Como Salvar Uma Vida escrita por Miarah
Eu não conseguia parar de pensar em Noah. Achei que eu era entendida no quesito paranormal, mas cada minuto que passava a imagem daquela interrogação acima da cabeça dele corroía um pouco mais de mim. Eu precisava falar com alguém.
A casa que eu morava era dividia com os outros seis ceifadores que eu conhecia, era antiga e grande, mas eu quase nunca encontrava os seis reunidos, porque ao contrário de mim, eles eram animados. Gostavam de ir a festas e de namorar, o que eu particularmente não entendia, considerando a vida que levamos.
Saí do meu quarto e segui pelo longo corredor escuro, fazendo barulhos na madeira velha até chegar no quarto de Jeff, quando bati.
- Jeff, está aí? – Perguntei através da porta.
Mas nenhuma voz me respondeu.
Quando ouvi um barulho de pés descalços subindo as escadas, me afastei da porta e fui em direção.
- Oi, Sav. Tudo bem aqui? Você parece meio assustada. – Perguntou a loira com olhos de gato que morava também na casa.
- Sim Sally. Ei, você saberia me dizer onde Jeff e John estão? – Perguntei sem render muito assunto.
Sally olhou no relógio e lambeu os lábios olhando para cima, gesto que ela tinha sempre que estava pensando.
- John foi atrás de um acidente e Jeff estava com uma garota, provavelmente levou ela para tomar um café, não sei.
Agradeci e virei as costas para voltar para o meu quarto quando Sally completou:
- Escute, Sav, preciso falar com você. Sei que você não deve achar sua vida a melhor das vidas, mas você tem um trabalho para fazer. E você sabe que se deixar de ir atrás das vítimas eles saberão, e eu tenho medo do problema que isso possa dar para você – ela encostou na parede, cruzando os pés – Digo isso porque me preocupo. Você tem que ficar atenta nos acidentes e frequentar os hospitais, sabe disso.
Fiz que sim com a cabeça, de uma maneira desconfortável.
- É melhor eu ir, conheci um gato na festa de ontem e ele me chamou para sair hoje. E a melhor parte: tem menos de 36 horas de vida. Ou seja, não terei que ligar no dia seguinte – Ela riu sarcasticamente. – Te vejo mais tarde.
Ouvi uma sirene de ambulância, peguei meu casaco e segui o barulho, que nos levou ao Museu de Nova Orleans.
Quando eu entrei, vi um amontoado de pessoas rodeando uma mulher de cabelos negros que se encontrava desacordada no chão, e ao olhar acima de sua cabeça ainda havia muitos números, ou seja, nada a fazer ali naquela circunstância.
Decidi seguir o conselho de Sally e fui para o New Orleans East Hospital, para ver se tinha alguém morrendo.
✞
O hospital era imenso e muito bonito. Uma arquitetura circular e janelas por todo o prédio. As luzes internas brilhavam como se fosse um acesso ao paraíso. E realmente era, para alguns deles.
Avisto uma placa com as palavras: “Ambulância”, “Emergência”, “Lobby” e “Estacionamento”; resolvo conhecer o Hospital e vou em direção ao Lobby, onde se encontra a recepção. Sigo reto em direção ao corredor que leva aos elevadores. Escolho aleatoriamente um andar e aperto no número 6.
O elevador fecha as portas e sobe.
Andar 2.
Andar 3.
A porta se abre.
Uma loira com aparência de 60 anos de óculos escuros e cabelos recentemente escovados entra, falando no telefone. Me olha da cabeça aos pés com cara de nojo. Olho para cima da cabeça dela: muitos anos para ter nojo das pessoas ainda. Droga.
Ela joga o cabelo na minha cara e para em minha frente.
- Merda, o elevador está subindo? Por que não me avisou que o elevador estava subindo? – A moça fala com a afeição fechando cada vez mais.
- Eu não sabia que a senhora queria descer. – Disse em defesa.
- Mas não poderia perguntar, sua idiota? – A loira levanta a voz batendo o dedo em todos os andares próximos para que o elevador abra o mais rápido possível.
Andar 5.
A porta se abre. A moça vai embora. Queria que ela tivesse menos tempo. Eu poderia fazer com que ela tivesse menos tempo, mas isso não é de meu feitio. A porta fecha e abre no próximo andar. Saio e olho a placa no corredor: Pediatria.
Passo por alguns médicos conversando no corredor, com suas roupas cor-de-rosa e pranchetas nas mãos, rindo e difamando os colegas pelas costas. Uma delas tinha menos tempo do que ela previa, provavelmente.
Sigo olhando pela janela dos quartos e vendo crianças sendo alimentadas, algumas dormindo, outras conversando com pais e, droga. 10 minutos.
Entro no quarto da criança com pouquíssimo tempo e seguro em sua mão, ela está sozinha, mal respira sem ajuda dos aparelhos.
Tiro o cabelo do rosto delicado dela, até que a porta abre atrás de mim.
- Desculpe incomodar, você é parente? Sou o Dr. Larson.
Eu conhecia aquela voz.
Virei-me rapidamente e dei de cara com aqueles olhos verdes inesquecíveis.
- Ah, Savannah? O que faz aqui? – Ele perguntou rapidamente.
- Noah! Quer dizer, Dr. Larson! Eu sinto muito! – Sinto minha garganta fechar.
- Sente muito pelo quê? – Ele responde rindo, zombando um pouco de mim.
- Eu não sabia que você trabalhava aqui. – Falei, me encostando na cama.
- Tudo bem, Savannah. – Eu fui transferido para esse hospital, de qualquer forma. A garota, é parente sua? – Questionou.
- Que garota? – Perguntei rapidamente.
- A que você está quase caindo em cima, aí atrás.
- Merda. Desculpe, eu falei merda. – Falei me afastando da cama e encarando a criança deitada na cama. Dois minutos.— Doutor, você tem que fazer alguma coisa, agora.
- Savannah, eu não estou entendendo. O que está acontecendo? – Percebo sua expressão ficando tensa.
- Ela vai morrer e...
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, um barulho insuportável toma nossos ouvidos. Quando o coração para.
- Savannah, eu preciso que você saia agora! – Disse Noah, dessa vez gritando.
Saio correndo daquela sala e ao olhar para o vidro, vejo ele desfibrilando a criança, e o número zero em cima da cabeça dela.
Sinto alguém esbarrar no meu ombro e percebo que eram os médicos que eu tinha visto no corredor, agora apressados para tentar salvar a vida da garotinha. Ao lado da cama dela, a alma olhava para seu corpo e chorava. Passou 10 minutos até que os médicos desistissem e declarassem a hora do óbito.
Eu sentei no corredor e apoiei a cabeça no joelho, abraçando minhas pernas.
Ouço barulho da porta se abrindo.
- Savannah, posso falar com você um instante? – Ouço a voz, e levanto a cabeça.
- Claro, Dr.Larson – respondo desanimada.
- Me dê só um minuto, preciso ligar para a família dela. – Observo-o sair apressado e chamar o elevador.
Médicos saem da sala, cabisbaixos. O assunto animado de mais cedo, tinha acabado. Cada um segue uma direção.
Nesse momento, eu levanto e entro no quarto. Olho para a alma da garotinha que pergunta:
- Você pode me ver?
Indico com a cabeça que sim, vou em direção ao corpo e corto a ligação que ela ainda possuía de corpo-alma.
- Eu não quero morrer. – Diz a criança, em prantos.
- Eu sei, minha querida. Mas está tudo bem. Você irá para um lugar melhor. Está preparada?
A garotinha faz que sim com a cabeça e sua alma vai sumindo aos poucos.
Saio da sala e sigo para a área dos elevadores, onde se encontrava duas poltronas azuis. Sento em uma e apoio minha cabeça para trás.
Após alguns minutos, Dr. Larson aparece entre as portas do elevador.
Sinto-o sentar na poltrona ao meu lado, e quando o encaro percebo sua expressão fechada. Ele passa a mão no rosto, dos olhos até a boca. Depois apoia os cotovelos nas pernas e respira profundamente.
Há um silêncio absoluto entre nós.
- Como você sabia? – Ele questiona. – Como sabia que a garotinha iria morrer?
- Foi só um palpite, eu acho. Ela não parecia muito bem. – Tento me defender.
- Só isso? – Ele retruca.
- Sim, Doutor. Sinto decepcioná-lo.
- Não é isso, Savannah. É, estranho. Eu me senti estranho dentro daquela sala. – Ele fala sem olhar para mim, hora alguma.
- Estranho como? – Sinto minha testa suar e meu coração dispara.
- Eu não sei explicar. Só me senti assim duas vezes e foi exatamente nas duas vezes que te vi. Um vazio, um frio por dentro. Mas, esqueça, não deve ser nada. – Ele corta o pensamento e olha nos meus olhos. – O que estava realmente fazendo aqui?
- Eu vim encontrar um amigo, a irmã dele está aqui. – Olho para seu rosto para ver se ele acreditou.
- Oh, sinto muito por isso. Está aqui, na pediatria?
- Na verdade não. Eu só vim passear por aqui para distrair um pouco a cabeça, me desculpe por isso.
- Não se desculpe. Está tudo bem. Só não fique entrando nos quartos de desconhecidos porque você sabe, é complicado. Tem toda uma burocracia por trás desse hospital e...
- Eu entendo – O interrompi.
Suas mãos fecharam em punhos e eu percebi o quão abalado ele tinha ficado por perder aquela criança.
Me aproximei e segurei as mãos dele. E logo me arrependi.
- Ar, Savannah?
Logo retirei as mãos.
- Me desculpe, achei que era uma maneira de te confortar. Ela parecia importante para você.
Ele olha fixamente para mim, morde os lábios e responde:
- Perder um paciente nunca é fácil, mas se esse paciente é uma criança, cara... É horrível.
- Eu sei que sim – comecei a passar as mãos no cabelo e olhar para baixo.
- Sabe? – Ele questionou.
- Bom, não é difícil imaginar. – Rapidamente me levanto. – Bom, foi um prazer conhecê-lo oficialmente, Dr. Larson. Mesmo que em circunstâncias tão ruins.
- O prazer foi meu, Savannah. – Noah dá um sorriso tímido. – Espero te encontrar novamente. – Ele levanta e me estende a mão, apertando-a.
Quando eu resolvo olhar para cima da sua cabeça e a interrogação, a maldita interrogação ainda está lá.
Viro as costas e chamo o elevador de descida. Quando chego no andar principal, dou passos apressados até a rua, onde me escondo atrás de um carro, fecho os olhos e apareço em casa.
✞
Vou correndo em direção ao quarto de Jeff, e escuto a voz dele no telefone. Graças a Deus.
- Jeff? Posso entrar? – Grito da porta.
- Claro, Sav. Entra aí! – Responde ele, do outro lado da porta.
Abro a porta e o encontro deitado na cama, sem camisa, apenas com uma calça de moletom preta e cabelo todo atrapalhado.
- Escute, tenho que ir, a garota da minha vida precisa da minha atenção – fala, esperando minha reação, quando dou uma risada e ele desliga o telefone.
- Garota da sua vida? Uau, o que aconteceu com as outras 300 que também já tiveram esse título? – Eu brinco.
- Elas vêm e vão, você sempre fica Sav. – Responde rindo. – Então, como posso te ajudar?
- Bom, algo estranho aconteceu... – Eu sento na cama dele, quando ele senta do meu lado, olhando para minhas mãos, completo – Eu conheci um cara e...
- Você não quer me pedir conselho com relação a homem, não é mesmo? – Ele parece enciumado. – Porque você tem a Beth e a Sally para isso.
- Não, Jeff. Nada disso. – Interrompo-o rapidamente. – É que, ele tinha uma interrogação no lugar do tempo restante.
- O quê? – Jeff parece surpreso – Mas isso não é possível.
- É por isso que eu não consigo esquecer. Já o vi duas vezes e a droga da interrogação continua.
- Duas vezes, huh? – Ele ironiza.
- Jeff, pode ir parando. A questão não é essa. É que eu nunca vi nada igual.
- Quer saber? Vou ligar para o John, ele já deve ter visto algo assim. – Diz Jeff pegando seu celular novamente e procurando o número do John.
Observo timidamente o contorno perfeito de seus músculos nus.
- John? É o Jeff. Temos problemas, apareça aqui quando puder, Sav não vai conseguir dormir antes que você a ajude. – Ele ri. – Sim, faremos o jantar.
Ele desliga o celular.
- Eu cozinho e você lava – diz, sorrindo para mim.
- Feito, espertinho. – Sorrio de volta.
Nós dois descemos para a cozinha.
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