Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 11
O dever me chama




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Capítulo 11 - O dever me chama

"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas do trágico destino, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer? Morrer..."*

— William Shakespeare

 

 

CONRAD

 

Há dois dias, desde meu treino de tênis, minha mãe vinha sendo mais inquieta do que o normal. Eu já estava acostumado com suas ordens durante o dia todo no cotidiano, porém, além disso, ela andava irritadiça.

Não que fosse difícil tirá-la do sério, mas a raiva parecia fervilhar e querer explodir de dentro dela a qualquer momento e por qualquer coisa.

Imaginei que fosse pelas novas responsabilidades da festa do meu primo, então por isso eu fiquei calado na hora do almoço quando ela gritou com uma empregada porque tinha errado na cor do guardanapo.

— Não pedi isso! Será que alguém presta atenção ao que eu digo? - ela bateu as mãos na mesa e meu pai, ao seu lado, nem piscou. Éramos imunes àquela tão conhecida irritação. - Pode ir!

Uns segundos depois, nós três continuamos a comer em silêncio.

— Otto, pare já de arranhar o garfo no prato desta forma, está me irritando! Você sabe que eu tenho agonia quando faz isso.

Como sempre, meu pai não respondeu, mas fez o que lhe foi ordenado. Suspirei e o barulho não passou despercebido pela minha mãe-general.

— Conrad, acho que temos assuntos a conversar.

— Claro que sim, mãe. - eu concordei porque era a forma mais simples de contê-la, mas nem sabia do que ela falava.

— Irá completar vinte e dois em poucos meses, meu filho.

— Estou na flor da idade - tentei uma piada para amenizar o clima de tensão na mesa, porém não funcionou. Não fiquei surpreso.

— Falo sério, Conrad. E deve ter uma noção do que quero dizer.

— Convivo com isto desde que me entendo por gente, mãe, sei que devo me casar com alguém de tão nobre classe quanto a minha. - tentei não parecer tão entediado como eu me sentia com o rumo da conversa.

— Não seja irônico, meu filho! Preocupo-me com isso, porque você sabe de nossa história para manter em nossa família esta Casa ducal.

— Não compactuo de sua ideia sobre Pierre querer nos tirar o título, mãe. Ele é da nossa família também, afinal.

— Você verá que estou certa assim que aquele garoto assumir ao trono! Eu os conheço mais que você, Conrad. Ele e o pai não tentam nem esconder o desejo de me tirar a Casa e dá-la para a parte materna!

Eu revirei os olhos porque já tinha ouvido aquele papo antes.

— Não temos nada além disso, Conrad. Nada. Só a esta Casa, então, por favor, não faça a displicência de errar na única coisa para a qual você foi educado!

Permaneci calado e não sei se isso foi interpretado por minha mãe como uma resignação ou uma afronta. Eu não olhei.

Eu sabia que nossa Casa era uma das que mais disputavam todos os membros da família real, mas sabia também que só nos tirariam se a julgassem negligenciada ou sem futuro, e embora eu achasse uma visão medieval, não podia me rebelar contra uma tradição, digamos assim, até porque, como minha mãe frisava, era só o que tínhamos. Se a perdêssemos, não sei o que aconteceria.

Por outro lado, casar era algo superestimado por mim; não levava como uma simples negociação como minha mãe falava e até mesmo Adrien, meu melhor amigo, costumava não ligar. Todavia, de fato, eu fui criado para este fim: saber com quem me relacionar e contrair um matrimônio o mais cedo possível, visto que moças estavam escassas nas melhores Casas e eu era o único filho de minha mãe, que já me tivera em uma idade avançada.

— Você é nossa esperança, Conrad, e sabe que eu farei de tudo para que você chegue neste objetivo. – a voz de Alexandra, minha mãe, voltou a ser ouvida. – Eu não queria jogar sobre você toda esta responsabilidade, mas você, e só você, foi meu milagre.

O tom de minha mãe era lamentoso e eu também já conhecia aquela história; ela tentara por anos ter um filho, porém sempre os perdia antes ou pós-nascimento. Eu havia sido o único que meus pais tinham conseguido e podia imaginar o desespero de minha mãe toda vez em que percebia que não teria um herdeiro.

— Eu entendi, mãe. – declarei, por fim, enquanto ela me observava. Fitar os olhos daquela mulher era como ver um reflexo dos meus próprios e vinha à mente eu, com toda minha tenra idade, nos braços dela. Nossos preciosos e raros momentos de afeto, no aconchego dos braços dela e das três palavras sussurradas para mim que me aqueciam e me traziam um sorriso.

Hoje, eu via mais da personalidade dela, sabia mais coisas daquela mulher e, mesmo assim, quando a olhava fixamente, o mesmo calor que me aquecia ao saber que ela me amava voltava. E meu corpo relaxava por saber que ela era minha mãe e como tal, só gostaria de me ver feliz.

Ela desviou o olhar e assentiu, finalmente satisfeita por um momento. Voltou a comer e, vez ou outra, trocava palavras com meu pai.

Eu os observava, já sem qualquer indício de fome. Não tinha mais cinco, seis anos, em que o dever de me casar era algo utópico demais. Eu faria vinte e três e, na minha sociedade, estava quase na hora de consolidar os rumos do resto da minha vida.


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Notas finais do capítulo

por favor, eu adoraria saber se alguém tá acompanhando, pois vou tirá-la daqui.



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