Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 6
Curto-circuito




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Eu tinha a impressão de que usava saltos há dias, mas acho que eu não estava na festa nem há duas horas. Depois de ficar com um sorriso congelado para todos os amigos e conhecidos de Jean, minha perna começava a tremer.

— Querida, não quer ir dar uma olhada pela festa? Têm garotas que acredito que podem se dar bem. – meu padrinho me disse depois de alguém nos deixar por meros segundos.

— Eu não sei bem – respondi e olhei a minha volta. – Eu queria mesmo procurar um... banheiro.

Jean Burnier me deu um caloroso sorriso e puxou pela mão um garoto que estava próximo a nós. – Senhor DuVille, poderia mostrar o salão à minha afilhada?

O rapaz estava com o cabelo recém cortado, mas aparentava ser um loiro escuro. Seus olhos avaliaram-me descaradamente e evitei bufar.

— Claro, senhor Burnier. Será um prazer.

O senhor DuVille, como meu padrinho tinha chamado, embora eu achasse estranho chamar alguém que parecia ter a minha idade de senhor, me concedeu seu braço que aceitei relutantemente somente porque Jean sorria para nós.

Fiquei calada sob os olhos atentos do garoto ao meu lado.

— Então, senhorita...?

— Pode me chamar de Serena. – respondi. – Você é o senhor DuVille?

— Eu gostaria que chamasse meu pai assim – ele riu. – Mas não posso fugir dos cumprimentos cerimoniosos, querida Serena. Chame-me de Adrien, então.

Assenti e segui com Adrien pelo salão e pude dar uma boa olhada no ambiente e, se ainda era possível, me deslumbrar mais.

— Esta casa é maravilhosa.

— Também acho, mesmo que as outras perto daqui sejam igualmente grandes. – Adrien me parou perto da mesa que servia algumas comidas que pareciam trouxinhas verdes. Acho que fiz uma careta tentando identificar o que era.

— Você quer um copo de champanhe?

— Não. – respondi e me lembrei do motivo que fez eu estar ali com Adrien. – Você poderia me dizer onde fica o banheiro?

Adrien me lançou um sorriso maroto por trás de sua taça de champanhe.

— Fica lá em cima. Vamos.

Acompanhei Adrien e fiquei servindo de ouvinte para seus, eu supus, flertes, e ele fazia isso com tanta naturalidade que entendi o perfil dele. Era um galanteador.

Quando estávamos em um corredor, Adrien me indicou uma porta e segui.

Eu não deveria ficar surpresa pelo fato de até o banheiro ser impressionante, mas foi inevitável. Um grande espelho tomava conta da parede e a pia tinha sensor. Olhei para mim no espelho e pude não reconhecer a garota de sempre.

 Eu vivia com meu cabelo preso, pois facilitava o trabalho, raramente usava maquiagem ou roupas de festa, no entanto lá estava eu, refletida com um belo penteado e um vestido justo que me deixava tão bonita que não imaginei que fosse possível algum dia.

Como minha vida tinha, drasticamente, mudado? Meus olhos eram as únicas coisas que me faziam recordar minha própria vida antes de todo aquele mundo glamouroso e foi por causa deles que o sentimento de descobrir acerca do que se passava comigo retornou.

— Serena! – ouvi a voz de Adrien pelo corredor quando eu já estava me dirigindo para as escadas a fim de voltar à presença de Jean e conversarmos.

— Ah, olá.

— Já ia embora?

— Eu lembrei que precisava falar com meu padrinho.

— Antes de você ir... Que tal ver algo maravilhoso daqui de cima?

Estranhei a sugestão de Adrien e após ver minha relutância em acompanhá-lo, o rapaz foi na frente pelo corredor e entrou em uma salinha. Fui atrás e entrei lentamente em um cubículo, que possuía, em vez de uma parede de frente para porta, uma janela de vidro que abrangia quase todo o cenário do salão.

— Uau.

Não contive minha surpresa ao observar todos conversando e bebendo lá embaixo.

— Eles podem nos ver?

— Dificilmente, porque essa cabine foi projetada para olhar a todos e ninguém vê-la. Também porque abrigam aqui o sistema elétrico do salão.

Dei dois passos para frente e Adrien me acompanhou.

— Eu já disse que a senhorita está linda?

Prendi uma risada diante da voz repentinamente rouca de Adrien ao meu lado. Estávamos próximos porque o espaço era pequeno, mas eu sabia que não queria me envolver com ele, mesmo que parecesse ser um modelo saído de uma revista.

— Não, mas obrigada pelo elogio. – virei o rosto para frente e voltei a observar o salão.

— Estão comentando que é nova, devo imaginar a surpresa que é estar aqui.

— É verdade.

— Serena, - Adrien continuou. – se precisar de ajuda para conhecer o principado ou tiver dúvidas sobre esse monte de realeza, pode contar comigo.

Anui e quando decidi que estava na hora de descer, ao virar-me, o rosto de Adrien estava muito próximo e sua mão levantava para, provavelmente, tocar meu rosto. Por instinto, rebati sua mão e me afastei, porém a taça de champanhe de Adrien estava posta ao lado da mesa elétrica e o caminho que sua mão fez ao ser rebatida pela minha foi certeiro.

O líquido borbulhante se derramou sobre alguns botões e minha intuição disse que não foi nada bom.

— Caramba! – ouvi Adrien exclamar no escuro, pois instantaneamente a luz apagou. – Preciso ligar o gerador.

— Ai, meu Deus! Estragamos essa festa! Minha primeira festa que eu nem sei quem são todas as pessoas! O que você fez? – minha voz estava estridente e eu não acreditava que realmente aquilo acontecia comigo.

— Nós fizemos! Você quem bateu na minha mão! – Adrien respondeu simultaneamente ao acender das luzes.

— Porque você tentou me beijar, seu idiota!

— Geralmente não recusam meus beijos – Adrien comentou normalmente, parecendo confuso.

— Toda regra tem exceção! – eu gritei com ele e corri daquela sala que parecia diminuir a todo segundo.

 

°°*°°*°°*°°*

Depois de eu conhecer o filho da dona da festa, minha meta foi estar a três passos – quiçá quatro! – de Adrien, que por acaso era amigo de Conrad. O que eu estranhava, pois o filho da anfitriã aparentava ser educado e divertido em oposição ao amigo.

Respirei fundo ao descer quase correndo novamente a escada e, como estava próxima a mesa de comidas, aproveitei para engolir umas quatros trouxinhas verdes. Até que não eram ruins.

Eu estava pensando no que poderia fazer para ter a atenção de meu padrinho somente para mim e que pudesse convencê-lo a me contar o que sabia, quando alguém me cutucou.

— Olá! – o rosto sorridente de Victorine, a ruiva de mais cedo, estava ali.

— Ahn... Oi! – consegui dizer após engolir rapidamente a comida, e Victorine riu a me ver com as bochechas cheias.

— Está uma delícia, não é? – ela comentou e pegou um. – Está gostando da festa, Serena?

— Até que estou...

— Que bom! Se me permite dizer, eu notei que você não é muito de estar em festas.

— Bingo. – sorri para a ruiva. – Você curte?

— Digamos que estou acostumada. Meu pai virou diretor do Conselho Nacional quando eu entrava na adolescência, então cresci em festas como esta.

— Hm... Não sei se eu diria que é sorte. – nós duas rimos.

— Quer dizer que você é a afilhada de Jean. Não sabíamos que ele tinha uma, mas aposto que está sendo muito bom para ele.

Arquei as sobrancelhas diante da cara de condolências de Victorine.

— Como assim, Victo..

— Vic!

— Sim, desculpa, Vic. Como assim está sendo bom?

— Ele era um senhor muito sozinho, pelo o que podíamos notar, Serena. Depois de deixar o Conselho e a esposa falecer, todos ficamos preocupados com ele porque é muito querido, porém ele insistia em querer um tempo de luto, então só esperávamos que ficasse tudo bem.

Ora, ora. Eu tinha encontrado alguém que poderia me ajudar já que Jean não cooperava.

— Ah, Vic, eu não sabia da perda de meu padrinho. – iniciei. – Não mantivemos contato por muito tempo, infelizmente.

— Oh, sim, perdão, Serena.

— Não é nada, mas eu adoraria saber o que aconteceu com ele depois disso. Será que tem como conversarmos melhor depois? – eu a interroguei e tentei parecer não desesperada por informações e nem demonstrar que Jean era um total desconhecido para mim há dois dias.

— Podemos sim, Serena, não vejo problema! E será ótimo conversar com você.

O sorriso efusivo da ruiva me acalentou como uma velha amiga e fiquei feliz por achar alguém que parecia verdadeiramente gentil.

— Também será ótimo para mim, Vic. Amanhã pode ser?

Vic concordou e passamos a conversar sobre os vários assuntos que ela sabia sobre moda, etiquetas e afins. Inclusive demos várias risadas de socialites presentes ali e que mereciam uma coluna de fofoca das boas nas revistas!

Ao fim, percebi que Victorine tinha me trazido uma esperança acerca daquele novo mundo.


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