Castelobruxo escrita por Vilela
Notas iniciais do capítulo
Quase um ano após o fim da primeira temporada, Castelobruxo volta em dezembro com novas histórias de Alex, Mateus, Nico e Sofia!
Aguardem :)
— Todo ano, dezenas de novas espécies são descobertas na Amazônia - disse o guia em inglês carregado de sotaque.
Os turistas soltaram um “uau”, impressionados, enquanto continuavam tirando fotos.
O sol já se punha atrás das árvores e aquela era a última parada dos barcos num mangue às margens do Rio Negro. Os turistas e o guia tinham as botas enfiadas na lama e para andar tinham certa dificuldade. Ainda assim, um deles caminhou ligeiro para um canto, puxando uma garota consigo.
— O que foi? - ela quis saber, piscando seus imensos olhos azuis.
— Nada. Só acho que esse passeio está chato demais - o garoto sorriu. - Não está afim de explorar um pouco mais para dentro da floresta?
A garota ficou pensativa. Tinha decidido passar o inverno no ensolarado Brasil, mas não tinha ideia de que a primeira parada deles seria na floresta. Também tinha achado aquele passeio de barco chatíssimo, não fosse a companhia do melhor amigo. Ela resolveu assentir e, sem chamar atenção, os dois saíram do mangue para a mata, distanciando um pouco do grupo.
— Espera - pediu o garoto. Ele tirou do bolso uma peça de fita. Com um nó cego ele prendeu a ponta numa árvore fina, então foi desenrolando até chegar na garota. - Desse jeito a gente não se perde.
Rindo, os dois correram para dentro da floresta. Toda vez que a fita acabava, o garoto amarrava outra na ponta e continuavam seu percurso. Quando cinco peças acabaram, ele achou que era o suficiente para fazer o que ele queria. O fato era que ele estava afim da sua amiga.
— O que está fazendo?! - ela perguntou irritada no momento em que ele se aproximou demais.
— Eu… eu achei que…
— Argh… - ela se desvencilhou dele e começou a seguir a fita de volta, sem acreditar no que ele tinha tentado fazer.
O garoto suspirou, e resolveu segui-la de volta para o grupo. No entanto, não foram precisos muitos passos para perceber algo terrível: a fita estava partida.
— Isso é algum tipo de brincadeira? - a gorota perguntou pro amigo. - Não tem graça, onde está o resto da fita?
— Hey, eu não sei.
Ele pegou a fita da mão dela e percebeu que de fato estava partida, mas não havia sinal do resto.
— Vamos continuar. Não andamos mais do que cinquenta metros, vai ser fácil achar o rio.
Eles continuaram, mas não ficaram nem mais perto nem mais longe de chegar. Na verdade, perderam completamente a certeza. Até mesmo o pouco de fita que tinham sumiu por completo e as árvores eram tão idênticas que não se podia lembrar do caminho que fizeram. A garota já estava começando a ficar desesperada quando ouviram um galho quebrando numa árvore lá no alto.
— O que foi isso? - ela quis saber. Só uma luz alaranjada entrava por entre as folhas e as sombras já se alongavam pelo chão da floresta. Ela não conseguia se lembrar nem mesmo do calor que estivera sentindo o dia inteiro.
Antes que ele conseguisse responder, porém, um galho anormalmente grande despencou lá do alto, entortando-se com vários estalidos de madeira se quebrando, enrolando-se na cintura do garoto e prendendo-o firmemente. Os dois trocaram um olhar temeroso antes do galho se recolher, suspendendo no ar o garoto aos gritos. A garota correu para tentar puxá-lo, porém ele já estava muitos metros no alto, enquanto outros galhos vinham enrolar-se nele também. Um deles enfiou-se por entre os dentes dele, o que o impediu de continuar gritando.
Alguma coisa veio se arrastando por baixo das folhas e derrubou a garota antes que ele se desse conta. Uma vez no chão, as folhas voaram ao seu redor cobrindo-a completamente. Somente seu nariz ficou para o lado de fora, mas sua voz ficou abafada. De onde estava, o garoto viu tudo, mas a língua estava cheia de folhas da árvore, os pulsos e pernas imóveis, ele não conseguiu fazer nada. Isso já os tinha amedrontado o suficiente, mas o que aconteceu a seguir foi ainda mais perturbador.
No exato lugar onde o garoto estivera em pé, um homem vestindo inteiramente de preto se materializou. Num piscar de olhos ele apareceu, como se já estivesse lá o tempo inteiro. Seu braço direito estava levantado e ele tinha um objeto pontudo como um espeto na mão, apontando para os lados procurando alguma coisa. Ouviram um farfalhar à esquerda e o homem reagiu rapidamente. Um clarão verde iluminou toda a cena, sumindo a seguir, mas aquilo foi o bastante para trazer um clima de terror para os dois escondidos.
— Seu idiota, tá querendo me matar?! - gritou alguém saindo de trás de uma árvore não muito distante de onde o clarão de luz verde passara.
— Desculpa, eu achei que fosse um…
— Não tem que achar nada - respondeu o segundo homem, se aproximando.
Os garotos não falavam português, então o diálogo que se seguiu permaneceu tão misterioso para eles quanto o resto.
— Os meus feitiços de detecção de trouxas me trouxeram para esse lugar.
— E você confiou neles? A gente sabe que você não sabe enfeitiçar nem um pote de café.
— Cala a boca.
— Cala a boca você - o segundo homem tirou uma varinha. - Já estou cansado de ouvir dizerem que você está caçando trouxas na floresta. Discrição, tonto! Lembra que temos que ser discretos por enquanto.
— Eu…
Foram interrompidos com uma das pernas da garota se mexendo debaixo do monte de folhas que a cobria.
— Mas o que temos aqui?
Os dois começaram a caminhar para o lado da garota, contudo ouviram um som que os fizeram estancar: um rosnado. Qualquer bruxo que tivesse pisado na Amazônia sabia o que aquele som significava. As caiporas desceram das árvores como flechas, fazendo os bruxos recuarem instantaneamente. Elas emitiam sons calorosos e terríveis ao mesmo tempo, enchendo o ambiente com suas cores vermelhas vibrantes. Os bruxos não pensaram duas vezes antes de desaparatarem na noite que enfim caíra.
Assim que eles sumiram, entretanto, as caiporas também desapareceram e os galhos voltaram para seus devidos lugares. O garoto caiu de lá de cima, rapidamente se recuperando e puxando a amiga do monte de folhas. Por mais estranha que tenha sido a experiência que tiveram, que certamente deixou os dois com as mentes entulhadas de perguntas, os dois não disseram uma só palavra sobre o que tinha ocorrido. A floresta se abriu num caminho de volta para o mangue, onde os turistas ainda estavam tirando fotos.
No momento em que entraram nos barcos e voltaram para a segurança dos hotéis, aos poucos as lembranças foram se apagando, ficando para trás às margens do rio. Os dois jamais voltaram a se lembrar do perigo que correram na Floresta Amazônica naquela noite. Porém, eles não seriam os últimos a cruzar o caminho daqueles dois bruxos das trevas.
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Quase um ano após o fim da primeira temporada, Castelobruxo volta em dezembro com novas histórias de Alex, Mateus, Nico e Sofia!
Aguardem :)