Days are gone escrita por Pulmões doloridos


Capítulo 1
Oneshot




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716151/chapter/1

Florence estava tremendo quando entrou no estúdio minúsculo de Isabella com o papel em mãos. A loira sorriu pra ela.
— Está nervosa, não é?
Flo quis responder mas sua voz pareceu abandoná-la, e isso a fez congelar.
Não ia conseguir cantar. Droga.
Droga
Droga
Droga
— Flo?
Ela voltou a realidade, os olhos verdes se arregalando para Isabella. Limpou a garganta. A voz continuou sem sair. Isso nunca tinha lhe acontecido, seus pulmões e cordas vocais sempre haviam trabalhado juntos muito bem, por que logo agora quando ela mais precisava eles falhavam?
Isabella acharia que ela era antiprofissional demais pra ser uma cantora, perceberia que esteve errada aquele tempo todo achando que Flo havia um grande talento ou algo assim. Ela não deveria ter se comprometido com algo que não sabia se podia fazer.
Não deveria.
O pânico lhe subia pela garganta e Florence abaixou a cabeça, deixando seu cabelo castanho-avermelhado lhe cair todo sobre o rosto pra se esconder.
— Florence. - Isa chamou de novo, indo pra perto dela e lhe pegando as mãos, procurando seu rosto. Devagar, Florence levantou um pouquinho a cabeça.
Isa parecia mais preocupada do que decepcionada e aquilo a ajudou um pouco. - Está tudo bem, sou só eu. - Mas então ela percebeu que Florence ainda nã conseguia deixar nenhuma palavra sair da boca, e apertou as mãos dela mais forte, abrindo um sorriso. - O que foi, a Úrsula comeu sua língua?
Flo sorriu.
— Olhe, deixe eu te mostrar. Estive treinando algumas notas. - Disse ela, sentando-se em frente ao seu teclado que mal cabia no espaço e pegando o papel da mão de Florence. - Vamos ver se eu consigo tocar isso aqui. - E começou, com alguns erros, a entonar a melodia da música que Florence havia trazido pra ela. Eram só três notas e tudo logo ficou mais fácil.
Pouco a pouco, ouviu a voz de Florence, bem baixainho, seguindo a melodia e sorriu. Entregou-lhe o papel e continou tocando. Florence ainda tremia quando começou a cantar, mas tentou fingir ao máximo que estava em seu próprio quarto cantando pra Grace e JJ e não para Isabella, que ela queria tanto agradar.
“Between to lungs, it was released...”
Finalmente saiu e então fluiu naturalmente. Quando ela se deu conta estava batendo palmas pra acompanhar o rítimo e Isa a acompanhava com um grande sorriso no rosto.
— Isso é maravilhoso, Flo. Que bom que eu te encontrei. - E pegou as mãos dela nas suas de novo. - Você vai ser famosa, tipo, muito muito mesmo.
Florence riu com a ambição da amiga.
— Como pode saber que não vai dar tudo errado?
Isabella balançou a cabeça.
— As pessoas não nascem simplesmente com uma voz dessas. Você nasceu pra mostrar isso pra todo mundo, acredite em mim. - E se esticou pra beijar Florence na bochecha. - Eu vou tentar te arrumar uns pubs pra tocar.
— O que? Mas eu não estou pronta, só tenho uma música.
Isa deu de ombros.
— Nós escrevemos mais. Mas tem que me prometer que vai trabalhar com todas as pessoas mais talentosas do mundo, todas mesmo, e no final vai voltar pra escrever comigo. Não importa o que aconteça.
Florence sorriu.
— Prometo.
—-
— Isso não vai dar certo.
— Vai sim, você tem quatro músicas e quinze minutos. Faça algo louco e conquiste todos eles. Vai lá.
Florence balançou a cabeça.
— Não consigo. Me arrume alguma coisa com álcool, por favor.
Isabella hesitou.
— Você vai conseguir cantar?
Flo assentiu e Isa foi pegar um drink forte com vodka pra ela. Quando voltou, Florence estava enchendo a cara de glitter dourado.
— O que está fazendo?
— Caracterização. Não sei se eu consigo entrar lá como eu mesma, então criei uma personagem mais corajosa e confiante pra entrar lá por mim. Uma com coração de leão, não de coelho.
Isa sorriu e lhe entregou o drink que ela virou em um gole. Ficava muito feliz nesses momentos em que Florence parecia confiar nela o suficiente pra lhe contar sobre as coisas que passavam por sua cabeça, ela era no mínimo fascinante.
Estava distraida com seus pensamentos e não reparou quando Flo se virou pra ela com a mão cheia de glitter e lhe espalhou pela cara.
— Que merda é essa?
Florence deu sua gargalhada característica.
— Não quero ser a única idiota com glitter na cara.
Isabella foi pra cima dela e se vingou fazendo-lhe cóçegas e ouvindo Florence gargalhar e ficar vermelha. Pra alguém tão alta, ela era fácil de se atingir.
— Pare, Isa, pare. - Disse, sem ar, entre as risadas.
— Florence Welch.
Florence gelou. O sorriso sumiu.
— Sim?
— Você entra agora. - Disse o garçom, sumindo pelas cortinas.
O pânico voltou de novo. Dessa vez, porém, Isa já tinha preparado uma solução. Tomou o rosto de Florence na mão e deu-lhe um beijo nos labios.
Flo foi pega de surpresa, é claro, mas a beijou de volta porque os labios de Isa eram macios.
— Se for bem eu te dou outro. Quantos quiser. - E sorriu. - Vai lá.
Ela se elvantou e partiu pro palco com a promessa da amiga em mente.
—-
— Você vai ter que tocar. É sério, não vou ficar lá sozinha.
— E se eu errar as notas e parecermos duas idiotas lá em cima?
— Pelo menos vamos ser duas idiotas, não uma só. Por favor.
Isa suspirou. Não queria subir no palco até estar tocando perfeitamente bem.
Mas Flo fazia aquela cara e o que ela poderia fazer?
— Tudo bem. - Disse enfim. - Vou ser sua máquina.
Florence sorriu e abraçou forte.
— Somos um robô e uma maquina agora. Que bom que não tenho mais que ir lá sozinha!
Isa não sabia dizer não pra Florence. Sinceramente, como alguém seria grosso com um ser humano daqueles? Ela era como uma fada com alma de criança preso naquele corpo de gigante com um rosto angelical. Era surreal.
O primeiro show não foi tão ruim. Flo parecia bem mais segura com Isa atrás, e a pianista fez também o trabalho de becking em algumas músicas, se expremendo pra tocar o minúsculo piano rosa que o cachê pôde comprar, com Rob e sua guitarra de segunda mão ao lado.
—-
— Você tem duas estrelas cadentes nos olhos. - Florence disse, enquanto fazia carinho na bochecha de Isabella.
Ela sorriu.
— Vou tirá-las daqui e dá-las pra você.
—-
— Vou sentir falta da turnê. - Florence disse, deitando-se no colo de Isa e fechando os olhos. A loira lhe fez carinho no cabelo.
— Vamos escrever outro album então. - Disse brincando, mas sabia que a amiga não estava pronta ainda. As cicatrizes ainda estavam curando. Ela precisava de tempo.
— Sabe, sou grata a todos eles. Cada um dos show me mudou, você sentiu isso? Cada um era uma energia difrente e agora eu sinto como se estivesse com o coração cheio de todas essas cidades e países. - Disse com a mão sob o lado esquerdo do peito. - Estão todos aqui dentro.
Isa se esticou e beijou-lhe a testa afastando um pouquinho a franja.
— Essa foi nossa melhor turnê, não foi? Meus dedeos estão cheios de calos mas estou tão feliz. E estou orgulhosa de você.
— Por que?
— Você viveu tudo isso, toda essa dor e se curou sozinha, sem precisar de uma gota de álcool.
Florence pegou sua mão.
— Não foi sozinha. Eu teria ficado completamente perdida sem minha little machine.
— Parece que o robô não funciona mais tão bem sozinho. - Brincou Isa. Florence era as vezes a pessoa mais evoluida do mundo todo e extremamente responsável e com total consciencia de suas ações, mas com essa mesma facilidade ela se tornava uma criança pequena demais pra enfentrar a vida e suas responsabilidades, chorando quando algo dava errado e se desesperando por coisas mínimas.
Era aí que Isabella entrava. Não era fácil acalmar Florence quando ela estava tendo uma crise, mas a pianista tinha tido muitos anos de treinamento. Primeiro ela a abraçava muito forte e fazia carinho em seus cabelos, caso Flo deixasse. Então ficava muito tempo (As vezes horas) em silêncio e depois começava a conversar com ela aos poucos, até voltar ao nomal.
Era isso o que tinha acabado de acontecer, e agora a cantora já estava recuperada.
Florence era complicada. Crises de inicio de turnê, crises de final de turnê, crises de inicio de relacionamento, crises de término de relacionamento. Isa sabia lidar com todas quando a amiga precisava.
Depois de alguns minutos em que Florence parecia estar absorta em algum tipo de reflexão profunda, ela finalmente disse:
— Acha que a Gucci vai continuar me dando as roupas?
—-
Isabella respirou fundo.
Era isso. Seu último dia em Londres. Voltaria para Los Angeles para sua vida de festas e baladas sempre tocando qualquer música que fizesse as pessoas dançarem. Era esse seu objetivo. E ficar bronzeada.
Suspirou. Estava ficando velha demais para aquilo, pensou. Só imaginar o barulho das boates já lhe dava enxaqueca.
Não, convenceu a si mesma. Só estava cansada. Tinha sido uma longa turnê. Seu teclado teria um bom e merecido descanso.
E por isso tinha decidido fazer o que ia fazer naquele último dia. Tinha pasado meses pensando no assunto antes de chegar aonde estava.
Pegou o celular.
“Está em casa?”
“Sim, o Felix está aqui”
Merda.
“Preciso falar com você antes de ir, posso entrar um pouco?”
“Está aí fora? Agora? Espere só um segundo xx”
Isabella ouviu os passos dela correndo pelas escadas. Estava descalça, no mínimo. Florence nunca usava sapatos enquanto podia evitar.
A porta se abriu e Isa foi recebida com um grande sorriso da amiga, que lhe deu um abraço de urso.
— Vou fazer chá pra você. - Avisou e marchou para a cozinha. Isa não teve nenhum sinal de Felix mas ele deveria estar ali em algum lugar então precisava fazer isso de uma vez. Ela não sabia o que tinha lhe dado, sempre tivera coragem de dizer o que queria dizer quando queria. Nunca teve medo de palavras e mesmo assim seu coração não parava quieto no peito.
Com medo de Felix descer e estragar todo o seu plano, Isa achou melhor acabar logo com isso. Se levantou e foi até a cozinha. Flo estava colocando água na chaleira e cantarolando uma música da Taylor Swift.
Isa sorriu e, ao invés de falar alguma coisa, ficou só observando. A amiga ainda não havia lhe notado, e foi só quando começou a cantar baixinho uma música de Bowie e Isa juntou-se a ela que sua presença foi notada.
Florence deu um pulo e quase derrubou a chaleira.
— ISA! Você quase me matou de susto. Se você se esforçasse podia se passar por uma gata.
Ela rolou os olhos.
— Até porque eu já sou linda.
Flo sorriu pra ela.
— Sobre o que você queria conversar?
Isabella olhou em volta, ainda com medo de Felix aparecer. Não queria estragar o namoro da amiga logo agora que ela estava finalmente bem de novo.
— Não sei como vou te dizer isso.
— O que foi? Precisa de ajuda, de alguma coisa? Tem a ver com dinheiro?
— Não, Flo, não tem nada a ver com isso. Você sabe que meu cachê é ótimo. - Isa suspirou. Ia falar de uma vez. De que adiantava ficar enrolando? As duas se conheciam há quase onze anos, já tinham passado por coisa pior. - Eu...Por favor não me entenda errado. É da forma mais pura possível. - Ela respirou fundo e soltou de uma vez, quase baixo demais. - Eu acho que estou apaixonada por você.
Florence derrubou a chaleira do fogo.
Era de porcelana.
Soltou uma exclamação de dor e levou um dos dedos a boca.
— Puta que pariu, olha isso. - Fez Isa, indo até ela. Agaichou-se e começou a recolher os cacos um a um. - Vá um pouco pra lá, vai machucar seu pé.
Sem falar nada, Flo obedeceu.
Isa limpou a sujeira e jogou os cacos no lixo.
— Era sua chaleira favorita. - Notou.
Florence balançou a cabeça.
— Não tem problema. - Sussurrou e então Isa percebeu que, Deus, ela parecia assustada. Tinha assustado Florence.
Belo trabalho, Summers.
— Deixe-me ver seu dedo.
Florence, que estava apertando o machucado, estendeu-o para a amiga devagar. Isa limpouo o machucado também e foi pegar um band-aid pra ela. Sim, admitiu pra si mesma, estava evitando terminar a conversa depois de ver o quão aterrorizada Flo estava.
Assim que chegou no andar de cima, viu a porta do banheiro se abrir e Felix saiu de lá, os cabelos molhados e cheirando a sabonete. Ele sorriu.
— Isa, e aí? - Fez, cumprimentando-a com um abraço. Isa concluira há algumas semanas que aquele era o melhor namorado que Florence já arrumara na vida.
— Vim me despedir. - Disse ela. - Amanhã cedo vou pra L.A.
— É verdade, quase tinha me esquecido. Com certeza vou combinar com a Flo pra irmos te visitar. - Ele disse e sorriu.
— Claro. - Isa forçou um sorriso de volta, entrou no banheiro de Florence e pegou o band-aid. - Houve um acidente com a chaleira. - Explicou.
— Eu achei que tinha ouvido algo cair no chão. Mas a Flo sempre derruba as coisas.
— É. - Isa teve que concordar. - Ela derruba. - Ei, pode levar isso pra ela? Acabei de lembrar que eu tenho que resolver uma coisa muiro importante com meu pai antes de ir.
— Não vai se despedir dela? Ela vai ficar chateada.
— Sim, eu sei, amanhã eu passo aqui correndo pra falar com ela. Eu tenho memso que ir, é importante. - Ela disse a abraçou Felix de novo. - Obrigada por ser tão bom pra ela. Nunca gostei dos namorados da Flo mas gosto de você, Felix.
Ele abriu um sorriso muito sincero.
— Obrigado, Iz. Significa muito.
Ela assentiu e correu escada a baixo.
Isabella nunca fugia.
Mas daquela vez ela fugiu.
Fugiu o mais rápido que seus pés e seu conversível podiam levá-la.
—-
“fale comigo por favor X x”
Isabella suspirou. Tinha feito a maior merda de sua vida. Fazia dois dias que estava em Los Angeles, tinha se escondido até entrar no aeroporto. Quando Millie e Jeremy foram recebê-la, Isa estava chorando.
“eu não queria estragar a sua coisa com o felix, eu fui egoísta, me desculpe, flo, acho que preciso de um tempo pra pensar xx”
Ela reescreveu a mensagem dez vezes antes de enfim mandá-la. Jogou o celular na cama e colocou seus saltos. Deixou-o em casa quando foi pra boate.
A noite foi longa e depois do décimo drink, quando havia parado de contar, Isa finalmente esqueceu do assunto.
Voltou gargalhando tão alto que acordou vários vizinhos. Millie estava carregando-a, áquela altura, impedindo que ela se machucasse no caminho e assim que Isabella caiu na cama e pegou seu celular, ela mandou pra Florence:
“você é o amor da minha vida.. eu nunca me apaixono mas você conseguiu, robot. te amo xx”
Digitou e riu.
—-
No outro dia, depois de três aspirinas e vários sucos de abacaxi porque lhe disseram que “eliminava aos resíduos de álcool mais rápido”, Isabella finalmente foi ver a mensagem que tinha enviado, e arregalou os olhos para o celular.
Ficou surpresa por ter conseguido digitar tudo aquilo dado o estado em que estava.
Haviam nove ligações perdidadas e cinco mensagens.
“o que quer dizer?”
“isa converse comigo por favor, vamos resolver isso”
“não suma, por favor”
“não consigo dormir”
A última trouxe lágrimas aos olhos de Isa.
“eu também te amo. você é minha constante, lembra? não percisa fugir de mim. por favor não fuja Xx”
O erro na grafia indicava que Flo estava muito nervosa. Aquilo não era justo com ela, Isabella estava sendo egoísta e covarde.
Tinha que resolver o que tinha começado.
Sua mão tremia quando digitou o número de Florence.
Ela atendeu no segundo toque.
— Isa? - Chamou, como se tivesse medo de ser outra pessoa.
— Oi, Flo.
— Eu sabia. Ressaca. - Ela disse, como uma mãe que repreende o filho. - eu não dormi a noite toda.
— Eu fui muito filha da puta fugindo, eu sei, me desculpe. Eu não queria que você ficasse confusa. Eu sei como os sentimentos são complicados pra você.
— Você é uma idiota.
— Eu sei.
— Eu te amo. - Florence disse. - Amo mesmo, Bella.
Isa queria chorar de novo. Deus como estava cansada daquilo. Odiava aquele sentimento e odiava não conseguir controlá-lo.
Fechando os olhos apertados, ela respondeu:
— Eu também te amo. Você não faz ideia. Eu não quero resolver isso nem nada, só queria que você guardasse a informação no seu coração.
— Não vou deixar você sofrendo enquanto finjo que está tudo bem e fico com meu namorado. Você nunca faria isso se fosse o contrário.
Se fosse o contrário...Isa pensou e suspirou demoradamente.
— Não sei o que te dizer. É simplesmente como é.
— Eu sei.
— E você é hétera. - Fez Isa.
Florence riu.
— Menos pela Stevie Nicks, pela Madonna e por você.
— Lésbica por Summers então?
Florence demorou um pouco pra responder, e quando o fez, parecia mais séria.
— Você sabe que sim.
O coração de Isa se apertou mais ainda.
Deixe estar, pensou.
— Eu vou dormir um pouco antes que minha cabeça exploda.
— Eu te amo.
Flo repetiu, ela tinha adquirido o hábito de dizer isso toda hora pra todo mundo depois da turnê, depois de tudo o que tinha passado, como se tivesse medo de que não fosse conseguir dizer de novo.
— Deus, Flo, eu já entendi. - Brincou ela, e Florence riu. - Eu também te amo.
E ela amava.
—-
Nos dias que se passaram, Isa acordava sempre da mesma forma: procurando na cama por alguém que não estava ali. Suspirou. Como era horrível dormir sozinha novamente depois de ter passado uma turnê toda dividindo o quarto com Florence. Era fácil demais de se acostumar com o cheiro dela, e Isa nem se incomodava com os pesadelos, apenas a abraçava e segurava até que ela tivesse parado de chorar, depois ficando acordada com Flo até que seu medo houvesse passado.
Isa mal dormia de qualquer forma, ela e o sono não eram grandes amigos. Podia passar semanas inteiras em claro até começar a ficar completamente maluca e ceder aos remédios.
Pegou o celular.
“dormir sozinha de novo arghhh xx”
Florence respondeu dois minutos depois.
“quer que eu vá te fazer companhia? xx”
Isa enviou sem pensar: “quero xx”. Não era sério, pensou. Florence nunca viria, tinha acabado de voltar pra casa depois de um ano tão cheio, provavelmente só queria continuar lá com a família e Felix e Sophie.
Foi o que Isabella pensou.
Dois dias depois, porém, sua campainha tocou. Isa estava tomando sol na varanda. E estava, bem, nua na parte de cima. Tentou amarrar o biquini o mais rápido possível enquanto a campainha continuava tocando sem parar.
— Jeremy se for você vá se foder, já estou indo.
Não era Jeremy.
Quando Florence viu a amiga toda enrolada com o próprio biquini se pôs a gargalhar. Ela estava com um de seus vestidos floridos até o tornozelo, uma mala ao seu lado. Sozinha.
Foi a melhor visão que Isabella poderia ter pedido a qualquer divindade. Seu rosto se iluminou num sorriso e ela se jogou em cima da amiga sem se preocupar em terminar de amarrar o biquini.
Flo deu sua gargalhada que soava como música e segurou a amiga com força. Isa a puxou pra dentro, tentando levar sua mala e segurar o biquini ao mesmo tempo.
— Espere, deixe eu te ajudar. - Flo fez e Isa se virou de costas pra ela. A cantora fez o nó, seus dedos frios encostando nas costas de Isa que estava quente pelo sol. Deixou um beijo ali, perto da nuca. A pele toda de Isabella se arrpiou, e ela se virou pra Florence ainda sorrindo.
— Você é minha heroína! - Disse, algo que sempre dizia, e abraçou Flo de novo. - Veio me salvar da solidão americana.
Flo lhe segurou o rosto, seus olhos verdes brilhando. Respirou fundo e sem dizer mais nada, beijou-a. A reação do corpo de Isa foi imediata, e ela se pressionou contra Florence, quase querendo aquecê-la porque estava tão gelada. Ela tinha viajado de avião sozinha apesar de ter tanto medo só para vê-la, largado as pessoas as quais sentira tanta falta e estava ali agora, com os lábios nos dela.
A vida era boa as vezes, Isa concluiu.
—-
— Eu pedi um tempo pro Felix.
— Eu sabia que tinha feito merda. É tudo minha culpa.
— Ei. - Flo fez, cutucando Isa nas costelas e a abraçando mais forte. - Não foi sua culpa. Eu senti que era o certo a fazer.
Isa suspirou, deitando a cabeça no peito de Flo e ouvindo seu coração, que já tinha sido compasso pra tantas coisas que Isa criara no meio de sua insônia quando só sabia sentir falta da amiga.
tum tum
the stars
tum tum
the moon
A melhor melodia que Isabella poderia encontrar era o sangue bombeando pro corpo de Florence. Já fazia tanto tempo que elas se conheciam, tantos dias, semanas, meses passados inteiramente na companhia uma da outra. Isabella era um ser mutável, se cansava de todos os lugares e todas as pessoas, mas nunca havia se cansado de Flo e sabia que nunca iria, apesar de não conseguir explicar o porquê.
Suspirou.
— Florrible. Por que não podia ser tudo mais simples?
— Mas é bem simples, Misrabella. Olhe, estamos aqui, eu e você. Como sempre fomos, desde o começo. Você é minha cabeça e meu coração.
Isabella sorriu.
— Eu realmente gosto do Felix. Ele te faz feliz.
Flo deu de ombros de leve.
— Ele faz, mas não faz meu coração pegar fogo, meus pulmões ficarem sem ar. Eu não estou tao apaixonada que poderia morrer. Não como o Stuart, não como o James. - Ela fez uma pausa que pareceu durar uma hora, como se lutasse consigo mesma pra falar. - Não como você.
O coração de Isabella martelou no peito.
— De onde saiu isso?
— Sempre esteve aqui, eu acho. Bem escondido em algum canto. E agora você desencadeou. Se der errado é sua culpa. - Fez Florence, em tom de brincadeira, mas Isa sabia que ela falava sério e que se ela fosse apaixonada mesmo por ela - só o pensamento já a deixava tonta de felicidade - o quanto era por James, isso queria dizer alguma coisa.
Isa era impulsiva e não tinha medo de se arriscar. Flo costumava ser assim também, seu robozinho. Mas algo acontecera no meio das decepções e agora ela se tornara cuidadosa e apreenssiva. Seu coração estava bem guardado.
Mas Isa sempre soubera o caminho pra ele de qualquer forma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Days are gone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.