Liawë escrita por Vaalas


Capítulo 2
Capítulo II ― Onwil


Notas iniciais do capítulo

Os povs vão variar entre Freya e Onwil mesmo. Esse talvez seja o mais curto de todos :D
Boa leitura, irmãos de verão



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― Não seja tão orgulhoso, Onwil. ― senti a ponta do meu manto ser puxada, e desvencilhei-me de seu toque. ― Você vai morrer se for até lá e sabe muito bem disso. Ninguém vai até os Dedos há uns cinquenta anos por uma boa razão.

― Não sou ninguém, Shrimas.

Ouvi seu suspiro e senti sua mão se prender no meu ombro, impedindo-me de prosseguir. A lealdade e preocupação de Shrimas sempre foi um dos motivos para confiá-lo minha vida, minha amizade e o posto de irmão de verão. Naquele momento, no entanto, foi um motivo para odiá-lo um pouco mais.

― Escolha os Desertos, irmão ― suas unhas apertaram minha pele ― Não os Dedos.

― Há cinquenta anos que a Liawë está abandonada, Shrimas. Sem ninguém para ir aos Dedos em meio século, a nossa árvore sagrada do norte morre, nossa magia morre. É isso que você quer?

Ele soltou um riso de escárnio.

― Não fale como se você se importasse. Não seja tão mentiroso, você apenas quer provar um ponto à ele.

Sim, eu queria, mesmo que por puro orgulho. Queria provar para Elodin, sentado em seu trono de freixo, que seu filho não era só mais um elfo perdido na libertinagem do reino dos homens. Queria provar que as décadas gastas em Croa e junto aos Povos Livres foram de bom proveito e me trouxeram experiências espirituais, ensinamentos de batalha e guerra ― mesmo que, de fato, das sete décadas que fiquei por lá, três foram devotadas à libertinagem e aos prazeres humanos ―, e que eu seria útil em qualquer que fosse a missão que ele escolhesse.

“Então escolha, Onwil. Escolha descer até as Terras de Areia, atravessar o deserto vermelho e aprender por três décadas o modo de vida dos nômades e a comercialização dos Reinos Baixos.” Os punhos do soberano de Mira fecharam-se sobre os galhos do trono “Pode ainda descer mais além no continente, para as Terras Menores, e mostrar suporte aos nossos irmãos de Erëgard e Gëria na rixa contra os lunares, por mais simplória que seja.” Elodin parou e me encarou do alto de seu trono, cheio de graciosidade. Então inclinou-se para frente, os olhos me desafiando a discordar “Ou... Bem, ou você pode ir para o Norte, para os Dedos. Faça um acordo com a Bruxa de Gelo ou dê um fim em sua vida, não importa, contanto que restaure nosso acesso ao poder da Árvore do Norte. É sua decisão.”

Eu entendi que havia uma escolha ali, por mais que nenhuma das três me agradasse. Ainda assim, sentia o desafio em suas palavras, a malícia ao citar os Dedos, sabendo bem a opinião de qualquer elfo de Mira a respeito do lugar. Era sombrio, uma trilha de frio e morte desde que a bruxa se instalou nas suas entranhas há cinquenta anos com seu poder de inverno. Nós, filhos do verão, não nos dávamos muito bem com o clima gelado das Terras Frias. A bruxa apenas piorava um pouco mais.

E Liawë também era um problema. Com a magia enfraquecida, perder a árvore sagrada do Norte, instalada no interior cavernoso dos Dedos, fazia uma diferença enorme para o poder élfico. Não era algo que me importasse, na verdade, mas era um problema para Mira e para Elodin, então iria consertá-lo. Porque eu podia.

― Preciso provar um pouco do frio, Shrimas ― sorri para meu irmão de verão, sabendo bem o que ele estava pensando. ― E os desertos são quentes.

Vi a ruga entre suas sobrancelhas surgirem. Sempre acontecia quando ele sentia-se frustrado, quando reconhecia que não iria conseguir me convencer do que quer que fosse.

Eu não iria para os desertos. Nunca iria escolher viver com o sol queimando meu rosto e areia vermelha grudando em minha língua por três décadas inteiras ― antes fosse para Erantos, boiar nas águas pantanais de Hûller e beber urina de bárbaros como se fosse cerveja ―, muito menos me isolar do mundo nas Terras Menores, aquele pedaço de terra do tamanho da Costa Primavera, cheio de intrigas entre elfos e lunares por causa de uma única princesa.

Eu iria para o Norte. Iria para os Dedos de Gelo.

E voltaria para Mira com o coração de uma bruxa.


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Notas finais do capítulo

Dá pra se saber muito do caráter mimado de Onwil nesse capítulo ahah, carinha super vaidoso.
Espero que tenha curtido e até breve!



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