Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá Pessoal!

Um bom filho a casa torna, não?

Espero que não tenham se esquecido de Electus, pois mesmo com esse tempinho sem atualizá-la eu não esqueci.

Espero que gostem do capítulo e prestem atenção aos detalhes que fui adicionando.

Um beijo!



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Capítulo 6

 

Por mais que tivesse me prometido contar uma história que explicaria parte dessa situação toda, Dona Margarita cuidou dos meus machucados primeiro. Ela esperou que eu terminasse de espalhar a pasta esbranquiçada e então envolveu meu tronco com uma extensa faixa de gaze. Assim que se certificou de que eu havia finalizado o pedaço de bolo que trouxera, ela sentou-se na poltrona com o rosto calmo, porém sério.

— Diga-me, Ken. Acredita em magia? - a senhora começou, pedindo.

Era uma pergunta simples, mas mexia com toda a minha infância e crença.

— Não diria que acredito, mas no momento eu não duvido. Se essa pergunta tivesse sido feita a dois dias, diria que magia é uma crença popular para entreter as crianças, mas que não é real – fiz uma pausa e respirei fundo – agora… já não sei o que pensar. Parte de mim acha que é uma loucura que existam vampiros, bruxas, elfos e tudo mais, que isso é fruto da minha mente cansada e estressada. A outra me diz que foi real e está com um pouco de medo.

Fechei minha boca, surpreso pelo tanto que havia confessado. Eu não era de longos discursos, gostava de dizer o necessário.

— É compreensível esse dilema. Eu mesma já passei por isso, não é fácil se desagarrar de todo um histórico. Mas, magia é real e já esteve muito presente em nosso mundo – a voz dela era suave, parecida de quando lia os livros infantis para Olimpya e eu, fazendo-me focar toda a atenção nela – O que você testemunhou é uma pequena fração do que existe lá fora.

“Assim, vamos voltar ao passado agora. Este mundo já foi um só e habitava todos os tipos de criaturas. Humanos, elfos, shide, vampiros, lobisomens, sereias, globins e muito mais. Todas as raças viviam em uma paz relativa. Até que surgiram alguns humanos que achavam injusto não terem especialidades ou vínculo com a magia, e assim começaram a raptar e estudar os seres. Como é de se imaginar, nasceu um conflito.”

Sua expressão tornou-se levemente nublada, como se estivesse vendo um filme em sua mente, ilustrando todo o cenário que me contava.

— Haviam aqueles que faziam dos seres mágicos seus escravos e inventavam as mais diversas maneiras de tentar inserir magia em seus corpos humanos, e aqueles que abominavam essa situação. Não tardou muito para que a situação os fizessem entrar em guerra, destruindo o mundo e as pessoas nele no processo. Foram precisos sacrifícios, mas um certo jovem, acompanhado de seus amigos e queridos, conseguiu acabar com a guerra.

“Seu nome era Olim Coração Valente. Um faelin. Ele, junto de seus amigos, conseguiram sobrepujar as forças dos inimigos. A solução para isso foi separar os seres mágicos dos humanos, e então criou-se um mundo chamado Eldarya onde os seres se refugiaram e se isolaram dos demais. Esse acontecimento ficou conhecido como o Grande Banimento e desde então a magia no mundo humano foi sendo esquecida até não sobrar quase nenhum resquício daqueles que acreditam nela”.

Dona Magarita ficou alguns instantes em silêncio, observando o nada a sua frente, preocupando-me.

— A Senhora diz que ocorreu uma separação – comecei, puxando sua atenção – mas, acabei encontrando com esses seres a pouco. Nem todos foram banidos para essa tal Eldarya? — perguntei, utilizando o termo a pouco exposto.

Um leve sorriso brincou em seu rosto envelhecido antes de voltar-se para mim, concentrada novamente.

— Apesar da situação que todos se encontravam, haviam aqueles que conseguiam viver em harmonia com as raças. Olim deu a todos o direito de escolha, permanecer neste mundo ou se refugiar em Eldarya, alertando que as interações entre os mundos não poderiam ser toleradas como medida de segurança. Então, naturalmente alguns decidiram ficar no nosso mundo e foram se misturando conosco, protegendo-se sem abandonar pessoas que lhe eram queridas.

Franzi o cenho diante a insinuação de leve em suas palavras.

— Existiam faelins casados com humanos? - pedi, tentando controlar a descrença.

Saber que eles existiam foi um choque. Ser praticamente feito de comida por uma bruxa e então saber que houve uma rixa entre as raças foi compreensível o ódio. Mas, não estava preparado para… amor.

— Não era algo comum, mas existiam sim – respondeu-me rindo – o próprio Olim era casado com uma humana.

Esse cara realmente foi algo em sua época. Acabou com uma guerra, criou um mundo e casou-se com o “inimigo” de seu povo.

— Então, esses que esbarrei noite passada são uns dos que resolveram ficar?

Dona Magarita olhava-me, estudando. Os olhos violeta lembraram imediatamente Olimpya, fazendo questionar outra série de acontecimentos, porém deixaria para fazer essas perguntas mais tarde, quando minha mente parasse de rodar.

— Descendentes diria. Com exceção dos vampiros, é claro. Eles tem uma longevidade absurda – respondeu.

— Não são imortais? Quanto tempo faz desde esse banimento?

— Imortais não, eles tem algumas peculiaridades que tornam suas vidas um tanto… duradoura – a expressão dela era puramente de uma professora – E todo esse ocorrido aconteceu por volta de 500 anos atrás. Gostaria de aprender mais sobre as raças, Ken?

Ignorando meu antigo apelido, assenti para ela.

— Então venha me ajudar com a casa enquanto lhe conto – falou, levantando-se.

 

(…)

 

Passei o restante da manhã com a senhora e acabei por almoçar lá mesmo, devido a longa conversa que engatamos. Ela parecia uma biblioteca ambulante de tanto que sabia. Quando lhe pedi a razão de sua sabedoria, Dona Margarita apenas respondeu que essa informação não era para aquele momento.

Assim, deixei a chácara um pouco aliviado de que não estava louco, porém um pouco confuso com todas essas informações. Minha base de crença havia rudemente abalada e a pequena parte que dizia que tudo não passava de um sonho ainda persistia, mesmo que estivesse perdendo terreno para a realidade.

Ao passar pelos portões da propriedade de Lysandre, guardei todo esse redemoinho para mim e forcei uma cara tranquila enquanto desembarcava da Fera, minha picape. Meu amigo já me aguardava na varanda da graciosa casa, lendo uma de suas composições. Apesar de ter abandonado efetivamente a música ele ainda compunha como modo de se distrair.

Tanto eu quanto os demais já pedimos que ele saísse mais vezes do local, mas era impossível. Parecia que tinha se enraizado ali desde o falecimento dos pais. Leigh o visitava poucas vezes, mas ouvi de Rosalya que aquele local entristecia o namorado por conta das memórias ali presentes.

— Boa tarde – cumprimentei, subindo os degraus da varanda.

Lysandre ergueu os olhos díspares da folha para mim.

— Boa tarde – respondeu, calmo, antes de franzir o cenho – o que aconteceu hoje?

Mudei o peso da perna, desconfortável.

Em nossa dinâmica eu aparecia logo pela manhã para recolher os alimentos, nunca faltando. Até hoje. Algo sair da rotina definitivamente tirava o heterocromático de sua bolha, já que ele pegou-se acostumado a prever as situações.

— Tive alguns problemas ontem durante a caminhada – respondi, sentando na cadeira de balanço ao seu lado.

Lysandre ergueu uma sobrancelha clara, questionando-me. Percebi uma certa letargia em seu olhar, fazendo-me preocupar com ele.

— Fui atacado por uma bruxa – sussurrei, fazendo uma cara de assustado.

Não demorou muito e percebi meu plano dando certo. Os lábios dele tremeram ao segurar um riso, um certo brilho voltou ao seu rosto.

— Kentin, já te falei para não andar pelo distrito. Deve ter se drogado ontem, isso sim – retrucou, divertido.

Distrito era como chamávamos a periferia da cidade, ponto de encontro de negociações ilícitas. Tive de “passar” uma noite por lá após perder uma aposta contra Armin. Desde então meus amigos brincavam com a possibilidade de eu ter gostado da experiência, mesmo quando sabiam que era justamente o contrário.

Bufei, entrando na brincadeira disfarçando a verdade.

— Quase morri ontem e você ataca minha dignidade! Que grande amigo eu tenho – falei, pousando a mão em meu peito, dramaticamente.

Lysandre rolou os olhos e levantou-se, indo em direção ao galpão.

— Deixe de moleza e venha carregar as mercadorias. A dona do mercado já me ligou pedindo sobre as alfaces – praticamente gritou, voltando ao seu estado de fazendeiro negociador.

Preparei-me para segui-lo, mas a composição largada em cima da cadeira fez meu lado curioso vencer. Espiando rapidamente para ver se ele não notava, peguei a folha e li por alto o que continha. Comprimi meus lábios diante a letra emocionante, descrevendo a saudade que habitava aquele coração.

Uma música para aqueles que foram levados de sua vida.

Seus pais e … Olimpya.

Soltando um suspiro, larguei a folha de volta ao seu lugar e me dirigi ao galpão.

 

(…)

 

Meus músculos gritaram de felicidade quando descarreguei a última das caixas no mercado mais próximo da minha casa. Repeti minhas desculpas ao dono do estabelecimento como fiz nos demais locais e garanti que a mercadoria voltaria a chegar pela manhã conforme acordado.

Com o bolso gordo de dinheiro e uma picape levemente suja pelas caixas, dirigi-me de volta a minha casa, cantarolando a música que soava pelo rádio. Nunca prezei tanto por aquele pedaço de normalidade como fazia agora.

Estava virando a conhecida rua precededora do meu bairro, quando notei uma confusão mais a frente. Ignoraria o que parecia ser um acidente de carro – já que haviam pessoas o suficiente para solucionar o caso – quando notei uma cabeleira azulada se destacando em meio a balburdia.

Alexy.

As mãos no volante apertaram enquanto meu corpo ficava tenso.

Já completava um ano que não nos falávamos e nem sequer tínhamos qualquer interação. Mesmo que nossa amizade tivesse sido desgastada, ainda não conseguia me manter alheio quando ele se encontrava numa situação assim.

Então estacionei a Fera o melhor que pude e corri para a confusão.

— E você deveria fazer sua carteira de novo! - Alexy gritava para um rapaz nitidamente mais forte e alto que ele, sinalizando a parte traseira do seu fusca branco, agora inegavelmente amassada.

O rapaz ficou roxo de raiva, os olhos faiscando.

— Não vou admitir que uma criatura como você questionar minha direção! - urrou, irritado.

Tive segundos para me decidir, quando vi a mão direita do outro se fechar e partir em direção ao rosto de um enérgico Alexy. Minha mão e o restante do braço reclamaram devido a dor, junto ao um dia de serviço braçal enquanto segurava o soco a centímetros do rosto do Alexy.

Aproveitei a distração do rapaz e o empurrei vários passos, colocando-me entre os dois.

— Violência não é uma boa opção – comentei, cruzando os braços.

Ouvi um bufo atrás de mim, porém continuei fitando o agressivo a minha frente.

— O que aconteceu aqui? - ouvi um policial perguntar, chegando ao local.

Não gostaria nem de pensar no que poderia ter resultado daquela briga. Lembrando quem era aquele idiota a minha frente, Alexy provavelmente sairia mal devido à influência da família do outro nesta cidade.

Aparentemente o cara, Carth, – que era filho do prefeito e namorado da nossa antiga colega Charlotte – atravessou a rua sem se importar com os demais e acabou colidindo com o fusca do Alexy, que não deixou o rapaz fugir, acionando a polícia para um boletim.

— A preferência era minha, senhor – o rapaz gesticulava junto ao policial.

— Isso é o que vamos descobrir com a perícia, Carth – o oficial respondeu, nem um pouco intimidado – assine aqui por favor – indicou a prancheta que anotara os detalhes – você também, Alexy – concluiu, chamando o azulado que não pronunciara uma palavra desde que cheguei.

Esperei, mesmo que os demais já tivessem indo embora com a chegada das autoridades. E continuei ali observando Carth sair bufando, ficando apenas meu antigo amigo e eu no local.

— Você está bem? - pedi, analisando-o, procurando por machucados.

— Ótimo – respondeu, evitando me olhar – e obrigada por antes. Mas, não precisava sair da sua vida perfeita por mim – concluiu, seco.

Parte de mim se doeu pelo tom usado. Sentia falta do meu amigo, mas aquela briga ainda fazia com que nos comportássemos estranhamente perto um do outro. Ou, pelo menos, eu me comportava. Alexy fingia que eu nem existia nos encontros da antiga turma.

— Quer uma carona? - ofereci, já que seu carro havia sido rebocado pois o motor tinha sido prejudicado pela batida, afinal o motor de um fusca fica atrás.

Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele olhou em meus olhos. Tentei entender o mar revolto que se escondia naquele olhar, mas a capacidade de compreendê-lo por completo nunca me alcançou, mesmo depois de tantos anos convivendo.

— Não preciso da sua pena – retrucou, afiado, virando as costas para mim.

Soltei um grunhido, irritado pelo modo que fui tratado, mas ele já havia se distanciado. Que voltasse a pé então. Eu não me importo! Urrei mentalmente, voltando para meu carro.

Esses dias, definitivamente, poderiam ser classificados como os piores.

Saco.

 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Dona Margarita escondendo informações, Lysandre na bad e Alexy e Kentin brigados. O que será que falta acontecer? Vamos aguardar!!

Espero que tenham gostado!

E fico no aguardo dos seus reviews.

Beijos e até o próximo!



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