Botão de Rosa escrita por Coruja Laranja


Capítulo 1
Ele é o Sol


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Baz

Eu estava sinceramente decepcionado. Eu entrara no curso de escrita criativa para melhorar quanto autor, e agora eu, Tyrannus Basilton Grimm-Pitch, tinha que escrever um poema “sobre algo belo que me fizesse exultante de felicidade”. Eu sabia que a professora Trixie era ruim, agora escrever um poema sobre alguma coisa bonitinha e alegre já era passar do ponto da estupidez. Eu escrevia sobre beijos desesperados e sangue e morte, não sobre pessoas dando as mãos e cantando uma musica sobre cooperação!

Porém deveres de casa eram deveres de casa e eu me recusava a deixar a Bunce me vencer.

Era por isso que eu estava andando pelo bairro da escola, procurando por alguma coisa remotamente inspiradora, mas tudo parecia tão normal. Tão na média.

Até que eu vi a floricultura.

Ela era uma caixinha colorida, espremida entre um café e um estúdio de tatuagens. As vitrines eram amplas, com flores e flores, de todos os tipos, explodindo na frente dos seus olhos. As paredes eram roxas com detalhes em verde, visíveis apesar de estarem parcialmente cobertas por hera. Sobre a porta com uma placa de “aberto” se encontrava outra placa, desta vez com o símbolo da loja: o contorno de uma cabra no meio de grama, com “Floricultura da Ebb” escrito em sua barriga. O que realmente me chamou a atenção para a loja foi o cliente que acabara de sair carregando uma papoula vermelha. Era a flor favorita da minha mãe.

Eu decidi entrar na loja. É suposto que flores deixem as pessoas felizes, certo? Eu amarrei meu cabelo em um rabinho de cavalo e  tirei um bloquinho e um lápis bem apontado da bolça da escola enquanto entrava no estabelecimento. A porta tinha um sininho que anunciou a minha chegada.

Lá dentro, a loja se aprofundava vários metros para o fundo. Perto da entrada havia um balcão sem ninguém, com uma porta atrás. À direita do balcão, um corredor de largura média apresentava suas paredes cobertas por plantas diversas e uma pequenina mesa de chá bem no fundo. O teto era uma espécie de claraboia, porém a iluminação era diferente a cada metro quadrado, com partes do teto totalmente transparentes e partes mais ou menos opacas (provavelmente para agradar a diferentes tipos de plantas).

Eu mal tivera tempo para começar a olhar as flores quando a porta atrás do balcão se abriu e ele apareceu. Cachos dourados e olhos azuis. Um sorriso que fez a minha pulsação se acelerar e sardas tão lindas que pareciam a via láctea.

—Boa tarde e bem vindo à Floricultura da Ebb. Em que posso ajudar?

O garoto estava usando uma camisa xadrez rosa bebe e amarela por baixo do avental verde (com detalhes em roxo) e do crachá (longe demais para eu conseguir ler o que estava escrito). Ele estava olhando nos meus olhos e eu tive que me esforçar para me impedir de suspirar.

—Eu... Só estou dando uma olhada.

—Fique à vontade, se precisar de mim é só chamar.

Eu olhei rapidamente para o outro lado e tentei chegar até algumas rosas à alguns metros de distância sem fazer parecer que eu estava fugindo. Pitches não fogem. E Pitches com certeza não fogem por acharem o atendente da floricultura extremamente encantador.

 

Eu me aproximei dos botões de rosa e tentei focar neles. Rosas. Pensamentos felizes. Levantei meu caderno e tentei começar um rascunho:

lindo

como um botão de rosa

sorrindo

com a pele salpicada de estrelas

 

Merda! Eu estava escrevendo sobre o menino. Talvez... Eu pudesse dar só mais uma olhada nele? Afinal, ele estava me deixando tão inspirado...

Os próximos 15 minutos se passaram comigo tentando pateticamente encarar ele da forma mais discreta possível enquanto fingia estar vendo as flores. Ocasionalmente, o menino sempre reparava que eu estava olhando pra ele (tirando nós, a loja estava vazia) e assim que o garoto começava a mover a cabeça na minha direção eu fazia uma cara sombria e cool, voltando a escrever no meu bloquinho:

ele me lembra o céu,

porque ele é o sol,

sorrindo;

aquecendo;

arejando;

iluminando

tud...

 

—Você tá desenhando as flores?

Eu arregalei os olhos e levantei a cara do bloquinho. Lá estava a minha grande inspiração, com um sorriso gigante e olhos brilhando com empolgação, tão próximo que eu conseguia ver suas pintas com clareza (três na bochecha direita, uma em cima do olho esquerdo e duas sob a orelha esquerda). Eu fechei o bloquinho apressadamente.

—Na verdade, eu estou escrevendo um poema para um curso de escrita criativa que eu estou fazendo. Dizem que flores são boas inspirações.

Eu estava esperando o garoto me expulsar da loja por ter ficado 15 minutos parado ali dentro sem a intenção de comprar nada, mas ao invés disso ele pareceu ficar ainda mais empolgado e interessado.

—Sério? Que incrível! Se você quiser eu posso te ajudar! Posso trazer algumas das flores mais bonitas pra você ver, se for útil?

Eu estava um tanto quanto assombrado com tanta gentileza, mas a voz dele era tão gostosa, ele parecia tão empolgado e o meu coração estava batendo tão rápido que eu só:

—Claro! Parece ótimo!

—Senta naquela mesa ali – O garoto apontou para a mesa de chá no fundo da loja, na parte mais ensolarada- que eu já volto.

O garoto desapareceu pela porta atrás do balcão. Durante o período de tempo que se passou entre a saída e a volta dele, eu me perguntei se ele estava fazendo tudo aquilo para me convencer a comprar alguma flor, e se ele ficaria muito decepcionado quando eu saísse de lá de mãos vazias.

Mas quando ele voltou sua expressão era tão sincera que eu quase sorri junto.

O menino ficava indo e voltando, trazendo vários tipos de flores, e no começo eu realmente tentei fingir que estava prestando atenção às plantas, porém depois da quinta ou sexta eu desisti e passei a estudar a cara dele durante a maior parte da explicação sobre o espécime da vez. Ele não pareceu se importar, e depois de uns 20 minutos começou a fazer perguntas sobre mim. Eu respondia e fazia perguntas sobre ele. O garoto deixou de trazer flores e se sentou na cadeira de frente para a minha.

A conversa estava tão gostosa que poderia ter durado para sempre se meu celular não tivesse tocado. Eu teria ignorado o telefonema se não fosse o toque exclusivo de Mordelia.

—Desculpa, eu tenho que atender. Alô? Oi, que foi? Agora? Não dá pra pedir pra mamãe ou pro papai? A culpa é sua, você sabe que não pode confiar na minha palavra! Argh! Tá bom, Mordelia, já to indo!

Desliguei o celular.

—É... Eu... Tenho que ir. Tenho que buscar a minha irmãzinha no treino de futebol.

O menino pareceu chateado por um momento, mas então seus olhos recuperaram o brilho:

—Espera dois minutos!

Então ele saiu correndo e passou pela porta atrás do balcão.

Mordelia tinha a capacidade esperar alguns minutos...

Eu não sabia muito bem o que pensar da atitude dele, então apenas esperei em silêncio, escutando o som da minha própria respiração e do meu coração martelante. Eu também estava chateado por ter que ir embora e tentava me convencer de que eu sempre poderia voltar para visitar a loja e...

O garoto voltou correndo até mim, com uma das mãos atrás das costas.

—Para você. Por conta da casa.

Ele me estendeu uma rosa vermelha com um papelzinho amarrado ao caule.

Enquanto o menino falava “cuidado com os espinhos”, escutamos o sino da entrada tocar e logo duas clientes entraram na loja. O garoto sorriu pra mim, um desses sorrisos maravilhosos que fazem até os olhos se estreitarem, depois se voltou para as clientes e foi até elas.

Eu estava absolutamente chocado. Fui caminhando meio sem pensar (apesar de não demonstrar meu atordoamento) e só quando já estava na porta do estabelecimento me lembrei de ler o que estava escrito no papel: era um de/para, com o nome Simon escrito depois do “de” e um “o garoto bonito que escreve poemas” (em uma letra bem pequenininha para caber no espaço) depois do “para”. Também tinha um número de telefone.

Foi só ai que a ficha caiu. Eu me virei rapidamente para olhar para o garoto. Para olhar para Simon. Ele sorriu para mim de trás do balcão, por cima dos ombros das clientes. Eu devolvi um meio-sorriso.

Quebramos contado visual e eu sai da loja ainda sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Snowbaz é OTP! ♥
Também amo a Mordelia! ♥
Espero que tenham gostado!
Conseguiram pegar as referencias ao livro? O que acharam da caracterização do Simon e do Baz? Me contem nos comentários! :D