~ 10:02, quinta-feira, maio, ano: 2140

Acordei mais cedo hoje de propósito… Eu poderia ter ficado até mais tarde e receber outra bronca do chefe, mas eu to acostumada, nem ligo mais…

— Minx para de bater na porta… - disse pro gato que estava tentando abrir a porta do quarto - Obrigada por me acordar! - fiz carinho nele.

Ta… talvez não tenha sido de propósito, mas aproveitei que fui acordada para levantar de uma vez.

— Abrir cortinas. - murmurei me espreguiçando.

As cortinas se abriram e o cheiro de café se exalou pelo apartamento como todo dia de manhã. Dei comida pro Minx e me arrumei para sair.

~ 10:58, quinta-feira.

Eu cheguei tão cedo no trabalho, que Suzana até estranhou… perguntou se estava tudo bem.

— To sim! E você? - disse.

— Eu to, mas o chefe ta querendo falar com você na sala dele.

"To fud…" - pensei

Fui para a sala dele.

— Bom dia, Chefe.

As cortinhas estavam fechadas, mas quando entrei ele disse.

— Cortinas.

As cortinas se abriram e ele virou a cadeira.

— Helena, vem aqui.

Fui até a mesa dele e ele fez um gesto para eu sentar na cadeira em frente da mesa dele. Passou a mão na mesa e o holograma que eu estava analisando no dia anterior apareceu.

— O que tem de errado? - ele perguntou levando a boca uma taça, derrengado*, com whisky.

(* derrengado: Algo torto, nada reto.)

Olhei para o prédio a marca estava lá. Não ia contar pra ele que eu via um… Borrão ou sei lá o que, ele me acharia mais doida do que já cha. Então, menti.

— Vejo uma falha no subsolo.

Ta bom, menti e não menti. Aquela mancha estava no subsolo de fato.

Ele girou o holograma.

— Não tem nada.

Eu abaixei a cabeça. Estava morrendo de vontade de falar mas ele me acharia maluca e me demitiria, eu acho.

— Não vai dizer nada?

— Não.

 Ele parou na minha frente.

— Até lhe ofereceria um drink. Mas como foi grosseira não vou lhe oferecer.

Sr. Spies era um chefe muito estranho. Usava terno preto e todo dia estava com uma gravata diferente. Não repetia a cor um dia se quer.

Largou a bebida, pegou o cigarro de cima da mesa e assoprou a fumaça no meu rosto, simplesmente odeio aquele cheiro.

— Para de tossir.

— Se você parar de assoprar essa Droga na minha cara.

— O que? - ele disse indo um pouco pra frente.

— Nada.

Ele passou a mão no meu cabelo.

— Cabelo bonito.

Levantei da cadeira e fui pra porta.

— Não se atrase mais pro trabalho. - disse ele sorrindo idiotamente na minha opinião.

Tranquei a porta com força e fui pra minha mesa. Passei a mão no rosto.

— Bom dia, Heleka. Chegou cedo. - disse Rafa passando a mão no meu cabelo… Ele eu não ligava, adorava quando fazia isso.

— Bom dia…

— Que foi? - perguntou, neguei com a cabeça, ele sorriu fofamente. - Sua maquiagem borrou.

— Aaah… Depois eu arrumo.

Ele pegou a minha mão e deu um beijinho nela, depois bagunçou meu cabelo.

— Brigada. - disse sorrindo pra ele.

**

— Rafa? Ta prestando atenção no que to falando? - disse comendo meu macarrão.

— Hãn? Ah, desculpa. To sim.

— Então o que eu disse?

— Alguma coisa sobre o trabalho.

Virei os olhos.

— To falando que eu achava que meu trabalho era só verificar estruturas digitais. Não fazer anúncio… Porra, o próprio computador pode fazer isso! E eu na…

— HELENA! - ele falou mais alto. - Estamos em horário de almoço! Vamos só comer e conversar sobre coisas legais como as pessoas normais fazem?

Percebi que tinha levado uma bronca.

— Okay… Então puxa assunto. - disse.

— Eu confesso que não ouvi nenhuma palavra daquilo que você estava me dizendo.

— Eu reparei. - disse fazendo a mesma cara que ele tava fazendo, ele deu risada. - No que estava pensando?

— Quer que fale a verdade? - disse ele.

Concordei com a cabeça.

— Você sabe.

Senti meu rosto esquentar e dei uma risadinha.

— Você não muda. - disse pra ele - Isso é bom ou ruim?

Ele pois a mão dele em cima da minha que estava apoiada na mesa.

— Depende. - ele disse apertando ela - Pra mim é bom… E pra você?

Sabia a resposta que ele queria. Essa era a maneira dele dizer que gosta muito de alguem… E pra mim já disse várias vezes, porém não sei por que motivos sempre desviava de assunto.

Ele debruçou sobre a mesa e deixou o rosto bem próximo ao meu.

— Bom ou ruim?

Dei uma risadinha e tirei a minha mão de baixo da dele que se afastou.

— Sua comida ta boa? - perguntei desviando de assunto.

— … Sim.

Confesso que Rafa é um cara que… Sei lá… Não dá nem pra explicar, ele me faz muito bem. Tem cabelo castanho escuro, nunca arruma ele de manhã, e as vezes fico bagunçando e fazendo cafuné. Tem olhos verdes e confesso que são os mais lindos que já vi. Sempre foi um pouquinho mais alto que eu.

Tem um jeito engraçado de ser que faz ele arranjar conversa com quem quiser, e, quando ele quer, pode ser o cara mais fofo do mundo. Somente pelo fato de fazer de tudo para agradar uma mulher que ele goste. Sempre que o vejo ele esta com blusa de cor diferente e com uma jaqueta por cima, ele ama jaquetas ainda mais se for de couro… E fica bonito com elas.

E além do mais, ele tem um sotaque de inglês. Que me deixa muito… Calma quando fala algumas coisas.

Ele é meu amigo de infância, e gosta muito de mim. Dá só pra ver na maneira que ele me olha… Me perguntam: "por que você não ta com ele?", me chamem de idiota, mas eu não sei o por que.

Ele pois um braço na mesa tirou o celular do bolso e começou a passar a mão no cabelo.

— Gosto do seu cabelo sabia? - disse sorrindo.

Ele deu um sorrisinho fofo de volta.

— É porque você gosta de mim. - disse ele com o mesmo sorriso.

— Convencido. - eu ri.

— Isso foi um sim?

— Hmm… - olhei para o relógio - Vamos voltar, acabou o horário de almoço.

**

— Já já a gente sai… Quer carona? - disse olhando os andares do prédio.

— E entrar num carro contigo?! - disse ele rindo - Quero morrer não muito obrigado.

— Idiota! - disse rindo.

— Claro que aceito uma carona!

— Helena… - disse minha amiga que senta duas mesas atrás da minha - Pode dar carona pro show do Gray Snake sábado quando vocês forem?

— Claro Bia… No problem.

— Gíria antiga. - ela disse dando risada.

— Você sabe que eu tenho costumes antigos… - falei mexendo no holograma.

"Vou passar no terreno daquele prédio antes de ir pra casa…" - pensei.

**

Quando sai do trabalho, peguei o carro e fui pelo caminho de sempre, mas depois entrei numa rua sem saída e no final dela vi o terreno.

Parei o carro na frente dele, desliguei e andei até o meio dele… E senti um… Pode se considerar um mal estar.

— Que foi? - disse uma voz atrás de mim.

— Rafael! Que susto… - disse virando rapidamente.

— Se tomou susto é porquê estava fazendo alguma coisa errada… - disse ele rindo.

— Bobo.

— O que você vê de errado nesse lugar? - ele disse.

— Não sentiu nada quando veio aqui pro meio? - perguntei.

— Não… O que você veio fazer aqui?

— O que VOCÊ veio fazer aqui? - perguntei depois disse dando risada - Ta me seguindo?

— …

— Isso foi um sim. Não precisa se preocupar eu to bem… Mas você…

— Eu? Que tem eu?

— Nada. Ta frio, vai pra casa, seus braços… - disse pegando e passando a mão nos braços dele.

— Que tem eles?

— Ah… São… ESTÃO! - disse me corrigindo e soltando ele  - frios.

— Sempre cuidando de mim…

— É o mínimo que posso fazer por tudo que você já fez por mim. - disse voltando pro carro.

— Posso ir na sua casa antes do show?

— Claro, problema nenhum… podemos ver filme.

— Oooou… - disse ele dando um sorrisinho de lado e pondo o braço em volta do meu ombro - poderíamos dar uns beijos assim…

Dei um sorrisinho sem graça e tirei o braço dele do meu ombro.

— Tchau Rafa… - disse dando um beijo no rosto dele e indo pra casa.

**

Quando cheguei em casa abri a porta e Minx veio logo me cumprimentar…

— Oi Minx! Tudo bem? - disse pegando ele no colo e fazendo carinho que ronronava - Ótimo! Eu também estou ótima. – sorri para o Felino.