Querido Daiki,

Ainda me pergunto em que momento minha simples admiração por você se tornou algo tão forte e intenso. Apesar que, olhando para trás hoje, acredito que nunca tenha sido apenas admiração. Desde a primeira vez que vi seu sorriso, tão brilhante, tão encantador, foi como se meu coração se tornasse prisioneiro. Prisioneiro em uma montanha russa que me levaria até os picos mais altos de alegria e superação, mas também de dor e desespero.

Ser fiel e sincero consigo mesmo sempre foi meu lema. Foi a filosofia de vida que escolhi para mim, e sinceramente não acho que a tenha traído. Eu apenas não sabia. Não tinha consciência do quanto meu coração batia por você. Eu sempre fui uma pessoa simples, de palavras sinceras, sem muitas complicações. Com o tempo tive que aprender a construir uma máscara de sorrisos largos e olhos brilhantes, uma máscara usada em meu trabalho, que com o tempo acabou se tornando necessária também em minha vida pessoal até o ponto em que eu não sabia mais onde estava aquele menino sempre elogiado por ser tão autêntico.

Foi aí que você surgiu. Como uma luz que iluminou minha vida e meu coração, me fazendo sentir novamente a alegria de estar vivo, de se sentir vivo. E por muito tempo eu o tive como um ídolo, como alguém a se admirar e tentar alcançar. O melhor, o mais forte, aquele a quem eu queria ultrapassar. E quando você desceu ao desespero eu desci com você. Meu coração se desesperou, assim como todos a nossa volta, mas meu sorriso permaneceu o mesmo. Afinal, sorrir sempre foi a melhor forma de me manter forte, de me manter firme no caminho que escolhi trilhar.

As mudanças que a desilusão trouxeram a você me machucaram mais do que eu poderia imaginar, mas naquela época não me dei conta disso. Eu continuei o mesmo, com o mesmo sorriso, com o mesmo amor ao basquete e seguindo em frente como podia. Quando nos encontramos em lados opostos da quadra, quando finalmente decidi deixar minha admiração por você morrer...acredito que foi aí que comecei a me dar conta de que as coisas não eram exatamente assim. Mas naquele momento eu não tinha tempo para pensar muito a respeito. Os jogos, a tensão, a ansiedade, o desejo pela vitória; Todos aqueles sentimentos a flor da pele, tomando todo meu tempo, consumindo toda minha mente e coração, deixando apenas meu amor ao basquete conduzir meus dias e pensamentos.

Mas com o passar do tempo minha ficha foi caindo, meus sentimentos se tornando mais independentes e rebeldes. A cada vez que via seu rosto, não alegre como na época da Teiko, mas também sem aquela arrogância dos últimos tempos, eu me perguntava por que meu coração ainda batia tão forte. Porque a vontade de estar com você ainda era tão intensa.

Quando me dei conta admito que o alívio de finalmente entender tudo o que estava acontecendo rivalizava com meu desespero por ter a certeza de que jamais seria correspondido. Afinal, você era o grande Aomine Daiki-sama. O jogador que todos admiravam, que se destacava onde quer que fosse, e que poderia ter todas as garotas que quisesse aos seus pés, mesmo sendo um mal educado e arrogante!

E mesmo que eu sentisse meu coração partir a cada vez que ia até você, com um grande sorriso, pedindo insistentemente para jogar novamente comigo, como antes, como na primeira vez que nos vimos no clube de basquete da Teiko, eu não conseguia evitar. Sempre que podia eu estava ao seu lado, com aquele mesmo sorriso e tentando ser o melhor amigo que você nunca quis que eu fosse. E com o tempo eu notei o quão masoquista eu poderia ser. Todas as vezes em que te via com uma garota, vendo a forma como todas elas caíam aos seus pés, era como se meu coração fosse perfurado. Mesmo assim aquele maldito sorriso não se desfazia. Eu fazia piadas, comentários que sempre acabavam por te irritar e ria, mesmo quando tudo o que eu mais queria era chorar.

E em todos esses momentos nunca me dei conta de que você me olhava com um olhar sério quando sabia que eu não notaria.

No dia em que nos formamos eu senti que estava no limite. Nossos dias na escola haviam finalmente terminado. Todas aquelas lembranças se tornariam ainda mais preciosas, ainda mais necessárias, e eu não fazia ideia de quando, ou se, nos veríamos novamente. Todas as vezes que tocava no assunto futuro você agia com tamanha indiferença que eu preferia apenas esquecer, por puro medo de te ouvir dizer que iria pra longe, que não queria me ter por perto por mais tempo. Que eu era apenas um incômodo.

Quando eu te vi no portão da Kaijo meu coração bateu tão forte que achei que iria explodir. Eu não fazia ideia do porque de você estar ali, mas apenas sua presença já era mais do que o suficiente para me deixar em um estado de alegria que nada mais conseguia. Minhas mãos suavam, meu coração parecia querer sair do peito, minha mente ficava em branco e meu corpo todo parecia tremer. E tudo em que eu conseguia pensar era que você finalmente havia vindo até mim. Não importava o motivo. Você estava ali.

Foi o ponto mais alto daquela montanha russa. Então, quando aquela garota se aproximou de você, obviamente nervosa, e você sorriu de forma tão simpática pra ela, eu desci direto até o ponto mais baixo sentindo meu coração se despedaçar completamente.

Foi o meu limite.

As lágrimas simplesmente sugiram sem que eu tivesse controle algum e quando dei por mim eu estava correndo o máximo que podia, sem dar atenção alguma as pessoas ao meu redor ou o que poderiam pensar.

Eu corri. Corri o máximo que consegui, e só parei ao me sentir puxado com violência para trás. E qual não foi minha surpresa ao notar que era justamente você?

Sua expressão era tão irada que por um momento fiquei realmente com medo. Seus olhos transmitiam tamanha irritação que naquele momento senti que seria capaz de matar alguém. Mas então você simplesmente suspirou profundamente e me soltou como se não tivesse mais forças. E a forma como passou a mão nos cabelos, suspirando e olhando em volta, me fez perceber que naquele momento você se sentia perdido e procurava as palavras que queria dizer.

Naquela tarde, enquanto minhas lágrimas ainda caíam e você suspirava exasperado enquanto tentava encontrar as palavras certas, eu vi minha vida mudar radicalmente e todas as dúvidas simplesmente desaparecerem. Ouvir você dizer, obviamente sem deixar sua tão amada arrogância de lado, que me amava, que correspondia aos meus sentimentos, foi como um sonho realizado, um sonho que há muito tempo eu já havia desistido.

Você nunca foi uma pessoa fácil de lidar, que deixa seus sentimentos e emoções transparecerem. Eu sempre fui a parte sentimental e sincera, que não se importa em fazer declarações e estar sempre reafirmando meus sentimentos, mas apesar das palavras ásperas e suposta arrogância eu sempre pude sentir sua afeição em cada toque, em cada momento que passamos juntos.

Não foram muitas às vezes em que te ouvi dizer "Eu te amo" ou palavras do tipo, mas em todas elas foram os momentos certos. E mesmo sem elas eu posso dizer com absoluta certeza de que seus sentimentos por mim são tão verdadeiros e intensos quanto os meus. Eles estão gravados em cada parte do meu corpo, corpo esse que você provavelmente conhece tão bem quanto eu, ou até melhor.

Mesmo depois de tantos anos, de tantas lembranças que compartilhamos juntos e de uma vida inteira construída baseada na palavra nós e não no você e eu, eu ainda sinto meu amor por você crescer a cada dia. Ter você ao meu lado é como um sonho e mesmo nos momentos de desentendimentos, em que acabamos nos exaltando ao ponto de quebrar as coisas ao nosso redor, eu sei que no final terminaremos um nos braços do outro. Afinal não importam as circunstâncias, no final nós sempre terminaremos um nos braços do outro.

Em cada instante destes últimos vinte anos, e por muitos mais,

Com todo o meu amor,

Kise Ryouta.