Lodovica suspirou. Provavelmente não era o melhor momento para falar com ele. Talvez ele não precisasse de ajuda. Ou talvez precisasse de muita muita ajuda e fosse orgulhoso demais para aceitá-la. De qualquer forma, ela se encorajou a ir. Ficou em sua forma humana e foi até ele.

⁃ Jorge. -Falou. Vendo socá-lo uma árvore, com muita raiva. Reconhecendo sua voz, ele arregalou os olhos e se endireitou. 
⁃ Lodo.
⁃ Já aviso que não estou aqui por você. Diego me disse que precisavam de ajuda, então...

Ele sorriu e a abraçou.

⁃ Estou tão feliz em vê-la! Você me assustou! Onde estava?
⁃ Precisava de um tempo para mim. -Respondeu rapidamente. Ela não queria ter uma conversa longa com ele. 
⁃ Nunca mais faça isso, por favor!

Lodovica revirou os olhos.

⁃ Você pode ser meu irmão, mas ainda é um idiota e ainda por cima, é meu inimigo. Meu pior inimigo. Você sabe disso.

Jorge se encolheu, envergonhado.

⁃ Lodovica, você sabe que eu não fiz nada daquilo porque quis. 
⁃ Ah, claro. Um feitiço. -Ela fez uma careta, de desprezo. - Lembre-se que você deixou que tudo isso acontecesse. 
⁃ Você adora dar uma de durona, não é?

Jorge deu um passo para trás, ficando a um braço de distância dela.

⁃ Você pode até me odiar. Mas sou seu irmão de qualquer jeito. Mesmo que só no Livro dos Sonhos.
⁃ Você nunca me procurou na realidade. Por que eu não odiaria você?
⁃ Porque eu a mantive salva durante todo esse tempo. Eu a mantive viva. Isso merece no mínimo um obrigado.
⁃ Não preciso de sua proteção. Eu nunca precisei.
⁃ Prefere ser a heroína de todos, do que permanecer viva?
⁃ Se for o justo, sim. Eu prefiro. É o meu destino. Você não pode mudar isso. 
⁃ Sua coragem é invejável. 
⁃ Obrigada. Sua teimosia é irritante.

Ela foi em direção à lanchonete, e sentou-se ao lado de Pepe, o único lugar que havia sobrado. Martina sorriu ao vê-la.

⁃ Quanto tempo, Lod...
⁃ Sem papo, Stoessel. Eu vim pelas batatas e pela ajuda. Nada de mais. -Ela pegou uma batata frita da mão de Pepe e a engoliu. Não foi a melhor primeira impressão.

Pepe a metralhou com o olhar.

⁃ O que você pens... 
⁃ Deixa eu adivinhar: -Ela deu um sorriso falso para Martina, e encarou Pepe, de uma forma nada boa. - novo Herói da Geração? 
⁃ Você roubou minha batata. -Ele reclamou.

Ela deu um sorrisinho. Totalmente irônico.

⁃ Não brinque comigo. O que tenho de poderosa, tenho de perigosa.

Pepe levantou as sobrancelhas, gargalhando. Apenas trinta segundos de convívio e já a odiava.

⁃ Só faltava uma Dangerous Woman para o grupo. Que original.

Jorge voltou para a lanchonete. Sentou-se ao lado de Martina, onde estava da última vez. Não parecia nada bem. Martina o olhou com um pouco de preocupação. Mas não disse nada.

⁃ Quem é essa? -Pepe perguntou para Jorge. 
⁃ Pepe, Lodovica. Lodovica, Pepe. Herói da Geração, Heroína da Geração. Somos uma equipe. Se tentar matá-la, mato você. Não toque, muito menos se aproxime da minha irmã. -Resumiu.
⁃ Agora eu entendi porque ela fugiu... E só para esclarecer: sua irmã roubou minha batata. 
⁃ Eu ainda estou com fome.
⁃ Ah, jura? -Barroso virou-se para ela. - Que coincidência! Eu também estou! Mas você roubou minha batata!

Ruggero terminou o milkshake e suspirou.

⁃ Pepe, precisamos treinar. 
⁃ Cara, você não para? Eu acabei de comer. Me deixe respirar!

Jorge fixou o olhar em Lodovica. Ele não fazia a menor ideia de quem ela seria na realidade. Eles não se conheciam lá. Porém, ele sentia uma necessidade extremamente forte de protegê-la. Desde a última vez em que a tinha visto, antes da fuga do hospital, há um ano atrás, ela parecia ter crescido e amadurecido ainda mais. Ela também parecia alimentar ainda mais a raiva que tinha de Jorge. O que, nos fim das costas, o fazia se sentir pior.

Martina pigarreou, tentando amenizar o clima estranho que se concentrava na mesa. Entrelaçou os dedos, e sorriu para Lodovica.

⁃ Então... O que a trouxe aqui? -Perguntou. Lodovica se encostou na cadeira, e apoiou o braço no encosto. 
⁃ Diego me obrigou a ajudar vocês. Eu não viria se não fosse por isso.

Pepe se inclinou para frente, e estreitou os olhos. Odiando a irmã de Jorge com o olhar.

⁃ Preciso de um apelido muito idiota para você. Que tal... Ladra de Batatas?

Ela riu e olhou para o irmão.

⁃ Acho que ele ainda não sabe que posso virar um urso e torná-lo um simples peixe num rio, não? -Ela devolveu o olhar sinistro para Pepe, confiante. - Cuidado. Ainda estou com fome.

Ruggero se levantou e avisou que, assim que voltasse do banheiro, todos iriam treinar os poderes. Todos concordaram, mesmo que cansados. Todos os personagens precisavam deles, precisavam de heróis como eles. Não poderiam se dar ao luxo de descansar. Martina voltou a fazer perguntas.

⁃ O que Diego disse a você?

Ela mudou de assunto rapidamente:

⁃ Olhem, eu sou a Heroína da Geração. É meu destino, Jorge só adiou isso. Eu estava determinada a salvar esse livro. E ainda estou. Principalmente porque fui criada para ferrar com aquela pantera repugnante.

Pepe se surpreendeu ao ouvir aquilo. De repente, começou a sentir medo dela.

⁃ Tem certeza que você é uma heroína? 
⁃ Bem, -Continuou, ignorando o comentário. - seja lá quem tenha sido o idiota que me criou, esse mesmo idiota me deu a honra de escolher qual lado servir. E eu não vou me juntar à pessoa que matou a minha mãe.
⁃ Quem seria essa pessoa? -Barroso perguntou. Não foi a coisa inteligente que ele disse.

A ladra de batatas se levantou e foi em direção à saída. É, seriam longos dias de treino até lutarem cara a cara com a pantera louca do mal. Jorge sentiu uma vontade muito grande de fazer Pepe se sufocar com alguma planta venenosa. Mas ocupou seu tempo indo até a irmã. Porém, Martina deu um soco no ombro dele. Bem forte. O mesmo alisou o local do soco, reclamando.

⁃ O que você tem na cabeça?! -Ela gritou. 
⁃ Não precisava me socar! 
⁃ Pare de tratá-la desse jeito!
⁃ ELA ROUBOU MINHA BATATA! De que forma quer que eu a trate? 
⁃ Pare com esse assunto da batata! Será que você pode, por pelo menos cinco minutos, parar de ser... -Ela hesitou. 
⁃ Ser o quê? 
⁃ PARAR DE SE COMPORTAR FEITO UMA CRIANCINHA DE CINCO ANOS! Acorda, Pepe. Você acha mesmo que vai conseguir salvar os destinos de todo mundo sendo bobo desse jeito? -Ela olhou nos olhos dele. E viu a expressão de Pepe mudar completamente. É, ele parecia magoado. Ela balançou a cabeça, negativamente. - Eu tenho certeza que não.
⁃ Sua chatice também não vai ajudar em nada. -Retrucou. - Estou tentando ser o herói que todos querem. Mas eu não vou mudar quem eu sou. 
⁃ Então talvez você não tenha sido escolhido para isso.
⁃ É, talvez não. 
⁃ Então o que ainda faz entre nós? Vá para sua turminha de vilões! 
⁃ Tudo bem, eu vou! Também quer que eu faça ilusões para você confundir os heróis? -Provocou.

Ela se irritou, levantando-se.

⁃ Não sei o que deu em mim para contar isso a você!

E então, ela foi embora. Deixando Pepe falando sozinho.

⁃ AH, CLARO! AGORA SOU A CRIANCINHA DE CINCO ANOS, CERTO? -Gritou. Se jogou na cadeira, e afundou a cabeça mas mãos. Em uma tentativa inútil de se acalmar. Ruggero chegou exatamente nessa hora. 
⁃ Ah...

Pepe continuou na mesma posição. Resmungando e xingando o Livro dos Sonhos. Ruggero riu.

⁃ Isso foi bem impróprio, Barroso. Tenha cuidado com suas palavras.

O Herói da Geração se levantou.

⁃ Tanto faz, não somos mais uma equipe mesmo! 
⁃ O quê? -Indagou, incrédulo. 
⁃ Martina me expulsou desse grupinho idiota de heróis, só porque a Ladra de Batatas roubou minha batata! Ela me mandou para o Lado Negro da Força. Mas quer saber? Eu não me importo! Não mesmo! Eu nunca me considerei um herói! 

Ele saiu pela porta dos fundos, ainda xingando o livro. Ruggero ficou encarando o nada totalmente perplexo.