Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oi, como vão?
Eu não me aguento e estou postando o próximo agora, haha.
Bem, prestem atenção aos detalhes do capítulo e se divirtam com a cena final que coloquei. (ps: não me matem, ok?).
Quero agradecer todo o carinho que recebo de vocês, S2
Então, sem mais delongas, desejo-lhes uma boa leitura.
Beijos.



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Capítulo 15

 

Isso é uma loucura.

Estava repetindo essa frase mentalmente a pelo menos meia hora. Puxei a lapela do casaco de Leiftan mais perto, tentando me abrigar o vento frio que corria naquela vila abandonada. A única coisa que ele fizera quando anunciei que precisava de um tempo sozinha foi me entregar a peça. Minha mente estava uma confusão, igual minha vida.

Tudo o que Leiftan me mostrava através da viagem por suas memórias foi impactante. Ele cumprira com a minha exigência com precisão. Não havia nenhum pequeno espaço dele que eu não conhecesse. Sabia de onde ele vinha, quem era sua família, descobri toda a sua trajetória desde os momentos mais sombrios até os mais felizes.

E Deus, a família dele. Jamais imaginaria com quem ele possuía laços sanguíneos. Uma pequena e teimosa lágrima escorreu. Meu peito se apertou em saudades. Desde que tive certeza de que não poderia voltar para meu mundo eu havia bloqueado as memórias e as pessoas que ficaram por lá. Entretanto, o que eu havia descoberto me dava novas possibilidades.

Apesar do susto e da fase negatória inicial, eu já estava criando uma lista de coisas a serem feitas. Agora eu sabia que podia sim voltar ao meu antigo lar. A questão era, eu saberia voltar a minha antiga vida? Eu não tinha resposta para isso. Então, foquei no que precisava ser feito em Eldarya.

Derrubar o Trio Negro, libertar Eldarya e expurgar os demônios daqui. E se tiver sorte, fazer as terras serem férteis. Afinal, esse devia ser o meu papel como escolhida da profecia. Soltei um riso amargo, balançando a cabeça. Entre meio a tantas coisas que Leitan ouviu e descobriu, uma delas era a antiga profecia do salvador.

Era uma bela droga ser a única descendente de Olim nessas terras. Não era a toa que a gangue do mal me queria em suas mãos como um peão obediente. Como eles acreditavam que Leiftan era fiel a eles, casar-me com o rapaz era um ótimo jeito de colocar uma coleira em mim. Só que o noivo em questão tinha ideias diferentes sobre uma coleira. Ele queria colocar nele e não em mim.

Afinal, era isso que o juramento faria com ele. Leiftan seria amarrado a mim e as minhas vontades. Um pequeno estremecimento me percorreu com o quão disposto ele estava a enfrentar qualquer que fosse a dificuldade pelo povo inocente de Eldarya.

Abri minha mão e deixei de pensar em tudo o que faríamos implicaria. O vento beijou minha palma nua, como se fosse uma carícia. Dando um pequeno sorriso mexi os dedos e desejei que ela brincasse com meu cabelo, sendo prontamente atendida. Observei hipnotizada conforme mexia com as folhas caídas, meu cabelo, e qualquer objeto ao meu alcance.

Eu conseguirei fazer isso. Afirmei a mim mesma e não deixei espaço para dúvidas. Se havia sido abençoada com um dom e minha vida estivesse sendo guiada desde antes meu nascimento para essa guerra, então eu a abraçaria e entraria e cabeça erguida. Chorar e se remoer não me traria lucro algum.

Explorando esse dom, enviei uma brisa até Leiftan, bagunçando os fios loiros dele. Ele prontamente ergueu o rosto, notando-me a lhe observar. Continuei onde estava, alguns metros longe do acampamento improvisado, vendo-o acabar com a distância entre nós.

— Pronta? - ele pediu, notando a decisão em meu rosto.

— Vai doer? - perguntei, um pouco curiosa e apreensiva.

O rapaz deu um pequeno sorriso antes de ficar concentrado.

— Não, você não sentirá dor alguma.

— Não era comigo que estava preocupada – respondi.

Algo lampejou naqueles olhos verdes, mas fora rápido demais para que eu pudesse detectar o que era.

— Nada que não possa suportar – ele retrucou, a voz estranha.

Decidi ignorar, afinal ele estava prestes a fazer algo que seria para sempre. Ele me explicara que eram raros os casos de quebra do juramento. Geralmente envolvia a morte de uma das partes, ou quando havia a traição quando o guerreiro ou guerreira não protegia a quem prestou juramento de forma intencional, causando a quebra do laço.

— Como será? - perguntei, enquanto o via retirar uma adaga simples, mas igualmente bonita de suas vestes.

— Será como uma ponte entre nós. Saberei quando estiver em perigo e onde lhe encontrar caso precise.

— Como um gps? - indaguei, interrompendo-o,

Leiftan soltou uma curta risada. Eu havia contado ao pessoal do QG sobre as tecnologias do meu mundo, uma curiosidade geral daqueles que viviam aqui.

— Quase. Você pode me bloquear se quiser – sua feição se tornou séria – mas, desaconselho-a a fazer isso, mocinha.

Mostrei-lhe a língua.

— Anotado.

— Mas, a parte mais interessante é que podemos nos comunicar privadamente em nossas mentes.

— Como fizemos enquanto viajávamos em suas memórias? - pedi, lembrando de nossos diálogos mentais.

Ele assentiu, concordando.

— Poderemos sentir as emoções um do outro e você pode até ler meus pensamentos se for necessário.

Franzi o cenho diante a última novidade.

— Prometo não invadir sua privacidade – comentei, pois em seu lugar eu detestaria não ter segurança nem em meus próprios pensamentos.

Leiftan passou os nós dos dedos por minha bochecha.

— É por conta dessas atitudes que eu não me arrependo do que estou prestes a fazer.

Uma onda de emoção passou por mim naquele momento, fazendo meus joelhos tremerem.

— Acho que devemos começar – ele falou, ajoelhando.

— O que eu faço? - pedi, perdida.

— Apenas me aceite – ele respondeu, fazendo um corte em seu pulso.

Oh Deus, aquelas três palavras mexeram bem mais fundo do que eu gostaria.

— Eu, Leiftan, prometo servir a ti fielmente por toda minha vida, proteger-te sendo sua espada e escudo. Meu sangue e alma pertence a ti até meu último sopro de vida – ele declarou, gotas carmesim caindo entre nós, fazendo daquela terra a nossa testemunha.

Eu não sabia como seria a frase dos votos normalmente usada pelos guerreiros, mas senti em minha alma que Leiftan se comprometera de coração inteiro e puramente a mim. Não havia dúvidas em seu olhar, apenas admiração e respeito.

— Eu aceito – respondi, incapaz de pensar em algo a mais ou mais bonito.

Surpreendendo-me, apesar de imaginar que ocorreria algo assim, Leiftan pousou os lábios em meu pulso. Seu olhar nunca deixando o meu, como se precisasse de uma confirmação. Assim, eu assenti. Senti a leve pressão de seus dentes sob minha pele, perfurando-a, fazendo com que meu sangue fosse até sua língua, selando nosso pacto.

Uma onda de eletricidade correu-me por inteira e eu sabia que Leiftan também sentira o mesmo. Aquele momento parecia ter sido congelado, pausado apenas para nós. E quando ele afastou-se do meu pulso – já curado – eu senti que não estava mais sozinha.

E nunca mais estaria.

 

(…)

 

— Lembra-se de tudo o que instruímos? - Leiftan questionou para Naia.

Nós três estávamos posicionados ao lado do poço que na verdade era um portal, prestes a iniciar um plano perigoso. Naia havia fundido a sua flor em sua pele, fazendo com que ela se tornasse uma exótica tatuagem em sua coxa esquerda. Sem dúvida dava um charme a mais para a Dríade, gritando por um passe livre aos níveis superiores do inimigo no mundo humano.

Ainda havia uma raiva queimando de forma calma em meu peito, acumulando-se para quando eu explodisse-a no Trio Negro. Pessoas, não importando se eram mágicas ou comuns, não eram mercadoria a ser vendida. Se antes eu estava louca para acabar com eles, agora eu respirava isso.

— Sim, não vou lhes decepcionar – ela respondeu.

— Eu sei que não irá – comentei, apertando suas mãos antes de fecharmos nossas expressões.

Respirando fundo, entrei na personagem que criamos. Uma jovem acuada, medrosa e sem chances de fugir do destino que lhe aguardava. Deixei meus ombros caírem e se curvarem, coloquei uma expressão apática e suprimi minha magia no fundo do meu ser.

Leiftan precisou amarrar os pulsos da Dríade, bem como os meus. Assim, ele nos segurou pelos braços enquanto nos sentávamos na borda poço. Ignorando sem muito sucesso o frio em minha barriga, nos largamos em direção ao fundo.

Uma pequena parte da minha mente ainda pensava que nos estatelaríamos lá em baixo, então precisei conter o arquejo quando fomos envoltos por uma densa névoa negra, que espiralava ao nosso redor, levando-nos em direção ao QG.

Senti meu joelho se chocar contra um piso duro, enviando um choque dolorido pela perna. Comprimi os lábios para evitar uma exclamação de dor, porém Leiftan me deu uma olhada clínica, sem dúvidas sabendo o que me aconteceu.

Como estávamos perto demais do inimigo ele precisou ignorar-me, apesar de que notei sua mão pressionar um pouco mais firme em meu braço, como se estivesse se impedindo de me verificar. Um pouco tímida, testei a ponte recém-criada entre nós e lhe enviei um sopro de sentimento, dizendo que estava tudo bem.

Reparei que a tensão em seus ombros relaxou um pouco. E foi bom que acontecera, pois não demorou muito para que o local ficasse alarmante. Inclinando a cabeça joguei um pouco do cabelo em frente ao meu rosto. Estudei por entre os fios o local onde caímos, descobrindo que era a prisão do QG e que a poucos metros de nós uma figura vestida de preto nos olhava com curiosidade.

— Teve uma boa pescaria, Leiftan? - a figura comentou, a voz masculina.

— Teria sido melhor se o imbecil do seu subordinado não tivesse me desafiado, Kreis – a voz de Leiftan era puro gelo.

Havia me acostumado com seu outro lado que foi um pequeno choque ouvi-lo como anteriormente, um inimigo. Naia para seu crédito se encolheu ao notar o olhar a figura sobre si, abaixando o olhar ao chão quando ele dava dois passos mais perto.

— Era questão de tempo para que Dalabh se revoltasse com sua coleira – o homem comentou, distraidamente percorrendo o corpo de Naia com o olhar.

Precisei morder minha língua para me controlar ou teria jogado-o contra a parede com meu vento de tamanho nojo dele. Leiftan apertou meu braço em claro sinal para que me controlasse. Concentrado na Dríade, o gesto acabou por passar despercebido pelo homem.

— Espero que não se zangue por tê-lo matado. Estava cobiçando a minha presa – Leiftan respondeu, quase como se estivesse entendiado – vou levar essa jovem para a cela dela e em seguida quero um pouco de sossego – terminou, indicando que a última parte da fala fosse para mim.

A atenção de Kreis voltou-se em nossa direção, notando o modo como estava curvada e submissa.

— Infelizmente o Mestre tem outros planos. Ele já preparou tudo para que a cerimônia ocorra assim que botasse os pés aqui.

Exatamente como imaginávamos.

— Que seja – foi a resposta de Leiftan.

Kreis virou-se para as escadas, como se o assunto tivesse sido encerrado. Leiftan colocou Naia a sua frente, ainda lhe segurando o braço, e eu ao seu lado. Subimos alguns lances da enorme escadaria, até que ela deu para uma ala desconhecida por mim.

Consegui capturar uma leve emoção de surpresa em Leiftan, demonstrando que o mesmo não sabia da existência de tal local. Sua expressão, no entanto, permaneceu como anteriormente, entediado. Comecei a soletrar o alfabeto mentalmente enquanto via Naia ser encarcerada numa cela fétida e escura, ao lado de vários outros seres mágicos.

Trinquei os dentes, furiosa. Senti Leiftan acariciar-me mentalmente, enviando pensamentos calmos como eu havia feito com ele anteriormente. Vou derrubá-los. Decidi que traria a baixo cada pedaço de pedra daquele local quando acabasse com o Trio Negro. Destruirei todas as algemas e barras das celas.

E quando dava os passos para longe daquelas pessoas, prometi-me que os vingaria. Entrelacei os meus pensamentos com os de Leiftan, recebendo uma comoção em resposta, como se ele aprovasse minhas ideias.

Eles queriam uma salvadora? Pois a teriam.

(…)

 

O arquejo surpreso que me escapou não foi motivo de alarde pelos presentes, afinal era essa a reação que queriam. O tal Mestre havia transformado o Salão das Portas em um local digno de um baile. E cá estava eu, suja e maltrapilha. A noiva.

No pequeno palanque onde Miiko costuma fazer os anúncios do QG estava o altar com um sacerdote de vestes púrpuras segurando um grosso livro. E abaixo dele haviam arranjos de tonalidade parecida, intercalados por ramos verdes-escuro. Uma paródia de mal gosto com a cor dos olhos de Leiftan e meus.

O público que assistira a cerimônia apressada era relativamente menor em decorrência do último acontecimento. Era quase cômico que eu tivesse surgido do mesmo local que escapei da última vez. E algo nos olhos dos presentes me indicava que era exatamente essa a intenção do Mestre. Sem dar mais tempo para apreciação do local, Leiftan e eu fomos conduzidos ao altar improvisado depois de ele soltar os meus pulsos.

Um pouco escondido pelas sombras, atrás do sacerdote, estava uma figura impressionante. O homem era alto mesmo para os padrões eldaryanos, o cabelo vermelho sangue era cortado rente a cabeça em estilo militar, os olhos prateados e elétricos pareciam escanear a alma. Vestia-se como um Imperador, dono de tudo e todos.

Não havia dúvidas de que era o Mestre.

Leiftan tornou-se um poço de cautela ao meu lado, nenhum pensamento ou emoção passava por ele ou roçava em mim. Isolando-nos daqueles olhos perturbadores. Observei-o se curvar diante a figura, puxando-me para fazer o mesmo.

— Fico contente que tenha conseguido recuperar sua noiva raptada – a voz era como um sopro de morte.

O arrepio que me percorreu era puramente de alerta. Ele não era certo, não devia estar nesse mundo. Era a única coisa que conseguia pensar.

E de algum modo a resposta me estapeou a mente, trancando a minha respiração. Rezei que o ser a nossa frente achasse que era pela sua frase e não por minha descoberta. Meu sangue rugia que eu estava certa.

Céus.

Desde que o Trio Negro lançara sua poderosa mão sob Eldarya e fizera domínio pelos territórios, ouvia-se falar do Mestre que comandava as legiões. Ninguém sabia seu nome ou de onde viera. Mas seu poder minimamente mostrado em campo era aterrorizador. E quando ele dissera que fora um enviado pelo Rei dos Demônios ninguém duvidara.

Mas, a verdade que eu sentia em meus ossos era outra. E o modo como aqueles olhos prateados me observavam parecia notar o turbilhão que mexia-se no meu interior. Por quê o ser a minha frente não era o enviado como dizia ser.

Era o próprio Rei dos Demônios.

— Sim, Mestre – foi a reposta de meu guerreiro enquanto levantávamos o tronco.

— Espero que não se zangue por eu ter me adiantado. Fiquei descontente em saber que o casamento de meu fiel servo foi tão brutalmente interrompido.

Engoli o vento que uivava para sair de mim, fixando meu olhar nos ombros do sujeito.

— Sinto-me honrado por ter pensado nisso, Mestre – Leiftan falou calmamente.

Eu o invejava por conseguir se controlar tão bem, por ter aguentado essa pressão absurda por anos. Coloquei meus pensamentos nas pessoas que me eram queridas, estava fazendo aquilo por elas. Sem dizer mais nada, o Mestre gesticulou para o sacerdote que prontamente iniciou a cerimônia.

Mal ouvi as frases proferidas, entretanto consegui senti o fio de magia que estava envolta nelas. E quando chegou o momento que Leiftan e eu nos aceitávamos, senti-o lançar um fio do nosso laço ao nosso redor, para que ninguém desconfiasse do nosso segredo, que achassem que era o feitiço velado ao casamento sendo impregnado a nós.

Segui os momentos seguintes conforme o fluxo, fingindo estar um pouco anestesiada pelo feitiço que não deveria ter notado. Minha atuação deve ter sido boa o suficiente, pois nem mesmo o Mestre deu-me um segundo olhar.

O Rei Soturno deixou o Salão pouco instantes depois, provavelmente satisfeito de ter enclausurado o provável salvador. Ele sabia sobre a minha descendência ou apenas desconfiava? Meus pensamentos foram interrompidos pela súbita surpresa que Leiftan gritara através do laço. Olhei-o intrigada e o encontrei ao lado do sacerdote com dois acólitos.

Que diabos? Quase gritei a frase até o guerreiro.

Eles querem presidir a consumação do casamento a resposta veio com um tom ultrajado.

Meu estômago despencou nos pés.

Ah, claro que aquele ser vil queria ter a plena certeza de seus passos. Eu sabia através de leituras infrutíferas na torre de Huang Hua que casamentos com teor mágico havia a bendita da consumação, sendo nojentamente presenciada por algum sacerdote para confirmar o caso.

Uma lista bem feia de palavrões me veio a mente, quando me dei conta que era exatamente aquilo que aquelas figuras que ladeavam o Leiftan fariam. Os olhos dele se semicerraram ao sem duvidar ouvir a lista, precisando segurar o riso inapropriado.

Então como um raio uma ideia me apareceu. Fingindo estar envergonhada ante o sacerdote, transmiti a ideia a Leiftan. O sorriso de canto que poderia ser interpretado como marido ansioso pelo bote era na verdade a resposta ao plano. Que ele estava dentro.

— Acredito que precisamos de um banho primeiro – Leiftan comentou aos três.

Os acólitos me deram uma boa olhada, notando a sujeira e o estado acabado e prontamente concordaram. Com isso fui praticamente jogava em direção a duas jovens, já prevendo a sessão de tortura que viria para me embelezar.

— Até mais jovem esposa – o sádico gritou do palanque, sem dúvidas se divertindo um pouco com a situação.

Você me paga. Dardejei a resposta, estreitando os olhos.

(…)

 

Depois do que pareciam ser horas, as duas jovens me colocaram de frente a um espelho de corpo inteiro. Apesar de não ter gostado de ter sido esfregada em todas as partes e depois ser depenada como um frango, elas fizeram um trabalho e tanto.

O vestido lilás diáfano enroscava-se por meu corpo, oferecendo um pouco de imaginação. O conjunto íntimo era delicado, o que eu agradecia. Afinal, era possível que durante o plano eu pudesse me encontrar em poucos panos. O cabelo havia sido lavado, secado e penteado, caindo como uma cortina sob meus ombros e costas.

O rosto fora deixado com poucos cosméticos. Elas pintaram apenas os lábios para ficarem mais rosados e aplicaram um pouco de rubor nas bochechas, como uma jovem esposa corada pela consumação. Ridículo!

Acredito que deva ter gritado em pensamento de forma alta demais, pois uma risada rouca veio do outro lado. Ah, então o meu guerreiro tinha um lado sádico, igual à sua mascote que destruíra meu quarto certa vez.

— Vamos – uma das moças me pegou delicadamente pelo braço, indicando que o tempo de preparação tinha se encerrado.

Elas colocaram um pesado manto em mim antes de conduzirem-me pelos corredores, poupando-me de olhares lascivos de terceiros. Ficaria grata se não estivesse me levando como um cordeiro para o abate. Sorte, eu tinha sorte por Leiftan e eu termos um plano para contornar isso ou seria um real abate acontecendo.

Fui condizida para uma sessão dos dormitórios desconhecida a mim. Subimos alguns lances de escada, chegando no que poderia ser descrito como cobertura daquela ala do QG. Sem dúvida tal local fora alterado de acordo com a vontade do Mestre, tornando-se o local do responsável pela Guarda de Eel. No caso, Leiftan.

Parecia ser uma mistura de escritório, sala de estar e quarto sem divisórias. Logo na entrava continha dois sofás, duas poltronas, uma lareira e várias estantes, então mais a frente havia uma mesa de madeira escura que dava para as amplas janelas do piso ao teto que apresentavam as paisagens da praia, e no canto oposto a porta estava uma grandiosa cama.

Engoli em seco, apreensiva. Eu sabia o que precisávamos fazer, mas ainda sim era um pouco constrangedor. Leiftan apareceu ao meu lado e dispensou as duas moças que o olharam um segundo a mais, provavelmente me invejando. O que era compreensível já que o conjunto de calça e blusa de linho negro que vestia faziam jus ao corpo bem treinado do mesmo.

— Ignore-os, sim? - ele falou para mim, mas, na verdade, era para os três sentados próximo a janela, perto o suficiente para ver o que acontecia na cama.

Ridículo!

Ele me conduziu para lá, fazendo leves círculos em meus ombros, acalmando-me da ira e os fazendo acreditar que era para me relaxar. Chegando no móvel, não precisei fingir a hesitação de subir a cama.

— É realmente necessário? - pedi, a voz um pouco manhosa quando queria grunhir.

Leiftan deu um suspiro dramático, fazendo-me imaginar se ele poderia tentar ser ator caso quisesse.

— Infelizmente sim – respondeu, sentando-se e fazendo sinal para que fosse até ele.

Você vai correr 5 km todos os dias por um mês rosnei mentalmente, sabendo que ele estava se divertindo com meu embaraço.

Como quiser, minha senhora respondeu, divertido.

Engoli a resposta suja que queria lhe dar e sentei em seu colo, o coração disparando. Senti os olhos do sacerdote grudar em nós e escondi o rosto da dobra do pescoço de Leiftan.

Pronto?

Definitivamente retrucou, o dedo passeando pelo meu braço.

O duplo significado naquela única palavra me fez ter uma reação calorosa, fazendo com que soltasse um pequeno e levíssimo arquejo. Eu rezava para que ele achasse que era atuação. Antes que eu pudesse fazer algo, Leiftan me deitou na cama, apoiando-se por cima de mim.

Meu coração estava quase na boca quando ele colocou aquela boca pecaminosa em meu pescoço, soprando uma risada baixa demais para que apenas eu ouvisse, arrepiando-me inteira. Então ele começou a trabalhar.

Os lábios se mexiam rapidamente conjurando um feitiço de sono, de minha parte invoquei a mais leve brisa das janelas abertas, carregando o feitiço até os três espectadores. Precisei de cada grama de concentração em não jogar o feitiço neles, já que uma mão marota dele passeava por meu joelho, erguendo o vestido.

Pensamento melhor, serão 10 km pensei para ele.

Havia um brilho malicioso naquela imensidão verde quando levantou a cabeça. Oh, eu o faria pagar muito caro por isso. Querendo me vingar, envolvida por alguma névoa luxuriosa, arranhei levemente seu pescoço e desci as unhas pelo peitoral. A sua respiração sendo presa não fora atuação.

O feitiço lembrei-lhe.

Estreitando os olhos ele voltou a conjurar praticamente sem emitir som algum, mas a mão no joelho subiu alguns centímetros a mais e a outra afastou os cabelos do ombro direito, onde ele depositou um beijo preguiço entre a pausa de uma frase a outra.

Era errado queimar por aquela encenação? Céus, meu sangue rugia e não era de raiva. Foco. Eu precisava de foco, mas aquele homem não ajudava nenhum pouco. Foi a olhada indecente do sacerdote nas minhas coxas expostas que me trouxe a realidade.

Levei o feitiço devagar, rodeando-os, pousando as palavras de Leiftan com calma. Enquanto o guerreiro fazia outro feitiço com as mãos em mim. Para meu desespero eu estava gostando. A barra do vestido já estava quase no final das coxas e as duas alças caídas quando os dois acólitos deram os primeiros sinais de sono.

O sacerdote nem piscava.

Merda.

Impulsionada pelo desespero, levei minhas mãos até a barra sua blusa para retirá-la. Para que ele continuasse entoando de forma inaudível aos demais, fingi que beijaria seu queixo enquanto começava a puxar a peça, para esconder nossos rostos. O pequeno olhar de alerta de Leiftan me lembrou de seus machucados as costas. Pensando rapidamente, virei-o invertendo nossas posições.

— Não precisamos tirar tudo, não é? - pedi como se estivesse envergonhada.

Abaixei meu rosto, fazendo com que meu cabelo fizesse uma cortina entre os nossos rostos e o do sacerdote. Eu praticamente rodeava o senhor com o feitiço, roçando em cada centímetro de pele do observador.

Ele está quase dormindo Leiftan me avisou mentalmente.

Para dar crédito a “observação” fingi descer o quadril um pouco mais, como se estivesse me preparando e Leiftan também. Ah! Era tão embaraçoso! Lancei mais conjurações em torno do sacerdote até que ouvi com alegria o ronco dele.

Sai devagar para o lado para que não fizesse barulho nenhum que o acordasse e constatei que estavam os três afundados no sono. Desabei na cama, aliviada enquanto Leiftan repetiu o feitiço mais quatro vezes para ter certeza antes de soltar um suspiro aliviado.

— Serão 20 km e você vai expulsar cada maldito sacerdote desse local – comentei, quase roxa de vergonha.

Leiftan desabou ao meu lado, exausto pela adrenalina e pelo feitiço.

— Como quiser, minha senhora.

Se essa foi a nossa primeira prova, nem queria saber quais seriam as próximas.


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Notas finais do capítulo

Ma gente!! Que coisa, non? Quem gostou dá um grito, haha.
Espero que tenham se divertido e gostado, estou a espera dos reviews de vocês.
Um beijo e até o próximo!



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