O Best Seller de Emily Taylor escrita por God Save The Queen
— Você tem certeza que é uma boa ideia? – perguntei pela milionésima vez.
— Emily, você tem que arriscar pelo menos uma vez na vida.
— Eu arrisco, mas caramba, vai dar uma hora da madrugada. – seu sorriso aumentou.
— Perfeito.
— Você é maluco, isso é perigoso.
— Claro que é perigoso, é Nova York. – ele claramente não estava me ouvindo, mas mesmo assim por algum motivo, estávamos nós em frente ao parque.
— E como você pretende entrar?
— Observe. – com um pequeno impulso, Logan simplesmente pulou a grade. Fiquei em choque. – Agora é sua vez.
— Você está brincando.
— Vamos Emily eu ajudo você. Dê distância e pule, eu estarei bem aqui pra te pegar.
— Eu não vou fazer isso.
— Bom, você tem duas opções: ou entrar aqui comigo ou ficar aí sozinha me esperando voltar.
— Isso é golpe baixo. – ele deu uma piscadela.
— Eu sei, agora, vamos. – respirei fundo e dei impulso. Emily Taylor, o que você está fazendo?
No momento que eu pulei, só pensei: Vai ser tão vergonhoso quebrar todos os meus ossos dessa forma, mas por um milagre nada de ruim aconteceu. Logan realmente me pegou e me colocou no chão,(in)felizmente estava com tanto medo que nem me atentei o quão estranho era esse fato.
— Eu consegui. – eu estava visivelmente surpresa, o que Logan achava muito engraçado.
— Eu sabia que conseguiria. Vem, tenho que te mostrar uma coisa.
Andei praticamente colocada em Logan o tempo todo, olhando para todos os lados, com medo de surgir algum serial killer do meio das árvores.
— Você parece tensa. – observou sabiamente.
— Claro que eu estou tensa. Parece que eu estou dentro do início de um episódio de CSI. E sempre são os jovens imprudentes que acabam mortos. – Logan soltou uma gargalhada.
— Não se preocupe, a gente sempre pode sair correndo, gritar ou nos esconder.
— Ah, claro porque isso sempre dar certo.
— Você deveria me dar mais credibilidade.
— Está cheio de neve.
— Deve ser porque estava nevando. – me virei para encará-lo.
— É mesmo?
— Sim, eu juro. Agora um pouquinho de história: Você sabia que está pisando em um antigo cemitério? – meu corpo gelou.
— Como é?
— Isso mesmo, entre 1797-1825 foram enterradas mais de 20 mil pessoas, principalmente durante as epidemias de febre amarela.
— Sabe quando eu disse que queria fazer coisas dignas dos livros? Eu queria algo mais Jane Austen e menos Stephen King.
— E fica ainda melhor. Olha para a sua direita. Essa é a Árvore dos Enforcados (Hangman’s Elm), ela é a árvore mais antiga de Nova York com mais de 300 anos. Acho que o nome é auto explicativo.
— Você deveria ter me falado que queria fazer um circuito macabro por Nova York. – ele deu de ombros.
— Não quero, mas achei que era importante registrar todos os fatos históricos importantes antes de te mostrar o que de fato quero mostrar.
— Não sei se quero saber aonde quer chegar.
— Confia em mim, Emily Taylor. – Logan estendia sua mão com confiança e um sorriso, contrariando o bom senso a peguei.
Caminhamos em silêncio, se ouvia com muita clareza os barulhos da Quinta Avenida. Morar na cidade que nunca dorme tem algumas vantagens, mas ás vezes com toda a agitação fica difícil até de ouvir os próprios pensamentos.
— Feche os olhos, senhora Taylor.
— Pra que? – o Adônis parou na minha frente.
— Que tipo de escritora de romance é você? Cadê o romantismo? – meio a contragosto acabei fechando os olhos.
— Desculpe se estou estragando os planos.
— Não, não desculpo. Você me pediu para surpreendê-la, então me deixe fazer isso.
— Não estar no controle é difícil pra mim, me perdoe.
— Só dessa vez. Pois bem, agora eu vou pegar as suas mãos e te guiar. Nada de abrir o olho, eu vou saber se abrir.
— Tá bem.
Era muito difícil pra mim seguir sua orientação, porque eu tinha que confiar totalmente nele e eu mal o conhecia. Ainda não tinha total certeza se ele era ou não um psicopata.
— Agora pare aí. Quando eu disser já, abra o olho.
— Estou no aguardo. – Logan soltou as minhas duas mãos.
— Aonde você vai?
— Relaxa, Emily Taylor. Se eu quisesse te matar, já teria feito isso.
— Não sei se consigo relaxar depois disso. – ouvi sua risada um pouco distante
— Não abra o olho. – provavelmente seria minha curiosidade que me mataria. Depois do que pareceram horas, mas provavelmente foram apenas alguns segundos, ele pegou uma das minhas mãos e parou ao meu lado.
— Já.
Abri o olho devagar. Estávamos em frente à fonte no centro do parque, mas ela estava ligada e acesa. Ela era ainda mais linda a noite com todas as luzes direcionadas a ela e mais nada.
— Como você fez isso?
— Um mágico nunca revela seus segredos.
— É incrível.
— Eu sei. Vem aqui. – com a mão que segurava a minha, ele me puxou pra perto.
— O que você está fazendo?
— Você sempre faz tantas perguntas?
— Já disse, eu não gosto de não estar no controle.
— Pois acostume-se a isso. – Logan segurou a minha cintura com a mão livre enquanto segurava minha mão.
— Está me chamando pra dançar? – ele sorriu.
— Sem dúvidas.
— Mas está cheio de neve.
— Seria o Sherlock Holmes na minha frente? – fiz uma careta.
— Você não acha que vão acabar encontrando a gente com a fonte acesa e ligada?
— Tenho certeza que sim, temos uns 15 minutos, no máximo. – meu corpo todo ficou tenso.
— Eu sei que estou ficando repetitivo, mas você tem que relaxar, senhora Taylor. – Logan começou a me conduzir em uma dança lenta.
— Não tem música.
— Mais uma prova da sua perspicácia.
— Tá bem, tá bem. Eu posso imaginar uma.
— Agora sim está agindo como uma escritora. – não consegui evitar não revirar os olhos. – Mas vou facilitar as coisas pra você.
E para minha surpresa, ele se aproximou do meu ouvido e começou a cantarolar They Can’t Take that Away from Me. Automaticamente meu corpo começou a relaxar e eu me aproximei ainda mais dele, encostei minha cabeça em seu peito e me deixei levar. Frank Sinatra combinando com praticamente tudo daquele cenário. Logan conduzia os passos com perfeição e eu não conseguia parar de sorrir. Dançamos dando a volta na fonte com passos animados e giros, enquanto eu intercalava sorrisos e risadas que o faziam parar de cantar momentaneamente. E pela primeira vez em muito tempo eu queria fazer o tempo congelar.
Paramos novamente de frente para ele e para o arco de George Washington (que imitava o Arco do Triunfo, de Paris). Os olhos cinza de Logan brilhavam de uma forma única e eu me segurava a ele com força e antes que eu pudesse sequer processar comecei a me aproximar do seu rosto, afinal ele me fez querer beijá-lo. Eu sentia um frio na barriga que eu nunca tinha sentido antes e isso só deixava as coisas mais interessantes. Porém antes que eu pudesse encostar meus lábios nos dele, ouvimos um barulho vindo de uma das grades de entrada.
— Acho que nos encontraram. – falou ele e eu me afastei rapidamente fazendo meu corpo reclamar da falta de calor.
— O que vamos fazer?
— Vai ali para trás da luz do Arco, na parte direita.
— O que você vai fazer?
— Vou desligar tudo. Vai logo.
Corri em direção ao lugar em que ele me recomendou e antes que eu chegasse lá, as luzes se apagaram e parei de ouvir o barulho da fonte. Me escondi e esperei, alguns minutos depois Logan parou do meu lado e indicou para que eu fizesse silêncio. E foi nesse momento que eu vi dois policiais com lanternas chegando em frente a fonte.
— Está vendo alguma coisa? – perguntou o policial nº 1.
— Não. Quem você acha que foi?
— Não faço ideia. Quem seria tão burro a ponto de ligar a fonte? – me deu uma vontade grande de rir. E Logan deve ter percebido, pois segurou minha boca.
— Seja quem for já deve estar longe.
— Você procura pela direita e eu vou pela esquerda. Na volta nos encontramos aqui, qualquer coisa estou com o rádio.
— Okay. – vimos os policiais sumirem em direção a ambos os lados do parque e Logan finalmente largou minha boca.
— Ótimo, o que vamos fazer agora? – perguntei em um sussurro e para minha surpresa, mais uma vez, ele sorria.
— Vem aqui. – o segui para a lateral do Arco e paramos em frente a uma pequena porta.
— O que é isso? – perguntei.
— Uma porta. – respirei fundo e tentei sorrir.
— Certo e aonde que ela dá?
— Você já vai ver. – por um momento ele tentou abri-la, mas estava claramente trancada.
— E agora?
— Me empresta um grampo.
— O que te faz pensar que eu tenho um grampo?
— Você tem ou não tem? – revirei os olhos.
— Pra sua sorte, eu tenho. Mas poderia não ter. Não é só porque eu sou uma mulher que...
— Você consegue ficar quieta por alguns minutos? – meio a contragosto tirei um do meu cabelo e o entreguei. – A ideia de fazer algo romântico e digno de livros, foi sua, lembra? Se não fosse por isso, poderíamos estar tranquilos na sua casa, fazendo sabe se lá o que. – mais uma vez meu corpo se arrepiou.
— Como se eu fosse deixar você ficar na minha casa até essa hora. – embora minha ideia fosse falar em um tom atrevido, saiu mais baixo e mais trêmulo do que eu queria, o que o fez sorrir.
— Agora eu entendo porque você ler tanto Jane Austen. Tenta experimentar uma coisa nova, como Cinquenta Tons de Cinza.
— Você é nojento. – ele parecia se controlar muito para não rir alto. – E anda logo com isso.
— Só mais um instante. – e como mágica a porta abriu. – Voilà.
— Como fez isso? – Logan ligou a lanterna do celular e entrou me puxando com ele.
Estávamos diante de uma escada de madeira bem estreita e bastante macabra. Parecia infinita, o que não me animava em nada.
— Respondendo a sua pergunta, foi o meu pai que me ensinou. Ele ficava treinando arrombar portas quando eu era mais novo por causa de um dos livros dele, sinceramente não me pergunte exatamente o porquê, mas graças a isso, estamos aqui.
— Certo, e agora?
— Agora vamos subir.
— Sério?
— Emily, isso está ficando cansativo. – ele simplesmente começou a subir, liguei a lanterna do meu celular e não tive escolha se não segui-lo.
>>o
— Logan, eu não aguento mais subir nenhum degrau. – minhas pernas estavam me matando e eu estava suando, muito. Já tinha tirando o casaco, o cachecol e por mais que tenha sido difícil, o sapato, pois o salto não tinha sido feito para subir escadas daquele jeito.
— Eu sei, já estamos chegando.
— Espero muito que valha a pena.
— Depois de tudo o que aconteceu você deveria saber que vai valer. – não tive como argumentar contra isso.
Mais alguns minutos se passaram antes que finalmente nós encontrássemos uma porta que também estava trancada. Entreguei o grampo novamente pra ele e esperei.
— Antes de eu abrir a porta é melhor você colocar seu casaco e todo o resto de novo.
— Tá bem. – foi a vez dele de virar pra mim surpreso.
— Sem contestações? – dei de ombros.
— Considere-se um sortudo.
— Eu me considero. – ele devolveu o grampo pra mim e abriu a porta devagar.
O que eu vi me fez ficar sem palavras. Estávamos em um terraço que dava para o parque e o Greenwich Village. As luzes da cidade e a neve faziam a vista ficar deslumbrante.
— Uau.
— Eu sei, é incrível.
— Como você soube desse lugar?
— Por acaso eu li sobre na internet, o que me deixou bastante curioso para visitar.
Cheguei perto da beirada e respirei fundo, estava bastante frio e o ar gelado zumbia devido à altura, mas mesmo assim, valia a pena. Logan me abraçou e por um tempinho ficamos em silêncio.
— Desculpe. – ele parecia surpreso.
— Pelo que?
— Por duvidar da sua capacidade de tornar essa noite inesquecível. – seu sorriso parecia brilhar mais do que os holofotes da cidade.
— Tudo bem, mas ainda falta uma coisa.
— E o que é? – e antes que eu percebesse, ele me beijou.
De repente nada importava. Nem o frio, nem o vento, nem a hora, nem as luzes, nem a neve. Era só eu e ele. Meu corpo estava sendo aquecido em cada cantinho, sua mão apertava levemente minha cintura e fazia com que eu não derretesse. Era lento e suave, firme e imponente, era mar e lagoa. E por um momento viramos um só. Até que acabou.
Por um momento eu não sabia o que dizer, então fiquei olhando para ele em silêncio, em completo deleite. Logan fazia carinho no meu rosto e tinha um sorriso de canto de boca que me fazia não querer nem piscar.
— Nós temos que ir. – disse.
— Já? – ele sorriu.
— Infelizmente sim. Além de ficar mais frio a cada segundo, já deve ser quase três horas da manhã.
— Certo, tem razão.
— Vem, vou precisar do seu grampo de novo para fazer o caminho inverso.
— Tudo bem.
>>o
No caminho de volta, ninguém sabia muito bem o que dizer. Descemos as escadas, Logan trancou a porta e pulamos de volta para fora do parque. Seguimos dessa vez em direção a Quinta Avenida por ser mais movimentada e conseguirmos pegar logo um táxi. Parecia que era apenas 20 hrs com toda a agitação, mas era de fato três horas da manhã. Mesmo com todo o constrangimento não soltei sua mão.
— Então... – comecei sem saber muito bem como continuar. Tínhamos acabado de pegar o táxi e dentro de poucos minutos, eu estaria em casa.
— Então...
— Bom, obrigada pela noite. Foi incrível, muito melhor do que eu poderia imaginar.
— Disponha. Foi incrível pra mim também.
— Você... hum... quer ficar lá em casa? Por conta da hora e tudo mais? – simplesmente saiu, antes que eu que conseguisse refrear. Por um momento ele pareceu pensar.
— Tem certeza? – claro que não.
— Sim, claro. – mais uns instantes de silêncio.
— Tudo bem.
Ah meu Deus, o que eu estou fazendo? — como sempre minha consciência apareceu pra me responder.
Terminando a noite do jeito certo.
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