Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 41
As Minhas Mãos Têm Cheiro de Sangue




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"Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho."

Dante Alighieri

Capítulo 37 –  As Minhas Mãos Têm Cheiro de Sangue

CONRAD

Eu não poderia descrever como me sentia completo, como se tudo se encaixasse pela primeira vez em minha vida. Parei o carro na porta de casa e ao observar meu rosto no retrovisor, vi o sorriso que eu tinha orgulho de ostentar. E não era só eu quem achava isso.

— Bom dia, Conrad - Ceci me abordou assim que pisei dentro de casa. - O que houve para que sua boca esteja próxima a se rasgar nesse exato instante, senhor Hanover?

— Nada que queira ouvir, Ceci - respondi à garota somente porque eu nem conseguiria expor em palavras o que se passava dentro de mim. - Mas parece que você está exatamente o oposto que eu.  Braços cruzados, acordada essa hora sozinha na sala, o que houve?

A preocupação me abateu e fui retirado do mundo perfeito em que eu me coloquei. Eu tinha uma mãe que passava por um momento de histeria, tinha um escritório com muitas contas, compromissos e títulos a averiguar e ainda queria fingir que não era comigo todo aquele caos.

— Minha mãe outra vez? - Suspirei e me joguei ao lado de Cecile. Ela não me respondeu rápido, mas também suspirou e prendeu os revoltosos cachos negros em um coque alto na cabeça para depois me olhar.

— Ela não anda muito bem, Conrad. Essa noite foi... Muito difícil. Nem posso descrever. Você não acha que já está na hora de a levarmos ao médico? É a única alternativa agora, Conrad, nada parece acalmá-la ou forte para tirá-la disso.

— Eu sei, eu sei, Ceci... Demorei demais para tomar essa decisão porque... Você deve saber que é difícil aceitar isso, eu fui colocado em meio a tantas coisas tão rapidamente que não pensei direito, mas você está coberta de razão. Não vamos mais demorar e eu não me importarei com o que essa realeza monegasca irá falar da minha família.

— Eu estou com você, meu querido. - Cecile me deu um pequeno sorriso e procurou minhas mãos para segurá-las. - Se preciso for, vou com você e enfrento isso tudo também. É com certeza nossa decisão mais acertada.

— Foi a noite difícil com Alexandra Hanover, vulgo minha mãe, que te deixou preocupada assim aqui logo essa hora?

Cecile passou as mãos pelos cabelos, nervosa.

— Não só... Meus pais entraram em contato comigo sobre... Argh, não consigo nem dizer isso, Conrad, sem querer vomitar! - os olhos de minha amiga se arregalaram e pareciam marejados. - Me disseram sobre um terem achado um pretendente pra mim, você acredita? Não posso nem escolher com quem me casar nem me rebelar contra isso, então estou angustiada e pensando no que fazer! Nem o conheço, Conrad, como pode isso? 

Sofri com o desabafo de Cecile. Eu havia crescido com ela e sentia uma empatia muito grande, era doloroso vê-la sofrer e não ser capaz de ajudar. Uma outra parte minha, a egoísta, ficava feliz em saber que eu amava Serena a ponto de podermos nos casar sem o impedimento de ninguém.

— Vamos procurar uma saída, posso falar com seus pais, Pierre também pode e...

— Não, Conrad, não dá. Você não os conhece como eu, não é fácil, eu já teria feito, se fosse. A questão é que fui criada para esse momento e agora não tenho coragem. Odeio me sentir assim.

— Não fica assim, Cecile. Prometo te ajudar nisso, tudo bem?

Ela não falou nada, mas me deixou abraçá-la. Ser da realeza nos custava muito. Custava, muitas vezes, parte de nossa humanidade que nem sempre estávamos dispostos a perder em nome do poder e prestígio.

A tarde passou vagarosa, entre momentos que meu humor alternava entre o inspirado - ao lembrar de Serena e a bolha de felicidade que havíamos criado - e o frustrado, nenhum papel que eu olhasse naquela pilha em cima do gabinete tinha solução. Eu já estava a ponto de arrancar todos os cabelos de minha cabeça porque nada dava certo. Não tínhamos nem apólices ou seguros o suficiente para cobrir os gastos da Casa Hanover e o que a acompanhava, de forma que me deixava louco.

Quando percebi que o dia foi substituído pela noite ao fitar minha janela, eu me sentia com nenhuma força vital dentro do corpo. As forças esvaíram e só fui capaz de apoiar a cabeça entre as mãos em cima da mesa.

Dor. Frustração. Raiva. Impotência.

Era estranho estar naquela tortura que não tinha fim e só tirado dela quando a porta abriu de supetão. Cecile apareceu com uma bandeja e algumas comidas.

— Já passou da hora do jantar e você não apareceu lá embaixo, imaginei que tinha muita coisa pra fazer, mas agora precisa comer. Trouxe algumas coisas, tudo bem? Aceite. - ela dispôs a bandeja à minha frente e sorri em agradecimento.

 - Muito obrigada, Cecile, eu nem sabia que eu ainda era capaz de sentir fome. Você não quer um pouco?

— Não, obrigada, já me alimentei. Passei a tarde toda de folga no jardim lendo uns bons livros. - Cecile me sorriu, encabulada.

— Não me diga que leu mais de um livro em uma única tarde! É assustador, Ceci!

A morena deu uma pequena risada e as maçãs coraram.

— Fazia tempo que eu nao lia nada, Conrad, não me julgue! Sua mãe ficou melhor hoje ao acordar e nem deu trabalho, de forma que até pediu para ficar sozinha cosendo algumas partes. Claro que deixei, acho que vai fazer muito bem a ela, mas também pedi que alguém ficasse com ela de prontidão.

— Você é realmente um anjo, Ceci, obrigado por tudo que faz. - respondi rezando para que meu agradecimento profundo fosse reconhecido em minhas palavras. 

— Não precisa me agradecer, gosto de te ajudar... E como forma de te ajudar, ainda sem solução para as dívidas e os problemas?

— Infelizmente sim. Não sei como fazer, nem se vendesse todos os bens que temos eu poderia quitar a dívida e tudo o mais. - suspirei, resignado. - Não vejo outra forma. Já parou para pensar em uma hipótese de perder sua Casa Real e o mundo que conhece? Eu sei que seria difícil lidar com a mídia em nosso encalço por conta disso, mas eu daria um jeito de me virar nesse mundo, porém receio pela minha mãe... Como a gente decidiu, os gastos médicos serão consideráveis e não sei se expor essa situação a ela vai fazer bem. Acho que iria fazê-la piorar.

— Também acho. A duquesa iria enlouquecer, se me perdoa dizer isso. - Cecile respondeu. - Mas então eu te disse que gosto de ajudar, Conrad... Sabe que tenho algumas heranças? Não são tantas quanto meu dote e o que o acompanha, mas tenho certeza que te ajudaria e muito.

— Não pode fazer isso, Ceci, está me propondo passar suas coisas para me ajudar com a Casa? - perguntei, abismada. O coração daquela mulher era muito generoso, mas eu não podia me aproveitar daquilo em que nem poderia retribuir de alguma forma.

— Posso e quero, Conrad, se você não conseguir arranjar uma outra solução até o fim da semana, eu mesma pedirei para que Pierre me passe então a burocracia da Casa Hanover, me ouviu? Só quero te ajudar, então me deixa.

Ela estendeu as mãos na mesa para que eu as segurasse. Meu corpo tremia com a proposta, eu sabia que iria me livrar da tortura que eu estava vivendo, mas a que preço? Eu entendia o apreço que Cecile nutria por mim, mas não podia deixar que fizesse isso sem estar consciente da decisão. E outra, eu não gostava de não poder retribuir.

— Não posso, Ceci, é te pedir demais, não vê?

— Me deixa te ajudar, Conrad, para com isso, não seja ruim consigo mesmo. Vejo que está sofrendo todo dia, posso ajudar, por que não me deixava entrar? Não vou pedir nada de você, não precisa ficar pensando que eu o obrigaria a algo, Conrad, pelo amor de Deus!

— Não pensei isso! - rebati, porém fiquei envergonhado porque, no fundo, havia perpassado algo do tipo em minha cabeça. - Olha, Cecile, se chegar ao fim da semana e eu não conseguir, conversaremos sobre uma forma de eu retribuir, tudo bem? Se eu aceitar, terão termos também, não me deixe com a sensação de estar roubando algo de você.

— Você é um bobo, Conrad Victor Hanover. - ela declarou, mas um sorriso vitorioso brotou em seus lábios. - Ok, faremos nos seus termos. Agora, faça-me o favor de se alimentar, pois caso não o fizer, eu ganharei essa batalha antes mesmo do fim de semana!

Fitei a garota se levantar rapidamente para se retirar sem me dar tempo de respondê-la. Era um pouco acalentador ter uma segunda opção, agora. Tudo mudava.

Foquei minha atenção para comer e estender o tempo de trabalho até onde desse, depois eu iria procurar sereia e ter minha parcela de felicidade no dia.

Já havia se passado algumas horas desde minha refeição e decidi parar quando a cabeça começou a despontar com uma dor. Pincei meu nariz na tentativa de acalmar a dor enquanto buscava meu telefone para ligar para Serena.

No entanto, para minha preocupação, ela não atendeu. Liguei mais de cinco vezes seguidas porque meu lado racional parou de funcionar. Várias teorias inimagináveis brotaram em minha cabeça para fazer o circo dos horrores com meu coração e precisei respirar fundo para colocar a mente no lugar certo.

Era comum as pessoas não atenderem celulares e isso não significar que tinha ocorrido algo ruim, não era? Eu estava preocupado à toa.

Levantei-me e me dispus a caminhar pelo escritório a fim de controlar meu coração e minha dor de cabeça, mas sempre com os olhos pregados no celular em cima da mesa para caso tocasse. Não tocou.

Ao contrário, a única coisa que fez barulho foram os passos rápidos e murmúrios do lado de fora quando a porta se abriu. Cecile estava branca, os cabelos negros pesados a deixavam com um ar pálido e os lábios sem cor.

— Cecile? O que houve? Está se sentindo bem? - adiantei-me para segurá-la caso caísse porque estava com uma aparência péssima.

— Conrad... - ela murmurou fraco. - Você sabe onde está sua mãe, a duquesa?

Franzi o cenho.

— Não, Cecile, você sabe que nem saí desse escritório hoje. O que há com você? Está com febre? - toquei sua pele e não estava quente, mas gelada. Muito fria.

— Eu sabia... só perguntei por desencargo, mas, Conrad...

— O que foi?

— Sua mãe não está em nenhum lugar da casa. Procurei com os empregados e... Nenhum rastro dela, Conrad, estou com pressentimento ruim.

— OK. Calma, vamos procurar de novo. Ela não sairia sozinha, não estava podendo e você me disse que teria alguém no encalço dela. - fui raciocinando à medida que avançava pela casa a passos largos, puxando Cecile pela mão.

— Eu sei! Eu sei! Mas fui procurar os responsáveis e me disseram que puseram uma senhora com ela no quarto para caso precisasse de ajuda e, Conrad...

— Virei-me para ver Cecile porque ela havia parado. Mais branca do que nunca, mordia os lábios.

— Nem consigo dizer isso, meu Deus, parece que nem estou vivendo isso...

— Cecile, me fala logo. O que houve? - meu coração martelava em meu peito. Tudo estava estranho. Barulhos no andar de baixo me deixavam temeroso e um grito me despertou. Corri com Cecile até a porta do quarto de minha mãe e vi mais de cinco funcionários nossos lá. Imaginei que estavam ajudado com a busca por Alexandra, mas estavam parados em frente ao banheiro do quarto.

— Cristo, ela viu... - Cecile murmurou e se apoiou na porta para não cair. Por que ninguém me falava o que estava acontecendo? Avancei para onde uma empregada chorava na porta do banheiro e a afastei para ver a cena mais macabra de minha vida.

Uma senhora estava ensanguentada, pálida, na banheira do quarto de minha mãe e minha mente não queria captar que ela estava morta. Sim, o sangue que havia perdido estava vertido pela banheira e seus olhos estavam revirados.

— Vossa Alteza, o que devemos fazer? Vou afastar os demais daqui - ouvi alguma voz dizer e supus ser de nosso mordomo. Eu queria gritar para que a polícia fosse acionado, mas não estaa conseguindo.

— Ela está morta, meu Deus, Conrad, precisamos saber onde está sua mãe! - Cecile reapareceu ao meu lado e me puxou para fora da cena de horror. - Conrad!

— Não acredito... Por que tem uma mulher esfaqueada na banheira de minha mãe, Cecile?

— Conrad, sua mãe não está no juízo perfeito e agora precisamos saber onde ela está, para onde foi e o que vai fazer. Estou com medo também, não fui capaz de ligar pra polícia porque... Não pareceu real, eu entendo, meu Deus.

— O quê? - balbuciei antes que as coisas se encaixassem em minha cabeça. - Alguém liga para a polícia. Vamos chamá-los e esse assassinato precisa ser pago.

O burburinho voltou, passos e barulho entre as escadas e o quarto. Cecile tinha o rosto manchado por lágrimas, mas foi a única que me puxou pela mão para que descêssemos para a sala principal. 

— Vamos esperá-lo aqui. Precisamos agir logo...

Eu não a ouvia. Tudo estava embaralhado em minha cabeça. Minha mãe perfurou aquela senhora que estava morta? Minha mãe matou uma mulher em seu banheiro e foi capaz de fugir de casa? Mas pra onde? Iria ferir mais alguém?

— Oh, meu Deus! - a exclamação horrorizada de Cecile me despertou para a televisão ligada. 

Na tela, mostrava uma cena ao vivo em que o repórter local narrava um episódio de perseguição e resgate em algum lugar. Meus olhos estavam desfocados, mas sabia que era coisa ruim pela boca escancarada em pavor de Cecile. Sabia que era algo que iria mudar a minha vida porque, ao entender o que se passava, eu entendi o que era morrer.

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Notas finais do capítulo

MEU DEUS! Olá, pessoal! Eu sumi mesmo, me perdoem! Eu deixei avisado que estava estudando, ainda estou, só fico livre a partir da segunda semana de dezembro, mas me deu uma vontade danada de voltar aqui e concluir nossa história! Já estamos bem no final mesmo, só alguns clímax e separações hahahaha

ALGUEM PODE ME DIZER O QUE HOUVE?

ATÉ O PRÓXIMO



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