Private Collections: Beauty and Rage escrita por Calpúrnia


Capítulo 4
"Ainda há luz nele."


Notas iniciais do capítulo

Aqui vos fala a autora desleixada e viva. Sim, não morri ainda. Saibam que eu sinto muito por ter desaparecido, porém simplesmente não consegui escrever mais nada. Foi apenas isso: bloqueio de escrita, e é claro que eu jamais escreveria qualquer porcaria, portanto deixei as coisas acontecerem e acabou demorando. Sinto muito. Mas vamos dar continuidade.

Aqui estamos com mais um capítulo. Eu não tenho muito o que dizer, mas espero que sane suas dúvidas ou pelo menos grande parte delas. E espero que o capítulo esteja realmente bom, porque tenho dúvidas quanto a minha escrita.

Qualquer dúvida, podem perguntar e eu explicarei. Ainda tenho um ou dois capítulos para trazer, portanto se quiserem que eu esclareça algo a mais, peçam e assim farei. Claro que não deixarei barato tudo que o Madara fez, portanto esta história ainda não acabou. E também teremos mais alguns personagens aparecendo, viu?!

Sem mais delongas, boa leitura.



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4.

Escrito por G. de Oliveira

Alemanha Japão, 1943

Novembro

Antes mesmo de o Sol aparecer, Naruto já estava acordado. Não sabia muito bem como nem quando ele apareceria, porém sentir a agitação na Natureza o ajudou. Estava deitado, mergulhado num sono confortável quando algo dentro de si se acendeu e ele, com cuidado, se levantou. Deixou que Hinata continuasse dormindo e caminhou calmamente para fora.

Estava escuro ainda, mas ele percebeu alguns animais por ali. Algumas raposas apareceram; não sabia como sabia disso, porém tudo ali era tão familiar. Os animais, as árvores, o céu, o cheiro de terra molhada. Sentia-se estranhamente íntimo daquele lugar, como se pertencesse. Não entendia muito bem ainda que gostasse da sensação.

Estava realmente ansioso com o que aconteceria. Hinata havia explicado que o nascer era diferente do pôr do Sol. E ele acreditava nela, mas queria presenciar esse evento, de preferência todos os dias. Como não se sentir impressionado com todas as coisas que Natureza era capaz de oferecer?

Um pequeno coelho passou por seus pés. Parecia fareja-lo, o que deixou Naruto curioso quanto a o que ele poderia descobrir. O pequeno animal ergueu a cabeça e ficou observando-o por alguns segundos e então saiu. Assim ocorreu com mais alguns animais que começaram a se amontoar um pouco mais distante dele.

Quando percebeu uma pequena luz aparecer no horizonte, deixou os animais de lado e passou a prestar atenção no que via. O céu começava a clarear aos poucos, e mesmo sem retirar seu olhar de lá, o evento não parava. Aos poucos, o Sol aparecia. Aquela enorme bola alaranjada que abraçava o mundo com seu calor e conforto. Até então, Naruto não acreditava que fosse um humano, sempre pensou em si mesmo como uma criatura terrível, porém ali, podendo presenciar aquela luz, sentiu-se, finalmente, ele mesmo. De repente, não havia mais o monstro nem aquele passado horrendo que foi obrigado a viver. Ali, ele era apenas Naruto, um homem buscando sua própria redenção.

— É lindo, não é? — disse Hinata enquanto abraçava as costas dele.

Naruto apenas assentiu ainda observando o Sol nascendo, cada vez mais forte e firme naquela vastidão que era o céu. Virou-se um pouco apenas para olhar para Hinata que ainda vestia o pijama e tinha os cabelos um pouco desgrenhados. Por isso, acabou rindo de uma forma involuntária enquanto tentava arrumar o cabelo dela com as mãos.

Surpresa, Hinata sorriu de volta para ele. Em todos aqueles anos, todos os pequenos sorrisos de Naruto eram apenas um puxar de lábios, mas daquela vez via todos os seus dentes perfeitos, e poder presenciar tal gesto, era muito importante. Ela sabia sim, que enfrentariam algumas dificuldades ainda, porém existia uma pontinha de esperança para eles; enxergou isso naquele sorriso.

— Naruto-kun, você realmente aprendeu a sorrir. — ela disse, impressionada.

O loiro apenas franziu o cenho, fazendo com que o sorriso se desfizesse, porém ela não desanimou. Hinata pensava em todas as mudanças que ocorreriam quando saíssem dali, a partir do momento em que eles entrassem no avião com destino ao Japão. Havia muito a esclarecer e resolver, no entanto, ela só conseguia pensar em ter paz por, pelo menos, alguns dias.

— Vamos, precisamos nos arrumar e ir ao aeroporto. — ela disse, enquanto o puxava. — Você verá o nascer e o pôr do sol muitas vezes ainda, Naruto-kun. Não se preocupe.

Enquanto voltavam para a casa, em silêncio, Naruto observava e sentia o toque de Hinata em suas mãos. Para ele, era insano como tudo mudou tão drasticamente de uma forma que ele jamais seria capaz de imaginar. Ele sabia que não conseguiria se considerar uma pessoa digna tão rapidamente, mas acreditava que poderia fazer mais mudanças do que já havia feito.

— Você vai ter que usar as roupas do otou-san. — disse Hinata rindo. — O único problema é caber, não é mesmo?

{...}

A parte mais impressionante daquele lugar era o tamanho. A Área Sete era um lugar gigante, ele bem sabia disso, mas não se comparava àquilo — que Hinata insistia em chamar de “aeroporto”. Para Naruto, este nome não fazia sentido de nenhuma forma, ainda que não dissesse nada; nem sabia o que poderia dizer naquela situação.

Havia um grande movimento no local, pessoas indo e vindo, pegando e deixando bagagens, e mesmo assim ninguém dizia nada. Provavelmente, este era o detalhe que deixou Naruto mais impressionado. Não havia contato que ia além do necessário, e isso era estranho para ele já que imaginava que isso só acontecia dentro da Área Sete.

Estava distraído observando a movimentação enquanto Hinata cuidava das bagagens. A Hyuuga estava mais preocupada em conseguir usar aqueles passaportes falsos do que com a movimentação — que também não deixava de preocupa-la, porém não tanto. O atendente não percebeu nada de errado, portanto apenas deixou que seguissem com a viagem. Faltava apenas trinta minutos para que eles pudessem embarcar e ela, sinceramente, estava ansiosa.

— Vamos, Naruto-kun. — disse ela enlaçando sua mão na dele.

— Para onde?

— Vamos nos sentar e esperar. Por favor, aja normalmente. Não precisamos de ninguém reparando em um de nós.

O loiro apenas assentiu. Hinata tinha razão neste ponto. Àquela altura, todos já sabiam sobre a morte de Madara* e também a “assassina”. Claro que ninguém falaria sobre o que ele estava fazendo para merecer aquelas balas em seu corpo, pelo menos não enquanto não houvesse provas suficientes para se discutir o assunto.

Enquanto estavam sentados, Naruto manteve sua atenção nas pessoas indo e vindo. Neste momento, ele começou a pensar na vida que todas elas tinham. O que sentiam? No que pensavam? Para onde iam? De onde vinham? A verdade era que nunca saberia exatamente, porém tinha esta curiosidade. Olhando-as, via toda a vulnerabilidade, o risco que viviam. Pensou em si mesmo. Era humano também, então o mesmo valia para si.

Até então, havia encarado o mundo apenas de longe, sem tocar ou sentir algo que fosse realmente valioso. O significado de ser humano era desconhecido para Naruto, porém estar ali, no mundo, como qualquer outra pessoa, o fazia entender aos poucos a familiaridade com a vida. Ele sabia que era um ignorante em muitas coisas, mas diante de seus olhos havia muito para aprender. E assim o faria.

— Vamos, Naruto-kun. — ela o chamou, enquanto se levantava. — Quero que saiba que a partir de agora, nada será como antes.

— Quer dizer que vai melhorar?

— Exatamente. — disse ela, sorrindo. — Todos os dias, cada vez melhor.

O loiro apenas assentiu, sabendo que um breve sorriso surgia em seus lábios. Isto era algo que ele passou a perceber: a facilidade com que um sorriso aparecia em seus lábios. Ele não sabia se era porque Hinata estava por perto ou se por, simplesmente, estar feliz. Não conseguia entender como era tão estranho com sentimentos, porém os sentia como se sempre estivessem lá. Pensou que, talvez, este fosse o princípio de ser humano: entender conforme ocorre.

Enquanto caminhavam até o saguão de embarque e se posicionavam na fila, Naruto notou sua mão entrelaçada na de Hinata. Havia se tornado uma mania fazê-lo sempre que estavam juntos, sem qualquer motivo específico. O loiro não se incomodava, porque acreditava que tal gesto permitia uma conexão maior entre eles, porém o que gostava era de sentir as temperaturas das peles se chocando, a maciez contrastante de suas mãos. Ainda que fossem basicamente os mesmos — mesma espécie —, ainda assim, eram diferentes. Para Naruto, era um fato curioso. E não só eles, como também muitas outras pessoas faziam o mesmo.

— Hinata, por que as pessoas dão as mãos umas as outras?

A morena virou-se para ele com o cenho franzido, porém logo um sorriso compreensivo surgiu em seus lábios.

— Talvez eu não devesse dizer, já que você descobrirá de qualquer jeito.

— Diga o seu ponto de vista.

Os seus olhos perolados moveram-se para sua mão entrelaçada a de Naruto, observando o contraste da pele morena dele com a sua branca.

— As pessoas ficam de mãos dadas por várias razões, Naruto-kun. Pode ser para impedir alguém de partir ou para ajudar alguém a atravessar a rua, mas eu acredito que todas elas fazem parte de um conjunto, porque a verdadeira razão é para demonstrar segurança. — fez uma pausa, voltando-se para os olhos azuis do loiro. — Lembro-me de quando era criança e a cada vez que sentia medo ou ficava nervosa, otou-san segurava minha mão. A sensação era de que nada de ruim poderia acontecer, como se eu pudesse ir contra o mundo sem qualquer restrição. Este tipo de sentimento é importante, por isso existem gestos como entrelaçar as mãos e dar abraços.

Hinata aguardou por mais alguma pergunta ou resposta, porém nada veio. Naruto apenas assentiu e ficou quieto. A morena entendia o que se passava com ele, mesmo que não fosse completamente. Ele teria de reaprender a ver o mundo e a entender as pessoas, e ela acreditava que seria ótimo para ele. Ter uma visão clara, limpa, portanto seria uma boa mudança. Nas suas memórias, Naruto sempre havia sido um rapaz muito esperto e animado com novas descobertas. Bom, pelo menos esta parte não se perdeu.

{...}

Japão

As folhas estavam se tornando cada vez mais alaranjadas. De repente, o tempo já havia passado de novo e mais um ano se despedia diante de seus olhos. Estava começando a esfriar e ela sabia que não demoraria a que o Inverno chegasse com toda sua intensidade. Na verdade, estava bem cansada de ver as estações do ano passar tão rapidamente; nem conseguia se lembrar da última vez que aproveitou uma.

Para Uzumaki Kushina, nada era muito animador ou fácil. Ela observava os momiji dando cor à cidade, sentia o vento frio batendo em seu rosto e bagunçando seus cabelos tão vermelhos, mas nada a fazia se sentir viva. Imaginou, há muito tempo, que seus sentimentos mudariam em algum momento e melhorariam; foi um engano.

— Kushina, entre logo. Está frio.

A ruiva virou-se para encarar o amigo que se encolhia no cobertor. Ainda não era inverno, portanto não nevava, mas o frio, aos poucos, começava e este sempre fora rigoroso no Japão. Não poderiam se descuidar tão facilmente.

— Já estou indo, Hiashi! — disse, calmamente. — Não é como se eu fosse morrer por causa de um vento no rosto.

— Não comece, por favor. — ele disse sério. — Venha. Fiz chá.

Rindo, ela apenas assentiu e entrou na casa, fechando as portas da varanda logo atrás de si. Acompanhou o Hyuuga que seguiu para a sala de jantar com a mesa lotada de aperitivos e muito chá. Ela nunca entendeu a necessidade de Hiashi de preparar uma mesa tão cheia de comida. Nenhum dos dois comia tanto, e mesmo assim ele o fazia. No fundo, ela desconfiava do motivo.

Sentaram-se e Hiashi os serviu, em silêncio. Kushina o conhecia há anos e sabia que ele precisava dizer algo, porém parecia perdido em suas próprias palavras. Simplesmente franziu o cenho para ele e deixou que seguissem em silêncio. O Hyuuga sempre foi muito sério e preferia manter seus anseios para si, no entanto, a convivência entre eles baseada em dor, os fez entender detalhadamente um sobre o outro.

Quando seus companheiros morreram, o mundo parecia, enfim, finalizado. Kushina nunca tinha conhecido nem amado alguém como foi com Namikaze Minato. Ele com aqueles olhos azuis como o céu de um dia de verão e os cabelos como o Sol deste mesmo dia; resumidamente, um conjunto de beleza natural embutida naquele corpo humano. A ruiva não sabia como Hiashi se sentia com relação à esposa falecida, Yumi, no entanto, tinha uma ideia da dor que aquele homem guardava. Bastava encarar aquelas pérolas para enxergar a saudade dolorosa que ele sentia. O que ela sabia era que Yumi nunca sairia daquele coração fechado a sete chaves, e apenas a sua falta poderia deixa-lo tão reservado. Ela e Hinata, sua primogênita.

Eles não tinham muitas preocupações em suas vidas. Hiashi era um homem aposentado, vivia bem, e apenas se dedicava a suas filhas, preciosas demais para ele. Para Kushina, não havia nenhuma, talvez apenas sobreviver, e isso era algo que ela nem ao menos se empenhava mais para realizar com sucesso. Ela se sentia furtada, portanto não enxergava nada que pudesse ter para se preocupar em sua vida. No entanto, tinha muito carinho por Hinata, uma doce e inteligente mulher, capaz de preocupar e muito o pai. Portanto, deveria ser isso que estava deixando aquele Hyuuga tão preocupado; o vinco em sua testa era prova disto.

— Você está velho, Hyuuga, com esses vincos e rugas no rosto. — disse zombando.

Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios finos. Para frustração de Kushina, Hiashi nada disse, apenas continuou em silêncio. Enquanto isso, apenas tomava seu chá e mantinha o olhar perdido em qualquer lugar que não fossem os olhos azul-acinzentados da Uzumaki. De um modo geral, ela nunca se preocupava com este tipo de situação, ainda que não gostasse nem um pouco de vê-lo tão desolado.

— Madara morreu.

A ruiva arregalou os olhos. Aquilo sim era uma grande surpresa para ela. Não havia ouvido nada sobre isso nos telejornais nem lido em jornais impressos. Naquele momento, não se via capaz de acreditar que aquele fato fazia parte de sua realidade, porque chegou realmente a acreditar que Uchiha Madara jamais morreria.

— Perdão?

— Ele morreu. — fez uma pausa, voltando a falar com hesitação. — Hinata me ligou. Ela estava voltando, Kushina.

Mais uma vez, surpresa. Nos últimos tempos, havia deixado de acreditar que ouviria algo assim. Hinata havia decidido dedicar total e completamente sua vida a sua profissão, portanto não entendia muito bem o que estava acontecendo. Era uma vinda muito repentina apesar de bem-vinda.

— O que houve? Ela se machucou? — questionou preocupada.

— Não. Ela está bem, só alguns ferimentos leves. — mais uma pausa seguida de um suspiro. — Aconteceram, sim, muitas outras coisas que contaremos quando ela chegar.

— Eu realmente não estou gostando disso. — disse desconfiada; seus olhos perscrutando o amigo. — Hiashi, não é nada com que devo me preocupar, certo?

— Fique tranquila, Uzumaki. — sorriu inseguro. — Bom, ela deve chegar daqui algumas horas, portanto vamos apenas esperar, certo?

A mulher apenas assentiu hesitante, sentindo um tremor percorrer seu corpo com uma ansiedade que há muito tempo ela não conhecia. Não negaria a ansiedade crescente em seu peito.

Observou o Hyuuga levantar-se para sair, porém antes que pudesse desaparecer dentro da casa, ele parou apenas para dizer o que acreditava que ela deveria saber antes que Hinata chegasse.

— Só para que saiba. Quem matou Madara foi Hinata. — fez uma pausa para sorrir. — E, sinceramente, estou orgulhoso dela.

{...}

O avião pousou com segurança em Tóquio para a alegria de Hinata. Não foram reconhecidos nem importunados por nada nem ninguém. Por um momento, ela acreditou que estava sendo uma extrema paranoica, mas entendeu que não custaria nada se precaver. Desde que fugiram, não sabiam como estava a situação na Alemanha nem na Área Sete. Estava ansiosa para ver como aquela sociedade nojenta do projeto lidaria com a morte do sociopata-mor.

Quando conseguiram pegar as malas, sob olhares irritados e ansiosos de Naruto, puderam pegar um táxi. A viagem a Konoha seria um pouco demorada, porém a Hyuuga estava ansiosa demais para conseguir relaxar. Suas mãos pequenas e pálidas estavam suadas e trêmulas com a expectativa de ir para casa e ter o conforto da família. Era uma época em que quase ninguém estava em casa: Hanabi na faculdade, Neji trabalhando fora do país. Apenas seu pai estaria lá para abraça-la. E, claro, Kushina. Pensar que poderia abraça-la e sentir o cheiro de lar que ela possuía naturalmente fez com que se acalmasse, podendo fechar os olhos e mergulhar em suas melhores lembranças.

A forma como a Uzumaki entrou em sua vida foi inusitada. Com a morta da mãe, Hinata se apegou às suas lembranças, todas aquelas que ela nunca gostaria de esquecer numa tentativa de fazer com que não pudesse mais sentir a ausência de Yumi. O único problema era que suas lembranças estavam começando a se esvair, desaparecerem como se quisessem abandona-la. Foi assim que descobriu uma semelhança com Kushina: duas pessoas completamente diferentes com um vazio tão semelhante. Juntas, aprenderam a não tentar preencher um buraco e sim a desapegar deste. Por maior que fossem suas dores, elas buscavam se superar cada dia mais. Hinata não diria que Kushina supriu as ausências de sua mãe, porém teve um papel importante em sua vida, algo por que seria grata pelo resto de sua vida.

Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu a mão de Naruto cobrir a sua. Apesar de desajeitado e inseguro, ele tentava passar um pouco de segurança para ela. O gesto fez com que ela abrisse seus olhos e sorrisse para ele. Lembrou-se de quando Kushina disse que ela encontraria seu lugar certo; sentia que estava olhando para ele naquele exato momento.

— Você parece estar com medo. — ele murmurou preocupado.

Sorrindo, ela apenas assentiu e ajeitou sua mão entre a dele. — Agora não mais.

O loiro apenas assentiu e ficou observando a cidade pela janela do veículo. Ele se sentia um pouco perdido com tantas novidades. Havia muitos prédios, todos enormes e assustadores. Naruto ficou imaginando como eles não caíam em suas cabeças, porque esta era a impressão que tinha quando os olhava, sem contar a quantidade de pessoas esquisitas que já havia visto. De uma forma geral, era um belo lugar e ele estava gostando de conhecê-lo.

— Se você quiser, podemos vir aqui depois. Tenho certeza de que você vai gostar de conhecer um pouco sobre os mistérios de Tóquio.

Assentindo, continuou observando a cidade. Durante o resto do trajeto, mantiveram-se quietos, imersos em seus pensamentos, portanto mal perceberam o tempo passando e consequentemente que já estavam em Konoha. Hinata guiou o motorista até o endereço exato e assim chegaram com rapidez ao destino. Como estava levando apenas uma mala, não se demoraram na entrada.

Naruto observava a modesta casa a sua frente. Era de arquitetura tipicamente japonesa, porém nas cores azul e branca, dando um ar de elegância e delicadeza ao imóvel. Parecia-lhe realmente agradável de viver.

— Vamos, Naruto-kun. — disse Hinata sorrindo.

O loiro a acompanhou até a entrada onde ela abriu rapidamente com uma chave. Por dentro, havia algumas luzes acesas, apenas o suficiente para que a casa não ficasse imersa em total escuridão. Tudo estava muito limpo e cheirava bem. Incrivelmente, o Uzumaki reconheceu um destes aromas, como se fosse uma memória.

— Otou-san? — chamou Hinata. — Chegamos.

Imediatamente, ouviram-se passos e uma voz animada e ansiosa. — Então você não veio sozinha desta vez? Imagino que deva ser seu...

Kushina vinha animada e imaginando quem Hinata teria trazido consigo, porém um silêncio devastador se abateu no lugar, fazendo com que a Hyuuga se preocupasse um pouco. Naquele momento só quis que seu pai tivesse chegado primeiro, afinal de contas, ele era bom com situações complicadas.

— Kushina-san, — começou Hinata calma e hesitante. — precisamos conversar.

A ruiva apenas assentiu. Seu olhar estava recaído sobre Naruto, observando cada detalhe, especialmente aquele brilho em seus olhos azuis. Tão azuis quanto o oceano e o céu num dia de verão. Não estava entendendo nada do que acontecia naquele momento, porém sentia que seu coração poderia explodir a qualquer instante, fazendo-a ter medo até mesmo de respirar. Mais ainda de que aquele momento se desfizesse com um piscar de olhos.

— Q-quem...? — disse Kushina tentando forma alguma frase.

A Hyuuga respirou fundo antes de dar espaço para Naruto se apresentar. Ele não sabia muito bem o que fazer, ainda mais sob o olhar intenso e esperançoso daquela mulher. O que estava chamando sua atenção mesmo eram aqueles cabelos vermelhos tão berrantes e chamativos, porém admitiu para si a beleza que possuíam.

— Apresente-se. — murmurou Hinata para o loiro.

O Uzumaki não sabia bem o que dizer nem como se expressar. Nunca precisou fazer essas coisas na Área Sete, afinal de contas todos sabiam quem ele era: o experimento perfeito, o “007”, aquele que Madara tinha orgulho se exibir como prêmio. Porém ali, fora daquele inferno, ele não era mais o experimento, e sim humano, uma pessoa normal como qualquer outra.

— Uzumaki Naruto. — ele disse hesitante.

Kushina apenas arregalou os olhos e os desviou para Hinata tentando encontrar algum indício de mentira em seus orbes perolados, no entanto, a Hyuuga apenas sorriu assentindo logo em seguida. A ruiva realmente queria abraça-lo, porque depois de tanto tempo acreditando que ele estava morto, vê-lo era como encontrar uma fonte de água no meio do deserto.

— Pensei que estivesse m-morto. — murmurou. — Eu realmente... Não sei.

O loiro assentiu em silêncio, percebendo como ela era familiar. Os cabelos vermelhos estavam em sua memória, ele sabia disso. Aos poucos, as lembranças que tinha se fizeram presente, o fazendo entender quem era ela. Até mesmo seu cheiro era o mesmo, assim como sua presença.

— Vamos nos sentar, sim? Temos que conversar. — chamou Hinata.

Ambos saíram do transe e seguiram para a sala. Hinata ajudou Kushina a se acomodar numa poltrona de frente para o sofá onde se sentou com Naruto a seu lado. Eles continuavam a se encarar, a ruiva com um brilho no olhar e o loiro desconfiado, porém ansioso.

— Onde está otou-san, Kushina-san?

— Hã? Ah, Hiashi. Ele está no escritório. — respondeu saindo de seu transe. — Vou chama-lo.

A Hyuuga apenas assentiu e se retirou. Aproveitou a oportunidade para focar em Naruto.

— Tudo bem? — perguntou preocupada. Ele apenas assentiu. — Vamos conversar agora e esclarecer todas as suas dúvidas. Não se preocupe.

Diante do sorriso seguro e carinhoso de Hinata, Naruto relaxou. Ele sabia que ela não o colocaria em uma situação perigosa, menos ainda o prejudicaria. Ali, sabia que poderia confiar nela.

Em alguns minutos, Hiashi e Kushina voltaram. O Hyuuga, ao ver o loiro, abandonou a postura fria e deixou-se abalar. Não conhecera Minato, porém pelo que via de fotos, o filho era uma cópia perfeita do homem. E se ele tivesse a presença que Kushina tanto falava, então passava de perfeição. Seu olhar, porém, logo se desviou para a filha que se levantou para abraça-lo. Hinata sentia que choraria com tanto conforto que sentia em poder estar no ninho de segurança que eram os braços de seu pai.

Em silêncio, se separaram e sentaram-se novamente. Permaneceram assim por um tempo, sem saber o que dizer nem como agir. Todos eles esperaram por este momento e ali, quando ele acontecia, ninguém sabia como proceder. Pensamentos diversos rondavam suas mentes e os deixavam presos dentro de todas as possibilidades e nas palavras que queriam expor.

— Naruto-kun, este é Hyuuga Hiashi, meu otou-san. — começou Hinata hesitante. — E ela é Uzumaki Kushina, sua kaa-san.

Naruto focou na mulher ruiva perto de si. Ela tentava sorrir e segurar as lágrimas ao mesmo tempo o que resultava em uma careta. Chegou a achar engraçada esta atitude, mas não gostava da forma como ela se prendia, se continha para não tomar uma decisão errada.

— Se você quiser chorar, chore. Apenas não faça essa cara. — disse aborrecido.

Surpresa, acabou desmanchando o sorriso e seus olhos se arregalaram, dando oportunidade para que as lágrimas caíssem. Elas vieram grossas e quentes, saudosas como só uma mãe poderia ser. Neste momento, ela levantou-se hesitante e um pouco tensa para se sentar ao lado do filho. Lentamente, aproximou sua mão da de Naruto. Esperou por uma rejeição, porém esta não veio.

— Você é real. — ela murmurou entre um riso nervoso e um soluço. — Eu só queria ter certeza.

— Você também. É o mesmo cheiro.

Com isso, a Uzumaki não pode se controlar e apenas abraçou o filho. Naruto não se viu capaz de corresponder, porque não sabia como agir, porém permitiu que ela o abraçasse. O choro, desta vez, veio descontrolado e aliviado. Ele não sabia o motivo pelo qual havia ido parar na Área Sete, porém acreditava que ela não era uma culpada. Durante aqueles anos, aprendeu a detectar pessoas más com um único olhar, e vendo Kushina, sabia que ela não era má.

Após alguns minutos, ela se acalmou e soltou-se do filho. Sorriu levemente e voltou a sentar-se na poltrona.

— Você deve ter muitas dúvidas em relação a mim e ao que aconteceu. Vamos explicar tudo a você. — fez uma pausa. — Bom, eu sou sua kaa-san. Antes de qualquer coisa, quero que saiba que eu nunca desisti de acha-lo. Durante todos esses anos, corri por este mundo infernal para encontra-lo, mas nunca consegui. Eu jamais o abandonaria.

— Eu sei. — ele disse confiante.

Ela sorriu aliviada e então voltou a se concentrar para iniciar a contar a história. — Após a morte do seu otou-san, nós conhecemos Hiashi e Hinata. Eles se tornaram nossa família também, e vivemos assim por um bom tempo. Até que veio a guerra e você foi convocado. Para ser sincera, fui muito contra isso, mas não pude fazer nada impedir. Você se foi e nos realmente acreditamos que estava treinando para a guerra. No entanto, Hiashi descobriu sobre os projetos macabros de Madara e assim deduzimos o que aconteceu. Tentamos trazê-lo de volta, porém Madara já havia sumido com você. Nunca mais o vi.

Ele assentiu, ainda que tivesse um olhar de dúvida sobre Hiashi. Percebendo que era um ponto de interrogação na história, o Hyuuga resolveu que deveria dizer o que sabia e o que tentaram fazer para desfazer aquele desastre.

— Eu conheci Madara na faculdade e desde então trabalhamos juntos. Este projeto de transformar humanos em máquinas de guerra surgiu nesta época. Futuramente, ele deu início a isso, e chegamos ao que chegamos. O único problema é que ele alcançou um nível extremo de obsessão e loucura, e eu não concordava com aquilo. Ele me odiou por abandona-lo, mas não vi outra solução. Nunca soube sobre você, Naruto, porque ele o guardou a sete chaves. Seu corpo apresentou uma resistência perfeita, portanto ele quis mantê-lo em segredo. — fez uma pausa. — Sinto muito que tenha sido assim. Eu queria acabar com Madara. O único problema era reunir provas suficientes para incrimina-lo. Ele sabia que eu era um perigo, portanto me manteve o mais longe possível de documentos importantes.

— Portanto, — disse Hinata. — eu fui trabalhar com ele. Consegui reunir muitas provas e vamos acabar com a reputação dele.

O silêncio voltou a reinar. Naruto não olhava para ninguém, seu olhar perdido em algum canto do cômodo. Kushina esperava ansiosa por alguma reação, assim como Hinata, porém ela não vinha. O rapaz não sabia o que nem como pensar, afinal de contas aquela era sua história e ele a conhecia pela primeira vez. Queria poder dizer algo, até mesmo gritar ou ofender alguém, no entanto, havia vivido muito tempo imerso no nada e por isso não encontrava um caminho para seguir a partir dali.

— Eu não sou mais o seu filho. — ele disse, olhando para Kushina. — Madara me tornou um experimento, um monstro.

— Naruto-kun, eu já disse que...

— Mas — continuou ele interrompendo Hinata. — eu sei que se eu quero algo, então posso fazê-lo, certo? Agora, eu só quero ser normal.

Novamente, uma surpresa. Kushina sorriu para o filho e levantou-se novamente, e dessa vez ajoelhou-se diante dele. Segurou sua mão entre as suas, percebendo como as dele eram grandes e calejadas, fazendo-a pensar em todas as coisas ruins que aconteceram com ele em todos os anos em que ficaram separados.

— Você ainda é o meu filho e sempre será. Seja o que você quiser, Naruto-kun, afinal de contas, você é livre. Eu como sua kaa-san, irei apoia-lo.

— Isso é amor?

— Isso é amor. — sorriu.

{...}


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Notas finais do capítulo

*Quando me refiro a todos, quero dizer o pessoal da área e também os profissionais envolvidos no projeto.

E é isso. Eu espero que a maioria das dúvidas tenham sido sanadas, assim como espero que a história não tenha saído tão de foco como minha neurose está imaginando. Eu gostei de escrever este capítulo. O reencontro pode ter parecido estranho, mas quis economizar no drama. Aliás, não estranhem a atitude do Naru, afinal de contas, tudo isto é novo para ele, mas ele se acostumará.

Bom, muito obrigada por ler e sinto muito pela demora, de verdade. Acredito que agora não haverá mais enrolação.

Aliás, feliz ano novo! Espero que este ano possa ser de muitas coisas boas e realizações. Desejo o melhor para todos nós!

Até mais! ♥ ♥ ♥