Não sou uma aberração! escrita por Uni Amaral


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa parte foi reescrita na verdade, eu comecei imaginar o Bryan com 15 anos para agora (um ano depois) colocar no papel.
Não sei se passa do primeiro cap, mas espero que gostem ♥



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“Oi filho,

Se você está lendo isso então algum problema está acontecendo ou então só não tem nada para fazer. Bem, vou contar um pouco sobre sua infância para te lembrar de coisas que talvez você não lembre.

Desde pequeno você já era enjoado com algumas coisas. Uma criança de 2 anos gritando e chorando porque não queria usar o vestido que sua avó tinha dado. ‘Ela só está com fome’ seu pai falava, então me entregava você para amentar. Desculpa te encher de leite sempre que chorava.

Depois disso você começou a se isolar. Sozinho no quarto, sem amiguinhos na escola, coisa que não era normal pois era uma criança bem faladeira, extrovertida e pra frente. Isso me assustou ainda mais. Como meu bebê do nada para de falar? Brincar na frente da televisão da sala e na mesa da cozinha?

Deus me perdoe, mas naquele dia em questão eu ‘espionei’ você. Do início ao fim. Você pegando sua Barbie favorita, aquela do cabelo preto, cortando o cabelo dela com a tesoura cega da escolinha, pegando a roupinha do Ken e vestindo nela e depois chamando ela de ‘Bryan’. Meu Deus, eu chorei naquela noite. Eu não sabia como lidar com aquela situação, nunca vi uma criança tão certa do que estava fazendo, tão sonhadora, ainda mais você que sempre foi tão pezinho no chão.

Depois daquela noite te levei a um psicólogo, Dr Alice, que você consulta até hoje, depois de 12 anos! Deixar meu bebê sozinho com uma mulher que eu não conhecia conversando durante 2 horas completas para ela chegar e me dizer que você era uma ‘criança transgênero’. O que era isso? Eu era uma mulher cristã de 25 anos que nunca tinha nem escutado essa palavra da minha vida! Como a internet não era muito acessível, a doutora me explicou o que era, como te ajudar e te aceitar.

Como eu chorei nessa noite! Como contar para o seu pai que ele tinha um filho, não filha? Aquele idiota machista! Eu realmente contei para ele, depois de 3 ou 4 dias. Ele quis te bater, realmente te bater. Espero que perdoe a mãe daquele dia que eu te tranquei no quarto, fiz isso para seu bem, meu amor, pois naquela noite eu apanhei como nunca havia apanhado antes. Para te proteger e não me arrependo disso. Você era meu bebê e ninguém encostaria em você. Obviamente eu pedi divórcio e nós nos mudamos daquela casa.

Claro que não foi fácil para nós. Os primeiros anos foram complicados. Noites sem energia, algumas faltas de comida, até que você finalmente entrou na escolinha e eu podia trabalhar o dia inteiro e nossa vida melhorou. Mas lembra daquela vez que eu fui chamada na escola porque disse que você era um menino? Foram te dar banho (contra o meu pedido) e viram coisas que não deveriam. Te obrigaram a ficar na fila das meninas e foi a primeira vez que vi você chorar de raiva, isso com 5 anos. Eu, como uma mãe maravilhosa que sou, te tirei da escola e os joguei na justiça. Ganhamos um dinheiro bom com aquele processo, isso permitiu pagar seu tratamento anos depois.

Agora aqui estamos, não sozinhos, mas juntos. Me orgulho de ter um homem dentro de casa, um que nunca tive. Você hoje, é a razão da minha felicidade, ver como levanta todos os dias e até fazendo a barba agora...

Espero que esteja melhor meu príncipe, caso não, provavelmente tem chocolate na terceira gaveta da cozinha.

Com amor, mamãe. ”

— Bryan? Lendo de novo essa carta?

— Só refletindo algumas coisas sobre o que aconteceu hoje.

Naquela noite, eu e minha mãe conversamos sobre a minha namorada. Sobre ela querer ter relações sexuais comigo, embora não soubesse que sou um homem trans. Esse assunto ainda era complicado para pessoas que não fossem a minha mãe. Ela sempre me apoia em tudo, na questão de querer arrumar uma namorada, me deu o primeiro binder, me ajudou a fazer pela primeira vez a barba.... Ela era a razão de me levantar todos os dias com um sorriso no rosto.


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Notas finais do capítulo

Eu quero realmente fortalecer a imagem mãe e filho nessa história, espero que não liguem ~



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