei: Vai ser tão vergonhoso quebrar todos os meus ossos dessa forma, mas por um milagre nada de ruim aconteceu. Logan realmente me pegou e me colocou no chão,(in)felizmente estava com tanto medo que nem me atentei o quão estranho era esse fato.

— Eu consegui. – eu estava visivelmente surpresa, o que Logan achava muito engraçado.

— Eu sabia que conseguiria. Vem, tenho que te mostrar uma coisa.

     Andei praticamente colocada em Logan o tempo todo, olhando para todos os lados, com medo de surgir algum serial killer do meio das árvores.

— Você parece tensa. – observou sabiamente.

— Claro que eu estou tensa. Parece que eu estou dentro do início de um episódio de CSI. E sempre são os jovens imprudentes que acabam mortos. – Logan soltou uma gargalhada.

— Não se preocupe, a gente sempre pode sair correndo, gritar ou nos esconder.

— Ah, claro porque isso sempre dar certo.

— Você deveria me dar mais credibilidade.

— Está cheio de neve.

— Deve ser porque estava nevando. – me virei para encará-lo.

— É mesmo?

— Sim, eu juro. Agora um pouquinho de história: Você sabia que está pisando em um antigo cemitério? – meu corpo gelou.

— Como é?

— Isso mesmo, entre 1797-1825 foram enterradas mais de 20 mil pessoas, principalmente durante as epidemias de febre amarela.

— Sabe quando eu disse que queria fazer coisas dignas dos livros? Eu queria algo mais Jane Austen e menos Stephen King.

— E fica ainda melhor. Olha para a sua direita. Essa é a Árvore dos Enforcados (Hangman’s Elm), ela é a árvore mais antiga de Nova York com mais de 300 anos. Acho que o nome é auto explicativo.

— Você deveria ter me falado que queria fazer um circuito macabro por Nova York. – ele deu de ombros.

— Não quero, mas achei que era importante registrar todos os fatos históricos importantes antes de te mostrar o que de fato quero mostrar.

— Não sei se quero saber aonde quer chegar.

— Confia em mim, Emily Taylor. – Logan estendia sua mão com confiança e um sorriso, contrariando o bom senso a peguei.

     Caminhamos em silêncio, se ouvia com muita clareza os barulhos da Quinta Avenida. Morar na cidade que nunca dorme tem algumas vantagens, mas ás vezes com toda a agitação fica difícil até de ouvir os próprios pensamentos.

— Feche os olhos, senhora Taylor.

— Pra que? – o Adônis parou na minha frente.

— Que tipo de escritora de romance é você? Cadê o romantismo? – meio a contragosto acabei fechando os olhos.

— Desculpe se estou estragando os planos.

— Não, não desculpo. Você me pediu para surpreendê-la, então me deixe fazer isso.

— Não estar no controle é difícil pra mim, me perdoe.

— Só dessa vez. Pois bem, agora eu vou pegar as suas mãos e te guiar. Nada de abrir o olho, eu vou saber se abrir.

— Tá bem.

     Era muito difícil pra mim seguir sua orientação, porque eu tinha que confiar totalmente nele e eu mal o conhecia. Ainda não tinha total certeza se ele era ou não um psicopata.

— Agora pare aí. Quando eu disser já, abra o olho.

— Estou no aguardo. – Logan soltou as minhas duas mãos.

— Aonde você vai?

— Relaxa, Emily Taylor. Se eu quisesse te matar, já teria feito isso.

— Não sei se consigo relaxar depois disso. – ouvi sua risada um pouco distante

— Não abra o olho. – provavelmente seria minha curiosidade que me mataria. Depois do que pareceram horas, mas provavelmente foram apenas alguns segundos, ele pegou uma das minhas mãos e parou ao meu lado.

— Já.

     Abri o olho devagar. Estávamos em frente à fonte no centro do parque, mas ela estava ligada e acesa. Ela era ainda mais linda a noite com todas as luzes direcionadas a ela e mais nada.

— Como você fez isso?

— Um mágico nunca revela seus segredos.

— É incrível.

— Eu sei. Vem aqui. – com a mão que segurava a minha, ele me puxou pra perto.

— O que você está fazendo?

— Você sempre faz tantas perguntas?

— Já disse, eu não gosto de não estar no controle.

— Pois acostume-se a isso. – Logan segurou a minha cintura com a mão livre enquanto segurava minha mão.

— Está me chamando pra dançar? – ele sorriu.

— Sem dúvidas.

— Mas está cheio de neve.

— Seria o Sherlock Holmes na minha frente? – fiz uma careta.

— Você não acha que vão acabar encontrando a gente com a fonte acesa e ligada?

— Tenho certeza que sim, temos uns 15 minutos, no máximo. – meu corpo todo ficou tenso.

— Eu sei que estou ficando repetitivo, mas você tem que relaxar, senhora Taylor. – Logan começou a me conduzir em uma dança lenta.

— Não tem música.

— Mais uma prova da sua perspicácia.

— Tá bem, tá bem. Eu posso imaginar uma.

— Agora sim está agindo como uma escritora. – não consegui evitar não revirar os olhos. – Mas vou facilitar as coisas pra você.

     E para minha surpresa, ele se aproximou do meu ouvido e começou a cantarolar They Can’t Take that Away from Me. Automaticamente meu corpo começou a relaxar e eu me aproximei ainda mais dele, encostei minha cabeça em seu peito e me deixei levar. Frank Sinatra combinando com praticamente tudo daquele cenário. Logan conduzia os passos com perfeição e eu não conseguia parar de sorrir. Dançamos dando a volta na fonte com passos animados e giros, enquanto eu intercalava sorrisos e risadas que o faziam parar de cantar momentaneamente. E pela primeira vez em muito tempo eu queria fazer o tempo congelar.

     Paramos novamente de frente para ele e para o arco de George Washington (que imitava o Arco do Triunfo, de Paris). Os olhos cinza de Logan brilhavam de uma forma única e eu me segurava a ele com força e antes que eu pudesse sequer processar comecei a me aproximar do seu rosto, afinal ele me fez querer beijá-lo. Eu sentia um frio na barriga que eu nunca tinha sentido antes e isso só deixava as coisas mais interessantes. Porém antes que eu pudesse encostar meus lábios nos dele, ouvimos um barulho vindo de uma das grades de entrada.

— Acho que nos encontraram. – falou ele e eu me afastei rapidamente fazendo meu corpo reclamar da falta de calor.

— O que vamos fazer?

— Vai ali para trás da luz do Arco, na parte direita.

— O que você vai fazer?

— Vou desligar tudo. Vai logo.

     Corri em direção ao lugar em que ele me recomendou e antes que eu chegasse lá, as luzes se apagaram e parei de ouvir o barulho da fonte. Me escondi e esperei, alguns minutos depois Logan parou do meu lado e indicou para que eu fizesse silêncio. E foi nesse momento que eu vi dois policiais com lanternas chegando em frente a fonte.

— Está vendo alguma coisa? – perguntou o policial nº 1.

— Não. Quem você acha que foi?

— Não faço ideia. Quem seria tão burro a ponto de ligar a fonte? – me deu uma vontade grande de rir. E Logan deve ter percebido, pois segurou minha boca.

— Seja quem for já deve estar longe.

— Você procura pela direita e eu vou pela esquerda. Na volta nos encontramos aqui, qualquer coisa estou com o rádio.

— Okay. – vimos os policiais sumirem em direção a ambos os lados do parque e Logan finalmente largou minha boca.

— Ótimo, o que vamos fazer agora? – perguntei em um sussurro e para minha surpresa, mais uma vez, ele sorria.

— Vem aqui. – o segui para a lateral do Arco e paramos em frente a uma pequena porta.

— O que é isso? – perguntei.

— Uma porta. – respirei fundo e tentei sorrir.

— Certo e aonde que ela dá?

— Você já vai ver. – por um momento ele tentou abri-la, mas estava claramente trancada.

— E agora?

— Me empresta um grampo.

— O que te faz pensar que eu tenho um grampo?

— Você tem ou não tem? – revirei os olhos.

— Pra sua sorte, eu tenho. Mas poderia não ter. Não é só porque eu sou uma mulher que...

— Você consegue ficar quieta por alguns minutos? – meio a contragosto tirei um do meu cabelo e o entreguei. – A ideia de fazer algo romântico e digno de livros, foi sua, lembra? Se não fosse por isso, poderíamos estar tranquilos na sua casa, fazendo sabe se lá o que. – mais uma vez meu corpo se arrepiou.

— Como se eu fosse deixar você ficar na minha casa até essa hora. – embora minha ideia fosse falar em um tom atrevido, saiu mais baixo e mais trêmulo do que eu queria, o que o fez sorrir.

— Agora eu entendo porque você ler tanto Jane Austen. Tenta experimentar uma coisa nova, como Cinquenta Tons de Cinza.

— Você é nojento. – ele parecia se controlar muito para não rir alto. – E anda logo com isso.

— Só mais um instante. – e como mágica a porta abriu. – Voilà.

— Como fez isso? – Logan ligou a lanterna do celular e entrou me puxando com ele.

     Estávamos diante de uma escada de madeira bem estreita e bastante macabra. Parecia infinita, o que não me animava em nada.

— Respondendo a sua pergunta, foi o meu pai que me ensinou. Ele ficava treinando arrombar portas quando eu era mais novo por causa de um dos livros dele, sinceramente não me pergunte exatamente o porquê, mas graças a isso, estamos aqui.

— Certo, e agora?

— Agora vamos subir.

— Sério?

— Emily, isso está ficando cansativo. – ele simplesmente começou a subir, liguei a lanterna do meu celular e não tive escolha se não segui-lo.

 >>o

— Logan, eu não aguento mais subir nenhum degrau. – minhas pernas estavam me matando e eu estava suando, muito. Já tinha tirando o casaco, o cachecol e por mais que tenha sido difícil, o sapato, pois o salto não tinha sido feito para subir escadas daquele jeito.

— Eu sei, já estamos chegando.

— Espero muito que valha a pena.

— Depois de tudo o que aconteceu você deveria saber que vai valer. – não tive como argumentar contra isso.

     Mais alguns minutos se passaram antes que finalmente nós encontrássemos uma porta que também estava trancada. Entreguei o grampo novamente pra ele e esperei.

— Antes de eu abrir a porta é melhor você colocar seu casaco e todo o resto de novo.

— Tá bem. – foi a vez dele de virar pra mim surpreso.

— Sem contestações? – dei de ombros.

— Considere-se um sortudo.

— Eu me considero. – ele devolveu o grampo pra mim e abriu a porta devagar.

     O que eu vi me fez ficar sem palavras. Estávamos em um terraço que dava para o parque e o Greenwich Village. As luzes da cidade e a neve faziam a vista ficar deslumbrante.

— Uau.

— Eu sei, é incrível.

— Como você soube desse lugar?

— Por acaso eu li sobre na internet, o que me deixou bastante curioso para visitar.

     Cheguei perto da beirada e respirei fundo, estava bastante frio e o ar gelado zumbia devido à altura, mas mesmo assim, valia a pena. Logan me abraçou e por um tempinho ficamos em silêncio.

— Desculpe. – ele parecia surpreso.

— Pelo que?

— Por duvidar da sua capacidade de tornar essa noite inesquecível. – seu sorriso parecia brilhar mais do que os holofotes da cidade.

— Tudo bem, mas ainda falta uma coisa.

— E o que é? – e antes que eu percebesse, ele me beijou.

     De repente nada importava. Nem o frio, nem o vento, nem a hora, nem as luzes, nem a neve. Era só eu e ele. Meu corpo estava sendo aquecido em cada cantinho, sua mão apertava levemente minha cintura e fazia com que eu não derretesse. Era lento e suave, firme e imponente, era mar e lagoa. E por um momento viramos um só. Até que acabou.

     Por um momento eu não sabia o que dizer, então fiquei olhando para ele em silêncio, em completo deleite. Logan fazia carinho no meu rosto e tinha um sorriso de canto de boca que me fazia não querer nem piscar.

— Nós temos que ir. – disse.

— Já? – ele sorriu.

— Infelizmente sim. Além de ficar mais frio a cada segundo, já deve ser quase três horas da manhã.

— Certo, tem razão.

— Vem, vou precisar do seu grampo de novo para fazer o caminho inverso.

— Tudo bem.

>>o

     No caminho de volta, ninguém sabia muito bem o que dizer. Descemos as escadas, Logan trancou a porta e pulamos de volta para fora do parque. Seguimos dessa vez em direção a Quinta Avenida por ser mais movimentada e conseguirmos pegar logo um táxi. Parecia que era apenas 20 hrs com toda a agitação, mas era de fato três horas da manhã. Mesmo com todo o constrangimento não soltei sua mão.

— Então... – comecei sem saber muito bem como continuar. Tínhamos acabado de pegar o táxi e dentro de poucos minutos, eu estaria em casa.

— Então...

— Bom, obrigada pela noite. Foi incrível, muito melhor do que eu poderia imaginar.

— Disponha. Foi incrível pra mim também.

— Você... hum... quer ficar lá em casa? Por conta da hora e tudo mais? – simplesmente saiu, antes que eu que conseguisse refrear. Por um momento ele pareceu pensar.

— Tem certeza? – claro que não.

— Sim, claro. – mais uns instantes de silêncio.

— Tudo bem.

Ah meu Deus, o que eu estou fazendo? — como sempre minha consciência apareceu pra me responder.

Terminando a noite do jeito certo.


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