Londres, Inglaterra

1998

Hans batia a minha porta, com aquela mesma insistência natural dele. Abri, o mesmo se encontrava com aparência precária: roupas surradas e molhadas, expressão devastada e segurando entre seu chapéu uma carta que eu já sabia bem do que se tratar.

— Robert lhe mandou isto, senhora. – estendeu à carta, seus olhos bondosos quase me fizeram chorar.

Assenti, rangendo o maxilar e peguei a carta. Hans se despediu, me deixando só com um pedaço de papel que acabaria com minha vida.

Sentei-me na poltrona, devagar desenrolando o papel. As palavras ali eram tão cruéis quanto imaginava.

Querida Annelise,

Não sei como começar esta carta, mas de um jeito ou de outro preciso o fazer, não? Não leve a mal, querida, você foi a melhor pessoa que eu conheci. Imaginava um belo futuro para nós dois, mas depois do que aconteceu, você sabe, não posso ficar.

Como poderia querer eu que você entendesse?

Não há palavras para explicar meu erro, disso você sabe melhor que eu. Eu sinto muito, Anne, mas não posso assumir esta criança.

E você precisa saber, eu também não me sinto mal em ter lhe traído.

Não consigo lidar com um filho agora, não nessas condições...

Sinto muito Annelise.

Com amor,

Robert

Lágrimas cruéis desciam descaradamente por meu rosto, enquanto amassava a carta com fúria. E, como se para piorar, as contrações começaram. Gritei sentido minha bolsa estourar. Abri a porta, correndo para a chuva, gritando por ajuda.

Ouviu-se o som de algo parecido a um trovão, e logo depois gritos. Então senti o impacto de algo frio, metálico, arranhando a pele nas minhas costas.

 Depois disso, era apenas sangue e dor, e o som distante de um choro de bebe.  

Queria apenas poder ter visto o rosto da minha filha, mas isso nunca chegaria a acontecer.

Caso algum dia você encontre a verdade, filha, não os deixe a tirarem de você. Você é mais forte que eu, mais forte do qualquer um.

Espero que saiba que eu te amo, mesmo sem te ver.

Eu tenho inveja da chuva

Que cai sobre sua pele

É mais perto do que minhas mãos têm estado

Eu tenho inveja da chuva

Eu tenho inveja do vento

Que ondula através de suas roupas

Está mais próximo do que a sua sombra

Oh, eu tenho inveja do vento, porque

Eu desejei a você o melhor

Do que o mundo pode dar

E eu lhe disse quando você me deixou

Não há nada para perdoar

Mas eu sempre pensei que você ia voltar, me dizer que tudo que você encontrou foi

Um coração quebrado e tristeza

É difícil para mim dizer, eu tenho inveja da maneira que

Você é feliz sem mim

(Jealous, Labrinth)