Lembre de mim escrita por Fadaravena


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma ideia que tive e resolvi tentar. Não é o meu melhor, ainda estou enferrujada, mas espero que a leitura possa ser proveitosa. Estava faltando uma KaraTodo, então resolvi arriscar.



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Certo dia, Karamatsu apareceu em casa vestindo um de seus mini shorts com brilhante, seus sapatos de couro amarelo e uma regata com uma abertura que mostrava metade de seu peito, de tal forma que caso se movesse poderia aparecer mais do que o permitido. Foi um escândalo. Seus irmãos o ignoraram como de costume, tirando um ou outro comentário, mas fora a gota d´água para o caçula da família.

— Vem aqui, Karamatsu-niisan. – Chamou-o de canto.

— O que foi, brother?

— Não acredito que você saiu para a rua vestido assim. Falo para o seu próprio bem, desfaça-se dessas roupas.

— O quê? O que há de errado com elas? – Karamatsu abriu os braços como indicando sobre o que falava.

Todomatsu torceu o rosto ao averiguá-las de cima a baixo.

— O que há de errado com elas? – Estava incrédulo. – Tudo! Olhe bem para você. Uma camisa dessas é indecente.

Ele olhou.

— Não vejo nenhum problema.

O caçula perdeu a paciência, e como sempre lhe ocorria nessas situações, deixou a sala fulminando.

Resolveu que iria sair um pouco de casa, passear pelo centro, gastar as últimas economias dos jogos de azar que ainda não foram confiscadas.

Ele não conseguia entender como seu irmão mais velho não se dava conta. Começou a achar que ele era cego. Ou isso, ou ele não tinha salvação. Osomatsu havia dito para ele não esquentar a cabeça com isso, mas lhe dava nos nervos. Como alguém que partilhava do mesmo rosto e sangue podia ser tão, tão, ousado? Era mesmo incompreensível. Olhe lá, uma boa camisa, mangas justas, um bom corte, gola alta; aquelas calças que batiam no tornozelo eram lindas, e aquela jaqueta, então, de pano, assim como se estava usando. Todomatsu passou por todas as vitrines, todas elas tinham modelos decentes.

Começou a imaginar de onde seu irmão tirava as roupas que usava, nenhuma loja das redondezas parecia tê-las em exibição. Certificou-se de passar em todas elas, nada. Então, teve uma ideia.

Já era fim de tarde quando voltou segurando duas sacolas, entrou em casa e se anunciou, Jyushimatsu foi o primeiro a ir em sua direção questionando se tinha algo. Todomatsu sorriu e disse que comprara uma torta especialmente para ele, o quinto irmão abriu ainda mais seu sorriso, saltando empolgado.

— Me dá! Me dá! Totty!

— Está bem. Aqui está.

Tirou de uma das sacolas um embrulho de isopor e entregou-o ao irmão que o tomou de suas mãos de uma só vez.

— Obrigado! Totty! – E se retirou, não sem antes colocar o pedaço inteiro de torta na boca.

Todomatsu acompanhou tudo com um sorriso singelo, o agradava muito a presença de Jyushimatsu, se fosse honesto consigo, era um de seus irmãos preferidos. Talvez fosse toda a honestidade do outro, como era aberto, quando ele era fechado. Se sentia bem na presença dele.

O segundo irmão a aparecer foi Choromatsu, segurando uma revista em mãos. Perguntou se tinha saído para fazer compras, mais como uma afirmativa retórica, ao que recebeu como resposta um embrulho estendido em sua direção. Aceitou o presente e voltou aos seus afazeres.

O terceiro irmão foi Osomatsu, mas este não ligava para onde ele tinha ido e só queria saber de conseguir dinheiro emprestado. Todomatsu tirou da carteira duas notas de dois mil ienes e as entregou ao irmão, ainda com o sorriso no rosto. Osomatsu agradeceu e saiu de casa aos pulos.

Ichimatsu passou por ele como quem não quer nada, olhou para as sacolas, depois para Todomatsu.

— Não esqueci de você, Ichimatsu-niisan. – Disse e o estendeu uma vareta, ao final dela tinha o que parecia ser um ratinho branco de pano. – Para os seus amigos.

O irmão arregalou os olhos e timidamente tomou a vareta em mãos murmurando um agradecimento bem baixinho. Todomatsu afinou os olhos arqueando ainda mais os lábios.

Terminada a tarefa subiu o degrau de madeira e entrou na sala. Jogou uma das sacolas no lixo e a outra colocou chão, perto da mesinha baixa. Sentou-se e aguardou.

Seu celular foi a única distração, às vezes entrava em conversas de mensagem com alguma garota, às vezes com seus amigos, mandava fotos do dia. Da sobremesa que comeu no café à selfies tendo paisagens como plano de fundo. Navegava na internet, visitava lojas online, lamentava não ter dinheiro suficiente para gastar. Olhou para a sacola, pensou em Karamatsu.

Perto do fim da tarde, um a um, seus irmãos foram voltando. Uma dupla chegou comentando o que dera no Todomatsu naquele dia; ele estava muito estranho, distribuindo presentes daquele jeito. Ele não ligou, continuou no que fazia até escutar uma voz grave se anunciando.

— Ah, que bom, Karamatsu-niisan! – Aproximou-se com as mãos juntas, só faltava ele.

Uma vez mais, Karamatsu voltou um passo, sendo pego desprevenido. O caçula tirou da sacola um último embrulho, e um pouco sem jeito o entregou ao irmão.

— Faltou só você. Espero que goste.

Os olhos do outro brilharam, quase se podia enxergar uma lágrima fugindo.

— Totty. – Estava emocionado, chegou a limpar o nariz na manga da jaqueta. – Guardarei com todo o carinho.

— Não, niisan, é para você usar. – Protestou.

— Quando vier o momento propício pode ter certeza, caro irmão, que seu presente será de bom uso.

— Só não precisava ser tão embaraçoso. – Ainda mantinha o sorriso no rosto.

Alguns se questionaram sobre qual poderia ter sido o presente do Karamatsu, este parecia não querer tirá-lo do embrulho e deixava guardado num canto do armário, logo ele que se orgulhava de ser tão atencioso com seus irmãos não quis nem ver o que era. O assunto foi então esquecido e todos voltaram a cuidar de suas vidas.

Todomatsu estava arrasado, ou poderia se dizer, frustrado com o desfecho de seu plano. Não imaginava essa reação, pelo contrário, achava que seria o único a insistir em usar o que havia comprado. Mas, sem desistir, passou a perguntar, em todas as oportunidades que tinham sozinhos, – afinal, não queria decair ainda mais na escala dos irmãos -, quando ele iria usar.

As respostas eram sempre vagas e esquivas e estavam tirando Todomatsu do sério.

Uma tarde fez questão de convidar o irmão para sair, não era algo que faria em ocasiões normais, mas precisava fazer daquilo algo especial, algo que fizesse Karamatsu abrir seu presente. Ele aceitou o convite e disse que em um minuto estaria descendo. Todomatsu pôs seu melhor chapéu, e sua melhor combinação de roupas: uma calça jeans justa, até um pouco abaixo do joelho, sapatos, uma camisa listrada e um colete cor creme. Estava pronto. Sentiu um frio na barriga só de imaginar como seria ver seu niisan quando descesse, estava se sentindo agitado.

Quando Karamatsu apareceu seu estômago afundou, ele estava nas mesmas roupas costumeiras, a jaqueta de couro, uma camiseta branca, calças jeans e as botas. Virou o rosto para o lado e caminhou em direção a saída sem nada dizer. Os dois seguiram por um tempo assim, Todomatsu apertando o passo e Karamatsu tentando acompanhar.

— Ei, Totty, não tem como ir um pouco mais devagar. Não me foi concedido o dom de ter asas nos pés.

— Para de dizer essas coisas. Eu não te conheço.

— Por quê?

À essa altura já estavam bem afastados e erguiam o tom de voz, Todomatsu abaixou a cabeça e apertou os punhos.

— Eu não te conheço!

Karamatsu podia jurar que escutou um fraquejar em sua voz, ela estava embotada. Todomatsu correu para bem longe e foi parar no meio do bosque. Quando se cansou, sentou-se embaixo de uma árvore. Tapou o rosto com ambas as mãos.

Por que seu irmão tinha que ser assim? Por que tinha que estragar tudo? Sentiu que seu rosto aquecia, sua mão ficava úmida, limpou os olhos com as costas da mão. Por que ficava assim por algo tão bobo? Sentia seu coração disparando no peito. Ele tinha feito de tudo para ajudar, ido até longe o bastante para gastar suas economias com ele, para nada.

Seria mesmo? Karamatsu ficaria melhor vestindo algo que lhe agradava? Boa parte de si respondia que sim, mas outra parte, a que fazia seu coração bater, dizia que o irmão ficava bem em tudo que vestia, pois era ele mesmo, não outra pessoa. Enxugou outra vez o rosto. Podia escutar ao longe Karamatsu o chamando, hesitou ainda por um momento, mas e se na verdade o irmão não usou seu presente por não dar crédito ao que falava, ora, ele estava certo, e Karamatsu errado! Com certeza ele ficaria melhor, afinal tinha bom gosto, algo que seu irmão não partilhava. Podia ficar a tarde toda lá, não se importava, era bom mesmo que aprendesse uma lição.

E então, se cansou, aquilo era ridículo. É verdade que estava bravo com ele, mas tinha que dar um jeito naquilo. Todomatsu levantou-se, saiu do bosque e foi de encontro ao irmão. Quando chegou a primeira coisa que notou foi o alívio em sua expressão. Karamatsu o envolveu em um forte abraço.

Sentia seu peito comprimir, sentia-se arrependido, talvez, ele mesmo tinha exagerado, se tivesse sido mais direto.

— Eu queria ver o niisan nas roupas que eu comprei. – Disse.

Karamatsu afastou-se um pouco, ainda segurando em seus ombros e olhou bem fundo em seus olhos.

— Fiquei muito feliz, de verdade. E tem toda a razão, como fui bobo de não perceber que a ocasião especial se apresenta aqui e agora. Me concederia a honra de um segundo encontro?

Seu rosto estava em chamas, sentiu cócegas nas pontas dos pés e um calafrio percorrer sua espinha. Em pouco tempo o puxava para outro abraço.

— Karamatsu-niisan, seu bobo. – Dessa vez sorria um sorriso espontâneo.

Durante o caminho de volta para casa, Todomatsu se agarrou ao braço do irmão e só soltou quando se aproximaram da entrada. Ambos se sentiam satisfeitos. As roupas do irmão não eram tão ruins assim, concluiu Todomatsu.

— Espere um pouco, honey, que já volto.

Aguardou novamente, mas dessa vez não se sentia impaciente, nem ansioso. O frio na barriga ainda estava presente, mas dessa vez por outras razões. Recordou a expressão de Karamatsu quando o encontrou, focou seus lábios entreabertos e teve um sobressalto. De repente, estava sentindo-se sem jeito. E quando Karamatsu apareceu usando peças decentes, nem podia acreditar em quão bem lhe caiam, chegou a se censurar por ter insistido em fazê-lo usá-las.

— Aqui estou. Como fiquei?

Karamatsu vestia uma calça jeans não tão justa, tênis brancos, uma blusa listrada azul e branco e um colete bege, seu cabelo estava penteado para o lado.

Todomatsu o puxou pelo braço e deu um beijo travesso em seus lábios.

— Bem melhor.

Sem dúvida, ele ficava bem melhor.


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Notas finais do capítulo

Quanta fala! Cadê a introspecção? Eu tô realmente enferrujada.