O caminho para a União escrita por temarigbc


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A situação principal se passa alguns meses antes dos acontecimentos narrados em Shikamaru Hiden. Recomendo a leitura da novel para uma melhor compreensão do texto.



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Desde que foi estabelecida a União Shinobi, Shikamaru e Temari costumavam seguir viagem juntos com destino ao País do Ferro. Kakashi, o Sexto Hokage, e Gaara, o Quinto Kazekage, concordaram que ambos formavam uma dupla temível, o que tornava o longo caminho mais seguro contra emboscadas. Dessa forma, os representantes de Konoha e Suna se encontravam uma vez por mês no País do Vento e rumavam para a sede sem qualquer objeção. A volta funcionava da mesma maneira: da sede ao ponto de encontro, do ponto de encontro para as suas vilas. Não era algo ruim. O tempo passava mais rápido entre uma conversa e outra.

Na estrada, Shikamaru ouviu algumas vezes as reclamações de Temari sobre o fatídico exame chunin no qual os dois se conheceram. Ela ainda não aceitava a vitória, ele ainda a achava complicada demais. Também na estrada, Temari escutou histórias do Time 10 e de seu sensei, Asuma. Eles proseavam sobre a obstinação do barulhento Naruto, sobre o carinho e o respeito conquistados por Gaara, sobre o estranho gosto – segundo ela – nutrido por Shikamaru de observar as nuvens por horas e horas, sobre diferentes costumes das aldeias. Conversas sobre temas mais densos revezavam com pequenas e boas bobagens.

Na volta de mais uma reunião, o assunto da vez foi o Tsukuyomi Infinito. Uns preferiram manter seus sonhos em segredo, como Hinata – embora todos soubessem que um certo ninja loiro fatalmente embalou seu sono. Outros ficaram tão empolgados que compartilharam suas peripécias com todos, como Kiba e Kankuro. Refletindo sobre o Tsukuyomi, em determinado momento Shikamaru questionou sobre quais deles se tornariam realidade, no que Temari responde:

— Bom, deixando os exageros de lado, o meu já se tornou.

— Posso perguntar sobre...

Shikamaru não tem esse ímpeto curioso sobre os outros. Ele apenas prosseguiu com a conversa até se tocar sobre a pergunta que estava prestes a fazer. Invasiva demais. Pessoal demais.

— O meu sonho? Não é nada tão interessante assim... Eram apenas meus irmãos me consultando sobre tudo. Minha opinião parecia a coisa mais importante para eles. Não que eu queira me gabar, mas Gaara e Kankuro estão me requisitando bastante ultimamente.

A kunoichi abriu seu largo sorriso tão característico, até revidar a pergunta:

— Ei, eu não sei nada sobre o seu sonho. Há alguma chance dele se tornar real? Como foi?

Não havia inibição em seu rosto. Temari possuía o interesse que faltava em Shikamaru.

— Normal, eu acho. Meu pai e Asuma estavam nele. E você também.

— Eu?

— É, a gente observava os dois se complicarem com suas mulheres. Eu cheguei a cogitar mais ou menos esse futuro para mim um dia, mas vejo que casamento é algo problemático demais... Essa foi a minha conclusão no sonho.

— E só?

— Bem, você concordava. E só.

Temari, antes questionadora, calou-se. Diante do desconforto do silêncio, o jovem Nara prosseguiu:

— Sabe, Temari, antigamente eu tinha um plano bobo de me casar com uma garota normal, não muito feia e nem muito bonita. Teria dois filhos, primeiro uma menina, e então um menino. Eu me aposentaria assim que a minha filha se casasse, já com o meu filho sendo um ninja bem sucedido, e passaria o resto da minha vida jogando Shōgi ou Go. E então, morreria de velhice antes da minha esposa. Mas hoje, por mais que eu tente, por mais que eu considere várias possibilidades, não consigo me enxergar vivendo assim. Mulheres dão muito trabalho... Mulheres e filhos são demais para mim.

Eles já se aproximavam do local em que se separariam. Temari permaneceu em silêncio por um longo, longo tempo. A afirmação de Shikamaru sobre as mulheres normalmente lhe causariam algum ferimento e uma tremenda bronca, mas era como se sua companheira de viagem estivesse além da prosa. Ora sua mão ia ao queixo, ora sua testa franzia. Ela estava... Pensando? Sobre um sonho tão desinteressante? Ou sobre um futuro ilusório? O comportamento de Temari chamou a atenção de Shikamaru, tanto que ele estava prestes a perguntar o que estava acontecendo. Entretanto, ela se antecipou:

— Por que não?

— Por que não o quê?

— Por que não se casar e constituir uma família, Shikamaru?

— Ahn?

— Veja bem, você acabou de me contar sobre como o seu futuro ideal seria. Tudo me pareceu bem tranquilo... E pacato. Chato demais, Nara.

— Que tal cortar as provocações e ir direto ao ponto?

— Ok, continuando. Pelo que eu entendi, passar suas tardes olhando as nuvens e não ter grandes preocupações se encaixariam direitinho na sua antiga visão. Não te importaria não ser reconhecido. Aliás, o anonimato e a discrição são ideias que sempre te agradaram, certo?

— Certo... Aonde você quer chegar?

A expressão confusa de Shikamaru provocou um pequeno sorriso em Temari, que retomou seu raciocínio:

— E hoje você é o organizador chefe da União. Sua inteligência é conhecida e admirada por todos os shinobis. É um prodígio e um dos favoritos do Sexto Hokage. Você tem trabalhado incansavelmente, é constantemente requisitado e até suas reclamações sobre o quanto isso tudo é problemático e complicado estão diminuindo. Percebeu a mudança?

— Sim, eu acho.

— Você planejou uma vida bem diferente da que leva hoje, né? E agora se embasa exatamente na sua vida de hoje para planejar seus próximos passos, mesmo sabendo que nunca teremos total controle sobre eles. Já era para ter percebido que circunstâncias nos levam a caminhos diferentes, não? Diante de todas as suas conquistas e dos avanços no mundo shinobi, no qual você tem extrema importância, está insatisfeito ou arrependido com o rumo não planejado?

— Sinceramente, certas coisas são um saco. Muitas coisas, aliás. Reuniões, relatórios, missões... Mal me sobra tempo para relaxar. Mas se minhas ações de alguma forma têm contribuído para a paz, acho que a vida que levo vale a pena, né? Deve ser por isso que eu sigo em frente.

— Como eu pensei.

— Mas o que isso tem a ver com o meu sonho, ou com o fato de não me interessar em formar uma família?

— Casar pode não ser a sua agora. Você não considera a ideia de se unir a alguém no momento... Mas quem te garante que novas circunstâncias não farão você cogitar a possibilidade no futuro?

A resposta de Shikamaru foi imediata, como se espera de alguém que calcula seus próximos passos:

— Eu já tenho uma rotina bastante problemática. Considerando que Naruto provavelmente será o próximo Hokage, e eu estou decidido a ser seu conselheiro, as coisas ficarão cada vez mais difíceis. Por que eu me complicaria ainda mais com um casamento? Cuidar de Naruto, de Konoha, da União, de uma esposa e possivelmente de filhos não parece ser muito para mim?

— Não sei. Alcançar a posição que você ocupa agora não parecia ser muito para o bebê chorão que me enfrentou no exame chunin?

— Mulher problemática... É, parecia.

— Mudanças de planos, intencionais ou não, acontecem. Você bem sabe disso. E elas nem sempre são ruins, como você mesmo concluiu... Além disso, só começamos a pensar em certas coisas, como casar, quando amadurecemos, eu acho.

— Quer dizer que você pensa em casar?

— Ué, por que não?

— Isso... Isso serviria para você?

O semblante de Temari logo fechou, assim como seu punho:

— Explique-se melhor. Agora!

— Calma, calma! Você sempre me pareceu uma mulher decidida e de personalidade forte, e é uma das mais poderosas kunoichis que conheço. Como eu posso dizer? Você é diferente das outras meninas que eu conheço. A rotina de casada me parece meio pequena para alguém como você. Foi isso o que eu quis dizer!

A explicação surtiu um efeito tão forte em Temari que seu corpo, antes tenso e pronto para atacar, relaxou-se completamente. Shikamaru parecia ter visto o que seria um início de um sorriso no rosto de sua companheira, mas ela logo recuperou a compostura:

— Mais cuidado com as palavras da próxima vez, bebê chorão.

— Ok, ok... Mas o que eu falei faz sentido agora?

Finalmente, eles chegaram ao ponto da estrada em que se separariam.

— Faz... E não faz. Estou focada em trabalhar duro para a União dar certo no momento, então outros assuntos ficam para trás... Mas talvez um dia apareça um homem. Um homem que eu marcarei acima de todos os outros. Claro, esse cara terá que lidar com meu temperamento, mas quem sabe ele não descubra que gosta do meu jeito? Quem sabe até o jeito dele não se equilibre com o meu? Olha, não vou me opor quando esse sujeito aparecer. E eu posso controlar a intensidade dos meus ataques. Posso controlar a minha fala para defender os princípios de Suna nas reuniões da União. Existem muitas coisas que fogem completamente do meu domínio e outras que acontecem do jeitinho que eu quero. Shikamaru, você acha que conseguiremos controlar algo como o amor?

Shikamaru ficou atônito. Ele ainda não havia experimentado tal sentimento por uma garota, mas conhecia bem essa força absurda e incontrolável. Shikamaru amava Konoha, sua família e seus amigos, seu pai e seu mestre, os momentos de paz. Temari prosseguiu:

— Por enquanto, eu estou no meio de garotos. Garotos como você, Shikamaru. Mas garotos crescem. Pode ser que alguém amadureça nesse meio e se interesse por mim. Pode ser que alguém especial também desperte o seu interesse. Alguém que mude mais uma vez os seus projetos e torne as coisas mais problemáticas, porém satisfatórias e prazerosas. Claramente você não está pronto, mas as circunstâncias e o tempo modificam o nosso modo de agir e de pensar. E diante dos rumos tão diferentes que sua vida já tomou em pouco tempo, você deveria ter aprendido a esperar o inesperado, Nara. Ainda mais quando o inesperado é algo tão natural como a união entre duas pessoas. Você ainda vai se apaixonar, eu sei. E vai namorar, casar e constituir uma família. Isso se estenderá a seus amigos e conhecidos. E eu seguirei sabendo que a mesma coisa acontecerá comigo quando chegar a hora.

Uma das habilidades de Shikamaru é a alta capacidade de observação em situações de conflito, algo fundamental para planejar seus movimentos seguintes. Talvez seja por isso que as bochechas mais coradas de Temari tenham passado despercebidas. Não havia conflito nenhum ali, apenas uma conversa despretensiosa... Uma conversa que o deixou bastante reflexivo. Entretanto, Temari sabia exatamente o que estava acontecendo e tratou de se apressar:

— Bom, foi uma reunião bem produtiva. Preciso preparar logo o meu relatório para atualizar o Kazekage, pontos importantes foram decididos. Então nos vemos no próximo mês ou em alguma missão, Shikamaru. Até breve!

Os passos de Temari foram tão rápidos que Shikamaru sequer teve tempo de se despedir. Sabe-se lá o porquê da súbita correria, mas a kunoichi era um enigma que Shikamaru ainda não havia decifrado. Além do mais, seus pensamentos estavam voltados a algo novo, ainda não considerado...

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“Será que eu falei demais?”

Já bem distante do ponto de encontro, Temari fazia um esforço tremendo para se lembrar de cada palavra dita a Shikamaru. Um assunto levou a outro; outro esse que já havia passado por sua reflexão em muitas ocasiões. Temari desabrochou para uma nova fase antes do organizador chefe da União. A essa altura, ela já sabia que seus sentimentos por ele iam além de uma simples admiração ou amizade. Temari reconhecia sua ansiedade crescente nos dias que antecediam as reuniões no País do Ferro, assim como seu estranho desânimo quando ambos atingiam o ponto de encontro no regresso. O porte físico do jovem de Konoha era outro, mais imponente e maduro, sua ética de trabalho era invejável e seus incontáveis esforços na manutenção da paz deixavam para trás a velha e saudosa preguiça, mas nada a atraía mais do que a genialidade de seu companheiro. Apesar disso, não foi nada decepcionante constatar que Shikamaru não era nada inteligente em assuntos do coração. Não, isso era exatamente o esperado. Ele precisava de alguém que o despertasse, e esse alguém tinha que ser a própria Temari.

Então, ela decidiu agir, e encontrou naquele papo inofensivo uma excelente oportunidade. Por questão de orgulho e por realmente acreditar que o rapaz não estava pronto para entrar num relacionamento, Temari jamais iria confessar seus sentimentos... Mas e se sutilmente ela começasse a influenciá-lo? Ela se esforçou em instigar Shikamaru a se abrir para um futuro diferente mais uma vez, e até deixou pistas valiosas sobre o que nutre por ele. A kunoichi só não contava que seu emocional, essa coisa indomável, pudesse traí-la.

“E as bochechas? Idiota... Será que eu estraguei tudo?”

Shikamaru era inquestionavelmente um gênio. Mas em algumas matérias, Temari era quem calculava os próximos movimentos.

“Não, o bebê chorão ainda não sabe de nada.”

A moça sorriu.

Mais aliviada, Temari desacelerou e seguiu confiante para Suna.

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Shikamaru permanecia estático, refletindo sobre tudo o que ouviu. Como esses papos sobre banalidades o afetaram desse jeito? A verdade é que sua vida estava mesmo muito diferente da rotina pacata outrora desejada, e o que ele imaginava como futuro continuava sofrendo constantes mudanças. No entanto, apesar de todo o estresse e cansaço, o ninja estava bem. Seus esforços não eram em vão. Em alguns momentos, suas incertezas vinham à tona e ele mesmo questionava se o caminho que traçava era realmente de sua vontade, mas o clima de paz entre as nações e o comprometimento dos representantes da União indicavam que o líder do clã Nara seguia na direção correta. Estranhamente, os argumentos de Temari possuem o poder de sanar muitas de suas dúvidas. A moça mostrou uma capacidade que até então ninguém de seu meio possuía: a de elucidar, sem querer, seus questionamentos mais íntimos.

Casamento? Isso parecia um tanto problemático. O rapaz ainda não tinha a menor vontade de se unir a alguém, mas talvez sua hora realmente chegasse um dia. No mais, estar rodeado de mulheres problemáticas era algo que ele, por mais que tentasse, não conseguia evitar. Seria normal se aparecesse mais uma que poderia se tornar sua esposa, certo? E se mesmo Temari, com seu temperamento explosivo e espírito independente, estava aberta à possibilidade de passar o resto de seus dias ao lado de alguém, por que ele não mudaria de ideia mais para frente?

“Complicado... Ela pode estar certa”.

Shikamaru iniciou seu caminho para Konoha praticamente certo de mais uma reviravolta em sua jornada. Ele também pensou especificamente num trecho dito por Temari:

“Um homem que eu marcarei acima de todos os outros.”

O rapaz sorriu.

“Boa sorte, mulher complicada”, ele mentalizou enquanto esvaziava sua mente olhando as nuvens no horizonte.

A estrada não haveria de ser muito longa.


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