Fallen Between The Cracks escrita por fairyfuckintale


Capítulo 2
Capítulo 1 - Things happen when you stop expecting


Notas iniciais do capítulo

Oi :) Vi que uma galera gostou do Prólogo da historia e fico MUITO feliz, mesmo. Obrigada pelo incentivo. O primeiro capítulo estava pronto há um tempo e já estou trabalhando nos próximos. Espero que vocês gostem e que alcance as espectativas! Não esqueçam de deixar seus comentários e sugestões, é muito importante pra eu saber como a historia esta repercutindo. Enfim, sem mais delongas, boa leitura! ❤️



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A manha fria de inverno deixava as pontas dos dedos das mãos de Haymitch adormecidos. Era uma sensação boa, o que mais se aproximava com segurar um copo de wiskey estúpidamente gelado. Podia até mesmo sentir o gosto queimando em sua garganta durante o sonho, antes que o leve queimar se tornasse o fogo ardente de uma fogueira, um incêndio. A velha casinha de madeira incendiada e sua família inteira queimando lá dentro. A mãe, o pai, os dois irmãos, Maysilee... Os gritos de socorro entrando e saindo de foco, junto à fumaça. Tivera o mesmo pesadelo tantas vezes que quando acontecia, o seu eu dos sonhos nem se importava mais em tentar resgata-los. Mas, no ultimo segundo de tortura, havia algo de diferente na imagem. Uma peça que não se encaixava no quebra-cabeça que ele já estava cansado de montar. De longe a figura de Effie estava de pé entre as cinzas dos móveis e as chamas. A pele branca e pálida do corpo derretendo lentamente por de baixo do vestido amarelo chamuscado.

Os gansos o acordaram com um susto como faziam quase toda manha depois de receberem uma serie de xingamentos sonolentos. Eventualmente, Haymitch saiu do sofá empoeirado da sala que ele fazia de cama. A tv já estava ligada provavelmente porque ele caiu no sono antes que pudesse desliga-la. Passava algum talk show matutino bem ruim, mais um dos clichês que a Capital insistia em manter, mesmo depois do fim da ditadura de Snow.

"E então... os ovos! Ah, quem não ama ovos mexidos pela manha, não é?" dizia uma senhora no auge dos seus 70 anos com brincos maiores do que o seu pescoço enrugado podia aguentar.
"Claro, todos amam ovos, princesa." disse, e desligou a tv, revirando os olhos.

"TIO HAYMICTH!" a vozinha ecoava pela varanda da frente da casa, mas Prim obedeceu as ordens da mãe de não bater sem que os pais estivessem junto. Ela aguardou aos pulos até que se pudesse ouvir os passos de Peeta nos degraus. Haymitch pegou um pedaço de pão grande na cozinha, o dividiu no meio e sorrindo, caminhou em direção a porta.

Primrose Fleur Mellark era uma das poucas pessoas que ainda colocavam um pouco de alegria na vida de Haymitch. Ele a conheceu quando ainda era pequena como um grão de feijão dentro do ventre de Katniss e, quando ela nasceu, era como segurar uma abobrinha maior do que o normal no colo. Foi o primeiro a segura-la, Peeta fez questão. "Você nos manteve vivos, Haymitch. Também é graças a você que Prim existe"
"Ah, chega de discurso, garoto! Me passe esse bebê!" ele disse, meio sem jeito com o elogio. Não demorou muito para a pequena se apegar a ele e nomea-lo seu padrinho por escolha própria. 

Katniss odiou o quão pomposo soava o nome do meio de Effie em Prim, quando Peeta a registrou no cartório da maternidade sem consultar a ninguém. Até Haymitch achou engraçado quando olhou na certidão de nascimento e imaginou aquele bebezinho com uma peruca laranja e um vestido azul anil. Mas depois, os dois se acostumaram. O nome caia bem nela; o rosto bochechudo e os olhos azuis emoldurados nos cabelos cacheados castanhos parecia formar uma florzinha forte e delicada. Uma mistura perfeita dos pais.

O telefone soou alto e estridente antes que ele pudesse alcançar a maçaneta da porta. Era estranho ter alguém ligando, o aparelho nao tocava desde o começo do segundo Quarter Quell, quando a capital ligou para se certificar de que ele tinha visto o anúncio de Snow para o massacre do ano. Ele não costumava se comunicar com ninguém dos outros distritos. A não ser...

"Sim?"
"Olá, 'Mitch! Como vai a sua vida de um veterano de guerra?" - disse Plutarch no outro lado da linha, com uma empolgação que destoava do estado de espirito dele.
"Plutarch. Hmm. Vou bem. Porque esta ligando?" - ele disse sem nem tentar esconder o tom grosseiro.
"Oh, claro. Sempre bem direto, não é?" e com uma risadinha constrangida, Plutarch continuou "Não sei se andou lendo os jornais, amigo, mas estou a frente de um grande projeto de expedição à mando da Presidente Paylor..."
"Olha, eu não estou interessado..."
"... e acabamos por descobrir..."
"... os assuntos da capital não são mais para mim..."
"... muito além de Panem..."
"... gosto de vc plutarch, mas preciso de..."
"... vestígios de Effie."
O silencio se estabeleceu na linha telefônica.
"Haymitch, esta tudo bem?" Katniss batia na porta tentando ouvir o que acontecia lá dentro. Ele a ignorou e fechou os olhos tentando controlar as mãos que tremiam de leve. Sua respiração começou a descompassar, apenas por ouvir aquele nome vindo do outro lado da linha.
"O que disse?"
Plutarch respirou fundo e pensou um pouco. Parecia escolher bem as palavras antes de dize-las.
"Olha, é difícil explicar assim, acho melhor você vir para a capital. Aconteceu algo... acho que é de seu interesse. Teremos uma reunião com Paylor amanhã as 15h. Não se atrase, tudo bem?" e desligou.
Haymitch parou por um momento ainda ouvindo o barulho na linha que indicava que a ligação tinha terminado. Ele entrou em seu modo estrategista e um milhão de pensamentos relacionados a Effie passaram por sua cabeça. Meia hora depois, ele retirava uma pequena mochila de cima do armário do quarto e a enchia de qualquer jeito com papéis e roupas, determinado a chegar na estação de trem do doze.
"Ei! Porque não conta direito o que houve?" Peeta tinha acabado de entrar no quarto carregando Prim em um dos braços e dois sacos de pães no outro.
"Olha, eu não tenho tempo pra sentar e explicar. Preciso ir para a Capital"
"O que está acontecendo Haymitch?"
"Nada! Eu só..."
"Tio haymitch!" os olhos de Prim brilharam e ela lutou para pular para os braços dele quando se aproximaram. Peeta a repreendeu e o mentor aproveitou para contornar pai e filha, indo em direção a escada.
"Eu não quero ter que chamar Katniss para te conter. Me conte o que aconteceu, talvez possamos ajudar!" disse Peeta agora o seguindo pelo corredor.
"Chame. Eu não tenho medo dela"
"O que houve?" Katniss surgiu aos pés da escadaria ainda acariciando as costas do bebê recém nascido que chorava em seu colo.
"Haymitch vai a Capital, está acontecendo alguma coisa"
Katniss olhou de Peeta para Haymitch. Ela reparou no cabelo bagunçado, na respiração ofegante e nas roupas amassadas na mochila mal fechada. Ela só o havia visto daquela forma uma vez, e foi há 4 anos atras, durante a rebelião. Eles trocaram um olhar que só eles compreendiam. O mesmo olhar em sintonia que trocaram ao final da guerra, na mesa de reuniões da Mansão Presidencial, quando Katniss bolou o plano de matar Coin. Ela respirou fundo assentiu de leve.
"Deixe ele ir. Deve ser importante."
Com um suspiro de alívio que tentou disfarçar, Haymitch retornou depressa e depositou um beijo na cabeça de Prim que estava a ponto de choro, sem entender o que acontecia. Murmurou um "eu volto logo" para os dois e voou escada a baixo, deixando a porta da frente entreaberta. Ele pode ouvir alguém gritando "Mande notícias quando chegar!" mas não se virou para ver quem era.


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