O anjo estava quieto, olhando através da janela do carro, enquanto o Winchester que estava no volante prestava atenção na estrada. Este também em silêncio, mas por motivos diferentes. Já era madrugada e não havia muitos carros na pista, passava um ou outro de vez em quando.

Castiel sabia que não poderia esconder para sempre, se é que algum dia fora um segredo. Desconfiava que Dean sabia desde o início. Mas ainda não estava preparado a reação do caçador agora que ele tinha certeza.

Cass e Dean estavam em mais uma missão envolvendo bruxas e feiticeiros, como várias que fizeram antes, mas essa não menos importante. A missão em si não era o motivo para tal desconforto entre os dois e sim o que o caçador acabou “descobrindo” no decorrer dela.

Em um certo momento, um dos feiticeiros lançou uma magia contra o corpo de Dean, a qual sugaria a energia de sua alma e o mataria. Castiel, conjurando um feitiço conhecido, porém complexo, transferiu a alma de Dean para a sua própria casca afim de protegê-la enquanto não retirava o efeito da magia que atingiria seu corpo. Dean não pode controlar o corpo de Cass, mas soube exatamente o que este pensava, sentia e fazia durante o tempo em que ficou conectado a ele.

Depois do anjo derrotar os feiticeiros e curar o corpo do amigo, a alma de Dean voltou para seu corpo. Foi tudo rápido, e logo estavam no Impala voltando para a casa do Bob, onde ele e Sam os aguardavam.

— Tenha em mente que eu não vou te julgar ou olhar torto para você por causa disso — Dean quebrou o silêncio desconfortável que estava ameaçando sufocar Cass.

Dean conseguia imaginar a confusão que se passava dentro de Castiel; tudo isso porque ele o amava. A resposta era simples: Ele amava Dean.

O anjo estava quieto por estar confuso, envergonhado e com medo do que aconteceria agora que o caçador sabia. Já Dean estava quieto porque era difícil encontrar as palavras certas.

— Desculpe — Castiel enfim disse algo, mesmo que em um tom de voz muito baixo. Antes que Dean perguntasse o porquê do pedido de desculpas, ele continuou: — Por confundir as coisas — baixou a cabeça —, deveria ter sido mais atento e não me deixar confundir os sentimentos.

Não sabia se esperava uma bronca, alguma piada ou mais silêncio vindo do outro. Se sentia tolo, isso só pioraria a situação. Dean era um amigo, não mais que isso. Pelo menos era assim deveria ser.

— Cass, escute: está tudo bem. Não controlamos o que sentimos e eu estou de boas em relação a isso — O moreno olhou em sua direção pela primeira vez desde que entraram no carro. — Aliás... eu já suspeitava — deu uma risadinha.

— E por que não disse nada? — Questionou o anjo, ainda com a voz baixa.

— Primeiro que eu não tinha certeza — começou —, segundo que eu não saberia o que dizer, assim como não sei agora.

O silêncio voltou por alguns minutos, enquanto Castiel absorvia tudo que tinha acontecido nas últimas horas.

Achava que Dean iria criticá-lo e falar que estava confundindo as coisas ou que não estava ligando para seus sentimentos, como fizera muitas vezes com outras pessoas que gostaram dele ao longo do tempo.

Mas ele dissera que estava tudo bem.

Ele não agia da mesma maneira como agira com outras pessoas.

— Por que não está com raiva? — O anjo perguntou, confuso.

— Por que estaria? Você não pode mudar o que sente e nem escolheu sentir isso — respondeu sem desviar os olhos da estrada. — Eu tenho um fã, eu fico contente em saber! — Riu, tirando sarro da situação.

— Idiota — permitiu-se rir finalmente.

— Olhe, eu não quero que se sinta mal — olhou para Cass —, não é motivo.

O moreno fez um gesto com a cabeça, indicando que aceitaria a recomendação.

— Eu me sinto confuso por.... gostar de você — sentia-se sem jeito ao pronunciar tais palavras.

— Não tem problema em gostar de mim, eu gosto de você também.

— Não, Dean — Castiel ficou nervoso — Eu não gosto de você como você gosta do Sam. Eu gosto de você como você gostava da Lisa. — Ele sabia que o Dean estava ciente disso, mas precisava esclarecer mais uma vez.

Bruscamente, o caçador freiou o carro, fazendo o anjo levar um susto. O que diabos ele estava fazendo? O Winchester bufou, olhando para a estrada com o carro já parado, enquanto Cass ficava sem entender.

— Ok, Cass — Virou-se para o anjo, aumentado a voz — Eu sei como que você gosta de mim — falou, sua voz alternando entre carinho e irritação. — O que estou querendo dizer é que — Suspirou e apertou ainda mais o volante — eu entendo como se sente.

— E eu queria entender por que você não ficou com raiva, sendo que se fosse com outra pessoa você não agiria como está agindo agora! — Castiel falou aumentando um pouco o tom da voz, sentindo-se nervoso.

Não sabia se os dois estavam discutindo ou não, mas Dean parecia tão confuso quanto ele.

Ainda estavam com o carro parado no meio da estrada, se outro aparecesse corriam o risco de provocar um acidente, mas nenhum dos dois parecia dar a mínima para aquele detalhe.

O caçador bufou novamente antes de responder, com a voz em um tom elevado ao anterior.

— Seu idiota — o xingou por ele não se tocar de uma vez —, eu não fiquei com raiva porque eu gosto de você da mesma maneira como você gosta de mim! Quando eu disse que precisava de você, era em todos os sentidos! Nós passamos anos lado-a-lado, lutando, apoiando um ao outro — continuou, sentindo seu peito apertar — Sim, Cass, eu estou dizendo que eu amo você!

O silêncio que se fez sobre os dois depois disso não foi incomodo como os anteriores. Se encaravam sem saber exatamente o que dizer, até o momento que o caçador decidiu tomar iniciativa.

Olhou nos olhos de Cass e em um ato de certa forma carinhoso, se inclinou sobre o anjo e o puxou pela nuca, lentamente, e o outro entendeu e também se inclinou, selando seus lábios num entendimento.