PVO Erin

Erin estava observando cada participante daquela reunião convocada por Quíron, sendo que o assunto a mantinha temerosa sobre o que ocorria nos próximos dias. Havia uma garota conhecida com seus cabelos loiros no tom da areia do mar e olhos cinzentos. Annabeth vestia uma camisa branca com um peitoral de bronze celestial e uma adaga embainhada na cintura, além de fitar para todos os lados atenta.

Havia também um sátiro de porte atlético, bem diferente dos outros seres da natureza do acampamento. Ele tinha uma camisa verde com dizeres “Sátiros arrebentam” e uma aljava repleta de flechas além do seu arco cruzando seu corpo. Os chifres curvos para trás eram aparentemente fortes e resistentes. Quíron entrou na sua sala repentinamente acompanhada por um semideus de pele negra, roupas casuais e olhos incrivelmente azuis, sendo um chamariz automático.

— Bem pessoal, já que todos estão aqui e o Kameron veio comigo. – Comentou o mentor do acampamento dando um leve tapa em suas costas. – Vamos começar essa reunião emergencial.

— Por que fomos chamados, Quíron? – Perguntou o sátiro, fazendo com que Erin olhasse para baixo, enquanto as memórias trágicas da batalha no Mundo Inferior retornavam a sua mente. Ela ainda se sentia culpada

— Difícil saber por onde começar... – Resmungou o centauro ajeitando o corpo na cadeira de rodas mágica. – Então vou fazer um breve resumo: Estamos provavelmente em perigo.

— Que tipo de perigo? – Perguntou Kameron com ar curioso, fazendo com que o centauro olhasse para a Erin pedindo respostas. A garota respirou fundo e descruzou o braços  e comentou.

— Um filho de Tânatos chamado Salazar Freyer invadiu ontem o Mundo Inferior e causou um grande problema.

— Que tipo de problema e quem é Salazar? – Perguntou Annabeth ficando confusa ao não reconhecer esse nome.- Nunca soube de um filho da Morte.

 - Salazar nasceu na época da Segunda Guerra Mundial e viveu entre nós desde criança, mas por conduta errada foi expulso. O grande mistério até agora é que era para ele estar com pelo menos 70 anos agora. – Respondeu Quiron alisando a barba nervoso.

— Por que ele foi até o Mundo Inferior para matar Tânatos? Vingança? – Falou o sátiro prendendo a atenção da Erin, quem respondeu rapidamente.

— Creio que não... Ele poderia ter se vingado a qualquer momento, por que depois de décadas. Ele tinha algum plano para isso.

— Como ele conseguiu lugar com essa idade contra Tânatos? – Falou Kameron aparentemente querendo a resposta que a ceifadora ficou refletindo desde que teve de fugir da luta.

— Eu mesma enfrentei o Salazar junto com outros ceifadores, mas os dois morreram e eu fui mandada trazer a mensagem. Eu vi ele fazer coisas incríveis, mas uma me chamou atenção. Quando ele lançou uma rajada de poder com a mão, pude ver uma marca brilhar na palma e só reconheci pelo tempo de serviço como ceifadora.

— O que uma ceifadora faz? –  Disse Kameron sem entender muito, cortando o raciocínio da Erin, quem sempre respondia a mesma pergunta aos desavisados.

— Kameron, somos aliados de Tânatos para ajuda-lo em seu serviço, tomando conta do Mundo Inferior e matando alguns monstros. Acontece que por derrotar criaturas das trevas, eu reconheci a marca de Tártaro que havia na mão de Salazar.

— Então... Tártaro estava dando poder ao nosso inimigo... Por isso então ele o enfrentou no Submundo, onde o primordial poderia lhe dar mais poder.  – Concluiu Annabeth, chamando atenção da ceifadora pelo raciocínio rápido.

— Exatamente o que eu e Erin concluímos, mas ainda não foi dita a pior parte. – Disse Quíron colocando todos num estado apreensivo. Erin respirou fundo e tomou a dianteira para dar a notícia.

 - Quando eu fui enviada por Tânatos para trazer a mensagem, o deus da morte ficou para enfrentar seu filho. No momento que enfim pude descansar aqui no acampamento, descobri que o meu senhor foi morto pelo Salazar e que agora o semideus detém a Foice da Morte.

— Isso quer dizer o que? – Comentou o sátiro ficando interessado.

— Quer dizer, Kanta, que o Salazar adquiriu para si o poder do deus da morte.

Todos ficaram surpresos e com certeza tirando conclusões sobre o que viria depois disso, até mesmo Erin não tinha noção do que aconteceria com o semideus que agora portava o poder de Tânatos. Annabeth ficou pensativa olhando para o chão, enquanto Kameron e Kanta, o sátiro, conversavam algo em baixa voz sobre as portas da morte, que na tentativa de Gaia de tomar o poder, foram usadas para tornar imortais os aliados da deusa da terra.

— Kanta e Kameron, Hades e Tânatos tomaram cuidado para que as portas da morte não sejam apenas sob responsabilidade do meu senhor. Ela está muito bem lacrada, mas ainda sim o Salazar pode trazer de volta quem ele quiser, mas não de forma ilimitada. Provavelmente o Hades já deve ter lacrado o Mundo Inferior para que ninguém saia. – Comentou Erin, mas Annabeth ficou ainda pensativa, até que resolveu falar.

— Ele já pode ter tirado quem ele queria. Esse era o plano. – Falou a filha da sabedoria ganhando atenção de todo que estavam naquela reunião. – Se ele quisesse poder, ele teria continuado a lutar e até atacado o Hades, não sabemos o que realmente ele podia fazer com o poder de Tártaro.

— O que você quer dizer? Que ele queria trazer alguém de volta a vida? – Perguntou Quíron sendo pego de surpresa pela nova teoria da filha de Atena.

— Ou mais de uma pessoa. Seria sensato que Hades visse quem foi retirado do Mundo Inferior nesse período e teremos maior conhecimento do que está acontecendo.

— Posso fazer isso quando eu contatar os outros ceifadores. – Falou Erin concordando com a cabeça.

— A questão é que foram chamados para nos organizarmos para um eventual problema. – Falou Quíron  erguendo o corpo um pouco  nervoso, enquanto caminhava lentamente pelo local, fazendo com que o ecoar dos cascos no tablado fosse ouvido até que ele voltou a falar. – Desde o ataque de Gaia, tivemos quatro anos de certa calmaria sem um grande atentado ou evento. Agora, podemos estar diante de um grande problema.

— O que deseja que façamos? – Perguntou Annabeth, fitando seu mentor.

— Preciso que você crie uma escala agora para os campistas. Quero gente vigiando as fronteiras, tanto na praia, como colina. Três turnos e os chalés alternando. Amanhã não teremos mais caça a bandeira. Preciso dessa escala até duas horas, por que vou anunciar no almoço.

A semideusa afirmou com um movimento da cabeça e saiu pela porta em passadas largas. Erin observou a veterana semideusa, a qual passou por duas grandes guerras e agora iria se preparar para um novo desafio, enquanto ela mesma tinha temor de encarar aquilo que destruiu seu mentor. A ceifadora não escutou tão bem o que fora dito para Kanta, mas pegou o final sobre pedir aos sátiros e ninfas para vigiar a floresta e alertar os outros colegas dele do risco que podem estar enfrentando. O sátiro saiu prontamente e o centauro voltou sua atenção para Kameron.

— Você é o centurião que está aqui no acampamento grego liderando os romanos visitantes. Preciso que organize os seus irmãos legionários e informe Reyna e Frank sobre o que foi falado aqui, afinal eles devem se preparar.

— Sim senhor.

O garoto saiu aparentemente tranquilo, Erin ficava impressionado como os romanos tinham uma personalidade confiante sobre lutas e guerras, talvez por que eles levam os assuntos bélicos com maior rigidez e padrão. A garota soprou uma das mechas loiras do cabelo e ficou esperando o centauro se aproximar devagar, colocando a mão sobre o ombro dela e sorrindo de forma carinhosa e consolável.

— Lamento pelo que houve com Tânatos, mas preciso da sua ajuda.

— Eu sei... Ele fez o que foi necessário.

— Você também. Preciso que fale com Hades sobre a ideia de Annabeth de que Salazar pode já ter tirado quem queria de Mundo Inferior. Também gostaria que você ficasse aqui.

— Por quê? Faz três anos que não fico por aqui... Nem lembro o cheiro do chalé de Hécate.

— Você é uma lutadora exemplar e poderia passar essa semana conosco para conversarmos. Além do que, precisa de um pouco de contato com outros semideuses fora dos ceifadores. Você começou nisso muito nova.

— Foi bom ter sido cedo, sou quem sou por causa disso. – Falou a garota se afastando devagar do Quíron sentindo um ar de pena em sua fala, algo que não a agradava. – Vou contatar os ceifadores e Hades, essa noite dormirei aqui, mas não sei por quanto tempo ficarei.

Erin nem aguardou uma resposta do centauro, apenas abriu a porta e avançou pela Casa Grande até a varanda. Olhou o tanto de semideuses caminhando tranquilamente sem ter ideia do que estava acontecendo, muitos nunca haviam se quer lutado contra monstros ou por suas vidas, porém embarcariam num ar de guerra. A loira deu risada e mergulhou nas sombras mais perto, sumindo sem deixar rastros.

PVO Harley.

O filho de Hipnos ficou assustado com o comunicado do estado de alerta que foi dado na hora do almoço pelo Quíron e sua auxiliar na administração do acampamento, Annabeth. O garoto de olheiras fundas nem comeu direito com medo do que viria a acontecer e foi direto para o chalé preparar suas armas. Os filhos do deus do sono ficaram com a parte da tarde do próximo dia e o semideus queria descansar o máximo para estar pronto. O menino aninhou o corpo em sua confortável cama e fez aquilo que fazia de melhor, mas não esperava passar por algo tão vívido  no seu sonho.

O garoto era um mero expectador de um amplo galpão iluminado e repleto de caixas e corredores, mas parecia que uma guerra havia acontecido ali dentro. Muitas das embalagens de madeira estavam quebradas, havia fogo crepitando num dos cantos e muitas garotas trajando armaduras estiradas no chão. Harley segurou o estômago para não colocar para fora o almoço, nem sabia se era possível vomitar num sonho. Por ser filho de Hipnos, conseguia controlar bem uma viagem pelo mundo de Morfeu, por isso começou a flutuar pelo lugar procurando informações.

O semideus viu apenas destruição e nenhuma forma viva, até que achou, num patamar acima, dois semideuses. Uma garota usava peitoral de bronze polido sobre uma camisa preta, mas um de seus braços pendia inerte ao lado do corpo, provavelmente quebrado, enquanto o outro empunhava uma espada afiada. O jeans escuro tinha um corte profundo, talvez uma perfuração por lança ou espetada. Sua cintura exibia um cinturão magnífico, brilhando em dourado com entalhes de grandes batalhas. Seus cabelos negros estavam presos num rabo de cavalo e só então Harley associou a pessoa, o cinturão, ao nome. Era a famosa Hylla, líder das amazonas.

O outro semideus estava com a roupa bem limpa. Tinha camisa branca coberta por um casaco de couro negro, calça jeans e coturnos. Barba cheia e um sorriso confiante, além de uma adaga que girava no ar sendo lançada como malabar pelo soldado e uma lança cravada no chão.

— Hylla,  você sabe que eu só quero o cinturão, não é? Se entregar tudo ficará bem – Falou o rapaz com um largo sorriso.

— Você veio até a base das amazonas com uma legião de ciclopes ao seu lado e diz que só quer o cinturão?

— Sim, foi a primeira coisa que falei. Mas vocês tem a mania de heroísmo e quiseram lutar, então tive de atender ao seu pedido.

— Por que você quer o cinturão?

— Ele é incrivelmente poderoso, capaz de melhorar as habilidades físicas do usuário.  – Mencionou o semideus desconhecido sem parar de rir.

— Você é o adversário mais rápido e forte que enfrentei, na verdade chega a ser único, por que precisa do cinturão?

— Não é pra mim... Por favor, Hylla, ninguém vai saber se entregar esse artefato. Você vai continuar viva e eu seguirei meu caminho. Não sinto prazer em matar você.

— Terá de tirar esse cinturão de meu corpo morto.

O rapaz bufou aparentemente decepcionado e Harley queria gritar que a amazona cedesse, mas tudo aconteceu rápido. O soldado atirou a adaga com velocidade para frente, porém Hylla conseguiu aparar o ataque com a face da espada, rebatendo o projétil, só que a perna machucada não aguentou tão bem o corpo dela e por um momento ela se desequilibrou. Quando a semideusa se recuperou para atacar o inimigo, o guerreiro já estava bem perto e segurou o pulso dela.

Com um movimento rápido ele atacou com o joelho contra o estômago da Hylla, que mesmo com a proteção do peitoral não resistiu ao impacto, caindo de joelhos. O musculoso guerreiro atacou socou a cabeça dela de forma esmagadora a tombando contra o chão zonza, sem alternativa para reagir. Harley queria ajudar, mas não pode fazer nada enquanto o homem apoiava o joelho contra os seios da amazona, pesando seu corpo e a fazendo tossir sangue.

— Droga, Drake, você demora muito. – Falou uma voz feminina fora do campo de visão do filho de Hipnos.

Uma garota de camisa preta com manchas coloridas e jeans rasgado nos joelhos, colares, anéis e pulseias pelo corpo e cabelos rosas chamativos. Ela deu risada ao ver toda a situação e Drake olhou sobre o ombro para a moça e a reconheceu. Girou o corpo, prendendo o pescoço da Hylla com a sola do pé.

— Eu estava conversando, Raven.

— Vamos logo.

O rapaz fez que sim com a cabeça e apertou o pé até que o pescoço da guerreira estalasse quebrando e o corpo perdesse a vida. O soldado ergueu o corpo e retirou o cinturão da general das amazonas, entregando a Raven o aparato, quem colocou no quadril o novo item, o qual se moldou magicamente.

 - Hora de irmos, já estamos prontos para o próximo passo. – Falou a Raven quando o Drake chegou perto, porém Harley ficou assustado quando a mulher olhou de forma direta para ele e completou.- Avise aos seus amigos do acampamento que amanhã será o último dia de vocês.

Harley ficou sem respiração e toda a cena ficou negra até que ele acordou na sua cama. Já era dia e quando viu no relógio notou que dormir 20 horas seguidas e tudo se resumiu a visão do massacre. O garoto saltou da cama vendo que era quase a hora do almoço e precisava contar ao Quíron tudo que viu e alertar seus amigos, porém uma trombeta soou alta por todo o acampamento significando apenas uma coisa. O lugar estava sendo atacado.