Como cães e gatos escrita por kelly pimentel


Capítulo 43
Paraty, Parte 2




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Quando o porteiro diz que ele está aqui eu não posso deixar de pensar nas palavras de Manuela, não consigo esquecer o que ela me disse sobre Lucas e Martinha. Quando foi mesmo que a irmã caçula se tornou a pessoa mais sensata dessa casa?

Autorizo a entrada e caminho pela sala nervosa, não sei exatamente por que razão permiti que ele suba, talvez eu apenas esteja morrendo de saudades, talvez ainda queria gritar e dizer todas as coisas que nem mesmo sabia que queria dizer até a consulta com a psiquiatra. A única certeza é a de que estou feliz por estar sozinha em casa, meu pai me deixou aqui depois da consulta e teve que sair para um jantar de negócios, Bárbara estava com Gabriel, é a primeira vez me deixam por conta própria desde o acidente, talvez fosse o universo me dizendo que esse é momento certo para receber Lucas. A campainha toca e eu respiro fundo antes de seguir em direção a porta. Quando a abro, lá está ele. Sinto uma vontade enorme de me jogar em seus braços, mas controlo o impulso.

—Oi. – Ele diz com um tom de culpa e tristeza. - Obrigado por me deixar subir, confesso que não esperava. – Percebo que Lucas está sujo de tinta e dou um sorriso.

—Estava grafitando? – Pergunto.

—É a única coisa que me dá, pelo menos, um pouco de calma. – Ele fala dando um passo na minha direção, não me afasto, mas também não me mostro receptiva, embora isso exija muito de mim. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele toma a iniciativa. – Ju, eu sinto muito. De verdade. Eu só fiz isso porque eu não podia...

—Você fez isso para me proteger. – Afirmo interrompendo-o. – E para proteger a Martinha, para garantir que nós duas continuassem amigas...

—E porque eu achava que você amava o Jabá. – Ele fala colocando uma de suas mãos no meu braço de forma carinhosa, seguindo até o cotovelo. – Porque ao mesmo tempo que eu não podia suportar a ideia de vocês dois juntos, a ideia de te ver sofrendo era ainda pior. Mas eu sinto muito. – Posso identificar a dor e a verdade em cada uma de suas palavras, mas tento ignorar e continuar dizendo o que preciso dizer.

—Eu sei. – Respondo encarando-o. – Eu tenho certeza de que você sente muito, mas você mentiu para mim Lucas. E o problema não é nem o fato de que você mentiu quando disse que era o pai do filho da Martinha, mas a manutenção da mentira. Você poderia ter me contado o momento que eu disse como me sentia por você.

—Não era minha história, eu não podia contar Juliana, mas você precisa saber que eu me arrependo e que se eu pudesse voltar no tempo eu nunca...

—Você faria a mesma coisa. – Afirmo. Lucas não diz nada, é claro que ele não podia negar aquilo. – Você escolheria proteger a Martinha, você escolheria tentar me proteger mesmo que isso significasse abrir mão de mim, mesmo que isso significasse que eu ficaria com o Jabá e é por isso que eu te amo.

Ele me encara surpreso, e aos poucos a expressão de surpresa se transforma em felicidade. Não sei muito bem como me sinto, nem mesmo sabia que estava inclinada a tentar uma reconciliação, mas a conversa com a psiquiatra tinha sido iluminadora em certos aspectos.

—Isso quer dizer que....

—Isso quer dizer que eu te amo, quer dizer que eu quero ficar com você, ou que eu pelo menos quero tentar Lucas, mas isso também quer dizer que você precisa me prometer que nunca, mas nunca mesmo, vai mentir para mim novamente.

—É claro que eu prometo. – Ele diz se aproximando. Lucas coloca sua mão em meu queixo e guia minha boca para a sua. Eu senti saudades do seu toque, do seu beijo, da proximidade dos nossos corpos. Eu estava punindo a mim mesma com essa distância.

—Agora eu preciso resolver outra coisa. – Digo me afastando.

—Resolver o que? – Ele pergunta me encarando com curiosidade.

—Eu preciso ir para Paraty amanhã cedo. Para a olimpíada, se sair de madrugada ainda consigo pegar a competição. Eu deveria estar lá, preciso apoiar a Martinha.

—Eu vou com você. – Ele diz pegando na minha mão. – Eu quase te perdi duas vezes nas últimas semanas, não pretendo sair de perto de você por um bom tempo.

...................X..................

Já passa da meia noite e eu não consigo dormir. Enquanto isso, minha cunhada, na cama ao lado, descansa serenamente. Percebo que estou mordendo os dedos ansiosa enquanto as palavras de Isabela martelam na minha mente, simplesmente não consigo deixar de pensar em como o que ela disse se aplica a mim “Não podemos ficar esperando o tempo todo que os homens decidam quando começar e quando terminar qualquer coisa. Temos que dizer o que queremos, deixar claro o que queremos” ou, talvez, eu apenas esteja procurando por uma forma de justificar o modo como estou me sentido. Afinal de contas, sei exatamente o que quero e deve ser isso que está me impedindo de dormir, saber que Fábio está do outro lado do corredor e que eu poderia estar com ele agora.

Levanto da cama devagar, me esforçando ao máximo para não acordar Luiza. Já nos corredores, uso o celular para me guiar na escuridão. Paro na frente da porta do quarto onde Fábio está e giro a maçaneta devagar, o cômodo está consideravelmente iluminado, a janela aberta deixa entrar o clarão da lua cheia. Encontro-o sentado na cama, um livro na mão sem camisa, ele me encara assim que abro a porta, mas ao colocar os olhos nos meus a expressão de surpresa ganha um tom de curiosidade. A imagem, toda a composição, me faz sorrir.

—O que você está fazendo aqui? – Ele pergunta, há uma certa reprovação provocativa em sua voz, um sorriso contido.

—Eu me perdi no caminho para cozinha. – Respondo entrando no jogo, mas não por muito tempo, simplesmente não consigo conter a vontade de sorrir. Fábio fecha o livro e o coloca encima da mesa de cabeceira.

—Então venha aqui. – Ele diz esticando sua mão para mim. - Agora você não vai embora sem pelo menos me dar um beijo.

—Eu não pretendia. – Falo sentando ao seu lado.

Fábio coloca uma de suas mãos no meu rosto e o acaricia, tomo a iniciativa e aproximo nossas bocas, é um beijo cheio de paixão, quero tentar dizer sem palavras o que pretendo, talvez com esse beijo. Uma de suas mãos se estabelece em minha cintura e me aperta carinhosamente enquanto o contato entre nossos lábios ganha ainda mais intensidade. Fábio me puxa para cima da cama sem nenhum aviso e eu me vejo deitada, seu copo pairando sobre o meu, amparando pelos braços.

—Agora você pode ir. – Ele fala com um sorriso sem vergonha. Mas em vez de ir embora eu coloco minha mão em seu peito e começo a descê-la lentamente, sem tirar meus olhos dos dele. -Manuela... – Fábio começa a dizer.. – Sei que essa é a parte em que ele diz que precisamos parar, mas eu não pretendo fazer isso.

—E se eu quiser mais do que isso? – Pergunto antecedendo-o. Fábio levanta seu corpo e me encara surpreso, me sinto ansiosa pela expectativa de sua resposta.

—Você tem certeza? Porque...

—Não diga mais nada. – Eu afirmo impedindo-o de continuar. – Eu quero. Tenho certeza.

Levanto da cama e caminho até a porta trancando-a.

—Só me prometa uma coisa. – Fábio diz enquanto me reaproximo. – Se você quiser parar, em qualquer momento, você vai me dizer, certo?

—Eu prometo. – Respondo. Fábio fica de pé na minha frente e eu retiro a minha camisola, deixando-a cair no chão, estou usando apenas uma calcinha branca, que mesmo sem planejamento algum é consideravelmente bonita. Não sinto vergonha, embora certo nervosismo esteja começando a ganhar espaço na minha cabeça.

—Meu Deus, você é perfeita! – Ele diz se aproximando de mim. Sinto meus seios pressionados contra o seu peito nu e me controlo para não tremer, mas quando Fábio me abraça tudo muda, aquilo é como um reforço que me diz que está tudo bem, que essa é a coisa certa, que ele é a pessoa certa. Além disso, todo o meu corpo pede por ele, anseia pelo seu toque. Posso sentir que ele também quer isso, fisicamente falando.   

Fábio me guia para cama e, ainda de pé, procura por algo, observo enquanto ele abre carteira e pega uma camisinha, em seguida senta na cama e termina de se despir, tento não parecer ruborizada, mas então algo pior acontece, a ideia de dor chega em minha cabeça.

—Não se preocupe. – Ele fala parecendo ser capaz de ler meus pensamentos. – Vamos devagar.

Fábio fica por cima de mim e me beija novamente. Eu passo minhas mãos por seu peito, posso sentir a tensão em cada músculo do seu corpo. Ele passeia sua boca pelos meus seios, não é a primeira vez que ele faz isso, mas dessa vez é como se uma carga ainda maior de energia se alastrasse por mim, sinto uma urgência primitiva que faz com que eu solte gemidos.

As mãos de Fábio vão descendo pela minha barriga e alcançam o elástico da minha roupa intima. Ele me toca algumas vezes, brincando comigo, fazendo com que eu me contorça. Não entendo o porquê de imediato, mas Fábio explica que é melhor assim, que isso vai tornar tudo mais confortável para mim.

—Fábio.... continue... – peço entre gemidos. Ansiando por mais.

—Vamos tentar fazer isso, ok?! – Ele afirma. Entendo e me encosto nos travesseiros tentando ficar o mais confortável possível, ele parece esperar pelo meu aval, então aceno positivamente. Fábio me segura firme pela coxa com uma das mãos, erguendo um pouco a minha perna, com a mão livre, ele começa a se guiar para dentro de mim. O primeiro contato é delicioso, mas à medida que ele avança eu sinto uma pressão gigante, uma onda de dor. Me seguro para não gritar, e quando Fábio coloca seus olhos no meus, mordo o lábio inferior na esperança de me distrair.

—Isso doí. – Solto finalmente.

—Você quer que eu pare? – Ele pergunta. Consigo achar graça de sua expressão, ele parece dividido entre o prazer de estar me penetrando e o medo de que eu esteja sofrendo naquele momento.

—Não! – Respondo tentando me concentrar em algo além da dor. Então Fábio traz seus lábios para os meus e começamos a nos beijar intensamente.

Quando ele finalmente voltou a se mover, a dor só aumentou, eu quis pedir para que ele parasse, mas não pedi. Além disso, aos poucos, a concentração em nosso beijo me distraiu.

Quando a penetração parou Fábio me encarou novamente “Tudo bem?” ele perguntou, eu balancei a minha cabeça positivamente e ele me deu um sorriso. “Eu vou me mover agora”, ele disse. Concordei novamente Fábio começou, eu senti como se pudesse me partir no meio a qualquer momento.

Com o tempo, apesar da dor, eu apenas quero que ele faça mais, que alcance algo, não sei bem o que... então coloco minhas mãos em seu quadril tentando incentivá-lo e passo a me mover junto com ele. O tempo todo, Fábio fez questão de olhar em meus olhos e, aos poucos, eu comecei a me acostumar com ele. Uma sensação como um forte formigamento se alastrou pelas minhas pernas, e fez com que eu arqueasse ainda mais meu corpo ao encontro com o de Fábio.

—Eu te amo!

—Manuela,... eu também te amo, mas eu acho que eu não posso mais controlar. – Ele disse intensificando um pouco seus movimentos, a dor que havia sido esquecida voltou a ganhar evidência, mas a aceleração do movimento também incrementou a sensação de prazer.

Quando finalmente terminamos, Fábio jogou seu corpo ao meu lado na cama, ambos arfando. Eu ainda podia sentir os efeitos dele em mim, mas havia algo pior que a dor: o vazio. Senti como se algo estivesse se derramando dentro de mim.

Fábio me puxou mais para perto, olhos nos olhos.

—Como foi? – Ele perguntou preocupado.

—Dolorido... mas também foi bom, muito bom. – Respondo sendo honesta. – É normal que eu me sinta vazia sem você dentro de mim?

—Eu não sei, mas acho que é um bom sinal. – Ele responde parecendo orgulhoso de si mesmo.

 –Você....?

—Claro que sim meu amor. Você tem alguma noção do quanto você é...

—Não diga! – Interrompo-o.

—Depois disso aqui você ainda sente vergonha por eu te achar deliciosa? – Ele pergunta sorrindo. Ele tem razão, eu estou sendo boba, mas não consigo controlar. -Meu Deus, você não tem mesmo a menor noção do seu efeito sobre mim, tem?

—Um pouco. – Respondo constrangida. Fábio passa uma de suas mãos em meus cabelos e me beija novamente.

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Acordo com Lucas me chamando, abro os olhos e encaro a janela do carro. Estamos em Paraty. Lucas dirigiu quatro horas enquanto eu basicamente dormi, mas o maior desafio foi fazer com que meu pai concordasse com a ideia de pegarmos a estrada depois do acidente de carro, foi só quando Lucas prometeu que tomaria todo cuidado do mundo que ele concordou, havia algo entre os dois, um tipo de acordo silencioso, como se eles compartilhassem algo que eu não sei, imagino que seja sobre o modo como eles se aproximaram enquanto eu estava no hospital, mas apenas posso imaginar. 

—Você é uma ótima copiloto. – Lucas fala me dando um sorriso. – Dormiu a viagem inteira.

—Isso só mostra o quanto eu confio em você. – Retruco. – E você poderia ter me acordado a qualquer momento.

—Eu não tive coragem. – Ele diz me olhando. –Você sabia que mesmo dormindo ainda consegue parecer marrenta? É simplesmente a coisa mais linda do mundo. Eu quase parei na estrada para ficar te olhando.

—Você é ridículo! Vamos, não podemos nos atrasar. Preciso encontrar a Martinha antes que essa coisa comece.

—Não se mova. – Ele fala saindo do carro. Lucas cruza o veículo e abre a porta para que eu desça.

—É sério, você é muito ridículo e eu te amo. – Afirmo beijando-o.

—Eu adoro isso aqui. – Ele fala olhando ao redor depois de separarmos nossas bocas. – Eu vim algumas vezes com os meus pais quando era moleque. – Fico tensa com a menção do pai de Lucas, ele quase nunca fala sobre o pai, principalmente pelo modo como os deixou, todas as dívidas e o que a mãe precisou fazer para quitá-las. – E agora eu estou aqui com a mulher que eu amo, não é incrível? – Ele pergunta.

—É incrível, você tem toda razão. – Afirmo pegando em sua mão. – Que tal acharmos a Martinha e depois eu e você namorarmos um pouco numa dessas praias maravilhosas? Podemos procurar uma pousada e só voltar amanhã.

—Eu prometi ao seu pai que..

—Você prometeu que não dirigiria a noite e que seria cuidadoso. Voltar amanhã cedo, descansado é a melhor forma de cumprir com essa promessa.

—Meu Deus do céu Juliana, eu realmente tenho medo das coisas que esse seu sorriso pode fazer comigo.

Assim que chegamos no ginásio no qual a Olimpíada acontecerá, a primeira pessoa conhecida que vejo é Belinha, ela dá um sorriso para Lucas e tenta ser simpática comigo, faço o mesmo esforço. Meu namorado pergunta por Martinha e a garota nos indica uma das salas, peço a Lucas para que fique, essa é uma conversa que preciso ter sozinha com Martinha. Assim que entro na sala encontro Martinha sentada enquanto acaricia a barriga e mexe no celular.

—Oi – Digo fazendo com que ela tire os olhos da tela.  

 -Ju? O que você está fazendo aqui? – Minha amiga pergunta surpresa.

—Eu precisava falar com você. – Afirmo me aproximando dela.

—Juliana, eu sei que mereço, mas agora eu tenho que me preparar para essa competição que pode parecer boba para você, mas é isso que está me impedindo de surtar sobre o resto da minha vida e...

—Eu não vim aqui para brigar. – Afirmo pegando na mão de Martinha. – Pelo contrário, eu vim para pedir desculpas por ser uma miga terrível, que eu sinto muito, que isso tudo é culpa minha e que eu te amo muito, você é a minha melhor amiga – sinto minha voz embargar – você me desculpa?

—Eu pensei que você nunca mais fosse falar comigo Ju. E agora você está me pedindo desculpas? Você não precisa se desculpar, eu é que...

—Martinha, você tá pronta? – Ana pergunta. – Juliana! Que bom te ver. – A professora de história fala com um sorriso.

—Obrigada Ana. É bom te ver também. – Viro novamente para Martinha e a encaro. – Vai lá, arrasa, eu vou ficar me sentar e acompanhar tudo, vou torcer por você. Nós conversamos em outro momento.

—Eu estou muito feliz por você estar aqui. – Ela diz me abraçando.

—Eu também. – Respondo apertando-a. 

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Estou sentada na arquibancada com o pessoal quando a Olimpíada começa, à minha esquerda está Manuela, com o sorriso mais idiota que eu já vi na vida e incapaz de se manter concentrada em algo além da competição, ou melhor, além de Fábio. Do outro lado está Isabela, que parece incomodada com alguma coisa, mas insiste em dizer “não é nada” sempre que pergunto. Artur também está conosco. Um pouco abaixo de nós está o pessoal de minha antiga escola, nem mesmo a presença de Larissa parece chamar a atenção de Manuela.

—Alguém sabe como isso funciona? – Artur pergunta.

—Trinta trios finalistas se enfrentam em fases classificatórios e posteriormente eliminatórias. – Isabela responde. – Deve demorar um pouco Artur, se é isso que você quer saber.

Artur faz uma expressão de desconforto e encosta sua cabeça no ombro de Isabela fingindo dormir. A equipe do Dom Fernão passa das três primeiras fases e eu decido comprar algo para beber. Aviso ao pessoal e pergunto se querem alguma coisa, Isabela diz que aceita um chocolate, Artur pede por uma caixa de chicletes, desço pela arquibancada lotada passando perto o suficiente do grupo de minha antiga escola para ser notada por eles, Amanda me chama e eu me aproximo para cumprimentá-los. A recepção de todas vai de calorosa até consideravelmente receptiva, exceto por Larissa, a garota mal me olha, nosso último encontro foi revelador demais para que qualquer tipo de piada ou provocação ainda possa ser feita, me despeço do pessoal e sigo para as lanchonetes montadas em tendas na área externa do colégio.

—Luiza... – Uma mão pega em meu braço e eu me viro rapidamente encontrando Tiago. Sinto algo, uma sensação gelada se apodera do meu estômago e, opostamente, um certo calor acerta o meu rosto. – Sinto muito, não queria te assustar.

—Não assustou. – Respondo com um sorriso. Estou feliz por ele estar aqui, por ter vindo atrás de mim, não pretendo esconder isso.

—Eu queria falar com você... eu pretendia fazer isso ontem mas... – Tiago passa a mão na barba deixando evidente que ele está de alguma forma nervoso com a situação. Confesso que a cena me dá um certo prazer, mas o que quero mesmo é ficar na ponta dos pés e interrompê-lo com um beijo, mas estou assustada, com a minha sorte, ele provavelmente vai me contar que está com outra pessoa e por isso não me procurou. – Você quer fazer alguma coisa comigo mais tarde? Tomar um sorvete, sei lá...

Começo a rir. Não um sorriso pequeno e charmoso, estou gargalhando.

—Qual a graça? – Ele pergunta parecendo preocupado.

—Você! – Eu afirmo, então me estico um pouco e aproximo nossos lábios, o suficiente para que ele entenda o que quero. Assim que nossos lábios se encontram Tiago me pega pela cintura colando nossos corpos, intensificando o beijo. Esse é ainda melhor que o primeiro, é um beijo acolhedor e ao mesmo tempo cheio de paixão, é o melhor beijo da minha vida. Uma das mãos de Tiago segura na minha nuca e eu sinto minhas pernas fraquejarem, ele é simplesmente maravilhoso. Quando nossas bocas finalmente se separam nossos corpos ainda permanecem ligados, os braços dele estão envoltos em meu quadril, me mantendo perto, estou sem fôlego. – Eu sabia que eu ia ter que tomar a iniciativa aqui. – Afirmo sorrindo.

—Tecnicamente fui em quem vim atrás de vocês, e eu ia chegar nessa parte cedo ou tarde. –Ele retruca sorrindo.

—Claro que ia. – Falo com tom de zombaria. Tiago morde o lábio e seu rosto ganha uma expressão incrivelmente sexy, ele então aproxima sua boca da minha e nos beijamos outra vez.  

—Faz tempo que eu queria fazer isso. – Ele confessa me olhando. Seu olhar é algo novo para mim, algo que nunca recebi antes, ninguém nunca me olhou dessa forma. – Precisou estarmos em outra cidade para eu conseguir te beijar.

—Posso te perguntar uma coisa? – Questiono. Tiago afirma positivamente com a cabeça ao mesmo tempo em que solta um “hum rum” delicioso, me incentivando a continuar. -Eu estou curiosa: Por que você não me ligou? Por causa do Fábio?

—Eu estaria mentindo se dissesse que o fato de você ser irmã do meu olhar amigo não pesa contra, tenho certeza que o Fábio vai perseguir gerações da minha família se algo de ruim acontecer entre nós dois... – Ele afirma. Deixo escapar uma risada.  –Vai achando graça, seu irmão é um ótimo amigo, mas um inimigo melhor ainda, mas não foi por isso... a razão principal pela qual não te liguei é que eu... bem, eu realmente gosto de você e acho que isso aqui pode ser algo, de verdade... então seria idiota começar num momento em que você estava precisando ficar sozinha. Eu queria que você tivesse tempo, talvez agora mesmo ainda seja cedo demais.

Não sei o que falar, eu havia suprimido da minha mente o fato de que Tiago sabia sobre todo o drama com Lucas, o fato de que ele estava lá meses atrás quando eu estava me debulhando em lágrimas. A única coisa que sei que é que saber que ele estava apenas tentando me dar espaço, me dar tempo, me deixa ainda mais envolvida. Então na falta de palavras, eu beijo Tiago novamente.

Compro o chocolate e chicletes solicitados, bem como um refrigerante para mim, enquanto isso Tiago me acompanha.

—Você quer fazer alguma coisa mais tarde? Só nós dois? – Ele pergunta enquanto caminhamos de volta.

—Tem a festa da casa de Isabela, eu não posso simplesmente não ir, mas é uma casa enorme, tenho certeza que podemos encontrar um local para fazermos algo, só nós dois. – Tento soar sexy mas acabo rindo.

—Ok! – Tiago responde sorrindo. - Eu te vejo mais tarde então. – Ele afirma me dando um beijo no rosto assim que entramos no ginásio. Percebo que ainda estou sorrindo enquanto caminho de volta para meu assento, posso sentir a barba de Tiago roçando em meu rosto, imagino se pareço tão idiota quanto Manuela parece ao admirar Fábio, mas meu sorriso não dura muito, assim que aproximo do pessoal percebo que Lucas está lá, me pergunto se estou alucinando e fecho os olhos, mas quando os abro novamente ele ainda está lá, noto mais, noto que ele está com Juliana. Sentada ao seu lado, a ruiva segura a mão do namorado enquanto fala com a irmã. Sinto uma vontade enorme de sair correndo dali, mas não posso, percebo os olhos de Lucas nos meus, olho para Manuela, Isabela, percebo que todos me encaram, como se esperassem algo tipo de reação espetacular.

—Chiclete, chocolate, troco, troco. – Digo me sentando o mais longe possível deles. Faço um esforço descomunal para me manter ali, mas no fundo estou irritada comigo mesma por não conseguir vê-los juntos se me deixar abalar, mesmo que apenas por dentro.

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O Dom Fernão ficou em terceiro lugar no ranking de escolas públicas, e no nono lugar geral. O que garante um prêmio significante para investimento em livros e computadores para a escola, bem como um troféu para a instituição e medalhas para os alunos. Assim que desce do pódio Fábio me suspende no ar e me enche de beijos na frente de todos. 

—Parabéns meu amor!  – Falo abraçando-o.

—Eu estou extremamente animado. É assim que você se sente de depois de um campeonato de Jiu-jitsu? –Ele questiona ao me colocar no chão. Nem tenho tempo de responder, Luiza nos interrompe abraçando o irmão, gosto de ver que ela parece menos chateada por alguns segundos, sei que a presença de Juliana e Lucas não deve ser fácil para ela, da mesma forma como não me agrada saber que Larissa está aqui, ao alcance dos meus olhos, embora eu tente me acostumar com a ideia e me convencer de que ela não representa ameaça alguma, Isabela me diria que eu preciso me libertar de padrões machistas que colocam as mulheres em competição por homens, mas eu confesso que a minha segurança vem de outro lugar, da noite passada, do modo como ainda posso sentir o cheiro de Fábio em mim, e se eu fechar os olhos posso ver o sorriso em seu rosto, relembrar o traçado de suas mãos no meu corpo. Lembro dele me acordando mais cedo, de como eu não queria deixar que ele saísse daquela cama.

—Manuela! – Isabela fala com um tom bastante irritado, me despertando dos meus sonhos. Eu não sei exatamente qual o problema dela, mas minha amiga está assim desde cedo. – Vai ficar aqui?

Percebo que o pessoal está andando, Fábio está acompanhado de Martinha, Belinha, Ana e o professor Renato, eles conversam animadamente. O restante da turma, outros alunos que vieram acompanhar, também seguem o grupo.

—Parece que está no mundo da lua! O que há de errado com você? – Isa questiona.

—Nada. O que há de errado com você? – Devolvo num tom curioso. – Você parece irritada.

—Meus pais me contaram que vão viajar nas férias e perguntaram se eu queria ir, como se não fizesse questão alguma.

—E você está chateada porque eles não estão te obrigando a ir com eles? Achei que você queria mais liberdade.

—Claro, mas eu queria um pouco mais de liberdade para poder sair num sábado à noite com as minhas amigas sem precisar voltar antes das dez, ou para namorar em paz, eu não sabia que eles pretendiam me tratar como se eu fosse emancipada, parece que eles se livraram de um fardo, mas vamos almoçar... eu não quero falar sobre isso agora, temos uma festa para organizar.

Respeito o pedido de Isabela mas prometo a mim mesma que vou conversar direito com ela em outro momento. Isa é o tipo de pessoa que pode ser ótima dando conselhos, mas que tem uma forma pouco racional de lidar com seus próprios problemas. Seguimos para almoçar e depois disso eu, Isabela, Luiza e Belinha vamos fazer compras para a festa enquanto Artur e Fábio ficam encarregados de organizar as coisas na casa de Isabela.

—A sua irmã vai na festa? – Luiza me pergunta. Belinha e Isa estão um pouco mais afastada no corredor do supermercado.

—Não. Eu pedi para que ela não fosse. – Confesso. Luiza me olha com certa curiosidade.

—Você não precisava fazer isso. Ela é sua irmã e...

—Eu sei. Sei que não precisava, mas eu quis... é uma festa da nossa turma. – Acrescento.

—O que vocês estão fofocando? – Isabela questiona se aproximando com Belinha. – É sobre mais cedo. Porqu eu vi você e o Tiago caminhando juntos com expressões suspeitas Luiza. Você vai nos contar o que tá rolando? – Isabela perguntou.

—Tiago? Ah, o amigo bonitão do Fábio. Boa opção! – Belinha diz animada.

—Eu não sei ao certo. – Luiza confessa. – Nos beijamos mais cedo, mas então eu... deixa para lá. – Eu sabia muito bem o que a estava incomodando, ela viu Juliana e Lucas e deve ter ficado mal. Eu adoro que Lucas e Ju tenham se entendido, eles são loucos um pelo outro, mas parte de mim não consegue não se sentir mal pela Luiza.

—Me deixe adivinhar, você viu o Lucas e se sentiu incomoda e agora acha que não está pronta para começar algo? – Belinha questiona encarando Luiza. – Eu sei que não somos amigas, mas escute o conselho de alguém que já achou que estava apaixonada pelo Lucas, que já esteve sob o efeito do nível de atenção e cuidado que ele passa: a culpa não é sua, ele sempre foi apaixonada pela militante elitizada – ela olha para mim ao dizer a última parte – Sinto muito Manuela, eu e sua irmã não somos as pessoas mais queridas da vida uma da outra, você deve saber disso.

Luiza deixa escapar uma risada enquanto olha ainda consideravelmente atônita para Belinha.

—Como eu ia dizendo, não é culpa sua. Você não é idiota por ter se deixado levar, esse é o jeito do Lucas, ele pode ser incrível, ele é um cara maravilhoso, mas o mundo dele gira em torno da Juliana, acho que nem ele mesmo pode se livrar disso. Talvez seja amor, talvez seja alguma maldição, não sei... – Ela fala sorrindo.

—O que você fez? Como você seguiu em frente? – Luiza questiona.

—Eu entendi que o fim do nosso relacionamento não foi sobre mim, que eu não sou menos inteligente, bonita ou engraça que a Juliana...

—É sempre isso que fazemos não é? – Isabela pontua. – Sempre transformamos nossas inseguranças como justificativas.

—É. Então eu não fiz isso. Eu lembrei que sou tão bacana quanto ela e que o problema é que não era para ser...

—Mas você não foi humilhada publicamente. – Luiza pontua.

—Luiza, você vai me desculpar, mas se essa é a sua preocupação, você realmente precisa seguir em frente. Você só tem o que, quinze anos? Você provavelmente vai se apaixonar várias outras vezes e vai quebrar a cara outras vezes, o que precisa é aprender a continuar em frente. Acredite em mim, o Lucas pode ser ótimo, mas ele não merece uma lágrima sua, ele não merece que você deixe passar outras oportunidades de se apaixonar.

—Por que não somos amigas, mesmo? – Luiza pergunta sorrindo.

—Normalmente outras garotas me acham um ameaça. – Belinha responde. Todas rimos. Percebo que a garota é extremamente sincera. Gosto disso. –Ok, agora vamos finalizar essa lista, nos arrumar para essa festa e dançar como se não houvesse amanhã. Além disso, eu realmente acho que o Artur já deve ter quebrado alguma coisa na sua casa Isabela, ele é extremamente desastrado e não deveria ficar sem supervisão. – Ela acrescenta sorrindo.

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A festa começou devagar, mas rapidamente se tornou lotada. Alunos de várias escolas foram aparecendo, aparentemente ninguém mais respeite o sagrado ato do convite. Além de todos os alunos de nossa turma do Don Fernão, estavam também na casa mais uns quarenta penetras. O que não me deixou muito satisfeito. Além disso, vários deles estão bebendo, cortesia de Antonio que, como sempre, exagerou na quantidade de bebida.

—Você viu a Isabela? – Pergunto a Tiago. Meu amigo parece um pouco desconcentrado. Percebo então que ele está encarando Luiza que dança animadamente com Amanda a poucos metros de nós. 

—Quem? Manuela? –Ele pergunta me encarando.

—Não. Isabela. Preciso perguntar se existe algo de valor que deveria ser guardado. Tente não beber demais, talvez eu e você tenhamos que colocar essas pessoas para fora. Além disso, vá chama-la para dançar pelo de Deus. Eu vou precisar unir vocês dois? – Falo olhando para Luiza. Meu amigo me encara surpreso.

Caminho pelas, os rostos conhecidos se mesclam aos estranhos. E então vejo Bruna, tinha até mesmo esquecido que ela estava em Paraty.

—Fábio... – Ela fala segurando meu braço. –Espere um minuto. Podemos conversar? – Questiona me encarando. Coço o pescoço na dúvida e ela me encara com seriedade. – Só vai levar um minuto, eu juro.

Concordo e nos afastamos para um local menos barulhento.

—Então... – digo esperando que ela comece. Na luz, consigo observar como ela está vestida, ou melhor, pouco vestida. Me questiono sobre o quão ruim foi essa ideia de aceitar conversar com ela.

—Eu só queria te parabenizar por hoje e me desculpar pela forma como agi com toda essa história da Manuela. Eu sinto muito, de verdade.

Fico surpreso, mas aquela é Bruna. Eu não a conheço excessivamente, mas aprendi a suspeitar que, como minha mãe costuma dizer, ela nuca dá ponto sem nó.

—Ok, sem problemas. – Digo. – Mas você deveria falar com a Manuela, não comigo.

—Não. Não seja bobo. Eu entendo que eu não tinha direito de cobrar nada de você, mas ela era minha amiga. – A garota afirma se aproximando de forma insinuadora. Dou um passo para atrás.

—Atrapalho? – Isabela questiona sorrindo.

—De forma alguma. – Bruna responde deixando a cozinha.

—Se perdeu? – Isabela pergunta me olhando com curiosidade.

—Ela queria se desculpar, depois disse que só podia me desculpar... vocês mulheres são pouco considerativas entre si.

—Patriarcado é a resposta simples para essa observação Fábio, somos ensinadas a competir pela atenção de homens, e é claro que ela não quer desculpar a Manuela, o que ela quer é uma oportunidade de se vingar. Se eu fosse você ficaria esperto.

—Eu nunca faria nada para machucar a Manuela.

—Não de propósito. – Ela responde. – Mas isso não quer dizer que ela não acabaria machucada. Agora venha, vamos voltar para festa antes que a Bruna decida espalhar que nós estamos na cozinha fazendo sabe Deus o quê.

—Claro. – Afirmo caminhando junto com ela. – Você não acha que essa festa está um pouco fora do controle. Gente demais. Bebida demais. Não quer guardar nada de importante, estabelecer regras.

—O que eles vão roubar? Almofadas, livros e alguns quadros? Meus pais nem sentiram falta. Não se preocupe. Eles nem sentiriam falta se eu sumisse, aparentemente. – A garota diz se afastando, sinto vontade de ir atrás dela, mas não sei exatamente como eu poderia ajuda-la, nem se ela deseja ajuda.

—Ai está você! – Manuela diz assim que entro novamente na sala, ela fica de frente para mim e passa suas mãos ao redor do meu corpo. -Estava te procurando. – Penso em contar sobre Bruna, mas deixo para depois. Não quero estragar a festa para ela.  

—E agora achou. – Digo beijando-a. Coloco a mão no queixo de Manuela e encaro-a por alguns segundos depois que nossas bocas se separam. – Eu já te disse que eu não consigo parar de pensar na noite passada?

—Não. – Ela responde mordendo o lábio. Seu rosto ganham um pouco de um tom vermelho, sei que ela está parcialmente constrangida, o que estranhamente me enche de algo como uma espécie satisfação comigo mesmo. –Você viu aquilo? – Ela pergunta apontando para algo no meio da sala, guio meus olhos para o ponto e encontro Luiza e Tiago dançando juntos.

— Eles parecem ótimos juntos. – Manuela diz me encarando, parece que ela espera por alguma reação da minha parte, entendo bem o porquê, mas estou feliz por eles.

—Você tem razão. Eles parecem ótimos juntos.  

A festa segue animada e Manuela, depois de muito insistir, consegue fazer com que eu dance. Tiago e Luiza parecem despreocupados, como se apenas os dois existissem, todos parecem se divertir. Noto Bruna conversando com Antonio num canto da sala, Isabela também conversa com algumas pessoas da nossa turma, tanto ela quanto Belinha estão bebendo.

—Aqueles são Antonio e Bruna? – Manuela pergunta. -Espero que não passe de Paraty. Já pensou ter que aguentar esses dois como casal?

—Não se preocupe com isso. O inferno vai congelar antes que o Antonio considere namorar alguém, mas vamos deixar os dois para lá, tem algo mais importante que precisa da sua atenção.

—O que? – Ela pergunta curiosa.

—A minha boca.

—Meu Deus como você é brega Fábio!

—E você adora. – Devolvo sorrindo.

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Levanto da cama devagar para não acordar Fábio, sei que precisamos voltar para o Rio em algumas horas, mas ele estava cansado da Olimpíada, então deixo-o dormir. Encontro o quarto que divido com Luiza vazio e então desço as escadas, mas, para minha surpresa, a primeira pessoa que encontro é Antonio. Ele está sem camisa olhando os livros na estante da sala.

—O que você tá fazendo aqui? – Pergunto.

— Claro que Fábio sempre se interessa pelas marrentas. Bom dia para você também. – Ele diz com um sorriso cínico. Estou usando apenas um uma calcinha e blusa com um roupão aberto, então trato de fechá-lo quando percebo.

—Bom dia Antônio, mas sério.... você dormiu aqui?

—Eu passei a noite aqui. – Ele responde vestindo a camisa e pegando um livro médio de capa grossa. – Kafka. – Ele diz me olhando- não esqueça. Kafka. – E então dá as costas e vai embora.

Ainda sem entender nada eu fecho a porta assim que ele sai e sigo para a cozinha, dessa vez encontro minha cunhada, Luiza está colocando cereal numa tigela.

—Bom dia! – Ela diz sorridente. Não vejo Luiza tão feliz tem um bom tempo.

—Bom dia!

—Ah... ai estão vocês. Posso saber, onde vocês duas dormiram? – Isabela pergunta entrando no cômodo.

—Na rede. Abraçada com o Tiago. Não me julguem. – Luiza responde.

—E você? – Isa pergunta me olhando.

—Na cama do Fábio. – respondo um pouco constrangida. – O Tiago foi embora agora?

—Não. Já tem mais de meia hora. – Minha cunhada afirma.

—A coisa mais estranha aconteceu. O Antônio estava na sala agora pouco e pegou um livro da prateleira.

—O que ele pegou? – Isabela pergunta. Tem algo na expressão dela, mas não identifico de imediato.

—Kafka. – Respondo. Então ela dá um sorriso.

—Você ficou com o Antônio? – Luiza pergunta ligando os pontos antes de mim. -Ele estava conversando com a Bruna, como isso aconteceu? Isabela, o Antonio é o cara mais problemático da face da terra, ele bebe demais, ele não tem limites sobre o que diz as pessoas.

—Ok Luiza, eu não estava planejando me casar com ele. Nós só conversamos e, enfim... o que acontece em Paraty fica em Paraty. – Ela diz piscando. – Agora vamos comer. Eu estou com uma ressaca horrível e quero aproveitar um pouco da praia antes que o seu tio chegue para nos pegar. 


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