Assim que entraram na casa, Pepe sentiu alguma coisa estranha. Algum tipo de poder extremamente forte. E, de repente, ele percebeu que o cara estranho não era um adolescente e sim um homem de terceira idade, baixinho, e com uma barba mal-cuidada. Pepe se sentou na mesa, agradecendo pelo cappuccino, ainda desconfiado de muitas coisas em relação ao homem. Mesmo que suas impressões daquele cara estranho não fossem das melhores, ele ainda tinha certeza de que Jorge Blanco estava envolvido na coisa do roubo dos poderes do Guardião. E só aceitou ficar naquele quarto, para obter toda a informação que pudesse sobre o assunto.

— Então... - Pepe pigarreou, seus dedos batucando na xícara. - Você não é um adolescente?
— Bem, não. - Ele respondeu. Estava virado para sua cafeteira, preparando outro cappuccino para ele. Logo virou-se e sorriu para Pepe. - Essa coisa de ser um herói, você deve saber como é... Ser atacado, quase morrer a cada cinco segundos. Faz um tempinho que cansei de ser alvo de monstros e decidi me disfarçar para sair de casa. Lá fora, sou um adolescente, mas aqui dentro, sou eu mesmo.
— Você ainda não me disse seu nome.
— Pode me chamar de... Ahn, Will.
— Will? -Pepe riu. - Tipo, Will Smith?
— Quase isso. -Ele sorriu.

Suspirando, o Herói da Geração olhou para sua xícara. Tentando formular alguma pergunta que não entregasse seu real interesse na rápida visita. Mesmo que Martina não permitisse que ele fosse mais um herói, ele seria. Prometera para si mesmo que salvaria o Livro dos Sonhos, e estava disposto a cumprir essa promessa. A qualquer custo. Will, o cara estranho, fixou seu olhar na xícara de Pepe, esperando que ele bebesse. Pepe não queria, mas meio que foi pressionado, e tomou um pouco do cappuccino. Estava incrível. Se aquilo fosse um veneno, seria uma ótima forma de morrer!

— Então, Will... - Barroso começou. - Você disse que o Guardião havia perdido seus poderes...
— Ah, sim! Totalmente! Isso faz um bom tempo. Acho que Dominguez não quer que ninguém saiba disso. Mas ele confiou em mim, e me disse. Infelizmente, isso não pode ser divulgado para qualquer um. Se vilões maiores souberem disso, eles vão se aproveitar da situação e atacar toda a área do livro. Por isso você está aqui. Algo em você me diz que é um herói de confiança, um herói que Diego confiaria totalmente para dizer isso...

Algo em Will transmitia uma sensação ruim em Pepe. Muito ruim mesmo, como se devesse detê-lo. Aquele alerta de antes estava em sua cabeça, desde que havia trocado uma única frase com o cara estranho. Involuntariamente, Pepe bebeu outro gole da bebida. Olhando em volta, ele viu que a casa não tinha nada que o entregasse como vilão. Nada nele o entregava como vilão. E era exatamente isso que fazia Pepe desconfiar ainda mais da situação.

Forçando um sorrisinho, Barroso comentou:

— É bom ver que sou de confiança.

Will assentiu, um olhar sereno e tranquilo. Um silêncio se instalou ali. Nenhum dos dois tinha mais o que comentar sobre o Guardião. Embora Pepe tivesse muito mais o que perguntar a respeito daquilo. O cara estranho se levantou.

— Acho que você vai querer ver seu quarto, venha.

E então, Pepe o seguiu, andando por toda a casa. Ainda ele não tinha nenhuma prova de que Will não fosse um herói. Droga. O falso herói abriu uma porta, em um pequeno corredor, afirmando que aquele seria o quarto de Pepe. Quando o Herói da Geração entrou, se sentou na cama e observou tudo, como um detetive observava tudo que lhe parece suspeito. Agradeceu, com um pequeno sorriso. Will, então, o deixou lá para que descansasse um pouco. 

De fato, Pepe estava exausto. Desde que chegara no Livro dos Sonhos, não tivera muito tempo para descansar tudo o que precisava. E com toda a coisa da expulsão, das pequenas discussões com os heróis, com ataques de vilões, a única oportunidade que ele tivera para realmente colocar seu sono em dia, era agora. Não se descarta uma chance de dormir. E Pepe não recusaria uma cama e cobertores confortáveis com todo o cansaço que estava sentindo. Assim que se deitou, Pepe desmaiou.

Ilustrador da Organização P.B.S. 

Removido.

Ilustrador da Organização P.B.S. 

Removido.

Aqui não é o seu lugar, Barroso. Fuja antes que seja tarde demais.

Tudo estava escuro, mas essas palavras apareciam toda hora, como se fosse um alerta. As mesmas palavras ficavam latejando em sua mente. Dentro de toda aquela escuridão, ele viu uma luz. Pepe a seguiu, era a única forma de sair daquele lugar, que nem ao menos conseguia ver ou entender o que era. A bolinha de luz. Ele sorriu: Mercedes. Sua consciência irritante estava dando o alerta a ele, para que saísse de onde estava. Mas então, a luz começou a ficar fraca. Mercedes foi desaparecendo. Como se ela estivesse morrendo. Pepe gritou por seu nome, mas ela ainda estava fraca. "Eu preciso de você, repugnante" , ela sussurrou, o tom mais alto que ela conseguia alcançar. "Todos precisam de você. Você precisa acordar, tudo é uma ilusão. Acorde".

Foi quando Pepe acordou, em um sobressalto. E se assustou mais ainda por ter acordado. Agora tudo fazia sentido. Pepe estava sendo manipulado por... Ilusões. Will controlava ilusões.

Martina não conseguia se concentrar com todas aquelas ligações de Diego. Ela precisava de um tempo para pensar, um tempo para assimilar tudo o que estava acontecendo com Jorge, aquilo não era normal. Porém Diego não a deixava em paz! Ele ligava a cada dez minutos. Isso irritava para caramba. Por fim, ela o atendeu. Deu um clique em sua pulseira holográfica, e logo viu o rosto do Guardião, assustado e sério. Vê-lo daquele jeito era uma coisa bem rara, Martina o conhecia. Ele só ficava com aquela expressão, quando alguma coisa bem séria estava acontecendo. Engolindo em seco, ela ajustou sua pulseira na forma 3D, para que conseguisse vê-lo da melhor forma possível.

— Ah... Diego? -Falou, seus olhos tão apavorados quanto os dele, agora. - Está... Tudo bem? Você...
— Martina, me diga que Pepe está com vocês. 
— Ahn... Na verdade...

Diego praguejou, socando alguma coisa em seu escritório.

— TUDO ISSO É CULPA SUA, MARTINA!
— O quê? Culpa minha? - Ela perguntou. - O que eu fiz?
— Não brinque comigo, sei que você o expulsou da Associação de Heróis. O que você tem na cabeça para...

Ela revirou os olhos. Não queria chamar atenção de nenhum outro herói que estava por perto. Tentou acalmá-lo, mas Diego estava nervoso e impaciente. Ele nunca se comportava daquela maneira. Diego era o cara mais calmo e paciente que existia. Martina concluiu que tudo estava de cabeça para baixo.

— Diego, o que houve? -Ela foi direto ao ponto. O Guardião apertou os lábios, era óbvio que ele queria gritar com ela.
— Quando foi que você o expulsou?
— Ahn... Não faz muito tempo, quer dizer, nunca foi minha intenção expulsá-lo. Mas Pepe é bem irritante quando quer, ele chamou Lodovica de Ladra de Batatas, isso me deixou um pouco brava. Não foi nada muito UOU! Na verdade, eu fiquei nervosa por ele não respeitá-la da maneira que Lodovica merece, mas...
— Você vai procurá-lo, agora mesmo. - Ele ordenou. 
— Mas... Diego...
— Dominguez. -Corrigiu. Martina baixou a cabeça, preparada para ouvir a bronca. - Martina, você tem noção do que fez?

Ela piscou seguidas vezes. Tentando entender o motivo da raiva de Diego. Ou melhor, Dominguez. A ideia de que ele estivesse bravo com ela, era algo que a deixava mal. Ela sempre tentou ser a melhor auxiliar/conselheira que o Livro dos Sonhos pudesse ter. Ela se dedicava muito ao livro. E agora havia estragado tudo, por causa de uma briguinha boba com Pepe, o Herói da Geração mais bobo que poderia existir. 

— Me desculpe. Eu agi sem pensar... Senhor. 

Diego suspirou, passando as mãos pelos cabelos. Era nítido ver que ele estava se esforçando para não acabar explodindo de raiva. Diego olhou em volta da sala, e em seguida nos olhos dela. 

— Você sempre foi a melhor conselheira que eu tive. Você é uma grande amiga, Martina. Por favor, não me decepcione. Eu confio em você, sei que vai resolver tudo isso. 

Martina assentiu, entendendo o recado. Ela encerrou a ligação, e foi até Ruggero, Jorge e Lodovica. Mordeu os lábios e chamou a todos para um conversa.

— Diego acabou de me ligar. - Todos ficaram atentos. - Nós precisamos encontrar Pepe. Alguma coisa está acontecendo com ele. 

— Como você sabe disso? -Ruggero perguntou. 

— Ahn, eu tenho uma ligação com Pepe. 

O herói fixo levantou as sobrancelhas, surpreso. Martina ficou vermelha, de repente. 

— Ah, não esse tipo de ligação. Quero dizer, é um dos meus poderes de Auxiliar. Tenho uma ligação com qualquer herói. Para que eu saiba quando eles precisam de ajuda ou não. 
— Um herói, como Jorge? -Lodovica perguntou, cruzando os braços. Jorge estreitou os olhos para ela, como um cale a boca. 

Martina riu.

— Sim, mas... Não, não! Não é isso. Eu quis dizer que... Ah!, vocês me entenderam! Precisamos encontrar Pepe e logo. Então vamos! 

Todos a seguiram. Por alguma razão, Martina sempre sabia onde encontrar os heróis que ela auxiliava. Era como se eles tivessem um rastreador, ou alguma coisa parecida. De repente, sua pulseira bipou de novo. Ela se irritou, pensando que fosse Diego. Quando olhou na tela para ver quem era, arregalou os olhos. 

"É, eu sei. Também me odeio e tudo o mais. Mas nesse momento estou dentro de uma caverna, com um cara estranho, sendo manipulado por ilusões, e minha cabeça está quase explodindo. Você precisa me ajudar. - Pepe"

Tudo começou a fazer sentido. O surto de Diego, a raiva dele fazia sentido... Pepe estava quase sendo manipulado, e mudando toda a história do Livro dos Sonhos. E tudo por causa de Martina.