- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 5
Cinco


Notas iniciais do capítulo

Mais um. Obrigada pelos comentários, quando tiver tempo eu vou respondê-los! :)



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Jane acordou sobressaltada no meio da noite. Noite, não, madrugada. Ela checou as horas no celular e descobriu que eram 3:48. O motivo de ter acordado lhe pareceu misterioso, até que ela escutou um murmúrio vindo da sala. Maura está tendo pesadelos, ela pensou e se levantou afim de checá-la. Ao se aproximar do sofá, entretando, ela temeu tocá-la ao se lembrar do acidente do dia anterior. Ela nem mesmo se inclinou: apenas chamou seu nome suavemente uma vez, e depois de novo quando a outra não fez sinal de que tinha ouvido. Nada. Ela continuava murmurando coisas ininteligíveis, se remexendo de um lado para outro. Insegura, Jane optou por tocá-la, preparada para pular para trás caso Maura reagisse mal. O que ela descobriu no momento em que sua mão tocou a mão da outra foi que Maura estava quente. Quente demais. Meu Deus, Jane pensou quando pressionou sua mão da testa da outra. Ela estava ardendo de febre. Apavorada, Jane correu até a cozinha e revirou o armário. Ela tinha certeza que tinha um ibuprofeno em algum lugar. Ao encontrar a caixa - errada - Jane resmungou. Comprimidos não iriam servir agora, ela precisa do remédio líquido; ela tinha também, dentro de uma caixa de papelão pequena, uma que ela tinha colocado especificamente medicamentos e produtos de higiene - que de novo ela não fez questão de abrir, fora tão mais fácil comprar tudo de novo. Ela correu para o quarto desocupado e encontrou a caixa imediatamente, jogando quase tudo pelo chão até finalmente encontrar o remédio.

'Merda.' Ela resmungou enquanto pingava as gotas num copo. Qual deveria ser a quantidade? Ela não sabia o peso da mulher, e a outra parecia tão comprometida que ela temia que uma dose alta demais pudesse matá-la. Trinta, ela decidiu. Talvez trinta fosse o suficiente. A parte difícil, entretanto, era arrumar um método para que a outra engerisse o remédio. Sem outra opção - Maura estava delirando, desligada da realidade - Jane não viu outro jeito senão sentar-se no sofá, fazê-la se sentar e a embrulhar na coberta.

'Não.' A outra protestou com um choro.

'Eu não vou machucar você, Maura. Eu tô tentando te ajudar.' Jane disse, em vão.

'Dói. Por favor, sem me machucar mais.' Ela disse com confusão, e Jane teve que morder a parte interior da bochecha para não perder a coragem. Ela tentou enrolar Maura na coberta, mas a outra dificultava a tarefa jogando suas mãos contra a mulher. Era uma luta, e Jane não se importava se ela queria ser tocada ou não. Decidida, ela jogou a coberta ao redor de Maura e a abraçou, puxando-a para si. A mulher resistiu, mas quando a força acabou Jane a encontrou deitada em seus braços, pedindo que a soltasse, ou que não a machucasse de novo, ou reclamando de dor. Jane se sentiu sufocada. Ela ignorou o que estava sentindo e focou no que precisava fazer. Com dificuldade - Maura não parava de se remexer - ela agarrou o copo que estava na mesinha ao lado do sofá, dividindo o espaço com o abajur, e levou-o perto da boca da loira. Por puro instinto, a outra virou o rosto e se negou a tomar.

'Maura, é remédio. Tem um gosto horrível, eu sei, mas você vai se sentir melhor.' Ela tentou negociar, no fundo só falando para que pudesse se sentir mais segura do que estava fazendo.

'Não.' Ela disse de novo, chorando.

Jane queria gritar. Não com Maura, porque afinal ela não tinha culpa daquilo. Ela queria gritar por conta da situação que era desesperadora. Ela poderia chamar uma ambulância, mas provavelmente iriam rir da cara dela por ser apenas uma febre. Uma febre terrivelmente alta, entretanto. Ela não sabia o que fazer, ela só sabia que a mulher precisava tomar o medicamento. Ela tentou convencê-la por palavras, dizendo que era apenas remédio contra febre, não funcionou. Ela se dispôs a beber o primeiro gole - porque agora Maura dizia que qualquer veneno poderia ser ingerido, se é que fazia sentido - então ela fingiu beber um pouco, e quando finalmente - por um segundo de lucidez, talvez - Maura concordou a beber, ela tentou cuspir o líquido amargo imediatamente. Jane tinha previsto o que iria acontecer, e levou a mão na boca dela rápido o suficiente para que ela não o fizesse. Se parte da água e remédio molharam sua mão, a outra parte Maura tinha engolido. Jane sabia porque ela tossia como se tivesse engasgado.

'Você!' Maura quase gritou, acusando-a. 'Me solta. Você me machuca.' Ela colocou as mãos no peito de Jane e tentou empurrá-la. Fraca demais, a ação não surtiu efeito. Ela tentou de novo, dando um leve soquinho agora. Jane a olhava com agonia; ela não sabia se a fraqueza era por conta da frebe e delírio, ou se ela estava tão terrivelmente debilitada.

'Maura, por favor.' Jane quase implorou. Deus, ela não sabia fazer aquilo. Porque aquela mulher tinha ido parar na casa dela, vindo do nada? Jane não sabia cuidar de pessoas. Ela não tinha tato nenhum. Ela podia correr atrás de bandidos, e era apenas nisso no que era boa. Ela nem sabia se aquilo iria ajudar Maura. Provavelmente ela iria traumatizá-la ainda mais. 'Eu só quero que você fique bem. Eu não vou machucar você.' Ela disse e rezou silenciosamente para que, de repente, Maura se curasse.

'Dói tanto.' Maura disse, e como uma lufada de ar frio uma memória cruzou a cabeça de Jane.

Dói tanto. Ela mesma tinha dito quando tiraram os bisturis de suas mãos. Dói. Dói tanto, Korsak. E ela tremia também, de frio e de dor, principalmente.

Aquela memória se tornava, muitas vezes, um de seus pesadelos. Ela acordava respirando fundo, como se o ar lhe faltasse. Ela conhecia aquele mesmo tipo de dor de que Maura se referia. Ser agredido por alguém. Ter as noites tranquilas de sono extinguidas. Ter a sensação de que qualquer um poderia lhe machucar. Realmente, doía.

'Eu sei, Maura.' Ela disse, e com os olhos febris a loira a encarou. 'Eu sei que dói. Eu sei mesmo, e é por isso que eu não vou machucar você.' Ela segurou a manga de seu pijama e limpou a boca molhada da outra. O gesto pareceu surtir um efeito tranquilizante, ou talvez fosse só o restante da energia da mulher acabando. A loira se aquietou, sendo que o tremor causado pela febre era o único movimento sentido por Jane. Em certo ponto Maura adormeceu, Jane nem se incomodou em tirá-la de seus braços. Em vez disso, ela se apegou na lembrança que ainda pairava sobre sua cabeça e chorou.


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